terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sem volta



Então, você veio...- ela estava de costas, respirava devagar, mas se mantinha fixa.
Andou como um tigre que espreita sua presa... mas aquela corça com certeza não seria surpreendida. Logo os grandes olhos o encaravam.
Sua pele tão suave, delicada, poderia senti-la, tocar de todas as formas possíveis. Bastava esticar a mão e se entregar as delícias daquela criatura celestial.
Porém, os dedos não obtiveram sucesso. 

O que era aquilo? ... o que significava? Não a permitiria se afastar daquele modo.
Ah, mas ele sabia o que era... oposto ao que possam imaginar, caros leitores, aquele comportamento não significava a pura inconstância no cumprimento da palavra. Ao contrário, essa retração predizia em si o comportamento típico da inocência que ainda habitava dentro da caça.
Com os sentidos muito receptivos, ele ousava desafiar a barreira de pureza imposta pelo próprio alvo. Entretanto, se ela já estava ali, por que não brincar um pouquinho de gato e rato? Só para ver como seria e ai sim ultrapassar seus instintos, abrir-lhe as perspectivas, para que no fim ela sucumbisse e se entregasse por completo.

Pensa que eu não sei? ... pensa mesmo que eu não reconheço o que você deseja? ‘- a cada passo que ele dava era um que ela recuava.
Avançou mais rápido e ela caiu. Ele riu. Os olhos dela expressavam medo... mas por dentro, ele reconhecia haver algo mais. E saberia explorar aquele algo a mais, ao ponto de arrancá-lo de seu íntimo.

Sentada e se arrastando pelo chão, ela tentava escapar... até que soube ser impossível fugir.
Um sorriso diabólico brotou dos lábios dele ... ela já estava assustada o suficiente para lhe ser negado o autocontrole.
Hora da segunda etapa. Instigar e provocar.
Prendeu o olhar da jovem no seu. Intensificar a gloria e a luxuria daquele corpo era prioridade no momento. Sua voz saiu em um sussurro ardente.
Você, bela dama, veio até mim... eu te darei a noite mais cálida dos teus sonhos.... ora, não se acanhe... pois a ambição em si, não é censurável.’

Talvez o menear de cabeça da jovem fosse um reflexo inconsciente, ou talvez ela estivesse se permitindo as provocações daquela voz embriagante a qual estava sujeita.
Hoje, minha bela dama, o seu impulso mais profundo, o seu desejo até agora contido em silêncio irá aflorar ... e eu serei um humilde servo do teu prazer.’
Ajoelhou a sua frente e esticou os dedos por sobre o maxilar. Uma leve retração no início. Mas logo seus olhares estavam conectados e pode-se dizer que nenhum dos dois sabia exatamente a quanto tempo permaneceram em tal posição.

Levantavam devagar aproveitando a aproximação para negarem, por completo, a necessária existência segura de uma distância. As respirações, ofegantes, podem ser sentidas em ambas as peles. As palavras eram palpadas e capturadas em cada movimento dos lábios que percorriam gentilmente a curvatura do pescoço.
Eu a trouxe até aqui para deixar nossas paixões se fundirem, deixar sua mente atordoada e deliciada ao mesmo tempo ... mas agora, está aqui por sua vontade, sem intenções, a escolha foi sua.’

Os lábios ainda percorriam a pele até o colo. A cabeça pendia e era segurada por apenas uma mão. O coração acelerado e o torço preso pelo outro braço.
Essa, meus caros, era a cena perfeita da quase entrega, o ponto tênue, no qual se pode decidir atravessar para o caminho da loucura ou deixar a razão investir seu potencial. É difícil dizer qual dos dois caminhos se escolhe numa hora dessas, pois ambos são completamente distintos e levam a situações totalmente opostas. As palavras ainda são importantes nesse caso. Igual ou tão mais importante do que as ações.

A boca se aproximou novamente da orelha, era palpável a aura de emoções, além do próprio arrepio que percorreu o corpo da jovem. Corpos unidos e as palavras. Palavras certas, assim esperava.
Paremos de fingir, deixemos a vontade tomar conta, descobrimos juntos até onde os nossos “se” e “quando” podem realmente nos levar... não resista, abandone o pensamento, permita-se sonhar e ver o fogo que nos inundará, pois a sedução e o desejo encontram-se a milímetros de nós...’
Uma boca finalmente já estava a pouca distância da outra. Os olhos a sua frente permaneciam fechados...

E esse é o momento crucial, o ápice da entrega. Por ele sabemos se estamos dispostos ou não a arriscar. O mínimo movimento do outro a procura da outra boca estabelece a montanha russa da entrega. Entrega total e imprudente.
O rosto liso e macio se virou procurando os lábios quentes que a esperavam. Até que a boca foi tomada. Sugada e presa o máximo de tempo possível. Esse era o ponto; o ponto a partir do qual não há mais volta.

Dedos fortes que prendiam o seu corpo tão delicado ao encontro do porte altivo. E as línguas se cruzavam e se entrelaçavam em uma só. Ondas de ardor foram retiradas daqueles seres. Mãos que desciam pelo decote deixavam expostos os mais belos seios e curvas que se possa sonhar.
Os dois. Unidos em perfeita harmonia e elevados aos seus limites. A maximização do prazer e do erotismo, as chamas que dominavam o próprio ambiente, as carícias intensas e os sons emitidos por dois amantes que encontraram a perfeição um no outro. 

O estremo, a glória, o brilho. 
Ofegantes, músculos exaustos, mas mentes prontas para repetirem quantas vezes mais conseguissem, até que seus corpos já não suportassem mais ou que definhassem por exaustão, porque dentro deles a saciedade estava longe de ser alcançada.

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