sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Hunted Hunter - capítulo 6: Wicked child



Cap.1
Cap.2
Cap3
Cap.4
Cap.5

    O moinho de vento ficava cada vez maior diante de seus olhos, conforme se aproximava. Apertava o chicote com força, estava ansioso; desde que fora contratado para cuidar do caso dos vampiros adolescentes, estava no encalço desse lugar. Destruiu os três que assolavam vilarejo no leste o país e conseguiu deles a informação que precisava: a localização do esconderijo. A destruição desse lugar representaria uma grande investida contra os vampiros... Mas algo o incomodava muito. Depois de anos de busca infrutífera, Laura, a vampira que matou seu irmão, simplesmente surgiu em sua trilha. Não esquecia as palavras de Sônia, de que aquilo tudo parecia armação. Tinham sido guiados por uma série de desafios, ligados um no outro, de alguma forma. E no ultimo desafio: ele se viu de frente com a colina Olney.
"Você não acha estranho?" Perguntou Sõnia.
   Sim, Gabriel achava muito estranho, mas, se Laura estava mesmo fazendo isso tudo só para manipula-lo a ir até ela, ele tinha que ir, por mais que seja uma armadilha. Sua vida não era nada, ele era apenas um instrumento de Deus para limpar a terra dos vampiros e se tivesse que morrer, então morreria sem medo. Queria uma chance de poder olhar pra ela e lhe perguntar "porque".
"Porque não me matou também?"
   Essa pergunta não saia da cabeça dele, acompanhou-o a vida toda.
   Caminhando pensativo, ele quase não percebeu o homem que estava à sua frente, parado, olhando-o.
   Gabriel parou e encarou aquele que estava em seu caminho:

   Era pouco mais alto que ele, vestia uma túnica preta. Não tinha cabelos e em sua mão, segurava um bastão branco, de caminhada. O homem sorriu e falou:
   - Essa aura... você é o moleque Belmondo, não é?
   - Essa presença aterradora... você é a morte, correto?
   Ele riu baixo e consentiu com a cabeça.
   - Fico feliz que ainda se lembre de mim, Belmondo. Acho que sabe porque eu estou aqui.
   - Você quer eles. Você quer os vampiros, é isso?
   - Sim! aqueles trapaceiros! fugindo da morte! Mande-os para mim Gabriel! Sou um inimigo terrível mas também posso ser um aliado poderoso!
   - É bom ter a morte ao meu lado.
   O senhor Morte lhe sorriu gentilmente.
   - Aquilo que procura... encontrará. Agora siga seu caminho, complete seu destino. Espero demorar muitos anos para voltar a vê-lo.
   O caçador fez uma reverenciou e seguiu o caminho, a colina e o moinho, estavam tão próximos que eles já podia sentir o cheiro de defunto que exalavam. Agora, não havia qualquer duvida: Laura estava logo ali, naquele moinho. Estaria ela aliada com os vampiros dessa região? Gabriel tinha muitas perguntas em sua mente, mas ele sentia que isso não seria apenas mais uma invasão à covil de vampiros, tão pouco parecia ser apenas uma armadilha... Pela primeira vez, Gabe sentiu um calafrio.
   - Acho que dessa vez vai ser interessante!
   Disse ele olhando para trás, tinha se esquecido que Sônia não estava com ele. Não estava acostumado a ficar sem ela. Voltou-se para frente, a porta do moinho estava a 5 passos de distancia dele. Seu coração estava acelerado. O vento soprava, fazendo o moinho girar lentamente. Respirou fundo e abriu a porta...
   Mal a abriu e uma pessoa veio lá de dentro, tentando acerta-lo com um desajeitado ataque de mãos limpas. Gabe recuou com um salto para trás. A pessoa que o atacou estava exausta por algum motivo, e gemia de dor.
   Era uma garota.
   A pela dela era branca como leite, seus olhos tinham uma cor violeta que reluzia lindamente com a luz da lua. Vestia-se com um vestido preto estilo gótico. Era bem bonita.
   - Morra! eu vou proteger esse lugar!
   Ela também era uma vampira, o odor de túmulo dela era inconfundível.
   - Outra vampira adolescente!? o que há de errado com esses jovens?
   A menina estava cheia de cortes e sangue pelo corpo, parecia que tinha acabado de sair de uma luta terrível. 
   Seu primeiro impulso foi atravessar o peito dela com uma estaca, mas sentiu pena. Ela estava claramente nas ultimas, mas mesmo sem força, mostrava-se feroz com a ideia de defender seu esconderijo.
   - Onde estão os outros?
   - Só sobrou eu. Os outros morreram.
   Ela se apoiava na porta, seus joelhos tremiam. Gabriel nunca tinha visto um vampiro tão machucado assim. Geralmente eles usam o sangue que sugam dos outros para se regenerar. Aquela menina devia estar sedenta.
   - Como eles morreram?
   - Cale-se mortal! não fale comigo assim!
   Mais uma vez ela tentou acerta-lo com as garras, mas o caçador pegou o braço dela e torceu para trás.
   - Você não aguenta nem o peso do próprio braço. - jogou-a de cara na parede. - O que aconteceu aqui?
   Ao olhar para o interior da sala, ele viu muito sangue espalhado por toda parte, e muitos, MUITOS montinhos de cinzas no chão. Os mesmos que ficam quando um vampiro morre. Gabriel olhou para a menina que estava segurando e perguntou:.
   - Quem fez isso?
   - Eu fiz. Só sobrou eu. Sou a mais forte. - a voz dela tinha um tom de choro. - Ela disse que eu seria recompensada... ela disse que o mais forte nós, viraria um lorde ao lado dela!
   Gabriel sentiu um frio na espinha.
   - Quem é "ela"?
   - Ela apareceu a uns dias atrás, matou nosso líder sem motivo. Ordenou que nos matasse-nos ate que só um sobrasse e esse, o mais forte, reinaria como lorde ou lady ao lado dela. O medo e a oferta de poder nos subiu a cabeça. Nos atacamos como animais...agora que só eu sobrei, eu devo matar alguém que vai tentar entrar aqui essa noite e completar meu destino, e me tornar uma lady vampira!
   Aquilo era terrível, até mesmo com vampiros. Alguém manipulou os sentimentos deles e os forçou a matar os amigos.
   - Quem é ela? quem foi a vampira que te fez isso?
   - Laura... o nome dela é Laura.
   O choque que aquele nome causou fez com que Gabriel afrouxasse as mãos, permitindo a menina se desvencilhar dele.
   - Onde está ela? onde está Laura?
   A menina apontou para um alçapão aberto no chão.
   - Ela está lá embaixo, me esperando. Mas eu não vou retornar, nao é? Voce vai me matar, não vai?
   - Sim, eu vou. Sinto muito pelo que você passou.
   A menina se encosta na parede, sentindo-se completamente desolada. Isso fez com que o caçador ficasse com ainda mais pena dela.
   - Eu não... quero morrer. - lágrimas de sangue escorreram dos olhos violeta dela.
   - Você morreu a muito tempo atrás, menina.
   - Jessica. Meu nome é Jessica.
   Gabe puxou uma estaca do casaco.
   - Vou fazer a Laura pagar pelo que fez a você e seus amigos.
   Cravou a estaca fundo no coração dela. Jessica fez cara de dor. Olhou bem nos olhos dele:
   - Obrigada...
   Disse ela e se desfez em cinzas no segundo seguinte.
   Ele sentia-se arrasado; crianças vampiros sempre lhe causavam isso. A maldita Laura armou isso tudo para deixa-lo abalado para o confronto definitivo.
   Rangendo os dentes de raiva, ele desceu as escadas do alçapão, queria muito encontra-la e logo.
   O piso de baixo era finamente decorado, parecia o interior de um castelo; o chão era coberto por tapete vermelho, e haviam velas iluminando o corredor. Logo que desceu as escadas, Gabe notou um homem à alguns passos à sua frente, segurando um candelabro.
   - Olá Gabriel Belmondo, caçador de vampiros.
   - Eu conheço você...Você é o Conde Ainslead não é?
   - Sim, sou eu. Te contratei para salvar minha filha e você a matou. Lembra disso?
   - Sua filha estava além de qualquer salvação. Onde está Laura?
   Ele sorri. O conde era um homem de cabelos e barbas brancas. Vestia-se com elegância impecável e sua voz era baixa e severa. Gabriel podia sentir raiva nele, apesar dele tentar disfarçar.
   - Ela está esperando-o, caçador. Siga-me.
   Ele virou as costas e andou até uma porta. Abriu-a e entrou, com Gabriel logo atrás. Era uma biblioteca. Ao fundo, sentada em uma poltrona, estava uma mulher de longo vestido roxo e uma mascara branca no rosto.
   - Senhorita Laura, o senhor Belmondo está aqui. - disse o conde.
   Ele foi até ela, deixou o candelabro na mesa e posicionou-se ao lado da vampira.
   Gabriel sentiu o coração acelerar, então, finalmente, Laura!
   A mulher levantou-se e puxou uma espada longa e fina que estava ao lado de sua poltrona.
   - Gabriel Belmondo, fico feliz em te ver aqui. Vejo que seguiu minhas dicas, precisamente como previ.
   - Morra monstro, você não pertence a esse mundo. - disse ele, calmamente.
   - Tem seus motivos para me chamar assim, Gabriel, e eu não te culpo.
   - Porque me deixou viver? na noite que matou meu irmão, porque me deixou viver?
   - Gabriel, preste muita atenção no que vou te dizer agora. Eu e seu irmão, éramos amantes.
   Aquilo soou nele como um soco nas vísceras. Isso tinha que ser mentira!
    - Não diga besteiras.
    - É verdade. Nos amávamos.
    O conde pareceu irritado com a conversa:
   - Ei que papo é esse? você me disse que iria mata-lo! ele matou minha filha e eu entrei nessa pra trazer ele pra cá para te ver matando ele!
   - Cale-se, Ainslead. Este é meu momento com Gabriel.
   - Não! - gritou o velho. - Eu fiz tudo como você mandou. Você e aquela outra menina vem me dizendo o que fazer a meses, desde que esse desgraçado matou minha filha! E eu obedeci, porque prometeu que o mataria!
   - Eu disse pra calar a boca!
   Com um rápido movimento de espada, Laura decepou a cabeça do velhote. Seu corpo foi ao chão como uma boneca de pano.
   - Desculpe esse inconveniente. Gabriel, eu amava seu irmão. Eu o matei por fui tola, manipulada.
   - Como assim.
   - Seu irmão estava desenvolvendo um tipo de soro, que neutralizava a fome por sangue dos vampiros. Se esse soro se espalha-se poderia trazer problemas a muitos lordes e ladies vampiros que existem. Seu irmão tinha boas intenções, mas estava mexendo com quem não devia.
   Gabe estava atordoado com aquilo tudo, era muita coisa pra ele engolir. Ela continuou:
   - Fizeram minha cabeça para mata-lo. Ama-lo era um erro e ajuda-lo a prosseguir com esse plano, seria insanidade. Eu era uma vampira! deveria viver como uma" Reinar sobre os mortais e não ao lado deles! Como fui tola... caí no jogo deles, fui enganada... matei quem eu amava verdadeiramente... e para que?
   O caçador tremia, ele não sabia como reagir. Não podia acreditar que a Laura que caçou a vida toda, tivesse de fato amado seu irmão. Ele esperou por um demônio, e o que encontrou foi isso?
   - Por isso eu não te matei. No momento que tive seu irmão morto em minhas mãos, eu sabia que o que fiz era errado. Vampiros são maus, e manipulam tudo e todos sem se importar com nada. Eu não sou diferente. Todos os vampiros precisam ser destruídos. Por esse motivo eu não te matei. Todos esses anos eu te observo. Te ajudando a treinar, te guiando secretamente para covis de vampiros poderosos. Eu mesma matei alguns deles, como você mesmo notou na entrada desse covil.
   - Por que isso? porque tudo isso? não me matou, me guiou entre vários desafios, manipulou o Conde Ainslead... e pra que? estou aqui agora, Laura! vamos lutar e ver quem é o maior caçador de vampiros, é isso?
   - Não. - ela tirou a mascara e a deixou cair, revelando seu rosto. - Você vai me matar agora.

   O rosto de Laura era terrivel; sua boca e queixo eram negros e retorcidos como se tivessem sido queimandos. Os dentes dela eram negros e quebrados.
   - Gabriel, eu trai e matei quem eu amava. Eu não quer e nem mereço continuar existindo. Eu esperei todos esses anos ara que você pudesse ficar forte e me matar. - Ela deixa a espada cair. - Agora mate-me por favor. A maldita manipuladora e assassina, que você sempre odiou.
   - Você quer que eu a mate? - ele não acreditava no que ouvia.
   - Eu cuidei do seu futuro para que você pudesse se tornar forte e acabar com essa maldita raça de vampiros. Você é forte agora. Faça seu trabalho, caçador.
   Ele pegou uma estaca e se aproximou dela, olhando-a nos olhos.
   - O que aconteceu com seu rosto?
   Ela sorriu. Seu sorriso era medonho, porém sincero.
   - Eu bebi o soro do seu irmão. A única amostra que ele tinha produzido. Não estava boa ainda, presumo. Foi minha penitencia... Queimou meus dentes e minha boca e eu não consigo mais morder ninguém.
   Laura ajoelhou-se e abriu os braços, esperando o golpe final.
    Com muito receio, ele mirou seu peito e lhe golpeou com toda sua força, atravessando as costelas dela, perfurando seu coração.
   Laura cai de costas no chão, gemendo alto.
   - Jonathan! eu estou indo! eu finalmente estou...
   Com um longo suspiro, Laura se desmancha em cinzas.
   Morta, finalmente. Mas ao contrario do que esperava, Gabriel se sentia vazio. Era isso que ele tinha buscado a vida toda? O dia já estava amanhecendo. O conde Ainslead estava morto ao lado de Laura, ele fazia parte disso tudo, junto com outra pessoa...sim, o conde mencionou mais uma pessoa, pouco antes da Laura lhe cortar a cabeça. Tomado por um mau pressentimento, o caçador decide correr para o vilarejo de Ravenest.

continua...

by Kennen
.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Missao anjo da guarda: capitulo 4: Olhos negros



Eu acordei com um raio de sol que entrava por uma fresta da parede e batia diretamente nos meus olhos. Espreguicei e coloquei-me de pé. Precisava encontrar seja lá quem fosse o meu protegido e já havia perdido tempo demais.

Assim que abri a porta o morador do apartamento em frente saiu no mesmo instante. Nossos olhares se cruzaram por um breve instante e encarei aqueles obscuros olhos castanhos.

Era ele, não sabia explicar por que nem mesmo como. Mas eu tinha certeza, era ele!

– O que está olhando, garota? – Ele rosnou para mim.

–Quem é você?– indaguei.

– Eu que te pergunto, quem é você?– Ele me encarou.

– Isabela. Agora quem é você?

– Pedro. – Ele respondeu em um tom seco ao notar que eu ainda o observava. Ele era alto, tinha o cabelo curto e intensamente preto, tinha a pele bronzeada e deveria ter 18 ou 19 anos.


– Olha, eu tenho que ir – Disse me dando às costas.

– Ei, espera!– Gritei por impulso segurando o seu braço. Não acreditava que tinha feito aquilo, tocar um humano me dava nojo.

Ouvi um chiar e comecei a sentir um cheiro de carne queimada.

Ele puxou o braço de volta as pressas.

– Tire suas mãos de mim!– Ele rosnou como um bicho feroz. Seus olhos haviam mudado, estavam totalmente negros e assustadores.

Eu me afastei por impulso. Não era possível, um humano não reagiria assim ao toque de um anjo. Só se... Não, não podia ser...

Ele colocou o skate de baixo do braço e saiu andando. Comecei a andar atrás dele.

– Escuta aqui, não sei quem você é ou o que quer, mas fica longe de mim. – Ele disse ao se voltar para mim, seus olhos já haviam voltado ao normal.

–Aonde você vai?

–Para a escola.

– Vou com você.

Ele socou a parede ao meu lado, fazendo com que essa se deformasse. A força dele era muito superior a de um humano normal.

Só agora eu havia notado ele não tinha aura. Mas aquilo não era possível!

– É surda, garota?! Eu falei para ficar longe de mim.

– E eu disse que vou com você.

– Você por acaso trabalha pros tiras? Se trabalha eu estou limpo, okay? Estou longe das drogas à um ano, tá legal. Minha condicional acabou a um mês.

Nossa, que maravilha eu tinha que proteger o senhor encrenca. Por que não simplesmente o deixavam morrer e poupavam o trabalho? Os humanos eram tão inferiores ainda mais um como aquele.

– Não sou tira. – Respondi.

– Então o que quer comigo?

– Ir para a escola tbm.– Disse de imediato.

Ele me encarou nem um pouco convencido.

– Garota estranha. – Sussurrou. – Tá bem, mas fica longe de mim.

Ele saiu andando. O segui.

Ainda não podia acreditar que estava ali, deveria estar no céu, com os outros anjos da morte e não naquele lugar fétido protegendo um humano metido a encrenqueiro.

Caminhamos alguns minutos até um lugar com muros altos e completamente pichados e onde adolescentes se aglomeravam perto do portão.

– Oi, Pedro– sussurram algumas garotas para ele. Idiotas!

– Olha só quem resolveu aparecer. – Ouvi alguém dizer atrás de nós.

Virei-me e vi um cara mal encarado cercado por um bando. Ele parecia ter mais que vinte anos e exibia uma cicatriz que atravessava o lado direito da sua face.

– Imagino que já tenha o meu dinheiro.

– Ainda não, mas... – Pedro gaguejou.

– Como assim não tem o meu dinheiro?! Tá me achando com cara de palhaço é?

–Não, claro que não. Vou dar um jeito de conseguir seu dinheiro cara, mas só preciso de mais tempo.

– Não sou relógio para te dar tempo, sacou?– O garoto estava enfurecido. –Deem uma lição nele!– Ordenou aos seus capangas.

Os caras avançaram na direção de Pedro. E um deles desferiu um soco contra o rosto do meu protegido fazendo com que esse caísse ao chão. Pedro se levantou massageando o rosto. Seus olhos estavam completamente negros novamente.


– Eu disse que ia conseguir o dinheiro! – Ele rosnou como um cão, feroz.

Entrei entre ele e os homens que avançavam.

– Fiquem longe dele! – Ordenei.

O líder do bando começou a rir.

– Olha isso, Pedro precisa de uma garota para defender ele.

Esse comentário deixou Pedro ainda mais furioso. Ele me encarou com os olhos ainda negros.

– Eu disse para ficar longe de mim– sua voz tinha um tom áspero assustador.

– Estou tentando ajudar você!

– Eu não preciso da sua ajuda!

Graças à coragem da sua namoradinha você tem até amanhã para me trazer o dinheiro ou vai levar mais do que um soco. – O homem ainda estava rindo de deboche.

Pedro me olhou pela última vez e saiu andando. Eu o segui. Não acreditava o que estava fazendo.



Continua...

by Ashe

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Destrutivo



Morte. Palavra familiar.
Redenção. Palavra desconhecida.
As sirenes do outro lado do vidro são audíveis. Preciso me mover, preciso sair daqui, mas como?Pergunto-me. Como deixar o palco da encenação?
Viver dos momentos ludibriadores que permanecem ao meu redor? Jamais!
Entregar-me? Não é uma opção!
Sinto minha mandíbula se contrair, meus dentes comprimidos pela força aplicada. Corpos diferentes; constituem par de ação e reação...
Ainda assimilo o breve pensamento que tive antes de me comprometer: O quê está pensando?!Eles vão te pegar! – Não!! (jurei para mim mesmo) Nunca! Sou o melhor no que faço!
É real. Sou mesmo o melhor no que faço. Indiscutível.
Um ano atrás, um maníaco assume o posto de líder. Fecho meus olhos e penso na ira que me domina quando penso em tudo o que ele fez. Retomo os passos que fiz até alcançar o meu objetivo.
Estou na rua. Luzes cintilantes, neons para ser exato. Noite alta, vasta multidão, muita música, mulheres, homens, outras espécies...
Pelos cantos, os desvalidos, os cansados, crianças, idosos, pessoas que passaram a ser ignoradas, acusadas e torturadas por serem julgadas como impróprias para habitarem no meio da sociedade. O homem que consumia o próprio homem. Ao menos seria essa a lógica se eu ainda julgasse como humanos as criaturas manipuláveis e cruéis que gostavam da carniça dos que um dia foram os seus iguais.
As vozes altas e baderneiras, os odores fortes, o gosto intragável daquela multidão. Carniça! Odeio isso... pessoas nojentas e que se mostram superiores, quando na verdade são piores do que os próprios excrementos.
Loucos. Depravados. Mentes sórdidas e pútridas que desejam se unir ao asco de sua existência, ou ao menos levar consigo um maior número de adeptos desse estilo.
Como podem fazer tal coisa? Como podem cogitar o verdadeiro prazer como um ato imprudente e repugnante do que julgam ser a alegria? Aversão já não é mais o senso correto pelo qual entregaria tais espécimes... Talvez ‘filhos do mundo’... os verdadeiros (ódio interno... posso senti-lo).
‘Filhos do mundo’, mistura tola e irracional pela qual definem todos aos quais não pertencem ao seu segmento. Com se pudessem de fato prever todos aqueles cuja mente e bolso são confiáveis o suficiente para estarem no meio desses vadios imundos.
Ha,ha... sarcasmo... como diriam: tenham fé meus fiéis, pois afinal, quem pode prever as atrocidades as quais estamos sujeitos por culpa dos filhos do mundo...
O discurso político é evidente, mas isso é assunto para outro instante. Respondendo: EU posso prever, EU sei o que esperar, como e quando esperar, SOU capacitado... Responsável pela justiça - não o julgamento, pois eles se autocondenam- tolos e imbecis acham que podem escapar, mas não, nunca podem!
E hoje era a vez do grande desastre para o chefe deles. Aquele cuja mente se prediz capacitada para o auto controle e dominação das massas. Sua figura tão calma e serena esconde de todos a maior infecção jamais vista por aqueles que o cercam, ou ao menos aqueles que se deixam dominar por ele. Esta noite ele conhecerá a verdadeira justiça divina.
Os aposentos dele eram luxuosos. Luxuosos demais para alguém que vivia se dizendo santo e humilde servo. Humildade nunca foi palavra para aquele ser. Humilhação será a palavra ideal.
Devido as ideias repulsivas daquela mente, hoje a sociedade se encontrava em organização destrutiva. Os assim chamados “mais fortes” agora possuíam poderes diretos sobre qualquer um que considerassem mais fracos ou descartáveis para o mundo.
Era horrendo! Pessoas cometendo atrocidades contra as outras por se acharem nesse direito. E eu percebi que elas nunca iriam parar se o líder não fosse deposto.
Meu ódio por eles era intenso, a minha boca secava cada vez que minha mente recordava o motivo maior que me levou até aquele lugar. Receber o corpo do meu filho. O corpo inerte e frio, um garoto de quinze anos, fuzilado. Um menino esperto, inteligente, que possuía uma vida inteira pela frente.
Meu filho. Morto. Um mês depois eu recebo o disparate de um pedido de desculpas enviado pelo correio. Diziam que meu filho havia sido confundido com um dos ‘filhos do mundo’. O ódio cresceu, a vontade de vingança surgiu. Mas ódio e vingança acumulados me fizeram criar forças, fizeram cada passo se tornar único e cego até atingir o objetivo.
E hoje eu estava ali, naquele lugar. O alarme já havia sido soado, mas eu não desistiria. Eu o encontraria e depois mostraria sua cabeça despregada de seu corpo para todos que ali estivessem.
Levantei-me e comecei a andar pelo local. Era uma fortaleza enorme, mas meus instintos já estavam treinados e meu ódio crescia cada vez que sentia estar chegando perto. Eu o mataria e deixaria o sangue escorrer pelos meus dedos.
Atravessei todos os corredores e alcancei uma porta enorme. Sem pensar duas vezes saquei a arma que carregava e entrei no local. A minha frente havia um monitor, uma espécie de tela gigante e apenas uma cadeira. Assentado nessa cadeira havia alguém. Ele.
Apontei a arma em sua direção.
_Vire-se...bem devagar... quero olhar nos seus olhos enquanto eu o faço pagar por tudo isso.
A cadeira foi virada e o rosto familiar apareceu. Era idêntico aos dos inúmeros programas e cartazes distribuídos por todos os locais. O homem velho e grisalho.
_Assassino...
Meu dedo já estava no gatilho. Minha mente já estava preparada. Mas não precisei puxar o gatilho para ouvir o barulho da bala. Foi então que notei. Atrás de mim havia mais alguém. Esse alguém havia acabado de matar o homem a minha frente.
Não me virei rápido, mas quando o fiz, meus olhos não acreditaram naquilo que estavam vendo. O garoto sorria enquanto abaixava a própria arma lentamente. Depois me encarou e eu gelei com aquela expressão.
_Olá... papai.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A travessia parte II



Não deixe de ler a Parte I





Deslizei a minha mão sobre a sua nuca e puxei o seu cabelo curto trazendo o seu rosto para mais perto do meu. A pouco mais de três meses ela era uma completa estranha que eu havia arriscado a vida para trazer em segurança até a Tribuna e agora estávamos lá, em meio a um beijo quente. Desde o primeiro instante em que a vi senti algo especial por ela, e seria só questão de tempo para que algo acontecesse entre nós.
Empurrei-a contra a parede e comecei a dar leves mordidas e beijos no seu pescoço. Eveline se arrepiou e enterrou os dedos no meu cabelo. Deslizei as mãos pelo contorno do seu corpo até seus seios. Ela suspirou e intensificou o beijo. Nossas línguas dançavam em perfeita sincronia.
Retirei a sua blusa e joguei ao chão. Ela fez o mesmo com minha camiseta. Soltei o seu sutiã e o retirei. Meus lábios percorreram um caminho pelo seu pescoço ate a região entre os seus seios.
Eveline me puxou para a cama e deitei sobre ela. Encarei-a e vi sorrir. Como eu adorava aquele sorriso! Retirei as roupas que ainda nos cobriam e a puxei, sentando-a no meu colo. Minhas mãos percorriam o seu copo, enquanto ela subia e descia em mim.
– No... Noah... – ela gemia o meu nome.
Chegamos ao clímax juntos e ela caiu sobre o meu peito. Sua respiração era ofegante.
Com ela deitada sobre mim, acariciei eu cabelo e dei vários beijos carinhosos até pegarmos no sono...
Acordei no meio da noite com o telefone tocando. O barulho acabou acordando-a também.
– Alô. – eu resmunguei ao atender o telefone.
– Noah, finalmente conseguimos decifrar o que a Eveline nos trouxe. Precisamos de vocês aqui. – disse o responsável pelo nosso setor de inteligência.
– Estamos indo. – avisei antes de desligar o telefone.
Eveline e eu nos vestimos e fomos até a sala de reuniões onde os mais importantes membros da tribuna estavam. Quando passamos pela porta todos os olhos se voltaram para nós. Eu não gostava muito de todos aqueles holofotes, não passava de um atravessador e gostava disso, mas depois que Eveline chegou parece que tudo havia mudado.
 – Que bom que finalmente chegaram.  – disse Aron a nós. Ele era um homem alto de cabelos grisalhos e vestia um terno de giz. Aron era o presidente da tribuna, o fundador da resistência.
– Como não temos tempo para rodeios vou direto ao que interessa. – disse Yan. Ele não dirigia a inteligência da tribuna ao acaso. Era o nosso maior cérebro.  – Analisando os dados que Eveline trouxe para nós descobri que a Nova ordem encontrou um meio de restaurar o clima antigo da terra...
Um murmúrio alto começou a ecoar por toda a sala. Os membros da tribuna estavam incrédulos sobre o que acabaram de ouvir.
– Isso é impossível! – exclamou alguém.
– Não com a tecnologia e a fonte de energia necessária para sustentar o sistema. – um holograma surgiu na mesa do centro. Todos os olhares se voltaram para ele cuja imagem mostrava uma caverna repleta de cristais. – A ordem descobriu nesses cristais uma energia ainda mais forte do que a radioativa. Energia suficiente para manter em pequenas aéreas um clima semelhante ao da terra no século passado...
Os murmúrios ecoaram pela sala novamente, as pessoas não acreditavam naquela possibilidade.
– Então a Ordem está tentando fazer uma coisa boa em restaurar o antigo clima? – me atrevi a perguntar.
– Não. – Yan foi enfático. – Vindo da Ordem nada é para o bem do povo. Eles planejam vender essa tecnologia a quem possa pagar por ela...
As pessoas voltaram a discutir. Olhei para Eveline e ela não parecia nem um pouco chocada, conhecia bem a Ordem para não esperar menos.
– Eu preciso de um desses cristais para tentar replicar o projeto deles. – Yan continuou dizendo.
– Eu vou! – anunciou Luke de um canto da sala, nem ao menos esperou que o chefe de inteligência terminasse a sua fala.
– Maravilha! – Yan sorriu. Luke me parecia um bom candidato a missão, era um dos melhores homens da segurança. – Não é nada muito complexo... – começou a explicar. – É mais uma missão de reconhecimento. A caverna fica em uma das montanhas dos Andes, então enfrentará temperaturas muito mais baixas do que as que estamos acostumados. Graças ao trabalho de Eveline temos todas as coordenadas do local, portanto preciso apenas de um cristal e mais fotos do local.
– Vai ser fácil! – Luke contou vitória.
Eveline olhou para mim com uma expressão séria estampada em seus olhos castanhos. Ela estava preocupada e eu também. Nada era tão simples quando se tratava da Nova Ordem.
Luke recebeu as ultimas instruções e partiu em viagem. Durante a breve despedida não consegui tirar de mim a péssima sensação que sentia. Um mês depois as noticias chegaram e não eram nada animadoras. Luke havia sido assassinado, e antes de morrer, deixou uma mensagem, não para a tribuna, mas para mim, ninguém na tribuna conhecia aquele método de agir tão bem quanto eu.
– Eu vou até a caverna. – anunciei em uma das reuniões.
– Não! É perigoso demais. – Eveline tentou me impedir. – Você é só um atravessador.
– Noah está certo. – Aron concordou comigo. – Está na hora de você resolver isso. – disse ao se virar para mim.
Concordei com um aceno de cabeça e fui arrumar as minhas malas Eveline veio atrás.
– Isso é loucura, Noah. Você não pode ir lá, tem um assassino da Nova ordem naquela caverna – ela segurou meu braço para que eu parasse e olhasse para ela.
– É por isso mesmo que eu vou. – não disse mais nada e fui para o meu quarto. Joguei algumas roupas numa mala e abri um cofre atrás do meu guarda-roupa onde peguei algumas armas.
Quando me virei dei de cara com Eveline parada atrás de mim, com uma bolsa pendurada no ombro.
– O que é isso? – perguntei.
– Não acha que eu vou te deixar ir sozinho, acha?
Abri a boca para protestar contra a atitude insana dela. Porem antes que qualquer palavra saísse da minha boca ela me calou com os lábios.
– Nada de mas.
Embora eu não pudesse deixá-la ir, não consegui obrigá-la a ficar. Eveline era bem persuasiva quando queria.
Viajamos de carro até Mendonza na argentina. Por mais que os transportes aéreos fossem mais rápidos e
eficientes esses eram mais controlados pela Ordem e burlá-los era mais difícil. O lugar estava praticamente deserto, eram poucos os que se arriscavam a viver em temperaturas inferiores a -20 ° c.
A viagem de carro, não foi mais complicada do que a escalada até a caverna. Receber as coordenadas era fácil, o complicado mesmo era escalar até lá. Olhei para Eveline subindo ao meu lado e dei-lhe um rápido beijo, tocando seus lábios gelados de frio. Preferia que ela tivesse ficado segura na tribuna, ela era uma espiã e não uma exploradora.
Quando finalmente chegamos à entrada da caverna Eveline sorriu, impressionada com a beleza daquele lugar. Os cristais refletiam a pouca luz do sol para dentro da caverna criando um efeito único e maravilhoso.
– Finalmente você apareceu! Achei que mandaria mais dos soldadinhos da tribuna para que eu me divertisse. – Eveline e eu nos viramos no sentido da voz.
Os olhos dela se arregalaram de surpresa quando viu o homem há alguns metros de nós. Ele vestia roupas grossas pretas e tinha uma espada junto ao corpo, contudo o que provavelmente a assustou foi o fato dele ter o mesmo rosto que eu.
– Não contou há ela sobre mim? – ele perguntou em meio a uma risada sarcástica.
– Esse é o Hoan. – murmurei – meu irmão...


Continua...

By Ashe

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Hunted hunter - Capitulo 5: Cross Fear



Não esqueça de conferir os capitulo anteriores:

cap.1- http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/10/hunted-hunter-capitulo-1-bloodlines.html

cap.2- http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/11/hunted-hunter-capitulo-2-vampire-killer.html

cap.3- http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/11/hunted-hunter-capitulo-3-dance-in.html

cap.4- http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/11/hunted-hunter-capitulo-4-crystal.html


   
  
  
   Em algum lugar...
   - Você estava certo. Ele está mesmo vindo para cá.
    Uma mulher mascarada em um longo vestido roxo, olhava por uma janela, encarando a chuva do lado de fora. Falava com um senhor à suas costas, um cavalheiro de cabelos e barba brancas. O senhor sorriu para ela:
   - Eu te dou o que você quer, e você me dá o que eu quero.
   A mulher sorriu por baixo da mascara e assentiu com a cabeça.
   Uma mocinha de vestido dourado e cabelos vermelhos se aproximou do senhor e lhe tocou os ombros.
   - Está na hora - disse ela - temos trabalho a fazer.
   O cavalheiro consente e deixa a sala com a moça de dourado. A mascarada toca o vidro da janela e suspira:
   - Gabriel...


                                                                              ***

  " Nada pior que uma chuva para atrapalhar a viagem de duas pessoas que viajam a pé!"
   Gabriel repetiu essa frase varias vezes, resmungando por terem sido pegos por uma chuva inconveniente no meio da sua viagem. Sônia suspirava cada vez que ele repetia aquela frase, preferia que ele ficasse quieto, mas... Gabriel tem que ser Gabriel...
   - Poderia ficar mais calmo por favor? - pediu ela - tem uma aldeia logo ali.
   Sônia apontou para uma placa entre umas arvores que indicava um caminho na mata. Ao se aproximarem, puderam ler  placa:" Ravenest". Mais abaixou, pintado de tinta vermelha, uma frase: "Entre por conta e risco!"
   - Parece que é bem o nosso tipo de lugar. - disse Gabriel, sorrindo de canto. - Um fosso fodido e possivelmente assombrado.
   - Não faça graça! essas pessoas podem estar precisando de ajuda!
   - Ok. Vamos dar uma olhada, até porque não parece que temos muita opção, precisamos de um lugar pra passar a noite e recarregar.
   A dupla tomou o caminho para Ravenest, acelerando o passo; a chuva estava fazendo escurecer mais depressa.
   Sairam da floresta onde estavam e correram por um caminho de barro molhado até encontrarem um vilarejo. Várias casinhas com telhado de palha, coberto por escuridão. Nenhuma luz de nenhuma das janelas.
   - Abandonada? - perguntou Sônia.
   - Não, tem alguém ali.
   Entre as casinhas, havia um homem parado, na chuva. Estava escuro, mas era possível vê-lo ali, quase imóvel.
   - Ei. Ei você! - chamou ele, se aproximando.
   O homem no entanto não se moveu. Sônia empunhou sua cruz, estava com um pressentimento terrível. Seguiu de perto seu parceiro, que adentrava a vila.
   As casas estavam todas fechadas, não era como se estivessem sido abandonadas... tinha algo muito estranho ali.
   - Ei! eu falei com você! - Gabriel tocou o homem no ombro e o virou para si.
   O homem rosnou para ele. Seu rosto era cadavérico, parcialmente comido. Suas roupas estavam sujas de barro. Suas mãos eram como o rosto; podres e corroídas. Os caçadores deram um pulo para trás, com o susto. O homem começou a andar na direção deles, arrastando uma das pernas.
   - Mas que diabos tá acontecendo aqui?
   A sacerdotisa ficou costa-a-costa com seu parceiro.
   - Gabe? acho que temos um probleminha aqui.

   Estavam cercados. À volta deles, dezenas de outros camponeses apodrecidos. Não apenas adultos, algumas crianças também. O caçador desenrolou o chicote.
   - Quanta miséria - lamentou ela - Em nome de Deus, eu não posso permitir que essas pessoas sofram dessa forma.
   O chicote cortou o ar, abrindo um talho incandescente no peito do zumbi que se aproximava.
   - Vamos dar descanso a eles.
   Sônia apontou para frente sua cruz e orou:
   - Fugata daemones et spiritus nequam
   Os camponeses zumbis recuaram com a luz divina que emanava do corpo da sacerdotisa. Eles pareciam sentir medo da presença dela. 
   Se separaram; cada um com seu estilo;Gabriel espancava e rasgava os zumbis com brutalidade, e Sônia usava a presença de Deus para livra-los daquela dor pós morte.
   - Auferte! 
   Ela apontava a cruz e os zumbis naquela direção desmanchavam como lama. Quando o ultimo deles foi destruído, os dois se reencontraram no centro da vila, onde havia um poço.
   - Acho que esses foram os últimos. Você está bem? - perguntou ele, enrolando o chicote.
   - Estou bem, mas ainda tem algo que em incomoda.
   - A mim também. Esse lugar não parece abandonado. Esse poço está em ótimas condições, e eu vi umas plantações ali atrás... E esses casas...
   Ele deu um passo em direção a uma das casas e gritou:
   - Saiam daí!
   - Gabriel! seja mais delicado!
   - Nós sabemos que vocês estão escondidos aí!
   - Nós nos livramos de todos os monstros, não precisam mais ter medo!
   Alguém abriu uma fresta na janela...


                                                                  ***

   O vilarejo de Ravenest e seus habitantes tinham uma vida dupla: de dia, eles trabalhavam e cuidavam do crescimento da vila, eram felizes. De noite, todos se trancavam em suas casas, pois os mortos, seus mortos, levantavam do túmulo e assombravam as ruas. No começo, eles não entendiam o que acontecia e muitos foram mortos pelos ataques surpresas dos mortos. Foi então que descobriram que se ficassem trancados em casa sem fazer barulho, os mortos passariam a noite nas ruas e voltariam aos túmulos, ao amanhecer, sem ferir ninguém.
   A chuva ainda caia do lado de fora. No centro da casa, uma fogueira os aquecia ao mesmo tempo que esquentava agua em uma chaleira. Gabriel e Sônia estavam enrolado em toalhas, sentados no chão, ouvindo as historias da família que os acolheu.
   - Sentimos muito por seus mortos - falou Gabe - mas acho que eles não voltam mais.
   - Mas o que poderia ter causado isso? - perguntou a Sacerdotisa
   O homem coçou a barba e os olhou:
   - Não sabemos com certeza mas... a umas semanas, uma moça apareceu por aqui. Estava toda coberta com um manto preto. Ela passou pela vila e foi em direção do nosso cemitério, e então...
   - Foi terrível! - falou a esposa do homem - ver nossos familiares e amigos que morreram, assombrando as ruas, arranhando as portas das nossas casas...
   - Depois que a chuva passar, nós vamos dar uma olhada nesse cemitério.
   Os aldeões tentaram argumentar que isso era loucura, mas a dupla de caçadores não demonstrava qualquer medo
   A chuva parou, tomaram chá e se aqueceram à fogueira. O homem não levou-os até ao cemitério, ele ainda tinha medo de sair de casa durante a noite, mas lhes indicou como chegar lá, não era muito longe; ficava numa pequena colina, à norte da vila.
   Abriram a porta e saíram da pequena casa. Na rua, os restos dos zumbis jaziam espalhados pelo chão. Sônia notou que conforme eles deixavam o lugar, vários olhinhos curiosos os olhavam por frestas de portas e janelas.
   Gabriel caminhava à frente com o chicote na mão, e logo atrás dele, Sônia carregava um lampião, iluminando um pouco o caminho. 
   Alguns minutos de caminhada depois, os dois estavam de frente a um portão de ferro enferrujado, que levava até uma pequena colina, onde ficava o cemitério. 
   Cautelosamente,  adentraram no lugar. Muitos túmulos estavam abertos e vazios, mas outros ainda continuavam fechados.
   - Eu sinto uma energia estranha vinda to túmulo ali do topo - disse Sônia com voz trêmula. - Necromancia...
   No tal túmulo que ela indicou, havia um símbolo estranho desenhado com sangue. Não era nada que Gabriel recordasse já ter visto, mas Sônia continuava afirmando que era trabalho de um necromante.
   - É necromancia fraca - disse ela - só para perturbar os mortos  os fazer andar por ai.
   - Então quem fez esse feitiço é fraco nas arte das trevas?
   - Ou só tá querendo brincar com o sentimentos das pessoas...
   - Você pode desfazer isso?
   - Claro, só vou precisar de um tempo.
   A sacerdotisa ajoelhou-se no chão e começou o ritual de purificação do símbolo,para remove-lo. Espalhou sal e agua benta por toda a marca, ao mesmo tempo em que orava. Gabe por sua vez, sentou-se em um dos túmulos, para descansar. Olhou o paisagem lá cima, era noite, mas mesmo assim, viu algo que o deixou intrigado.
  
- Fugata daemones et spiritus nequam!
    Uma fumaça negra subiu da marca no chão e ao longe, eles puderam ouvir uivos de dor, como se varias pessoas estivessem sofrendo.
  - Pronto. - disse ela, levantando-se - eles vão encontrar seu caminho agora. vão descansar.
   - Você é muito boa nisso.
   - Deus está comigo. Tudo que eu faço é porque ele me permite.
   - Amém. Ei, eu tava pensando... aquilo mais adiante, parece um moinho, não parece?
   Ela apertou os olhos por uns segundos e depois respondeu:
   - Sim, parece sim. Eu imaginei que estávamos perto de Olney, mas parece que estávamos mais perto do que pensávamos.
   - Então ali é o esconderijo daqueles vampiros. Vamos para lá agora mesmo!
   - Não vamos. - ela disse firmemente.
   - O que? vamos sim, é pra isso que viemos aqui!
   - Gabriel, essas pessoas precisam de nós agora. Temos que ajuda-las a limpar os corpos nas ruas, orar por eles e sepulta-los mais uma vez.
   - Nem pensar! já perdemos tempo demais. Desde que fomos contratados para encontrar aquela menina, a Ashlotte Ainslead, buscamos esse lugar. Eliminar os vampiros que se escondem alí é nosso objetivo! Vamos limpar os vampiros dessa parte da Europa.
   - É isso que você realmente quer? salvar pessoas? banir os vampiros? ou simplesmente saciar seu ódio, espancando e matando vampiros? Isso não vai trazer o seu irmão de volta!
   - Deixe Jonathan fora disso! - ele arfava de raiva.
   - Pense um pouco, não acha estranho o que ta acontecendo? TUDO que nos aconteceu nos últimos meses nos guiou ate aqui, até este ponto que por um acaso, fica bem de frente com o moinho de vento da colina Olney.
   - Então o que? ta dizendo que é algum tipo de armadilha?
   - Não! mas há a possibilidade! Não se atire ao perigo dessa forma!
   - Acho que daqui para frente nossos caminhos divergem. Eu tenho minhas escolhas e você tem as suas.
   - Eu não vou abandonar essas pessoas em um momento tão delicado.
   - Me desculpe, mas eu não sou um padrezinho, tenho coisas mais importantes pra resolver. 
   - Então meu trabalho não é tão importante quanto o seu, é isso que ta dizendo?
   - Entenda como quiser.
   Ele virou as costas e começou a descer o cemitério.
   Voltaram ao vilarejo. Ela estava muito contrariada, sentia um aperto forte no peito.
   - Não tem como te convencer a ficar? 
   Perguntou Sônia, vendo que ele estava mesmo de partida.
   - Não tem como eu te convencer a vir? - respondeu.
   - Meus deveres estão aqui.
   - Os meus, estão lá. Eu volto para te buscar.
   - Que Deus acompanhe você.
   Gabriel assentiu com a cabeça a partiu. Ainda estava escuro, mas ele sabia que o momento que ele esperou a vida toda, finalmente tinha chegado. Ainda estava com raiva de Sônia, mas não podia deixar de ficar feliz por ter certeza de que ela não iria se envolver com aquilo. Se Laura estava mesmo por trás disso... não vai ser bonito.
   A distancia entre os dois ficava cada vez maior e ela não conseguia deixar de olhar o parceiro se afastando, sumindo na escuridão. Queria estar com ele, mas precisavam dela aqui. Só lhe sobrava orar para que Deus o proteja.

Continua...

by kennen

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Missão anjo da guarda : Capitulo três: Beco sujo






Não demorei muito para encontrar o local descrevido pelo homem. Felizmente, ou não, o local era exatamente como nas descrições, um beco sujo, fedorento e sem saída se destacava decrepito e cheio de rachaduras.
Um rato, que mais parecia um gato de tão grande, correu a minha frente e foi se esconder num amontoado de lixo que estava na esquina. Baratas apontavam as suas antenas e corriam dos boieiros para a rua a fim de saborear os últimos vestígios do dia.
Perguntei-me como alguém teria coragem de morar em um lugar como aquele, onde os seres do esgoto é que reinavam. Certamente a vigilância sanitária não fazia muitas aparições por ali.
Caminhei até a entrada do prédio onde um homem estava sentado e tragava um cigarro. Ele possuía cabelos brancos e a sua barriga saltava para fora da camisa com os botões estourados. Tive nojo ao olhar para ele, nem sei quem fedia mais, se era aquele homem ou o lixo amontoado na rua.
– Olá, gostosa! – ele sorriu para mim exibindo um conjunto de dentes cariados e outros que nem estavam mais lá. – Quem é você? Por acaso Deus ouviu as minhas preces e mandou uma mulher bonita para me satisfazer. – ele me lançou um sorriso malicioso.
Eca! Eu senti só de imaginar aquelas mãos imundas em uma criatura celestial como eu.
– Eu gostaria de um quarto. – murmurei logo me arrependendo do que havia dito.
– Pode ir para o meu se quiser. – ele piscou para mim.
– Nem se fosse a minha única opção. – respondi de imediato.
O homem fechou a cara, provavelmente nada satisfeito com a minha resposta. Mas por mim pouco importava, tudo o que eu queria era acabar logo com aquela palhaçada e voltar a dimensão celestial.
– Papai do céu não gosta de quem distrata as pessoas, sabia? – disse o homem ao levantar-se com muito esforço da cadeira. Provavelmente aquela enorme e cabeluda barriga deveria pesar uma tonelada.
– Pode acreditar, eu o conheço melhor do que você. – murmurei. – Vai me arrumar um quarto ou não?
– Espera ai garota! – disse o homem ao levantar as mãos. – as coisas não são bem assim não. Ter um quarto eu ate tenho, mas recebo adiantado e são 150 por mês. – disse ao estender uma das mãos viradas para cima.
– 150 por esse brejo. – murmurei surpresa com o valor. – Só pode estar de brincadeira.
– É pegar ou largar. – disse o homem. – Eu duvido muito que encontre algo melhor do que isso por ai.
Tirei o dinheiro da bolsa e o coloquei sobre a mão imunda do sujeito. Ele olhou para mim e sorri grato.
– Segundo andar, quarto 28. – disse o homem ao pegar uma chave atrás do balcão mandar para mim. – recebo sempre adiantado. – berrou assim que eu dei as costas. – e qualquer problema que tiver com o quarto, bem... é problema seu. Mas sinta-se a vontade se quiser visitar a suíte presidencial.
– Ótimo! – pensei alto. – Eu me viro sozinha.
As portas dos quartos tinham números garrafais pregados nelas. Procurei pelo número 28. Quando coloquei a chave na fechadura, tive medo que essa caísse na minha mão. Assim que abri a porta e acendi a luz, uma barata correu para debaixo da cama.
Só poderia ser um pesadelo, do qual eu estava desesperada para acordar. Deveria ser proibido colocar um anjo em um chiqueiro como aquele.
Eu me sentia imunda, infectada com aquela sujeira toda. Precisava de um banho, mas só de olhar para aquele banheiro eu desisti.
Joguei a sacola de roupas sobre uma cômoda caindo aos pedaços e sentei-me sobre a cama que rangeu por mal suportar o meu peso. O céu estava escuro lá fora e a chuva não tardou a cair.
As pedras de gelo se chocavam contra o telhado mal feito e batiam contra a janela de vidro, pela qual entrava a pouca luz externa. No verão eram comuns chuvas como aquelas, mas sua intensidade não era um bom sinal.
Abria as minhas asas e as fechei em torno do meu corpo. As penas de um tom branco encardido me irritavam, mas pelo menos serviam para me lembrar de que eu ainda era um anjo, mesmo que a minha colocação não fosse mais a mesma.
Acariciei as penas, enquanto respirava fundo. Quando será que aquele terrível pesadelo iria acabar?
– Belas asas. – disse uma voz familiar.
Ergui meus olhos e encarei um anjo parado de pé a poucos metros de mim. Ele era alto e os seus músculos se destacavam sob a túnica, seus cabelos eram cor de cobre e os olhos verdes. As asas intensamente negras o tornavam inconfundível.
– Aron. – exclamei surpresa ao vê-lo. – O que faz aqui?
Ele sorriu e caminhou na minha direção. Exibindo as suas asas como quem queria me afetar. Mas eu não me importei ou consegui fingir bem.
– Fiquei sabendo que o criador a puniu e agora é uma mortal. – ele murmurou me encarando profundamente. – eu só quis ver com os meus próprios olhos.
– Ver com os próprios olhos ou me humilhar?
– Bem, quem se importa? – ele deu de ombros
– Para a sua informação ainda sou um anjo. – disse ao abrir bem as minhas asas para que ele pudesse vê-las.
Aron riu.
– Guarda costas de humanos. – murmurou balançado a cabeça em sinal de negação.
– Sim. – respondi. – E o que você tem haver com isso?
– Nada. – ele respondeu em um tom sarcástico. – Felizmente eu não tenho nada haver com isso. – ele soltou uma gargalhada. – A mais bela dentre os anjos da morte, agora não passa de uma simples babá de mortais.
Fiquei em silencio. No fundo minhas entranhas fervilhavam, mas de nada adiantaria brigar com ele.
– Feliz agora? – voltei a encará-lo. – Já se divertiu o bastante e eu gostaria de dormir.
– Você me surpreende. – ele murmurou.
– Sério? – disse em um tom sarcástico.
– Não vou sair do seu pé, sabia?
Balancei a cabeça positivamente.
– Infelizmente sim.
– Então, boa sorte para você. – ele me disse em um tom irônico – Todos estão torcendo por você.
– Imagino.
– Sinta-se a vontade para me procurar quando precisar de ajuda.
– Não vou precisar. – garanti a ele.
– É você quem sabe. – disse ele antes de desaparecer em um feche de luz.
Era só o que me faltava ser motivo de chacota entre os anjos da minha ex-casta. Como se já não fosse o bastante passar por tudo aquilo, pensei olhando o ambiente ao meu redor. No fundo eu sabia que por pior que tudo aquilo me parecesse eu não deveria ir contra os planos do criador, ele, somente ele, sabia o que era melhor a todos. Deveria pensar no propósito de tudo aquilo.
Porem eu não era obrigada a viver naquele chiqueiro. Ah, mas não mesmo! Levantei-me da cama fazendo com que a barata corresse para debaixo dela novamente. As pedrinhas de granizo ainda batiam contra a janela causando um barulho irritante.
Bem, como o homem horrendo dono daquele lugar havia dito, o que acontecesse com o quarto era problema meu. Então haveria problemas se eu fizesse algumas mudanças naquele lugar.  Era proibido dizer que eu era um anjo, não havia nada conta a utilização dos meus poderes, e como eu ainda era um anjo...
Fechei meus olhos e me concentrei. Uma explosão de luz irradiou do meu corpo. O cheiro de ar limpo me preencheu com uma sensação de bem estar. Agora aquele lugar estava no mínimo descente.
Caminhei na direção do banheiro. Já que eu deveria cumprir aquela missão depois de um banho o meu primeiro passo seria encontrar aquele a quem cabia a minha proteção.


continua...

by Ashe