quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Missão anjo da guarda : Capitulo três: Beco sujo






Não demorei muito para encontrar o local descrevido pelo homem. Felizmente, ou não, o local era exatamente como nas descrições, um beco sujo, fedorento e sem saída se destacava decrepito e cheio de rachaduras.
Um rato, que mais parecia um gato de tão grande, correu a minha frente e foi se esconder num amontoado de lixo que estava na esquina. Baratas apontavam as suas antenas e corriam dos boieiros para a rua a fim de saborear os últimos vestígios do dia.
Perguntei-me como alguém teria coragem de morar em um lugar como aquele, onde os seres do esgoto é que reinavam. Certamente a vigilância sanitária não fazia muitas aparições por ali.
Caminhei até a entrada do prédio onde um homem estava sentado e tragava um cigarro. Ele possuía cabelos brancos e a sua barriga saltava para fora da camisa com os botões estourados. Tive nojo ao olhar para ele, nem sei quem fedia mais, se era aquele homem ou o lixo amontoado na rua.
– Olá, gostosa! – ele sorriu para mim exibindo um conjunto de dentes cariados e outros que nem estavam mais lá. – Quem é você? Por acaso Deus ouviu as minhas preces e mandou uma mulher bonita para me satisfazer. – ele me lançou um sorriso malicioso.
Eca! Eu senti só de imaginar aquelas mãos imundas em uma criatura celestial como eu.
– Eu gostaria de um quarto. – murmurei logo me arrependendo do que havia dito.
– Pode ir para o meu se quiser. – ele piscou para mim.
– Nem se fosse a minha única opção. – respondi de imediato.
O homem fechou a cara, provavelmente nada satisfeito com a minha resposta. Mas por mim pouco importava, tudo o que eu queria era acabar logo com aquela palhaçada e voltar a dimensão celestial.
– Papai do céu não gosta de quem distrata as pessoas, sabia? – disse o homem ao levantar-se com muito esforço da cadeira. Provavelmente aquela enorme e cabeluda barriga deveria pesar uma tonelada.
– Pode acreditar, eu o conheço melhor do que você. – murmurei. – Vai me arrumar um quarto ou não?
– Espera ai garota! – disse o homem ao levantar as mãos. – as coisas não são bem assim não. Ter um quarto eu ate tenho, mas recebo adiantado e são 150 por mês. – disse ao estender uma das mãos viradas para cima.
– 150 por esse brejo. – murmurei surpresa com o valor. – Só pode estar de brincadeira.
– É pegar ou largar. – disse o homem. – Eu duvido muito que encontre algo melhor do que isso por ai.
Tirei o dinheiro da bolsa e o coloquei sobre a mão imunda do sujeito. Ele olhou para mim e sorri grato.
– Segundo andar, quarto 28. – disse o homem ao pegar uma chave atrás do balcão mandar para mim. – recebo sempre adiantado. – berrou assim que eu dei as costas. – e qualquer problema que tiver com o quarto, bem... é problema seu. Mas sinta-se a vontade se quiser visitar a suíte presidencial.
– Ótimo! – pensei alto. – Eu me viro sozinha.
As portas dos quartos tinham números garrafais pregados nelas. Procurei pelo número 28. Quando coloquei a chave na fechadura, tive medo que essa caísse na minha mão. Assim que abri a porta e acendi a luz, uma barata correu para debaixo da cama.
Só poderia ser um pesadelo, do qual eu estava desesperada para acordar. Deveria ser proibido colocar um anjo em um chiqueiro como aquele.
Eu me sentia imunda, infectada com aquela sujeira toda. Precisava de um banho, mas só de olhar para aquele banheiro eu desisti.
Joguei a sacola de roupas sobre uma cômoda caindo aos pedaços e sentei-me sobre a cama que rangeu por mal suportar o meu peso. O céu estava escuro lá fora e a chuva não tardou a cair.
As pedras de gelo se chocavam contra o telhado mal feito e batiam contra a janela de vidro, pela qual entrava a pouca luz externa. No verão eram comuns chuvas como aquelas, mas sua intensidade não era um bom sinal.
Abria as minhas asas e as fechei em torno do meu corpo. As penas de um tom branco encardido me irritavam, mas pelo menos serviam para me lembrar de que eu ainda era um anjo, mesmo que a minha colocação não fosse mais a mesma.
Acariciei as penas, enquanto respirava fundo. Quando será que aquele terrível pesadelo iria acabar?
– Belas asas. – disse uma voz familiar.
Ergui meus olhos e encarei um anjo parado de pé a poucos metros de mim. Ele era alto e os seus músculos se destacavam sob a túnica, seus cabelos eram cor de cobre e os olhos verdes. As asas intensamente negras o tornavam inconfundível.
– Aron. – exclamei surpresa ao vê-lo. – O que faz aqui?
Ele sorriu e caminhou na minha direção. Exibindo as suas asas como quem queria me afetar. Mas eu não me importei ou consegui fingir bem.
– Fiquei sabendo que o criador a puniu e agora é uma mortal. – ele murmurou me encarando profundamente. – eu só quis ver com os meus próprios olhos.
– Ver com os próprios olhos ou me humilhar?
– Bem, quem se importa? – ele deu de ombros
– Para a sua informação ainda sou um anjo. – disse ao abrir bem as minhas asas para que ele pudesse vê-las.
Aron riu.
– Guarda costas de humanos. – murmurou balançado a cabeça em sinal de negação.
– Sim. – respondi. – E o que você tem haver com isso?
– Nada. – ele respondeu em um tom sarcástico. – Felizmente eu não tenho nada haver com isso. – ele soltou uma gargalhada. – A mais bela dentre os anjos da morte, agora não passa de uma simples babá de mortais.
Fiquei em silencio. No fundo minhas entranhas fervilhavam, mas de nada adiantaria brigar com ele.
– Feliz agora? – voltei a encará-lo. – Já se divertiu o bastante e eu gostaria de dormir.
– Você me surpreende. – ele murmurou.
– Sério? – disse em um tom sarcástico.
– Não vou sair do seu pé, sabia?
Balancei a cabeça positivamente.
– Infelizmente sim.
– Então, boa sorte para você. – ele me disse em um tom irônico – Todos estão torcendo por você.
– Imagino.
– Sinta-se a vontade para me procurar quando precisar de ajuda.
– Não vou precisar. – garanti a ele.
– É você quem sabe. – disse ele antes de desaparecer em um feche de luz.
Era só o que me faltava ser motivo de chacota entre os anjos da minha ex-casta. Como se já não fosse o bastante passar por tudo aquilo, pensei olhando o ambiente ao meu redor. No fundo eu sabia que por pior que tudo aquilo me parecesse eu não deveria ir contra os planos do criador, ele, somente ele, sabia o que era melhor a todos. Deveria pensar no propósito de tudo aquilo.
Porem eu não era obrigada a viver naquele chiqueiro. Ah, mas não mesmo! Levantei-me da cama fazendo com que a barata corresse para debaixo dela novamente. As pedrinhas de granizo ainda batiam contra a janela causando um barulho irritante.
Bem, como o homem horrendo dono daquele lugar havia dito, o que acontecesse com o quarto era problema meu. Então haveria problemas se eu fizesse algumas mudanças naquele lugar.  Era proibido dizer que eu era um anjo, não havia nada conta a utilização dos meus poderes, e como eu ainda era um anjo...
Fechei meus olhos e me concentrei. Uma explosão de luz irradiou do meu corpo. O cheiro de ar limpo me preencheu com uma sensação de bem estar. Agora aquele lugar estava no mínimo descente.
Caminhei na direção do banheiro. Já que eu deveria cumprir aquela missão depois de um banho o meu primeiro passo seria encontrar aquele a quem cabia a minha proteção.


continua...

by Ashe

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