quinta-feira, 31 de outubro de 2013

-Halloween-


Preparou o último frasco, ouviu o gato ficar arisco. Os instintos aguçaram. Alguém batia insistente na porta da pequena choupana. Estava de volta no condado de Västra Götalands län.
_Helvetet!... já vai... não bate mais, ouviu bem?! Vou arrancar a sua mão se bater mais uma vez nessa maldita port...
Os olhos do outro lado a fitavam. Não podia ser, não era... Impossível ! O choque a fez recuar. A criatura a espreitava com seu olhar de ódio. Ódio acumulado por anos e anos de existência.
Correu para a floresta, mas não chegou ao fim da clareira. Seu corpo agora estava inerte no chão, dolorido. Os órgãos estavam se dilacerando por dentro, a cabeça fritava, mas conseguiu um momento de lucidez para fazer algo que a pouco jugava inimaginável...
Lançou a proteção.
A luz envolveu o seu ser e se fundiu ao seu corpo. Sentiu uma espécie de vazio e completo ao mesmo tempo. Então, era desse modo que a proteção funcionava... sempre acreditou ser algo muito mais forte e terrível ao se abdicar dos seus poderes. Tentou encontrar a criatura em sua visão turva e observou apenas as bordas das vestes esfarrapadas. Estava tremendo, sentia muito medo do que poderia acontecer. Ouviu a voz sibilante e asquerosa sair dos lábios daquele ser.
_ наконец Ваша шлюха!
E agora era o fim. A punhalada foi rápida, mas não havia dor. Seu corpo se fechou completamente e tudo o que saiu foi luz. Mas a luz não era real, pois logo se transformou em sangue. Sangue morno que escorria em sua pele. A dor veio, a proteção não funcionou, perdeu seus poderes...
***
Acordou assustada e se lembrou das palavras que com certeza Kastena diria. “Devana, sonhei com você... deve sair daí, minha irmã... o ciclo irá se iniciar... saia o mais depressa possível.”
O ciclo. As três noites. O sabbat negro. O samhain. Tudo isso para se referir ao tormento que sua vida se transformou desde que descobriu a maldição imposta pela conversão da mãe.
Evvy, sua tia, havia lhe contado a história da conversão de sua mãe e a horrenda e misteriosa morte da bruxa. A tia sumiu logo em seguida, depois apareceu louca. Havia caído nas mãos dos malditos torturadores czaristas. A maldição que havia desencadeado tudo consistiu em desespero, mortes e banimentos. Inclusive o próprio exílio de sua amada irmã.
Havia ocorrido no século XVI, seus poderes ainda eram parcos. Kastena apareceu em sua porta, a irmã implorava por ajuda como se o mundo fosse acabar e repetia que a estavam perseguindo. Ao fim da tarde, avistou um soldado que ia em direção a cabana. Não conseguiu impedir Kastena de lutar e teve que observar o corpo da irmã ser rasgado por um punhal desde o umbigo até a boca. Implorou aos deuses que redobrassem suas forças e usou seus poucos conhecimentos. Após aquilo, tudo não passava de um borrão.
Em cada vida que ela teve, a história se repetia. Um ciclo infindável de perseguição até que houvesse um meio de quebra-lo. Havia descoberto que o soldado czariano era na verdade um poderoso mago e que também teve sua alma exilada pelos poderes que foram lançados aquela noite. Estava sob a ira de um mago milenar e sem a proteção ou o apoio da irmã.
A cada ano tornava-se mais difícil se esconder. Porém, por sua sobrevivência, ela precisava tentar, mesmo que permanecesse mais trezentos anos nessa condição. Dessa vez havia escolhido um local bem quente. Uma ilha.

Devana off ________________________ Nêmeses on

A luz fosca do véu estava se enfraquecendo. Logo seria a hora de atacar. Destruiria aquela que arruinou sua vida, que havia prendido sua alma e poderes numa dimensão. Selaria o destino de Devana com seu simples estalar de dedos.
Ao cair do véu, observou o pequeno suvenir em suas mão. Um ridículo cordão de prata que havia permanecido em suas vestes durante anos a fio. Hoje, finalmente, aquele cordão teria uma verdadeira utilidade.
_ давай, ты свинья идиота !
Repetia as palavras sentindo o prazer escorrer lhe pelos lábios. Observava a figura patética que havia dominado. O seu trunfo.
_Agora use a sua maldita ligação de sangue e encontre-a!
Sentiu que não iria colaborar sem que um pequeno estímulo fosse dado. Pousou as mãos sobre os cabelos muito claros. Sentiu a criatura tremer. Passou os dedos bem devagar provocando uma ferida em sua testa. A mente se abriu. Entrou e pôde ver onde aquela bruxa se escondia. Finalmente, Devana! Não conteve o sorriso de carnificina nos lábios amargos.
Nêmeses off _________________________Devana on

Devana se preparava para o ritual viking que iniciaria o novo sabbat.
_ Jag ger min själ till gudarna, Devana, gudinna av gudarna
Fez as preces e pela primeira vez em anos lembrou-se da mãe. Afastou os pensamentos da cabeça e olhou ao redor. Mata densa e pouco iluminada pela fogueira que havia aceso.
Algo se mover entre as árvores.
Escuridão total.
Medo.
_Kastena?!
As duas se abraçaram. A emoção era intensa. Estava trêmula. Tanto tempo sem se reencontrarem. Mas de repente a irmã parou. Havia ficado imóvel.
_Cuidado Devana... é uma armadilha... ele me trouxe até aqui... me fez te encontrar, te seguir...
Köhnvstro se aproximou das duas. O monstro que matou sua irmã.
Mas havia algo errado. O mago não se movia mais do que isso. De repente ela percebeu o brilho que vinha das mãos do homem. Ouviu a voz de Kastena:
_Va em frente Devana, não o deixe escapar! Mate-o, agora!
Virou-se. Encarou a irmã.
_Mate-o você minha irmã, já que é mais forte do que eu... veja, ele está preso, não fugirá...
A risada ecoou pelos cantos. Perversidade dominava a aura daquela mulher.
_Não, De va na... você deve mata-lo... você tem que fazer o trabalho sujo... você me colocou nessa situação... e agora você irá me tirar dela.
Seu corpo foi empurrado contra uma árvore. Os poderes da irmã era maiores.
_Me solta!
_Mate-o!
_Por quê?!
Mais risos saíram da garganta asquerosa da mulher. Sentia asco por ter o mesmo sangue que tal criatura.
_Sou mais forte do que você, mais rápida e de melhor linhagem... oh, está surpresa?!... pois é... eu matei a mamãe...aquela vadia, igualzinha a você... eu entreguei a tia E vv y para os torturadores, aquela velha maldita... ao menos serviu para contar a minha verdadeira descendência... imagine a mim, a bruxa mais poderosa que já houve... filha do mago mais poderoso e de uma bruxa de linhagem pura... e agora que estamos aqui, reunidas novamente... mostre que é útil ao menos uma vez e curve-se a minha vontade... mate-o!
Sentia nojo por nunca ter percebido o monstro com o qual convivia todo esse tempo. A verdadeira nêmesis.
 
Por quê?
_Não se acanhe, queridinha... sei que ai dentro, você sabe o tamanho da sua fraqueza... Apenas escolha o lado correto. Mate-o!
Sentiu que seria esmagada se não fizesse aquilo. Meneou a cabeça e afirmou com os gestos. O corpo afrouxou. Andou até a criatura. Olhou-a nos olhos. Realmente irreconhecível. Alcançou a adaga que estava estendida para ela. Dirigiu-se até o homem ajoelhado. Ele estava muito fraco.
_Deve usar sua magia enquanto enfia a adaga no coração dele.
_E se eu não acertar?
_Vai acertar... porque só assim eu me libertarei...
Ajoelhou-se a frente do homem. Olhou-o nos olhos. Encontrou ali o que havia procurado durante anos e anos. A escolha em suas mãos.
_Kastena... você ainda não me contou o por que dele ter ido até a cabana aquela noite...
_Não seja idiota! Mate-o!
_Responda-me primeiro...
_Ele estava te caçando, Devana. Queria te encontrar, agora mate-o!
_Mas... porque ele me caçava se já tinha você, a filha dele?
_Mate-o!!!
Ergueu a adaga, cuja lâmina se unia ao brilho do seu próprio poder. A força se esvair de seu corpo. E de repente ouviu a voz de Kastena. A voz que lhe dizia para matar. A lâmina desceu, mas foi o seu próprio peito que ela atravessou. Sentiu a luz sair e depois o sangue.
_Então é assim que se lança a proteção... – a vida deixava o seu ser enquanto braços a recolhiam cuidadosamente. Os braços do seu pai, seu amado pai.
Antes que o véu se fecha-se, ela ainda pôde ver o desespero de Kastena e as lágrimas que o pai derramava em sua face. Sua irmã passaria a eternidade presa entre os dois mundos. Infelizmente o pai também, mas ela, Devana, se reuniria a sua mãe naquilo que costumava chamar de céu. E pela primeira vez na vida podia compreender o que era ser livre.














terça-feira, 29 de outubro de 2013

Melinda Brugguer Episodio 2: Dia das bruxas





– Droga! – Melinda resmungou quando deixou sem querer o espelho cair.
– Sete anos de azar, minha querida. – Nicolas riu, afastando o cabelo dela beijando seu pescoço.
– Você realmente acredita nessa bobagem? – ela o encarou.
Nicolas riu.
– Sei que eu acredito que você fica linda vestindo a minha camisa. Ainda mais depois da noite maravilhosa que tivemos juntos.
O telefone de Melinda começou a tocar. Ela caminhou na direção da bolsa para pegá-lo.
 – Ah não! – Nicolas resmungou a puxando de volta para cama. – Não vou deixar você ir a lugar algum hoje.
Melinda se desvencilhou dos braços dele e foi atender ao telefone.  Nicolas bufou, sabia que mantê-la ali era mais difícil do que prender um serial killer.
– Ok, eu estou indo. – disse ao desligar o telefone e se voltar para Nicolas. – Onde estão as minhas roupas?
Melinda se vestiu e caminhou para a garagem. Nicolas saiu praticamente correndo atrás dela.
– Ainda me pergunto por que eu te dei o controle do portão se isso sempre faz com que você vá embora desse jeito.
– Temos que trabalhar, Nicolas. – ela disse séria, ao entrar no carro.
– Eu sempre me vestia de espantalho quando era criança. – murmurou Nicolas, enquanto passavam por uma rua onde as crianças fantasiadas se reuniam.
–Sempre achei o dia das bruxas uma grande perda de tempo. – resmungou Melinda.
– Não acredito que você possa ter sido tão cética toda a sua vida.
– Sempre acreditei nos fatos, na ciência. O misticismo para mim não passa de viagens sem fundamento algum.
Nicolas se calou. Se havia uma pessoa com a qual não valia à pena discutir essa era Melinda.
Melinda parou o carro em frente a um cemitério. Nicolas olhou aquilo como um grande piada, ótimo lugar para uma cena de crime.
Os policiais estavam em tono de uma área onde havia um corpo mutilado  em cima de um circulo com uma estranha estrela de oito pontas. Um arrepio percorreu o corpo da ruiva. Não podia negar que aquela era uma cena horripilante e essa palavra estava fazendo parte de muitos de seus casos ultimamente.
– Isso está com cara de magia negra.  – sussurrou Nicolas ao se abaixar perto do corpo.
– Acho que essa história de dia das bruxas está começando a afetar o seu cérebro. – disse Melinda com um ar de deboche.
– Eu morro de medo dessas coisas. – murmurou um dos policias para o colega ao lado.
– Você realmente não está levando o isso a sério, não é? – Melinda se voltou para a policial.
– Minha avó costumava contar para mim que hoje é o dia em que o véu entre esse mundo e o espiritual está mais fino e as bruxas se reúnem para fazer festas e rituais. – os olhos do policial estavam distantes e assustados.
Melinda segurou o riso.
– Querido, vou lhe contar uma coisa fantasmas, bruxas, duendes, fadas, ou qualquer criatura que a mente fértil dessa entidade chamada povo tenha inventado, não existe. – ela se voltou para o corpo. – Seja lá quem matou essa aqui é só mais um maluco querendo aparecer.
Nicolas esperou a pericia terminar as fotos e embalou o corpo para levar ao necrotério.  Enquanto isso a detetive foi atrás do coveiro que havia encontrado o cadáver.
O homem estava sentado em uma pequena sala no fundo do cemitério. Parecia perdido e assustado. Quando viu a detetive ficou boquiaberto.
– O...oi – gaguejou
– Olá, Sou Melinda. Gostaria de fazer algumas perguntas. O senhor por acaso viu alguém antes de encontrar o corpo ou conhece quem tenha costume de vir aqui?
– Olha dona, se eu fosse você ficaria longe disso. A senhora é muito bonita e mexer com as bruxas não é bom não. – ele se calou paralisando de choque. – Há algumas até boas, mas as que fazem coisas como essa são muito más.
Será que há alguém normal nesse lugar? Melinda pensou com ela.
– Realmente preciso saber se viu alguém.
– Já disse, dona, é coisa das bruxas. Não mexe com isso não.
– Obrigada. – ela bufou. Essa historia de bruxas já estava começando a tirá-la do sério. Será que não percebiam o quão ridículo era aquilo tudo? – Tentem tirar alguma coisa do coveiro maluco. Vou ver se Nicolas conseguiu alguma coisa no necrotério. – disse ao passar pelos policias.
– Podemos ir embora agora? – perguntou um dos policiais, extremamente assustado.
– Medrosos. – sussurrou Melinda ao entrar no carro.
Nicolas estava examinando o corpo quando ela se aproximou.
– Encontrou alguma coisa?
– As mutilações foram feitas com alguma coisa que se assemelharia a uma adaga. – disse apontando para os cortes na pele da vítima.
– Vulgo faca de cozinha. – resmungou.
Melinda se afastou para atender ao telefone.
– Alo, Sara?
– Tiramos algumas fotos do local, estou as enviando para o seu celular. – a voz da perita tremeu um pouco. – Acho que estou começando a achar que isso foi mesmo um ritual de magia negra...
– Não, Sara, não acredito que você está dando ouvido a esses malucos. – Melinda a interrompeu.
– Sério, encontramos sangue que provavelmente é da garota em tigelas de barro, além de outros animais degolados.
– Já disse que é só mais um maluco.
– Que seja. Já enviei as fotos. E mais uma coisa, o coveiro disse que as mulheres que costumam ir ao cemitério moram em uma vila a um quilometro. Talvez possa encontrar alguma coisa por lá. – disse antes de desligar o telefone.
– Acho que encontrei alguma coisa. – disse Nicolas chamando a atenção de Melinda. – Há vestígios de pele sob as unhas da vítima. Acho que com isso pode encontrar o DNA de um possível supeito no banco de dados.
A ruiva ligou o computador e passou alguns minutos concentrada nele...
– Não há sinas de abuso sexual, mas hematomas pelo corpo que indicam uma possível luta. – Nicolas dizia enquanto Melinda estava concentrada no computador.
– Encontrei a nossa vítima! – exclamou Melinda. – Valquíria Suez, mora com os avós , e se meteu em uma briga na universidade o que justifica a ficha dela na policia, mas fora isso a garota é limpa. O DNA pertence à Rute Yuker, ela já foi presa por duas acusações de homicídio e está na condicional.
– Pelo visto já temos nossa culpada e vamos poder voltar para a minha cama. – sussurrou Nicolas acariciando a coxa dela.
– Espero que sim, porque esse clima de dia das bruxas já está me dando nos nervos. – resmungou ela.
– Acho melhor chamar mais reforço policial dessa vez. – sugeriu Nicolas ao segui-la. – Não sabemos o que vamos encontrar lá.
Melinda olhou para ele com cara fechada.
– Se for para me atrapalhar é melhor nem ir.
– Não vou te deixar sozinha. – ele disse ao fechar a porta do carro.
A lua cheia brilhava no céu quando eles estacionaram o carro próximo ao portão da vila. Havia duas viaturas policias com eles. Melinda achava tudo aquilo um grande exagero, iam prender apenas uma mulher, e não uma bruxa do mal poderosa.
Aproximaram-se da porta de uma velha casa, de aparência assustadora. Um arrepio varreu o corpo de Nicolas, o legista não era um homem supersticioso, mas tinha lá as suas crenças.  Um PM arrombou a porta e um gato preto saiu correndo. A sala estava à penumbra com a luz de apenas poucas velas vermelhas, num canto havia uma mulher ajoelhada, ela usava uma túnica preta e a sua frente havia um altar macabro.

 – Maluca. – Melinda sussurrou.
– Está presa por suspeita de assassinato. – anunciou um dos policiais.
– Saiam daqui. – vociferou a mulher em meio a palavras malucas.
Os policiais se assustaram.
– Prendam logo essa louca. – ordenou Melinda.
Os policiais a encararam ainda vacilantes. Mas algemaram a mulher a contra gosto. Não podiam negar que estavam amedrontados com tudo aquilo. E se aquela mulher realmente fosse uma bruxa do mal?
Rute encarou profundamente os olhos de Melinda enquanto era arrastada para a viatura policial. A detetive a ignorou, aquele olhar feio não a assustava, já havia prendido criminosos bem mais ameaçadores. Acabou por dar as costas e considerar o caso com encerrado, indo com Nicolas para o apartamento dele. Como ainda poderia existir idiotas que acreditavam nessas coisas? Bruxas? Fala sério!
***
Rute foi jogada em uma cela da delegacia e os policias se afastaram as pressas.
A mulher caída ao chão cerrou os dentes com fúria. Seus olhos se tornaram grandes  esferas negras e sobras começaram a surgir ao seu redor.



– Você vai pagar caro Melinda Brugger. – ela disse com uma voz demoníaca.

By Ashe

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Hunted hunter - capítulo 1: Bloodlines



“Dizem que os heróis não nascem, eles são criados. Homens e mulheres normais que são tirados de suas vidas comuns e forçados a se opor contra inimigos impossíveis de serem derrotados, para se tornarem lendas. Mas como são eles criados? Um herói surge quando o vilão comete o maior erro de sua vida: pensar que ele é invencível. Quando o vilão chega a esse pensamento sobre si mesmo, ele dá inicio à uma reação em cadeia que o guiará para seu fim inevitável.”

          O ancião coçou a barba em silencio; Há quase dois dias, seres das trevas cercavam sua pequena aldeia e tudo que ele podia dizer aos moradores era para terem fé.
              Mas a fé lhes foi tirada, ou melhor, sugada.
          A aldeia sempre fora alvo de sanguessugas, mas nas ultimas horas, a situação piorou: eles que apareciam uma vez por mês para se divertirem com os jovens, agora passaram a atacar a todos, todos os dias. Abusos, torturas e claro, assassinato. Eles se alimentam não apenas de seu sangue, mas de suas almas, quanto mais torturada a alma, mais saborosa. Ninguém pode pará-los e eles sabem disso.
        Rostos angelicais em vestes escuras e elegantes; demônios em pele de adolescentes, correm e gritam em êxtase, saboreando seu doce triunfo, seu poder sobre os mais fracos. Eles sabem que são superiores, e nenhum mortal pode toca-los.
            A lua está cheia.
          Três chupadores de sangue estavam presentes: dois rapazes e uma moça. O lider era um rapaz alto com cabelos loiros e arrepiados. O outro era mais baixo, com cabelos negros, longos e lisos. A garota vestia-se como uma goth-lolita, com cabelos loiros e cacheados, baton e esmalte preto.
       Aos seus pés, algumas crianças, amarradas umas as outras. Seus corpos estavam sujos de sangue. Os demais aldeões apenas assistiam; os que tentaram revidar foram rapidamente mortos pela enorme força dos jovens demônios; o pai de uma das crianças, num ataque de raiva, atacou-os com um machado... O pobre homem agora é uma poça de sangue, com o próprio machado enterrado na cabeça.
- Sangue jovem, a melhor safra! – diz o lider, aproximando-se das crianças amarradas.
           Ele se aproxima mais de uma criança: uma menina de mais ou menos 4 anos, toda sujinha.
- Vou morder sua bochechinha, vou morder seu narizinho...
         Enquanto falava, ele tocava com a ponta do dedo a bochecha e o nariz da garotinha, respectivamente.
- Você é comportadinha não é? - continuou ele – Tá vendo seu papai ali? Ele não foi comportadinho... ele disse coisas feias e por isso eu matei ele. Mas você não. Você é um anjinho!
      Nesse momento, uma figura coberta dos pés à cabeça por um capuz, levantou-se do meio dos aldeões: tinha quase a mesma altura dos jovens demônios. Ele aproximou-se do circulo de sacrifícios, quando só então é percebido.
- Quem é esse? – perguntou a garota sanguessuga. – Sua hora já vai chegar, não precisa ter pressa!
         Ela aproximou-se do encapuzado para lhe empurrar, mas, sentiu-se vacilante ao se aproximar dele, como se algum tipo de força invisível a deixasse insegura. Ela reparou também, que aquele à sua frente, pronunciava repetidamente, palavras em uma língua estranha.
- Fugata daemones et spiritus nequam.

Soava como uma prece, calma e suave em uma macia voz feminina.
          Os colegas da criatura das trevas notaram seu temor e estranharam:
- Qual o problema Ash?
- Essa pessoa... – a vampira apenas apontava para o encapuzado a sua frente, sem conseguir concluir a frase.
          Erguendo o capuz, a figura revela-se como uma jovem de no máximo 24 anos; cabelos negros e curtos, olhos azuis e pele alva. Um lindo crucifixo prateado estava em seu pescoço.
- Eu sei quem é você. - disse a moça do capuz – Você é Ashlotte, filha do Conde Ainslead. Fugiu de casa com um vampiro que conheceu em um baile
          A vampira arregalou os olhos e rangeu os dentes. Estava com raiva daquela à sua frente, queria muito rasgá-la e fazer seu sangue jorrar.
- Vocês não são bem vindos aqui vampiros – continuou a moça do capuz- por favor, retirem-se.
- Você acha que sua voz gentil e suas preces podem nos afastar pra sempre? Perguntou o líder. Já matei muitos como você.
- Não... Minhas preces não podem impedi-los... Infelizmente – disse ela tristemente.
         Um chicote, como uma corda, laçou o pescoço de Ashlotte. Ela sentia apertar e queimar.
- Mas posso desviar a atenção de vocês. – sorriu.
- Acabou a palhaçada, vampirada dos diabos. Minha voz não é suave e eu não peço por favor.
        Na outra extremidade do chicote estava um rapaz jovem, vestido em couro escuro. Seus cabelos eram ondulados e compridos; trazia no rosto um sorriso maldoso.
        Ash gritava. Aquela coisa enrolada no seu pescoço queimava como se fosse feita de fogo.
- Quem é você? – gritou ela – me solta agora!
- Sou o cara que seu pai contratou pra trazer de volta, sã e salva para casa. Me pagou 200 moedas de ouro na hora e mais 800 se te levasse pra casa. Mas sabe? Duzentas moedas já me deixam contente.
        Com força, o rapaz puxou o chicote para si, trazendo junto, a cabeça decepada da goth-lolita. O lindo corpo dela cai no chão e logo vira cinzas.
           Os outros dois urram de ódio, ao ver Ash ser decaptada dessa forma.
- Vou abri-los no meio e vou me banhar com o sangue dos dois! – rosnou o outro sanguessuga.
Ele saltou sobre o caçador, atacando-o com unhas e dentes.
        O jovem caçador, assumiu uma posição defensiva, bloqueando o ataque do vampiro, ao mesmo tempo que cravava fundo uma estaca de madeira sem eu coração, aproveitando do impulso e da força do ataque do seu agressor. O rapaz de lindos cabelos negros como a noite, sentiu seu coração morto ser cruelmente perfurado pela estaca. A dor tomava sua mente, enquanto seu corpo se desfazia em pó.
        O líder estava igualmente irritado e sabia que se os dois atacassem juntos, poderiam rasgar o maldito em segundos. Estava prestes a atacar, quando sentiu uma pontada nas costas, como uma estaca.
         A sacerdotisa havia-lhe cravado uma estaca de metal em forma de crucifixo no em seu ombro. Na verdade era uma cruz de prata, com uma adaga retrátil escondida no cabo.
- Não ignore a mim, e não ignore o poder de Deus, vampiro. Fugata daemones et spiritus nequam.
       A estaca funcionou como um catalisador; absorvendo a oração da moça e infectando o interior do corpo do grande líder com energias divinas.
         Ela permanece parada, de olhos fechados com as mãos juntas, impedindo o demônio sugador de sangue de se mexer. Em sua paz e calma, ela ouviu estalos de chicote, seguidos por um grito agudo e doloroso. Sorriu de canto.
- Seus amigos estão mortos – disse o caçador, enrolando o chicote na mão. _ chegou sua vez.
- Espere Gabriel.
Ela faz um sinal com a mão para que ele pare.
- Hun? Esperar o que?
- Não tinha algo para perguntar para ele?
- Oh... é mesmo.
          Aproximou-se do vampiro paralisado e o olhou nos olhos.
- Me diga onde estão seus amigos.
- Não vou dizer nada, ta perdendo seu tempo.
          Gabriel riu. Ele adorava quando eles não eram colaborativos.
          Retirou do bolso do casaco um vidro pequeno com água dentro. Abriu a rolha e despejou um pouco do conteúdo sobre o olho do sanguessuga. A água corrou seu oolhoo e rosto como se fosse ácido puro.
- Desgraçado isso queima! Dói muito!
- Água benta. Cortesia da minha amiga Sônia, aqui. Agora diga-me, onde estão seus amigos?
          Entre gemidos e gritos, o vampiro apenas xingou e ameaçou o caçador.
- Olha cara minha amiga sempre pode abençoar mais água. Não tinha um lago aqui perto da aldeia?
- Espera! Ta legal eu falo. Porra não sabe como dói essa merda! - gritou, chorando de dor.
- Eu entendo de dor, agora fala eu prometo que te deixo ir.
- No subsolo de um velho moinho de vento, no alto da colina de Olney. Mas prepare-se para ser esfolado vivo se for lá!
- Eu to pronto pra ser esfolado vivo todos os dias.
Gabriel faz um sinal com a cabeça para a sacerdotisa e ela consente.
- In Dei nomine, mundare te.
Com o fim da oração, houve um brilho forte do crucifixo, e uma nova pilha de cinzas caía ao chão.
       Os aldeões apenas olhavam, sem saber o que dizer. A menos de 5 minutos atrás, estavam certos que suas vidas estavam acabadas e agora... estavam salvos. O caçador Gabriel tomou nos braços a garotinha encardida e a levou até sua mãe.
- Ninguém mais vai morder essa bochechinha fofa.
        O velho ancião aproxima-se com um sorriso.
- Jovens, em nome de todos, eu lhes agradeço. Sinto muito não ter como retribuir.
- Arruma um lugar pra passarmos a noite aqui e ta tudo bem, velhote. Esse é só nosso trabalho.
        Sônia pronuncia-se:
- Eu gostaria de orar por todas as vidas que se foram hoje. Isso inclui os vampiros, quero muito que Deus os perdoe.
- Será um prazer recebê-los em nosso lar.

       Sônia retirou-se para uma noite em claro de oração. Alguns aldeões juntam-se a ela, para orar por seus entes queridos.
Gabriel concentrou-se em seu mapa; traçando uma rota de viagem para a colina Olney. 

- Esfolado vivo hun? Isso vai ser interessante...

continua 

by kennen

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Louco Desejo



by Miss Fortune


Você quer muito me ver, mas não sabe chegar em mim
Você quer muito me ter, mas você não confia em mim
Você vê em meus olhos a formula da tua perdição
Seu corpo diz sim mesmo devendo dizer não

Sou seu veneno mais lento e mais gostoso
Sou seu pecado pra lá de prazeroso
Sou seus desejos reprimidos esperando a liberdade
Sou o beijo da volúpia, da luxuria e da saudade

Você me recusa querendo não querer
Você se recusa a me deixar ter você
Você enlouquece quando o seu paladar
Chama por meu gosto, anseia me provar

Louco desejo louco
Louco desejo que te consome aos poucos
Louca vontade de me devorar
Louco desejo o meu de querer te tocar

Rimas loucas entoam em meu coração
Desejando o pecado, o sabor da paixão
Quando será que será pra valer, saciar de vez a vontade de você!


(créditos à autora https://www.facebook.com/blyef )

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Cadencia do seu ultimo suspiro


São como grãos de areia a cair, 
Contando cada segundo sem parar, 
Marcando o tempo que nos resta pra seguir, 
Antes da cortina se fechar.

 Impulsionados por essa ovação sem fim,
 Não podemos nos dar ao luxo de parar, 
 Por isso peço que guarde um ultimo suspiro pra mim, 
Antes do ato final se encerrar.

 Mesmo que esta peça chamada vida já não tenha salvação,
 Me permita uma ultima vez te abraçar, 
 E que o cair das cortinas seja enquanto seguro a mão,
 Da pessoa que me faz suspirar. 

by Talon

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Fetiche



 por: Katarina, a lâmina sombria.
Parte I

         Chloé estremecia ao toque suave da brisa acompanhada pelo calor dos raios solares. O embalo denso, ao qual seu corpo era submetido aquela manhã, a fazia implorar que nunca fosse noite.
Afundar seus dedos na areia e sentir o quente se dissipar em sua pele. Ceder ao momento insólito que desfrutava aquela semana era melhor do que riscar a camada do crème brûlée com a unha do mindinho.
       E em seus pequenos prazeres ela se desfazia por completo. Nada a faria se perturbar aquele momento, nada. Nem mesmo a sensação absurda de que era observada naquele lugar deserto.

        Albert atravessava a rua Pison, enquanto se adiantava para a doceria na esquina com a Femmoir. A vitrine expunha os mais belos doces. Belos ao ponto de não se dar nenhuma mordida, apenas para admirá-los por mais tempo.
         De encontro ao passeio, ritmou seus passos para a porta, mas foi desviado de seu destino por um velho senhor que vendia flores na esquina vizinha. O senhorzinho curvilíneo se aproximou com um ramalhete em mãos e por uma ditosa quantia lhe vendeu as flores.
          O velho saiu feliz com sua preciosa nota, cuidadosamente conferida e aninhada ao maço que dispunha em seu bolso. Albert prosseguiu e adentrou a loja.
Em seu interior a doceria possuía uma vastidão de doces e enfeites coloridos. A atendente, uma jovem magricela logo o reparou. A moça sorria amável enquanto um par de olhos a seguia por detrás de um balcão.
_Posso ajuda-lo cavalheiro?
_Procuro um doce.
_Algum específico?
_Não. Apenas um doce.

        A garota o detinha em seu olhar brilhante, mesmo quando Albert lhe infligia sua indiferença glacial. Talvez um pouco de amabilidade não fizesse mal algum, mesmo por que deveria se aliviar da pressão que o ambiente hostil do escritório podia causar.
Decidiu sorrir do modo mais gentil que havia conseguido. Devia ter surtido algum feito, pois logo a moça se mostrou prestativa e lhe apresentou diversos doces que lhe pudessem interessar.
     Passava as páginas do catálogo entre os dedos um tanto delicados para uma confeiteira. Apresentou as guloseimas em ordem alfabética, passando desde o simplório e holandês alcaçuz até o magistral mil folhas. Tantas páginas foram desdobradas a sua frente, porém seus olhos já não as acompanhavam mais, porque estavam dependurados sobre a tez pálida da criatura a seu lado. Olhos claros, cabelos cor de mel, boca pequena, corpo delgado, traços suaves...
      Por fim a garota notou sua ausência e lhe inquiriu sobre o doce preferido. Albert riu pela perspicácia e resolveu sondá-la melhor.
_A senhorita me sugeriria algum doce em especial?
_Não sei... o senhor me parece não ser atento o suficiente para tais assuntos.
Albert alargou o sorrio da forma mais sensual que sabia fazer. O efeito foi imediato apesar da garota ainda desejar demonstrar o falso desinteresse, assim o julgava.
_Realmente a senhorita me flagrou... não possuo muito interesse nos doces...
A expressão teve notável mudança após aquelas palavras. Os olhos dela recaíram sobre o ramalhete, enquanto os lábios finos se retorceram. A partir daí os acontecimentos tomaram um rumo menos sedutor.

_ _
        Um banho demorado era tudo o que ela desejava no momento. Seu corpo se dissolvia com a corrente de água que lhe enrubescia a pele gélida e fina.
Enquanto secava os fios curtos de seus negro cabelos ela podia ver a silhueta pelo reflexo do espelho e dos vidros. Ao longe o som das ondas se quebrando nas pedras e o reflexo prateado que as águas ganhavam a luz do luar.
        Sentou-se na beirada da macia e extensa cama, pondo-se a espalhar o hidratante. Seguia lenta e suave em sua exploração pelos próprios contornos. Tocou cada parte de sua pele, notando os arrepios provocados pelo contato com o creme gelado. Incendiou ao passar as pontas dos dedos em suas texturas suaves. Escovou os curtos cabelos e vestiu a camisola de seda negra.
Correu a porta de vidro e se deparou com a maré. O mar estava a vinte metros da pequena varanda.      
      Apertou os dedos no contorno do corrimão e meneou a cabeça ao sentir a brisa quente que emoldurava o tecido frio em suas pernas e torso.
      Passou algum tempo naquela posição até ouvir o som do telefone. O único aparelho que a conectava ao mundo. Ignorou os chamados insistentes e tomou o pequeno livro nas mãos. Gostaria de poder iniciar a leitura, mas seus sentidos foram aguçados ao perceber a figura que a espreitava da areia.
         Um torso bronzeado refletia a luz prateada. Mãos grandes percorriam cabelos jogados ao vento.
         Um deus, Chloé pensou. Ou um semi deus, não faz diferença.
       De repente o medo lhe tomou conta. O que aquele estranho havia visto? Sentiu seu interior se contrair e algo denso e perturbador brotar dentro de si... os batimentos foram as alturas e apesar de não desejar sair da posição em que se encontrava, suas pernas foram mais ligeiras e logo se percebeu correndo para longe.
      A uma certa distância pensou ter conseguido escapar de seu semi deus misterioso, mas os pensamentos foram traídos quando notou mãos que a arrastavam pela cintura. Gritou, esperneou, mas não via o estranho se reprimir.
O que ele fará comigo? Era a dúvida que a assombrava.
_ _

_Uma dessas, por favor.
        O velho entregou a rosa e logo capturou a nota que lhe era estendida. Afoito tentou oferecer outras variedades, mas o homem se posicionava irredutível em sua escolha.
         Se afastou do senhor e adentrou a loja. Com o olhar varreu o ambiente e encontrou seu objeto de procura. Pensou em se aproximar e falar logo o que precisava, mas se conteve.
         Durante algum tempo ficou observando o interior da loja, notou as embalagens e as guloseimas. Ainda possuía a mesma sensação de que o fitavam. A sua esquerda os mesmos olhos o percorriam atentamente. O senhor ainda era desconfiado de sua presença, Albert podia sentir.
        Mas as desconfianças logo se suspenderam quando outro par de olhos pousaram sobre ele. Olhos claros e brilhantes tentavam esconder as sensações que transpassavam aquele rosto.
       Após a saída do último cliente, ele se aproximou. Ignorado por algum instante ele a viu ir para trás da loja. Aproximou do balcão e foi questionado sobre seu interesse naquele local. Respondeu de modo firme e acabou por diminuir as desconfianças do velho. Ao retornar, a jovem dispunha de uma bandeja.
_Venha cá Julie... esse senhor disse que precisa lhe falar.
_Sim vovô.
Albert se aproximou. Mantinha sua mão presas a rosa. Estendeu a flor e notou o rubor nas faces outrora pálidas.
_Julie, converse com o senhor. Ele lhe é gentil, aceite o presente.
       Os dedos se esbarraram naquela troca. As faces voltaram a se incendiar e Albert tomou-lhe a mão, fazendo-a segui-lo pela loja. Ao consentimento do senhor que os observavam eles saíram.
Demorou um pouco até que alguém tomasse a iniciativa, mas por fim ela acabou iniciando a conversa. Os minutos se passaram, depois as horas e logo estava escurecendo. A conversa, apesar de, na maior parte, ter sido sobre questões corriqueiras revelaram pontos fundamentais sobre ambos.
Em uma das partes, Julie emudeceu ao descobrir a confusão que era suposta ter cometido. Quando Albert lhe disse que as flores do dia anterior não foram entregues e o motivo, a garota teve um acesso de vergonha extrema. Como forma de se redimir ela precisou aceitar o insistente convite dele para saírem no final de semana.
_ _
_Uma belíssima dama tenho hoje em minha companhia.
         Já era o sexto passeio que Julie fazia com Albert. Ele sempre se mostrava galanteador, educado, culto, gentil e respeitoso. Além de ser dono de uma beleza incrível. Muitas qualidades para um homem apenas, Julie havia pensado no início. Porém, após diversas saídas, ela passou a conhece-lo melhor.
        Ele não era como outros homens que havia conhecido. Era diferente, não apenas pelo fato de ser mais velho e sim por nunca ter feito ou dito nada que a pudesse ferir ou deixa-la em constrangimento.
         No início, pensava que logo ele a deixaria de lado. Mas ao perceber que a situação não era essa, Julie começou a enxergar o homem, que agora estava a sua frente, de um modo diferente. E durante uma semana, reuniu coragem o suficiente para fazer algo que julgava necessário. Hoje seria o grande dia.
_Pagaria com o mais valioso dos tesouros para conhecer seus pensamentos.
Julie sorriu ainda desajeitada com o galanteio. Por mais que já fosse hábito, ela nunca se acostumaria com os modos gentis daquele homem intrigante. Por alguns segundos ela emudeceu.
_Minha dama prefere partir?
        Já haviam terminado o jantar a algum tempo. Era a segunda vez que eles saiam para ir a um dos mais caros restaurantes do centro. Por mais que Julie houvesse insistido em não possuir porte para frequentar tais lugares, Abelrt sempre havia se mostrado generoso. Ela não aceitava que ele lhe comprasse presentes caros, mas não pôde recusar o presente de aniversário. E hoje usava o Dior azul claro.
       Percebeu quando Albert já chamava o garçom e encerrava a conta. No caminho de volta, Julie permanecia quieta dentro do imponente carro. Pararam a distância de uma rua do pequeno apartamento onde ela vivia com o avô. Surpreendeu-se por Albert não ter avançado e parado em frente do prédio como de costume. Assustou-se, mas logo se acalmou ao perceber a expressão calma e preocupada do homem.
_Julie, hoje à noite eu disse ou fiz algo que a ofendeu?
       Negou com a cabeça e abaixou o olhar. Sentiu mãos tocarem seu maxilar e levar seus olhos ao encontro de uma bela figura em um smoking. Seu coração parou. Deveria sair daquele carro, correr rápido e se colocar em segurança. Entretanto de seus lábios saíram a pergunta que a perturbaria pelo resto da noite.
_Por que você perde seu tempo comigo?
        Albert se manteve calado por um tempo. Fechado em seu interior, como ela o viu fazer diversas vezes. E a resposta que recebeu em seguida a tirou da órbita. Albert confessava que ficar ao lado dela sem poder tocá-la era um tormento, mas não mantinha esperanças, pois sabia que ela preferiria alguém de uma idade parecida e não um velho como ele. O que não era verdade, pois Julie não o via como um velho.
         Perdeu a razão, assim pensava. Pois em um curto instante, seus lábios já estavam selados ao do homem a sua frente. As mãos suaves percorriam o corpo másculo. O lábios sugavam a boca do outro com extrema delicadeza.
          No início, sentiu Albert ser cuidadoso, mas logo o homem já não respondia mais com muita delicadeza. Sugava seus lábios de forma voraz e puxava-lhe pela cintura. Por mais assustador que o pensamento pudesse ser, Julie queria sentir seu corpo colado ao dele. Intensificou ela mesma os modos e logo a luxúria pediu passagem entre os dois.
         Era pressionada contra a porta do carro, enquanto a boca explorava os contornos de seu pescoço com extrema audácia. Sentiu o torso pressionado pelos braços fortes e as mãos que lhe percorriam e apertavam as pernas.
        Arfou ao contato daquele corpo com o seu. Queria senti-lo. Desejava-o. Mas não ali, daquele modo. Acabou por dizer o que havia pensado em fazer a noite toda, sem nenhum traço de arrependimento e com os lábios ainda inchados:
_Vamos sair daqui...
         O carro avançou veloz pela rua, enquanto uma das longas mãos ainda pressionava sua perna.

 

... continua

 by Katarina