terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Missão anjo da guarda: capitulo 6: Limpando a sujeira




Estávamos sentados no parapeito da varanda mal cuidada do quarto dele, não dizíamos uma só palavra pelo menos há uma hora. Às vezes trocávamos alguns olhares mão mantemos o silencio.  Não sei se ele sabia que havia um demônio dentro dele, mão certamente não era o mais prudente a ser dito.  “ Ei, garoto! Sabia que você só está vivo porque um demônio prende sua alma” Não! Com certeza não era uma boa ideia.
Minha barriga roncou.
Ele riu
–Acho que alguém está com fome.
– Talvez. – fiquei envergonhada.
– Eu conheço uma lanchonete onde costumo comer. Bem , podemos ir lá, mas só se você pagar.
Eu ri.
– Bem, espera um pouco aqui então. – me levantei e fui até meu quarto. Contei as notas e vi que não teria dinheiro por mais muito tempo.
– Lucas! – gritei o supremo dos anjos da guarda.
Um raio de luz entrou pela janela e eu senti a sua presença.
– O que foi Isabela? – ele disse nada animado. – Admito que achei que pediria por socorro em menos tempo.
– Não estou pedindo socorro, apesar de não terem me dito que havia um demônio na história. – resmunguei furiosa.
– Ah, não julguei essa parte importante. Apenas achei que merecesse uma missão a altura. – ele foi sarcástico.
– Que seja! Estou precisando de mais dinheiro. – fui direto ao assunto. – Logo a quantia que me deixou vai acabar.
– Arrume um emprego, como qualquer humano faz quando precisa de dinheiro.
– Você está brincando comigo? – só poderia ser. Caramba, eu sou um anjo!
– Não.  – ele manteve o tom sádico. – Se precisa de dinheiro arrume um emprego. Você precisa se misturar aos humanos e não há forma melhor.
Peguei a minha bolsa e sai do quarto em fúria. Como ele poderia fazer aquilo comigo? Eu não sou a droga de um humano! Sou um anjo. Um anjo!
– O que te deixou tão furiosa? – perguntou Pedro segurando o riso.
– Nada, vamos?
– Tá, vamos.
Ele saiu andando e eu o segui. Caminhamos por uns cinco minutos até chegarmos a uma lanchonete. Imagine um lugar esquisito com o letreiro caído e com poucos clientes num lugar mal freqüentado, aquilo era ainda pior.
Quando entramos os poucos fregueses que estavam lá me olharam da cabeça aos pés. Pedro se sentou próximo ao balcão e eu me sentei ao seu lado.
– Quero um x burger, com batatas e um copo de coca. E pode trazer o mesmo para gata. – ele pediu para um cara barbudo, com a cara fechada e que perecia ser a única pessoa que trabalhava no estabelecimento. Ele vestia um uniforme listrado coberto por uma camada de gordura.
Dez minutos depois ele voltou com o pedido. Pedro não fez cerimônia e deu logo uma bela mordida no sanduíche. Peguei o meu e fiquei encarando por alguns segundos, pingava uma gordura que provavelmente deveria ter sido usada e reutilizada uma centena de vezes.
– Não me surpreenderia se você morresse de AVC aos 30 anos. – disse baixinho.
– Para de reclamar e come. – ele disse.
Dei uma mordida naquilo e meu estomago revirou. De repente eu não sentia mais fome alguma.
Olhei uma placa atrás do cara onde estava escrito em uma caligrafia feia: Precisa-se de funcionários.
– Estão precisando de alguém para trabalhar aqui? – perguntei ao apontar para placa.
– Sim, por que, está interessada? – perguntou o homem ao me encarar.
– Bem... – comecei a gaguejar.
– Está contratada. – ele disse me jogando um avental engordurado.
Pedro riu.
– Acho que não é apenas eu quem precisa de um emprego. – apontei para o Pedro.
– Não, pêra ai... – ele levantou as mãos e tentou se esquivar.
– Não se esqueça de que me deve 300 reais. – lembrei a ele.
– Droga! Preferia continuar devendo ao agiota. – ele lamentou pegando um avental. – Me lembre de ficar longe de você da ultima vez, só sabe me meter em encrencas. – resmungou.
– Podem começar agora. – ele apontou para um cliente com a mão levantada.
– Deixa que eu vou. – Pedro disse se levantando e colocando o avental.
– Para você, garota, tem uma pilha de vasilhas esperando lá dentro.
Uma pilha de vasilhas? Ele quis dizer uma cozinha inteira! Tive que segurar o vômito quando vi a situação daquela cozinha. Não sabia se o pior foi o rato que correu para debaixo do fogão ou as moscas que voavam sobre a pilha com vasilhas ate no teto. Lucas, eu odeio você! Quis gritar.
Comecei a lavar as vasilhas. Senti algo passando no meu pé, não quis olhar para baixo com medo de ver o que era e querer sair correndo dali. O dono da lanchonete jogou perto de mim um esfregão e uma balde. Era muita humilhação para um dia só!!! Um anjo jogado em meio às imundices humanas, isso deveria ser proibido.
Horas depois eu me escorei no chão cansada e coberta de gordura. Olhei para a cozinha finalmente limpa.
– Ainda está viva? – perguntou Pedro ao aparecer na porta.
– Isso é um mistério. – respondi ainda cansada.
Ele riu.
– Acho que já podemos dar o fora daqui. Ele já esta fechando a lanchonete.
– Quanto tempo passei limpando aquilo? –perguntei enquanto caminhávamos lado a lado até a saída.
– Umas seis horas.
– Nossa! – eclamei.
– Vejo vocês amanha! – gritou o dono.
Fomos caminhando até o prédio. Pedro não conseguia conter o riso ao olhar para mim, descabelada e suja. Aquilo definitivamente era demais para mim.
– Amanhã eu sirvo as mesas e você limpa a cozinha. – disse jogando o avental em cima dele.

Continua...

By Ashe

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