sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Jenny Jenny

 

O nome dela é Jenny Taylor, e o que eu vou contar é verdade. Jenny sempre teve uma vida muito boa, seu pai, político de sua cidade, tinha muito amigos influentes, logo, era um homem que ganhava muito dinheiro. Ela sempre foi uma bonequinha, cabelos castanhos e ondulados, pele clara e olhos azuis, o orgulho da mamãe, a princesinha do papai.
Aquele ano tinha tudo para ser o melhor, o pai da garota estava concorrendo à prefeito da cidade e ao que indicavam as pesquisas que as chances dele ganhar eram muito grandes. As pesquisas não se enganaram e logo, Jenny e sua família subiram no patamar de poder mais alto da cidade, eram agora ricos e importantes.
Dois meses mais tarde, Jenny completaria 12 anos, sendo agora uma “mocinha” como diz a mamãe, e para comemorar, seu pai decidiu leva-la para passar um feriado na fazendo da família, para ensina-la a caçar. Os Taylor tinha tradição na caçada, todos seus membros são acostumados à armas, munições e troféus de caça, e a pequena Jenny, não seria diferente. Na sexta feira, depois da escola, pai e filha estavam a caminho da fazenda, para darem início as aulas de caça da nova caçadora.
Assim que chegaram, a menina foi correndo desfazer suas malas, pois tinha comprado muitas roupas de caça, e queria poder ter tempo para escolher a melhor roupa para sua primeira caçada. Enquanto arrumava suas coisas em seu quarto, o senhor Taylor fazia umas ligações de celular.

-  Papai, essa roupa ficou boa em mim? - pergunta ela dando uma votlinha. 
-  Sim querida, ficou muito linda em você. -respondeu, sem dar muita atenção.


Algumas horas mais tarde, Jenny ouviu barulho de carros do lado de fora e correu para a janela, ver quem era; não esperava que receberiam visitas. Desceu as escadas, querendo saber quem eram as pessoas que chegavam.

-  Quem chegou? 
-  Só uns amigos meus bem, eles querem caçar também.


Um homem alto de bigode entrou na casa e fui cumprimentar o senhor Taylor. Jenny o olhou bem, tinha a impressão de conhece-lo. Sim, conhecia, era o delegado da sua cidade, não é a toa que era amigo do seu pai, o prefeito e o delegado andam sempre juntos. Ela ignorou a presença do delegado ali, até que mais carros chegaram...logo ela estava sozinha com cinco homens, sendo eles, seu pai, o delegado e mais três que ela não conhecia...A pequena Jenny começou a sentir-se desconfortável naquela casa.
Os homens mais poderosos da cidade estavam ali na fazenda, e no meio deles uma única garota sozinha...caçar? Que nada...os planos daquele pai diabólico para seu filha não tinham nada a ver com caçada, pelo menos, não para ela. Um a um, eles abusaram do corpo da garota em seu quarto, enquanto seu pai filmava tudo...Ela chorou e implorou para que parassem, mas não deu certo, seus gritos e suas súplicas causam apenas risos dos homens. Seus olhinhos olhavam para o pai, implorando por ajuda...mas ele apenas dizia “você está ótima querida”. Após horas, a largaram caída no sofá, com sangue escorrendo entre as pernas e marcas de mordida por toda parte.
Primeiro ela pensou em pedir ajuda...mas para quem? Para a polícia? Toda a lei e ordem da sua cidade estava ali, abusando do seu corpo...tentou falar com a mãe, mas esta sempre fingia que não ouvia ou que não entendia...ela não tinha a quem recorrer...
Todo feriado lá se iam eles “caçar”, sempre os mesmos amigos, sempre a mesma desculpa e sempre a mesma frase “você está ótima querida”. A garota aguentou o quanto podia, rezava todas as noites para isso parar...Três anos se passaram nessa situação, Jenny agora tinha 15 anos. Morria de tristeza e vergonha a cada aniversário...queria tanto ser uma garota normal e não ter que passar por esse tipo de coisa...mas vai saber quantas de suas amigas também se encontram numa situação assim?
Eu estava sempre por perto...pressentia que algo iria acontecer. Certa vez, eu me aproximei dela, enquanto ela olhava-se no espelho. Seu rostinho triste e pensativo procurava desesperadamente por uma solução para seu problema infernal. De vez em quando, enquanto eu a observava, ela virava para trás, como quem procura por alguém, ou algo...Será que ela esta sentindo minha presença? Se sim...isso não é bom, não mesmo.
Na noite que fez quinze anos, Jenny decidiu acabar com isso de uma vez por todas. Todas as suas amigas falavam sobre beijar meninos e ela só conseguia pensar em como não ser abusada a cada feriado. Já chega, pensou.Trancou-se no banheiro e com uma lâmina de barbear começou a se cortar nas veias dos pulsos. Viu seu sangue espirrar e por um momento sentiu medo. Sua vida escapava de suas veias lentamente...sentiu frio, sentiu fraqueza...tudo ficou escuro.
Eu deveria estar do lado dela nessa hora, com minha mão em seu ombro, mas eu não estava, eu não precisei.
Horas mais tarde, Jenny acordou no hospital com os braços enfaixados, tivera sido salva a tempo pela empregada da casa.
 Eu a olhei bem nos olhos quando ela acordou e notei que parecia feliz...feliz por estar viva, por algum motivo, estava feliz por não ter morrido. 
O ser humano foi feito para viver, e não morrer. A morte é uma consequência, algo natural, mas não um objetivo. Não importa o quanto se deseje a morte, o corpo nunca quer morrer, ele não foi feito para isso...E quando finalmente se alcança a morte, as pessoas percebem o quanto a temem. Todos temem à morte, mas alguns mentem para si mesmos e para os outros.
Depois disso ela se recuperou e fugiu de cidade. Cortou e pintou o cabelo, mudou de nome, arrumou um emprego numa casa noturna e foi morar com um namorado. Nunca mais tentou se matar. Não tente apressar as coisas Jenny, nós vamos nos ver um dia, no curso natural das coisas. Como devem ser sempre. 

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