quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sob Tortura

 

Os beijos que trocávamos eram quentes e me faziam estremecer a cada instante, o deslizar daquelas mãos sobre minha pele eram os estimuladores de uma corrente que percorria todo meu corpo. As respirações entrecortadas e os pulsos acelerados nos conduziram a um rítmo inebriante, a ponto de quase ficarmos sem fôlego.
Uma noite inteira de carícias, gemidos e altas temperaturas. Nossos corpos unidos percorriam um único caminho e encontravam juntos com nossas mentes, todo o prazer que alguém poderia ter em mãos.
Naqueles braços eu me entreguei, naquela pele eu me submergi, tornei-me pertencente ao ser que agora tentava me acalmar o fôlego e manter o seu próprio sob controle. Logo o sono veio, bem como o início da madrugada. Estávamos exaustos.
Assim que me situei novamente, consegui distinguir, à pouca luz, a figura que dormia abraçada em mim. Sorri e acariciei seu rosto, eu amava profundamente.
Meu coração estava entregue.
Mas mesmo em meio a todo aquele amor, mesmo sob todo aquele clima, existia uma presença. Uma mulher de olhos felinos e rosto angelical, alguém que se fazia presente enquanto nossas noites de amor se desdobravam sob aqueles lençóis.
Aproximei-me mais, pois no fundo queria demonstrar que aquela disputa já estava ganha e que não havia mais nada que ela pudesse fazer. Olhei mais algumas vezes para os travesseiros espalhados e senti quando sua boca colou em meu ouvido.
Os lábios doces e quentes que percorriam toda a extensão do meu pescoço, deixavam rastros de uma chama que há tempos estava apagada. Virei-me. Não queria mais sentir.
Deixei os braços em que estava e tentei me iludir com o sono que não voltava mais. Com o travesseiro sobre a cabeça parecia que estava tudo calmo, não havia mais perigos, mas eu sabia, ela estava lá. Sua presença era tão real quanto o fogo que me consumia naquele momento.
Virei-me novamente, mas já era tarde para fugir. Suas mãos em minhas pernas, sua boca contra minha barriga, e aqueles olhos se tornando cada vez mais inebriantes.
Precisava resistir, não deixar o desejo tomar conta. Era tão difícil, ela era tão perfeita, tão diabólica. Seduzia-me como se não fosse apenas um fantasma, como se ainda vivesse em mim. O pior era que eu tinha dúvidas se ela era realmente apenas uma lembrança.
Eu a odiava por isso. Não era certo. Eu a odiava por estar lá, por me confundir, por me fazer declinar nas horas em que não podia e por me atormentar com ideias absurdas. Eu não a queria lá, queria que ela sumisse, desejava que ela fosse embora, que não me atormentasse mais.
Quanto mais eu pensava, menos eu tinha forças e menos lutava contra tudo aquilo. Ao meu lado agora só existia ela e tudo o que eu fazia me comprometia ainda mais. Foi quando senti suas mãos delicadas passando sobre meu corpo até alcançar o que procurava. Arfei e gemi ao me sentir em abuso e controle completo daquela criatura.
Seus toques anunciavam a malícia escondida por detrás de seus olhos e sua boca me torturava com beijos ardentes. Era mais do que o normal, mais do que eu poderia suportar.
Quando finalmente me deixei levar, ela sorriu. Seu sorriso para mim era doce e quente ao mesmo tempo.
Nos amamos como se tudo o que eu precisasse fosse ela. E em meio aos gemidos e pensamentos que me tomavam, não houve, sequer, uma cogitação de misericórdia para mim ou para o outro ser que habitava o mesmo coração.
Não havia retorno, muito menos desculpas. Tudo o que havia era o silêncio que consumia o ambiente. Porém, dentro de mim, existia a plena certeza de que seria para sempre um ser dividido.

0 comentários: