domingo, 21 de setembro de 2014

Melinda Brugguer Episodio 3: A outra


A ruiva estava sentada em sua mesa conversando e rindo alto com alguns membros da pericia. Aquele era um dia parado no departamento de homicídios.
Um homem de macacão cinza entrou na sala carregando um buquê de rosas vermelhas.
– Melinda, é aqui? – perguntou o sujeito.
– Sou eu. – respondeu a detetive, olhando de canto de olho para o homem.
– Entrega para você. – o homem estendeu o buquê.
– Obrigada. – Melinda pegou a encomenda à contra gosto.
– Ohmmmm! – murmurou a perita Sara derretida com a entrega. – De quem é?
Melinda nem mesmo leu o cartão, apenas se levantou e saiu andando. Seus colegas de trabalho ficaram sem entender.
Nicolas estava sentado em um canto de seu pequeno necrotério e desenhava em uma prancheta que apoiava nas pernas.
– Olá! – ele sorriu ao ver a ruiva – Gostou do presente? – ele se referiu ao buquê
Melinda se aproximou de uma lata de lixo e jogou o buquê lá dentro.
– Nunca mais faça isso. – disse ela dando as costas para ele sem nem ao menos esperar por sua reação.
O lápis que ele segurava se partiu ao meio nas mãos do medico e uma lagrima silenciosa escorreu pelo seu rosto caindo sobre o desenho.
– Chega! – ele sussurrou.
Enquanto Melinda caminhava pelo corredor seu celular tocou.
– Detetive Bruguer?... Estou a caminho.
A ruiva dirigiu até a estação de esgoto da cidade. Corpos encontrados no esgoto não costumavam ser comuns. Quando chegou ao local havia uma dezena de curiosos, mas nada fora do habitual, a não ser o corpo de um homem preso na grade que separa os resíduos do esgoto.
Melinda nunca tinha se deparado com algo como aquilo, quem jogava um corpo no esgoto?
 – Bruguer. – disse a detetive ao passar pelo cerco policial mostrando seu distintivo. – O que houve aqui? – ela foi logo perguntando para um dos policiais que tentava conter o tumulto.
– Um operador da casa de maquinas aqui da estação, ligou assim que viu esse corpo preso nas grades.
A detetive assentiu com a cabeça e caminhou na direção dos peritos.
– Alguma informação de quem é a vitima? – perguntou a Sara.
– Pedro Henrique Alves, 32 anos, – a perita respondeu entregando uma carteira molhada e com cheiro forte de esgoto. – tem um crachá do consultório que trabalhava também... – A perita encarou o rosto do homem estirado no chão. – Que droga! Porque matam os bonitões? – choramingou.
Melinda riu.
– Algum sinal da causa da morte? – continuou sua investigação.
– Facada – foi dizendo a perita. – um golpe certeiro na aorta.
– Vou começar pelo trabalho dele então. – disse a detetive pegando o saco plástico que continha a carteira da vitima.
Homem bonito, jovem, classe media, drogas talvez?  A detetive formulava perguntas em sua mente enquanto dirigia rumo ao local em que a vitima trabalhava.
Estacionou o carro na portaria e entrou no prédio.
– Policia, gostaria de fazer perguntas a respeito do assassinato de Predo Henrique Alves. – ela foi se identificando na portaria.
A recepcionista a encarou com choque e engoliu seco.
– Assassinato? – ela engoliu seco e pegou o telefone. – Doutor Eduardo? Aqui é Michele, tem uma policial aqui falando que o doutor Pedro foi assassinado.
– O que??? – Melinda ouviu um grito do outro lado da linha.
– decimo andar, sala 1035. – informou a recepcionista afastando o telefone do ouvido.
Melinda assentiu e foi para o elevador.
– Detetive Bruguer. – Melinda se apresentou ao abrir a porta da sala.
Um homem vestido de branco uns 40 anos estava sentado atrás de uma mesa. Ele a olhou da cabeça aos pés e deu um sorrisinho malicioso.
– Acho que gostaria de ter mais visitas da policia.
– Eu estou aqui por um assunto sério.
– Claro, desculpe-me. Sente-se. – disse o medico se ajeitando na poltrona e assumindo uma postura mais séria. – É verdade o que Michele disse? Pedro está morto? – ele perguntou perplexo.  Não é possível... – ele se engasgou com as palavras – Ele veio trabalhar ontem e estava ótimo.
– Acabamos de encontra-lo no esgoto. – disse a detetive sem medir as palavras.
O homem estava incrédulo.
– Você sabe de alguém que teria motivos para fazer isso? Talvez uma briga? Envolvimento com dragas? – esses motivos estavam entre os casos mais comuns de assassinato. – Você sabe se ele vivia bem com a mulher? Com os filhos?
– Calma, calma. – disse atordoado com o turbilhão de perguntas.  – Pedro é uma das pessoas mais na paz que conheço... ou conhecia, – choramingou – nunca foi de brigar com ninguém não, e ele não é casado nem tem filhos.
– Sabe onde eu posso encontrar os pais dele?
– No cemitério. Morreram faz alguns anos, num acidente de carro.
Melinda se levantou da cadeira e colocou seu cartão sobre a mesa.
– Me ligue. – disse, mas assim que o homem estendeu a mão, rápido para pegar o cartão ela puxou de volta. – Mas só se tiver alguma informação valiosa. – ressaltou a policial. Assim que terminou a frase virou as costas e deixou a sala.
Alguns dias depois Melinda estava sentada na sua sala avaliando o quadro de pistas a sua frente e tudo o que tinha nele era a foto da vitima cujo corpo foi encontrado em um local que com toda certeza não é a cena do crime. Sem antecedentes criminais, sem filhos ou esposa, nem mesmo parentes próximos, nenhum bem roubado.  Um crime passional? Dificilmente...
O celular da detetive tocou a tirando de seus pensamentos.
– Bruguer... Fala sério!
Melinda nem ao menos tinha resolvido um caso e estava a caminho de outro.
– Outro cara bonitão. – choramingou sara enquanto ela e Melinda caminhavam na direção da segunda vitima em menos de uma semana.
O corpo dessa vez havia sido encontrado as margens de um córrego da cidade, mas não muito longe da estação de esgoto. Outro médico, 35 anos, jovem e bonito. Causa da morte? A mesma da vitima anterior, facada no pescoço. Segundo Nicolas um canivete ou uma faca pequena.
Que os dois casos de alguma forma estavam ligados, Melinda tinha algo perto da certeza. Eles tinham uma idade parecida, eram médicos, mas não se conheciam.
Uma semana depois apareceu um terceiro corpo, com as mesmas características dos anteriores. A cidade estava em alvoroço e a mídia não dava sossego para a polícia, a manchete de um possível serial killer estava estampada em todos os jornais. E Melinda não se sentia nem mesmo perto de pegá-lo.
– Acho que precisamos dar uma volta antes que seus neurônios fritem ai. – disse sara ao entrar na sala e ver Melinda fazendo anotações e jogando-as fora momentos depois.  – Acha que não saindo daqui vai resolver isso mais rápido?
– Eu tenho que resolver isso. – Melinda a encarou
– Não, nos precisamos é dar uma volta. – Sara saiu da sala puxando Melinda junto. – Tem um restaurante novo há poucos quilômetros daqui, e estou realmente muito a fim de comer comida japonesa.
Melinda concordou. Não que tivesse opções.
Assim que chegou no restaurante se arrependeu da ideia. Deu de cara com Nicolas sentado em uma mesa e ele estava acompanhado, de uma bela e jovem mulher loira. Eles riam e trocavam caricias.
– Olá, Nicolas! – Sara correu na direção dele. – Que surpresa ver vocês aqui. E quem é essa?
– Prazer meu nome é Alice. A namorada dele. – disse a mulher sorrindo e acariciando os cabelos do legista.
– Namorada... –Melinda engoliu seco.
– Sim – Nicolas sorriu dando um selinho na mulher.
– Eu acho que perdi a fome. – disse Melinda deixando o restaurante.
– Ei, Melinda espera. – Sara saiu atrás dela, e a segurou pelo braço do lado de fora do restaurante.
– Me solta. – Melinda protestou.
– Por que você não diz que o ama e acaba logo com isso? – Sara foi direto ao assunto.
– Eu não o amo!
– Você é uma péssima mentirosa. Quem não gosta não morre de ciúmes.

Continua...

By Ashe

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A moça do Google maps



Eu estive num acidente de carro a uns anos atrás. Desde então eu quase não saio de casa; a simples ideia de ver um carro passando por mim me dá pânico.
Um amigo meu me ensinou a usar o google maps, tenho certeza que você já ouviu falar. Te permite usar imagens de satélites para ver vários lugares do mundo.Eu fiquei fascinado com essa ferramenta: eu poderia, literalmente, andar por todas as ruas de todas as cidades do mundo.  Eu poderia passear pelo Japão, China, Alemanha, Inglaterra... Até já fui à atrações turísticas como A muralha da China e o castelo do Drácula.
Minha coisa favorita pra fazer era ir à ruas aleatórias em cidades grandes, e contar quantas pessoas e animais eu conseguia ver... cuidando de suas vidas, andando como se não tivesse problema algum na vida.
Notei uma moça na calçada, em Tóquio. andando tranquilamente. deu um zoom nela. Ela carregava uma bolsa cinza com alças brancas. Calça jeans, camiseta branca, tênis vermelho e blusa preta com toca. O google maps borra o rosto das pessoas para proteger sua identidade, mas assim mesmo, eu tenho a sensação que ela estava sorrindo. Na hora, me deu uma grande vontade de estar lá com ela, andando ao seu lado e conversando qualquer bobagem. Suspirei. Deixei meus braços caírem nos braços da cadeira de roda. Isso nunca aconteceria, eu to preso aqui, preso nessa cadeira.
Fechei o notebook, chega por hoje. Fui pra cama. 

Acordei cedo no outro dia e decidi olhar Paris. Paris era sempre divertido, um lugar lindo. Dei zoom numa rua aleatória e comecei a percorre-la. Era uma rua pequena, cheia de lojinhas variadas. No fim, tinha uma faixa de pedestre com várias pessoas atravessando: um homem carrega, andava, olhando para uma velha senhora que carregava uma bolsa enorme. Uma outra mulher estava numa janela, olhando a rua e uma jovem moça guiava um grupo de crianças na faixa.
Eu girei a câmera algumas vezes e então meus olhos se voltaram para um ponto de ônibus, onde vi algo peculiar: vi duas pessoas. Uma delas era uma jovem que estava com os dois pés no chão, sentada de maneira confortável. Foi então que notei os tênis vermelhos, a calça jeans... camiseta branca... blusa preta com toca. O cabelo castanho dela estava amarrado atrás de sua cabeça. Em seu colo, estava uma bolsa cinza de alça branca.
"Que coisa bizzara" pensei comigo mesmo. Não podia ser a mesma mulher. Esse era outra país, outro continente, como podia ser ela?
Maluquice, essas eram imagens aleatórias. ela podia ser uma viajante, além do que, sem poder ver o rosto, era impossível dizer se era ou não a mesma mulher. Cabelo castanho é a cor mais comum de cabelo do mundo e esse tênis vermelho... eu mesmo tenho um igual, comprei na internet.
Dei zoom out e fui fazer algo pra comer.
Depois do almoço, eu decidi olhar Berlim. Peguei uma rua aleatória, como sempre. Não era uma rua muito legal; algum prédios de tijolo, pareciam fábricas. Alguns terrenos vazios cheios de grama e entulho jogado. Mais à frente vi um menino andando, com um celular na mão. Fiquei decepcionado. Estava pronto para sair daquela rua quando notei algo, com o canto do meu olho... aquele par de tênis vermelho.
Ela estava numa esquina, com a mão apoiada num poste, parecia estar tentando atravessar a rua. Sem chance de ser a mesma moça! Mesmo que ela fosse uma viajante, seria impossível mudar de País assim tão rápido. O fato de acha-la em Paris já foi uma coincidência incrível, mas agora? Isso ja tava ficando ridículo.
Eu tava tendo alucinações ou o google decidiu pregar uma peça nos usuários que usam o maps por muito tempo. Procurei no fórum por coisas bizarras que aparecem no google maps. Procurei por uma moça que aparece em todas as cidades, mas não achei nada parecido.
Eu estava nervoso, mas resolvi voltar aos lugares onde a encontrei a primeira vez. Em paris, ela ainda estava no ponto de ônibus, mas não estava mais sentada, mas sim de pé, procurando algo na bolsa. Em Tóquio, ela estava à alguns passos distante de onde eu a encontrei, brincando com um gatinho da rua.
Fui a um lugar novo, Bruxelas. Peguei uma rua qualquer e comecei a girar por ela. Eu estava no que parecia ser um bloco de apartamentos. Não havia ninguém nas ruas a não ser por uma mulher de blusa azul. Suspirei de alívio, eu devia mesmo estar fican... senti um arrepio. Eu estava olhando para as ruas apenas e demorei pra notar alguém na sacada de uma janela... Era ela. Estava com o rosto para frente como se estivesse olhando para a câmera, como se estivesse olhando pra mim.
Em Sydney, ela estava encostada numa parede no estacionamento de uma farmácia. Em Londres, estava embarcando num dos ônibus vermelhos. Em todo lugar que eu olhava, ela estava lá. Passando por uma calçada de tijolos em Veneza. Em Hong Kong, ela estava entre um banco e um McDonalds, ajustando a alça da sua bolsa. A cada imagem, ela estava mais e mais próxima de olhar diretamente pra mim, com seu rosto borrado.
Eu estava aterrorizado, mas o que eu podia fazer? ligar pra polícia? seria ridículo. Quem é ela? ela tava me seguindo? Eu tava seguindo ela? Minha vontade era levantar da cadeira e sair correndo. Porque a única coisa que me fazia me sentir livre, agora era minha maior prisão? 
Tinha algo que eu precisava fazer... Digitei o nome da minha cidade.
Achei ela, a alguns quilômetros da minha casa, em um parque, sentada num banco e apontando para frente. Para mim. Ela me achou... Eu tive vontade de vomitar.
Rapidamente, digitei o nome da minha rua. Percorri ela toda, rodeando o prédio onde eu morava... e nada. Eu não a vi. Nada dela. Vi umas pessoas, mas não ela. Suspirei e me deixei relaxar na cadeira. Eu estava a salvo aqui. Eu nunca saia de casa mesmo. Nunca mais vou usar o google maps, nunca mais vou ver ela.
Foi então, que eu ouvi uma batida na porta. Tremi. E então eu percebi: o maps mostra apenas as ruas, e não o interior dos prédios...
Usei a câmera da minha porta que estava ligada ao meu computador, algo que fiz pra facilitar minha vida, nessa minha situação.
Olhei para tela e vi uma mulher de calça jeans, camiseta branca, blusa preta com toca. Segurando uma bolsa de alça branca. Ela olhava diretamente para a câmera, seu rosto ainda era um borrão. Eu estava com um grito na garganta, quando ela ergueu a mão e bateu na minha porta.
Gelei.
Eu não ia me mexer. Nem respirar. Nunca mais.
Nunca.








quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O homem mau.



Ele tem me perseguido por semanas. 
Eu não sei quem ele é, mas eu sei o que ele é, e o que ele quer.
Ele é perigoso. Matou antes e vai matar de novo, para me pegar.
Me arrastar daqui para um lugar ruim, um lugar terrível e frio, do qual eu nunca mais vou voltar; um passo em falso e ele me pega.
Eu não posso deixar isso acontecer. Eu tive cuidado, muito cuidado, mas ele em achou assim mesmo. Eu não estou mais a salvo, e todas as vezes, eu o sinto me olhando, rondando minha casa durante a noite, olhando pela janela. Me perseguindo. E agora ele está aqui, bem aqui, dentro da minha casa, do meu santuário... então, eu me escondi.
Porque eu estava com medo. Claro, de começo, isso foi tudo, medo. Mas enquanto eu o escuto vasculhando minha casa, me lembrei das noite de terror que esse homem me fez passar, e agora, violando minha casa... meu medo, foi se tornando ódio. Eu sei que isso é idiota. Eu sei que ele é capaz de coisas terríveis, eu sei que ele é mais forte do que eu e isso pode ser meu fim, mas eu simplesmente não posso mais viver assim. Ele não vai me pegar sem uma luta.
Preciso pensar: minha mente ta confusa, meu coração bate tão forte que parece que ele se relocou para minha garganta.
Limpei o suor das minhas mãos na minha calça. "Controle-se homem!" pensei comigo mesmo. "Encare o medo, vença o medo. Deixa a raiva te controlar."
Ok, a hora de pensar acabou. Eu vou me arriscar mesmo que isso me mate.
Eu estava escondido na cozinha, atrás da geladeira. Quando ouvi o barulho de uma porta abrindo, percebi que seria minha chance: enquanto ele olhava outro quarto, eu, com cuidado, peguei uma faca da gaveta. Com a outra mão, eu peguei uma moeda que estava no meu bolso...
É isso; está realmente acontecendo. Não é um sonho, não é um pesadelo... ou é um pesadelo que se tornou real... O tempo parou à minha volta: eu só ouvia o barulho do relógio da cozinha, sincronizado com meu coração.
Ouvi os passos dele. estava s aproximando. A geladeira ficava perto da porta da cozinha, então, eu estava protegido até que ele entrasse completamente. Ouvi seus passos. Ele estava agora, do outro lado da geladeira. Menos de um metro distante de mim.
Peguei a moeda e a joguei na porta dos fundos da cozinha, por sorte, o barulho o atrairia para lá, talvez isso o faça pensar que eu fugi por ali... Deus por favor, faça isso funcionar!
O barulho da moeda o fez parar. por uns segundos. Lentamente, ele voltou a andar, mas dessa vez, na direção do barulho. Passou por mim. Estava de costas pra mim, a menos de um metro.
Agora! Era minha chance. Com medo, mas determinado, eu pulei sobre ele, passei a faca em sua garganta e puxei, abrindo um corte...
Ele gemeu. Caiu de joelhos, e depois foi ao chão.  Após um segundos gemendo... fez-se silêncio. Doce silêncio. 
Eu consegui! Eu me livrei dele! livrei minha vida!
Estou em choque? Isso é real? O pesadelo acabou? Será? joguei a faca na pia, eu a limpo depois. minhas mãos e pernas ainda tremiam muito. 
Destranquei a porta do meu porão e desci as escadas. Respirei fundo. Maldito porco estúpido!Com quem ele pensava que tava se metendo? Ele achou que eu era algum tipo de amador? Ele achou mesmo que ele iria conseguir aparecer na primeira página do jornal local? achou que seria promovido à detetive por isso? Mas que panaca! Bem... ele está morto, e eu não. 
Acendi a luz.
Ela se arrastou para um canto, assustada. Estava presa com correntes e com uma amordaça na boca.
Me olhou, completamente aterrorizada, o que mais você esperava de uma menina de 12 anos trancada num porão? 
Gentilmente, eu sequei as lágrimas que escorriam do seu rosto e lhe fiz um carinho na cabeça.
- Não se preocupe queria. O homem mau já foi.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Da próxima vez, você lembrará.



Alguma vez você já entrou em um quarto e encontrou um vampiro?
Não,não o tipo sexy de Hollywood, que se apaixona e brilha como uma fada.
Mas sim, uma criatura perversa, com braços e pernas ossudos e pele apodrecida?
O tipo que te encara, conforme entra, como uma fera selvagem, encarando uma presa.
O tipo que te atrai para o lugar escuro onde ele está, com profundos e hipnóticos olhos, te deixando incapaz de correr, enquanto você testemunha, apavorado, ele se soltar da escuridão que se encontra, e caminhar até você, indefeso, com o coração acelerado mas com as pernas travadas?
Você já sentiu o tempo diminuir à sua volta, enquanto a criatura atravessa a escuridão do quarto, na velocidade de um piscar de olhos ?
Alguma vez você já tremeu de medo, quando lhe tocam com uma longa e afiada garra na testa e outra no queixo, assim, virando sua cabeça de lado, para dar uma boa olhada no seu pescoço?
Já sentiu o arrepiar e o nojo, dele escorrendo sua língua comprida e pegajosa, nas suas bochechas, na sua boca e na garganta?
Já pôde sentir, o hálito quente dele,liberado como um sussurro, contra sua pele? Enquanto ele enfia lentamente, a ponta da língua, no seu ouvido, ficando assim por uns segundos, como se estivesse saboreando seu medo?
Você alguma vez já sentiu às trevas à mente, como se tudo que você pudesse ver e sentir, fosse sugado da sua cabeça, conforme você percebe, que nem todos os vampiros se alimentam de sangue, mas alguns, de memórias?
E então, já?
Provavelmente não, né?
Deixe-me reformular a pergunta: 

Alguma vez você entrou num quarto, e de repente, esqueceu completamente o que foi fazer lá?


 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Daruma-san caiu da banheira.



Já ouviu falar no jogo da banheira? Eu acho que não, este jogo não é muito difundido aqui nessas partes. O jogo tem esse nome pois consiste em provocar o espírito de Daruma-san, em uma banheira. Daruma foi uma mulher que morava sozinha, no Japão. Ela morreu numa noite em que estava tomando banho na banheira. Estava lavando seu cabelo e escorregou. Acertou o olho direito na torneira da banheira e sangrou até a morte. Por morar sozinha, Daruma não tinha ninguém para socorre-la.

Para ganhar a atenção de Daruma, você precisa de uma banheira. Encha-a de água e, a noite, antes de ir dormir, entre no banheiro, tire toda sua roupa e entre na água, sentando-se no meio da banheira. Feche bem seus olhos e lave seu cabelo. Ao lavar, repita a frase " Daruma-san caiu na banheira". Repita isso, enquanto lava o cabelo e não abra os olhos. Em sua mente, vai se formar a imagem de uma mulher japonesa escorregando na banheira e acertando o olho direito na torneira.
Quando isso acontecer, você vai sentir ou ouvir algo atrás de você, na água. Daruma-san vai erguer-se da água às suas costas  talvez você sinta o cabelo dela tocando-o nas costas ou ombro direito. Não abra os olhos.
Você acabou da ganhar a atenção dela, zombando de sua morte. Trata-se de uma mulher asiática muito pálida com cabelos pretos e compridos. Seu olho direito é apenas um buraco preto, com sangue escorrendo. Ela está bem atrás de você.
Agora, ainda de olhos fechados pergunte, assim que sentir a presença dela: "porque você caiu na banheira?". 

A lenda diz que toda vez que alguém toma banho de banheira a noite, Daruma-san o observa, esperando que a pessoa caia, como ela. Quando terminar de lavar o seu cabelo, saia da banheira com muito cuidado para não cair ou tropeçar e saia do banheiro, ainda de olhos fechados. É bom que você conheça bem o banheiro, para evitar acidentes.
Nota importante: deixe a água na banheira até o amanhecer para só então escoá-la. Seque-se, feche a porta e vá dormir.
Não se preocupe, você não terá pesadelos e nem ouvirá sons estranhos, mas se precisar ir ao banheiro durante, eu recomendo que use um outro banheiro da casa, se houver, caso contrario, segure, não volte àquele banheiro até o amanhecer.
Na manhã seguinte, quando acordar, o jogo começará. Escoe a agua da banheira.
Agora, Daruma-san está atrás de você, querendo pega-lo. Viva seu dia normalmente; escola, trabalho, passeio... enfim, o que quer que você pensava em fazer durante seu dia, faça, apenas, fique atento a um detalhe: Daruma-san vai aparecer atrás de você varias vezes durante seu dia, te encarando com ódio com seu único olho. Se você olhar para trás, ela irá sumir, porém, se você der uma breve espiada por sua do seu ombro direito, é capaz de vê-la de relance, pouco antes dela sumir. Não permita que Daruma-san o pegue.
Ao longo do dia, ela lentamente vai se aproximar de você. cada vez que a olhar, ela estará um pouco mais perto. Se você trabalha em uma situação em que tenha que ficar parado ou sentado, pode vir a ser um problema, pois em determinado ponto do jogo, você terá que fazer algo para se afastar dela. Se ao olhar por cima do ombro, você achar que a mulher está perto demais de você, diga " Damê!" que em japonês significa "pare!", e afaste-se dela. Corre, ande, não sei, so saia de onde está. Isso vai dar a você mais espaço sobre Daruma.
Para ser honesto, foi assim que eu fiquei sabendo desse jogo. Carla, a recepcionista da escola que eu trabalho, simplesmente disse "damê!" do nada, sem motivo. Levantou-se da cadeira, deu uma volta pela escola e voltou para a cadeira. Eu perguntei a ela  que tinha acontecido, e então ela me contou sobre essa lenda.
Para finalizar o jogo, espere até anoitecer e diga "kittá!", o que significa " escapei de você!" e ao dizer isso, faça um sinal com a mão, como um golpe de caratê no ar. Isso fará Daruma-san desistir de você.

Notas:
Não estenda o jogo para além da meia noite, ou ele nunca mais poderá ser finalizado, fazendo com que você tenha que fugir de Daruma-san pro resto da sua vida.
Não durma antes de finalizar o jogo, ou ela ira persegui-lo em seus sonhos.
E como última dica, não jogue esse jogo.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Como brincar de esconde-esconde sozinho.

   


   Por ser um cara que mora sozinho, eu desenvolvi um gosto por jogos e brincadeiras para fazer sozinho. Muitos dos meus jogos de tabuleiro possuem a opção de "solo play", e eu me divirto muito, comigo mesmo, jogando-os dessa forma.
   Recentemente eu encontrei um site com um solo play um tanto diferente, que me chamou muita a atenção. Eu tentei.
   Não vou comentar meus resultados aqui, apenas citar as instruções que vi no site. Depois de ler esse texto, fica por sua conta, tentar ou não.
   Se estiver disposto, siga as instruções EXATAMENTE como descritas aqui. Eu não ousei desobedecer, não ouse também.
   Como brincar de esconde-esconde sozinho. É uma brincadeira bem popular em muitas partes da Ásia. Os que tentam, relatam que funciona, apesar do medo que sentem ou o sentimento de estar com a vida em risco.
   Se você, absolutamente, precisar fazer isso, você vai precisar:

1- Uma boneca, com pernas e braços, de preferência de pano. A boneca serve como recipiente para o espírito. É aconselhável que não use uma boneca muito parecia com ser humano, como Barbies e Max Steel, e também, não use uma boneca que você goste, pois é possível que o espírito não queria sair.
2- Arroz. O espírito que come essa oferenda, cresce mais forte.
3- Uma linha ou laço vermelho.Isso simboliza sangue e serve para selar o acordo.
4- Algo do seu corpo; unhas são o mais comum, mas sangue, cabelo, pele ou outras secreções do seu corpo funcionam bem. Não use partes de outra pessoa, ou isso pode ser perigoso.
5- Uma arma. Algo para cutucar a boneca, para "irritá-la". Facas de verdade são perigosas, então, muitas pessoas recomendam usar lápis, canetas ou agulhas.
6- Água com sal. Sem isso, vai ser impossível finalizar a brincadeira. Esse material é usado para se livrar o espírito.
7- Um esconderijo, claro, afinal, isso é um esconde-esconde.
8- Um nome. Nomes são a coisa mais poderosa que uma pessoa pode dar a um espírito. Nomes os deixam mais capazes de interagir neste mundo. 

   Se você não conseguiu algum desses itens exatamente como descrito, não faça a brincadeira. Se conseguiu e ainda assim quer levar isso adiante, siga os seguintes passos:
 Passo 1: corte a boneca, e substitua seu enchimento ( caso a boneca tenha) com arroz.
 Passo2: coloque algo do seu corpo, junto com o arroz.
 Passo 3: Enrole a linha ou fita vermelha na boneca e prenda com um laço, fechando a abertura que usou para por o arroz.
 Passo 4: No banheiro, coloque agua dentro de uma bacia, banheira ou balde.
 Passo 5: encontre um esconderijo para você.
 Passo 6: coloque uma xícara ou copo com aguá salgada, antes de começar o jogo.


  Preciso repetir: ou você segue as instruções exatamente como apresentadas, ou nem tente começar.
   Para brincar, comece às 3 da manhã, pois esta é a hora em que os espíritos estão mais ativos. Dê um nome à boneca. Pode ser qualquer nome que você queira, mas evite seu próprio nome. 
  Diga: "tá comigo!". Diga isso três vezes. Sempre que falar com a boneca, fale claramente, sem gritar.  Vá ao banheiro, coloquei a boneca dentro da bacia/balde com água e apague todas as luzes da sua casa. Feche os olhos, conte até dez e vá ao banheiro, onde a deixou, com sua arma nas mãos. Ao entrar, diga: "achei você!_________(nome da boneca)" e então, espete a boneca com sua arma.
   Feche os olhos e diga: "agora tá com você __________(nome da boneca)" . Repita três vezes. Deixe sua arma perto da boneca e corra para seu esconderijo, sem olhar pra trás.
   Faça silêncio durante o tempo que ficar escondido, pois acredite, você não quer ser encontrado. Você não pode encerrar o jogo na metade, se o começou, termine. Não alongue o jogo por mais de duas horas, pois além desse tempo, acredita-se que o espírito já esteja muito forte. E o mais importante de tudo: NÃO DURMA DURANTE O JOGO!

   Quando quiser terminar o jogo, coloque metade do copo de agua salgada na sua boca, mas não cuspa ou engula, o sal vai te proteger do espírito. Deixe o esconderijo, levando o resto da agua salgada com você. Caso você deixe o esconderijo sem a agua salgada na boca, é capaz que você encontre algo vagando pela sua casa. Algo que você iria preferir nunca ter visto.
   Não importa o que aconteça, não cuspa ou engula a água salgada em sua boca. Procure pela boneca. Tenha em mente que a boneca não precisa necessariamente estar no banheiro, onde você a deixou. Quando a encontrar, tome cuidado, sua arma vai estar em algum lugar, nas proximidades dela. Despeje a água do copo sobre ela, e cuspa a agua salgada em sua boca, também sobre ela. Diga três vezes: "Eu venci _______(nome da boneca)". Isso fará o espírito desistir. E o jogo acaba.
    Seque a boneca e depois a queime. De maneira alguma, mantenha ela em sua casa.


    Notas:
    Jogue sozinho. Se houver mais alguém na casa, você estará pondo a vida dessa pessoa em risco, pois a boneca não vai diferenciar você da outra pessoa.

    Não saia da casa.
   Ao se esconder, repito: faça total silêncio. Desligue o celular.
   Caso você seja encontrado pela boneca, os resultados podem variar de acordo com o espírito nela; você pode levar uma cutucada da arma ou mesmo, ser possuído. Preciso repetir: você não vai querer ser encontrado por ela. Ela não pode vencer.
   Depois que se livrar da boneca, recomendo que coloque sal no banheiro e no lugar onde a encontrou. sal, supostamente espante espíritos.
   As pessoas que jogaram, dizem que coisas passaram a acontecer em suas casas, desde o jogo; TVs que mudam de canal sozinhas, luzes perfeitas, oscilando sem motivo, portas rangendo durante a noite, e , em casos mais sérios, ouvir uma baixa e distante risada, quando se deita pra dormir....

   Já ouviu falar da boneca Annabelle? Não sou especialista, só posso dizer que... ela não foi queimada.



 



 

terça-feira, 1 de julho de 2014

O segredo de treasure island

   

   Pouca gente sabe, mas a Disney é a principal responsável por tornar uma pequena vila, em uma vila fantasma que hoje em dia é conhecida apenas como Ghost Town.
   A Disney construiu o Treasure Island Resort, ou, resort da ilha do tesouro, que, em 1999 teve seu nome alterado para Discovery Island, ou, Ilha da descoberta., localizado na baia de Becker, nas Bahamas. 
   Outro fato é que a Disney investiu cerca de 30 milhões nesse paraíso tropical e em pouco tempo de existência, eles simplesmente fecharam as portas, abandonando o local. A desculpa dada foi que as águas ao redor da ilha eram rasas demais para os seus navios operassem. Chegaram até mesmo a culpar os trabalhadores locais, acusados de preguiçosos demais para trabalhar em horário regular.
   Bom, aqui acaba toda a verdade sobre essa historia. Não era culpa das águas rasas ou por que os trabalhadores eram preguiçosos demais. Ambas eram apenas desculpas convenientes. Sinceramente, não acreditei desde o começo nessa conversa da Disney, por causa do palácio de Mogli. Talvez você ja tenha ouvido falar em Mogli o menino lobo. Se nunca leu o livro ou viu o filme, talvez já tenha visto a animação da Disney sobre Mogli.
   Trata-se de uma criança abandonada na selva que ao mesmo tempo era cuidada e ameaçada por animais. O palácio de Mogli foi um projeto polêmico desde o inicio; a Disney comprou um quantidade enorme de terra para a construção, e na verdade, houve um escândalo envolvendo essa compra de terras. O governo local vendeu as casas dos moradores para a Disney. Houve até um fato de uma família que tinha acabado de construir uma casa, e ela em seguida, fora demolida com pouca ou nenhuma explicação. 
   As casas foram arrasadas,  o terreno foi limpo e não houve nada que qualquer pessoa pudesse fazer sobre isso. Tvs e jornais locais, no inicio eram contra a construção e atacavam a Disney, mas, com alguma intervenção e provavelmente algum suborno, que as opiniões mudaram repentinamente. A Disney investiu e a construção foi enfim terminada.
   A construção estava completa, e os visitantes realmente puderam se hospedar nos hotéis do resort e a cidade, ficou atolada com tráfego e um numero enorme de turistas perdidos e mal humorados. 
   Então, um dia, simplesmente, tudo parou. A Disney desligou o lugar, fechou os portões e ninguém sabia se quer o que pensar. Isso deixou os moradores locais muito felizes; a perda da Disney foi hilária e maravilhosa para o grande numero de pessoas que nunca quis aquilo.
   Eu, sinceramente nem lembrava desse lugar, desde que soube que tinha sido fechado, à décadas atrás. Então, eu li um artigo sobre alguém que explorou parte da Treasure Island e criado um blog direcionado à sua aventura, com  fotos e textos que descreviam tudo que ele tinha achado por lá, coisas simplesmente que foram largadas para trás, coisas quebradas, desfiguradas, talvez, vandalizadas por alguns dos trabalhadores revoltados por terem perdido seus empregos. Depois de abandonado, os moradores irritados fizeram uma grande pilhagem e destruição, isso incluindo o palácio de Mogli. 
   E qual meu ponto nisso tudo? bem, eu pensei, que poderia ser legal explorar o palácio de Mogli, tirar umas fotos e escrever sobre as coisas que eu encontrasse, e quem sabe, com sorte, achar algo que estivesse parcialmente inteiro para trazer para casa. 
   Na verdade eu não fui de imediato, honestamente, levei um ano para fazer essa viagem, depois que li sobre o palácio do resort. Nesse tempo, fiz uma pesquisa sobre o local, ou pelo menos tentei; nenhum site da Disney ou qualquer outra fonte faz qualquer menção desses fatos. Como é de conhecimento geral, é possível para algumas empresas pagar ao google para remover certos links de suas buscas.  Então, no fim das contas eu descobri bem pouco sobre o lugar, tudo que eu tinha era um mapa velho, que eu tinha recebido pelo correio no anos 90. Era um item promocional que era enviados à pessoas que haviam ido recentemente à Disneyland, que foi eu caso, na época. Ainda assim, levei um bom tempo para localizar esse mapa, pois eu o havia esquecido junto com livros e revistas velhas, no porão da casa da minha mãe. 

   Os moradores locais não foram cooperativos, pior: zombavam de mim ou faziam gestos rudes, deixando bem claro sua xenofobia. 
   Os portões estavam enferrujados, mas, abertos o bastante para eu poder me espremer por entre eles, então, peguei a câmera e o mapa. O terreno interno estava todo devastado: palmeiras permaneciam tortas, apoiadas em restos de escombros. Haviam bananeiras também, mortas e decompostas. Toda estrutura externa estava quebrada, as madeiras, apodrecidas. O que parecia ter sido um balcão de informações, agora era apenas uma pilha de sujeira desgastada pelo tempo.
   A coisa mais interessante na entrada, era uma estátua de Balu, o urso de Mogli, o menino lobo. Ele estava ali, parado, com um sorriso alegre e braços abertos, em uma pose animada,e , por algum motivo, intacto, a não ser pelo castigo que o tempo tinha lhe dado. 
   Adentrei o palácio, apenas para ver longos saguões e corredores vazios, com pichações por toda parte, onde a parede ainda não havia descascado. As portas estavam ausentes, com as dobradiças removidas, o que me fez pensar que foram roubadas. O interior tinha um vazio gritante; até as molduras das paredes pareciam ter sido roubadas. Tudo mais que era grande ou pesado demais para ser roubado, tinha sido destruído. Segui minha aventura, com meus passos ecoando ao longo dos corredores.
   A cozinha era o que vocês podem esperar: uma grande área com equipamentos para produção de comida. Tudo que era de vidro estava quebrado, todas as portas, armários e superfícies metálicas estavam amassadas por chutes. Ao fundo, eu vi um enorme freezes, e o adentrei.  Tudo que encontrei lá dentro foram filas intermináveis de ganchos pendurados, provavelmente, ganchos onde a carne ficava pendurada. E enquanto eu explorava o local, notei que os tais ganchos estavam balançando. Olhei com atenção e notei que o balançar deles eram aleatórios, cada gancho balançava pra um lado e uma velocidade diferente. Me aproximei e segurei-os para faze-los parar de balançar, mas segundos depois que eu os soltei, eles voltaram a balançar.
   Os banheiros estavam em grande parte no mesmo estado que todo o resto. os vasos, pias e mictórios estavam moídos ou atolados de fezes secas e decompostas. O fedor eram tão grande que não consegui permanecer ali por muito tempo. 
   Haviam muitos quartos no palácio, mas, naturalmente eu não tinha tempo de olhar todos, então, explorei somente alguns para tirar umas fotos. Eles estavam igualmente vandalizados e pilhados, não que eu esperasse encontrar algo por lá, mas quando estava no corredor, pensei ter ouvido alguma coisa, como um rádio ou televisão ligada. Um voz, como um sussurro, vinha do fundo do corredor... pelo que me lembro, foi algo como " eu não sabia disso! eu não te disse!" ou algo assim. Eu sei, isso parece estranho, mas estou apenas relatando o que ouvi, ou pensei ter ouvido. Quando estava saindo, pensei ter visto algo ou alguém correndo por entre um dos quartos, provavelmente um mendigo que deve se esconder por alí. Tratei de sair rapidinho, antes que esses mendigos resolvessem me atacar de alguma forma. 
   Voltando mais uma vez às portas de entrada do palácio, percebi que não tinha achado anda interessante para fotografar e que minha viagem tinha sido a toa. Porém, enquanto olhava ao redor, notei algo interessante, algo que não tinha notado antes. Havia uma estátua realista de uma cobra enorme, cerca de dois metros e meio de comprimento, enrolada num pedestal, bem no centro do lugar. me aproximei e tirei uma boa foto, depois me aproximei mais e tirei mais uma. Por ultimo, quis uma foto bem de perto do rosto da cobra, mas para minha surpresa, quando mirei a câmera, a cobra lentamente levou a cabeça, olhou nos meus olhos e deslizou para fora, passando por um buraco na parede, em direção à floresta.
   Fiquei paralisado de medo, com a boca aberta, pensando o quão perto de morrer eu estive e não sabia. Fiquei ali por algum tempo, depois, pisquei os olhos, me recuperando do choque e me afastei dalí, voltando para o palácio. Com passos tortos, eu respirei fundo  estapeei meu próprio rosto, para tentar voltar a mim. Quando comecei a me sentir melhor, notei uma escada para baixo, atrás do demolido balcão de recepção. Usando o flash da câmera como um tipo de lanterna, eu pude ver que a escada terminava em uma porta de metal, que parecia estar intocada.  Ao me aproximar, vi um cadeado na porta e uma placa que dizia apenas "mascotes".
   Isso em animou bastante por dois motivos: 1- era uma area de mascotes, lá dentro definitivamente teria algo interessante para fotografar. 2- o cadeado ainda estava no local, ou seja, ninguém ainda havia ido lá: nem os moradores furiosos, nem os mendigos nem os vândalos, certamente, eu acharia algo para poder levar embora. 
   Não levei muito tempo para arrombar o cadeado, na verdade eu simplesmente puxei a placa de metal onde o cadeado estava preso. Repeti o processo até ela ceder, caindo no chão com o cadeado, algo que ninguém tinha aparentemente pensado em fazer ou, não tinha sido capas de fazer a alguns anos atrás.
   No interior, o quarto estava completamente escuro, usei mais uma vez o flash da câmera para procurar algum interruptor de luz na parede, mas não achei nada. Enquanto eu pensava no que fazer, fui jogado pra fora do meu ser, por um zumbido elétrico e estranho sobre minha cabeça, fileiras de luzes em cima de mim, de repente, começaram a se acender. O quarto era exatamente como eu havia imaginado: vários uniformes da Disney perdurados nas paredes; pareciam cadáveres animados e grudados por uma força invisível. Haviam prateleiras inteiras, cobertas de roupas e tangas nativas. Mas o que eu achei mais estranho e quis fotografar imediatamente, foi uma fantasia do Mickey Mouse, caída no chão, no centro da sala, deitada de costas como uma vítima de assassinato. O pelo sobre o traje estava podre e caindo aos poucos. Suas roupas estavam gastas e quase sem cor. Tirei fotos de outros trajes pendurados também, e em vários ângulos, para mostrar bem os personagens, com rostos podres e alguns com olhos faltando.
    Peguei cuidadosamente a cabeça de um traje do pato Donald, cuidando para ela não desmanchar nas minhas mãos, quando então ouvi um barulho de algo caindo no chão. Senti que algo caiu da cabeça do traje e se despedaçou aos meus pés. Olhei para meus pés e vi, entre meus tênis, um crânio humano. Ele tinha caído de dentro da cabeça do Donald quando eu a removi. Larguei a cabeça de pano e corri para porta, mas quando cheguei nela, parei e me virei para o quarto de novo. Aquilo daria uma boa foto, pensei. Eu precisava de uma foto para provar o que tinha acontecido ali. Aquilo era uma pessoa morta e a Disney, de algum a forma era a responsável. 
   Foi então, que no meio da sala, Mickey Mouse começou a se levantar. Com as mãos trêmulas, coração acelerado e pernas que mais pareciam geleia, eu levantei minha câmera e apontei para ele, que agora me avaliava calmamente, dos pés à cabeça. 
   Em seguida, minha camera ficou toda escura, como se a bateria, de uma vez, estivesse esgotado. Ergui mais uma vez os olhos para o traje do Mickey.
   "Hey" ele disse.
   Apenas olhei.
   "Quer ver a minha cabeça sair?"
   Num tom abafado e cansado, mas ainda assim, executando a voz do personagem.
   Ele levou as mãos cobertas de luva até a cabeça, e começou a puxa-la e torce-la. Seus movimentos eram impacientes, ele parecia ter muito anseio por se livrar daquela cabeça.
   Enquanto ele puxava a cabeça, muito sangue, muito sangue mesmo, grosso, espesso e nojento começou a escorrer do seu pescoço.
   Eu me virei para correr para fora do palácio, mas, quando em virei, ouvi um barulho horrível de carne e pano se rasgando. 
   Depois que fugi daquele lugar, pro bem da minha sanidade, eu finalmente entendi porque a Disney não queria que aquele lugar fosse descoberto. Eles não queriam, que um curioso como eu abrisse aquela porta, e soltasse o que estava lá dentro.
   Definitivamente, algo como aquilo, não deveria sair de lá... 
   







 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Myiabi Doll



Havia a muito tempo atrás, uma rica família, que vivia numa casa muito grande. O homem era um comerciante, casado com a filha de um fazendeiro. Eles tinham dois filhos: O mais velho se chamava Kameo e a mais nova, a princesinha da casa se chamava Okiri. 
     Os irmãos eram muito ligados; Kameo passava horas brincando com a irmã, sempre que podia. Quando atingiu certa idade, seu pai começou a leva-lo para o trabalho com ele, para que o garoto aprendesse os negócios da família o quanto antes, deixando a pequena sozinha a maior parte do dia. As vezes, Kameo e o pai chegavam em casa muito tarde, e a menina já tinha ido dormir. 
      Numa manhã, Okiri acordou e viu uma carta ao seu lado; era dos eu irmãozão. Ele tinha deixado para ela na noite passada. Na carta ele dizia o que estava fazendo no trabalho e como sentia a falta dela. Okiri ficou tão feliz que resolveu fazer o mesmo e deixou uma cartinha para ele, sobre a cama dele. A troca de cartinhas virou costume, e assim, mesmo não se vendo tanto, Okiri não se sentia tão sozinha.
      Infelizmente, em 1932, aos 8 anos, Okiri ficou muito fraca por causa de uma doença misteriosa que medico algum sabia dizer o que era. Kameo tentava passar o maior tempo possível com a irmã, sempre lhe dizendo que logo ela ficaria bem. Mas ele sabia da verdade, não havia cura para Okiri e a cada dia, ela ficava pior, mas nunca deixava de sorrir, sempre que o irmão chegava em casa.
      Alguns meses depois, a criança morreu. Seu corpo foi cremado junto com todas as cartinhas que tinha do seu irmão. A família ficou muito triste; a mãe chorava muito, o pai passou a beber e o irmão, ficava horas sozinho, lendo e relendo as cartinhas deixadas pela irmã, onde contava o que ela fazia em casa o dia todo quando ele não estava.
      O quarto da menina continuava intocado, suas roupas e seus brinquedos e suas bonecas. Numa noite, quando estava sem sono, o rapaz teve a ideia de organizar as bonecas na prateleira. As bonecas eram feitas de madeira e todas vestiam quimonos muito bonitos. Com paciência,  Kameo arrumou todas as bonecas de modo que ficasse alinhadas. Quando terminou ele estava para sair do quarto quando resolveu dar uma ultima olhada nos quimonos da sua irmã e foi ai que ele teve uma grande ideia: iria contratar o construtor de bonecas para lhe pedir uma boneca que tivesse exatamente o mesmo tamanho de Okiri, com cabelos do mesmo comprimento e olhos de vidro, seria perfeito! Vestiriam ela com as roupas da garota, e ela seria imortalizada como uma verdadeira boneca, a maior de todas.


        No dia seguinte, o rapaz fez o pedido da boneca e em menos de um mês, lá estava ela: vestida e penteada como Okiri, de joelhos em uma almofada, cercada por todas as outras bonecas. Todas as noites antes de ir dormir, Kameo abria a porta do quarto e dava boa noite à boneca. Numa noite em particular, quando abriu a porta, notou que a cabeça da boneca estava numa posição um pouco diferente do que de costume. Ficou furioso; alguns dos empregados deve ter tocado nela. Entrou no quarto e arrumou-a como deveria ser. Quando estava saindo, notou que a mão dela movia-se lentamente, fechando e abrindo os dedos. Deu um pulo com o susto; olhou bem para a boneca, que não mais movia os dedos. Bobagem, pensou, fechou a porta e foi para o quarto.
       Quando foi deitar-se, viu que havia uma pedacinho de papel branco dobrado em sua cama. Abriu-o e era uma cartinha escrita com a letra de Okiri: " Kameo, não!". Ele tinha certeza que nunca havia visto aquela carta antes, talvez estivesse perdida e algum dos empregado a achou e colocou sobre sua cama para que ele pudesse guardar com as outras. 
         No outro dia, logo que acordou, Kameo encontrou outro papel dobrado sobre sua coisas. A letra também era igual a de Okiri, mas desta vez, parecia que havia raiva na escrita, as letras estavam maiores: " Eu não sou ela!".
         Amassou o papel com raiva, alguém estava brincando com ele. Se vestiu e saiu para ir trabalhar, e ao passar pela porta do quarto da irmã, ouviu um barulho lá dentro, como se fosse algo caindo no chão. Abriu a porta e viu a boneca grande caída. Com paciência, ajeitou-a na almofada como sempre. Foi até a porta do quarto, e pelo espelho, viu a boneca levantar o rosto e olhar para ele com seus frios olhos de vidro. Deu um grito e olhou para trás: a boneca estava como ele havia deixado. Olhou mais uma vez para o espelho... estava tudo ok. Trancou a porta do quarto da menina e levou a chave consigo para o trabalho.
        Naquela noite quando voltou pra casa, sua mãe lhe disse que os empregados ouviram barulhos estranhos no quarto dele durante a tarde. Ao entrar em seu quarto, Kameo se deparou com uma mensagem escrita na parede " Eu odeio aquela boneca! eu não sou ela!"
         Agora a coisa estava séria: ou alguém tava muito afim de morrer ou... Deu uns tapas no próprio rosto, por pensar bobagem. Com pano e agua, removeu a mensagem. Decidiu não dizer nada a sua mãe. Antes de dormir, foi olhar as bonecas. Tudo estava em ordem.
          Mais e mais mensagens começaram a aparecer para ele; em forma de cartas ou nas paredes. As vezes, os empregados ouviam barulhos e gemidos vindos do quarto de Okiri, até que, as mensagens começaram a aparecer pela casa. Kameo não podia mais esconder ou ignorar, quando as paredes da sala estavam cobertas de tinta preta e uma mensagem " Odeio aquela boneca!". Junto à frase, marcas de mãozinhas de criança. Um a um, os empregados abandonaram os patrões.
         A noticia se espalhou de que a filha dos Sato havia voltado para assombra-los e todos pareciam acreditar nisso. Todos menos Kameo e seu pai. Eles estavam certos de que tinha sido uma brincadeira de mal gosto de alguns dos empregados. A senhora Sato, no entanto não gostava nada disso. Numa tarde, ela implorou para o filho queimar a boneca, pois ela não estava deixando sua irmã descansar. A senhora Sato estava ruim da saúde, e o rapaz não queria piorar sua situação, então, decidiu se livrar da boneca naquela noite.
        Quando entrou no quarto, Kameo deu um pulo para trás: todas as bonecas pequenas estavam amarradas pelo pescoço, penduradas no teto. O coração dele acelerou ainda mais quando notou a boneca maior, de pé, no canto do quarto, com o rosto virado para a parede... na verdade, duas delas. No outro canto do quarto, estava uma segunda boneca, na mesma posição, com a mesma roupa e cabelos, exatamente igual.
         "Kameo" disse uma voz. " Qual delas sou eu irmãozão? Você sabe dizer? qual sou eu e qual é a impostora feita de madeira? Sei que sabe, não sabe?" uma risadinha de criança preencheu o quarto, e logo em seguida, a voz tomou um tom mais sério. " Não erre!".
          O rapaz estava apavorado de verdade agora; aquelas bonecas enforcadas sobre ele e aquelas duas bonecas no canto do quarto... e a voz de Okiri... Olhou para as duas: eram idênticas de costas. Fechou os olhos, tentou se concentrar e caminhou ate uma delas. Quando estava perto o bastante para toca-la, ouviu mais uma vez a voz: "Eu sabia que não iria me decepcionar. Obrigada Kameo, eu te amo" e então, a boneca a sua frente sumiu no ar. Soltou o ar que estava preso em seu peito e se deixou chorar.
          Do lado de fora, acendeu uma fogueira para queimar a boneca. Finalmente tinha entendido os sentimentos de Okiri,e poderia deixa-la descansar em paz agora. O fogo consumiu rapidamente o corpo de madeira. Porém, enquanto queimava, aqueles olhos de vidro, tão iguais aos dela, continuavam a olha-lo...

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sob Tortura

 

Os beijos que trocávamos eram quentes e me faziam estremecer a cada instante, o deslizar daquelas mãos sobre minha pele eram os estimuladores de uma corrente que percorria todo meu corpo. As respirações entrecortadas e os pulsos acelerados nos conduziram a um rítmo inebriante, a ponto de quase ficarmos sem fôlego.
Uma noite inteira de carícias, gemidos e altas temperaturas. Nossos corpos unidos percorriam um único caminho e encontravam juntos com nossas mentes, todo o prazer que alguém poderia ter em mãos.
Naqueles braços eu me entreguei, naquela pele eu me submergi, tornei-me pertencente ao ser que agora tentava me acalmar o fôlego e manter o seu próprio sob controle. Logo o sono veio, bem como o início da madrugada. Estávamos exaustos.
Assim que me situei novamente, consegui distinguir, à pouca luz, a figura que dormia abraçada em mim. Sorri e acariciei seu rosto, eu amava profundamente.
Meu coração estava entregue.
Mas mesmo em meio a todo aquele amor, mesmo sob todo aquele clima, existia uma presença. Uma mulher de olhos felinos e rosto angelical, alguém que se fazia presente enquanto nossas noites de amor se desdobravam sob aqueles lençóis.
Aproximei-me mais, pois no fundo queria demonstrar que aquela disputa já estava ganha e que não havia mais nada que ela pudesse fazer. Olhei mais algumas vezes para os travesseiros espalhados e senti quando sua boca colou em meu ouvido.
Os lábios doces e quentes que percorriam toda a extensão do meu pescoço, deixavam rastros de uma chama que há tempos estava apagada. Virei-me. Não queria mais sentir.
Deixei os braços em que estava e tentei me iludir com o sono que não voltava mais. Com o travesseiro sobre a cabeça parecia que estava tudo calmo, não havia mais perigos, mas eu sabia, ela estava lá. Sua presença era tão real quanto o fogo que me consumia naquele momento.
Virei-me novamente, mas já era tarde para fugir. Suas mãos em minhas pernas, sua boca contra minha barriga, e aqueles olhos se tornando cada vez mais inebriantes.
Precisava resistir, não deixar o desejo tomar conta. Era tão difícil, ela era tão perfeita, tão diabólica. Seduzia-me como se não fosse apenas um fantasma, como se ainda vivesse em mim. O pior era que eu tinha dúvidas se ela era realmente apenas uma lembrança.
Eu a odiava por isso. Não era certo. Eu a odiava por estar lá, por me confundir, por me fazer declinar nas horas em que não podia e por me atormentar com ideias absurdas. Eu não a queria lá, queria que ela sumisse, desejava que ela fosse embora, que não me atormentasse mais.
Quanto mais eu pensava, menos eu tinha forças e menos lutava contra tudo aquilo. Ao meu lado agora só existia ela e tudo o que eu fazia me comprometia ainda mais. Foi quando senti suas mãos delicadas passando sobre meu corpo até alcançar o que procurava. Arfei e gemi ao me sentir em abuso e controle completo daquela criatura.
Seus toques anunciavam a malícia escondida por detrás de seus olhos e sua boca me torturava com beijos ardentes. Era mais do que o normal, mais do que eu poderia suportar.
Quando finalmente me deixei levar, ela sorriu. Seu sorriso para mim era doce e quente ao mesmo tempo.
Nos amamos como se tudo o que eu precisasse fosse ela. E em meio aos gemidos e pensamentos que me tomavam, não houve, sequer, uma cogitação de misericórdia para mim ou para o outro ser que habitava o mesmo coração.
Não havia retorno, muito menos desculpas. Tudo o que havia era o silêncio que consumia o ambiente. Porém, dentro de mim, existia a plena certeza de que seria para sempre um ser dividido.