quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O inferno de Tomino ( Tomino´s hell)


Há uma história popular no Japão sobre um poema chamado Tomino´s hell. 
É dito que o poema deve ser lido apenas com a mente e nunca em voz alta. Se você o ler em voz alta, você deve se responsabilizar por seus atos. Se o fizer, acredita-se que coisas "ruins" podem vir a te acontecer; essas coisas podem ser apenas uma dor... ou algo pior.
Uma vez um locutor de rádio leu esse poema no seu programa, no Japão. Durante a leitura, ele ficou sem ar e desmaiou. Não morreu, e se recusa a acreditar até hoje que pode ter sido culpa do poema.
No Japão, as pessoas acreditam que algumas coisas não devem ser ditas em voz alta, e esse poema é um deles.  Tomino´s Hell foi escrito em 1919 por Yomota Inuhiko, no livro " O coração é como uma pedra".
Se ler ou ouvir esse poema em voz alta, tragédias podem vir a lhe acontecer.
Essa história se popularizou na internet e muitos fizeram postagem filmando a si mesmo lendo e ouvindo o poema. A maioria reportou que nada aconteceu, mas houveram uns que nunca mais reportaram seus resultados.
Se for ouvir, é melhor ouvir no audio original, o qual eu vou anexar aqui, junto com a tradução.
Pense com muito cuidado, se deseja continuar lendo esse texto.

Se achar que consegue, clique no play aí no video, e acompanhe a tradução abaixo. Boa sorte.

Tomino's Hell
A velha irmã vomita sangue, a jovem irmã cospe fogo.
Doce Tomino cospe joias preciosas.
Tomino morreu sozinha e caiu no inferno.
Inferno, escuridão, sem flores.
É a irmã mais velha de Tomino que a açoita?
O número de vergões vermelhos é preocupante.
Açoitando e batendo e espancando,
O caminho para o inferno eterno é a única via.
Implore por orientação na escuridão do inferno.
Da ovelha dourada, ao rouxinol.
Quanto falta na bolsa de couro,
Prepare para a jornada infindável no inferno.
Primavera vem e nos bosques e vales,
Sete voltas no vale sombrio do inferno.
Há um rouxinol na gaiola, no carrinho uma ovelha,
Nos olhos da doce Tomino há lagrimas.
Choro, rouxinol, para os bosques e a chuva
Expressando seu amor por sua irmã.
O eco do seu choro uiva pelo inferno,
E uma flor vermelho-sangue desabrocha.
Pelas sete montanhas e vales do inferno,
Doce Tomino viaja sozinha.
Para receber você no inferno,
As estacas brilhantes da montanha espinhada
Fresco espeto perfura na carne,
Como um sinal para a doce Tomino.
 ( fonte: http://medob.blogspot.com.br/2013/03/poema-japones-tominos-hell.html )



Kennen

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Batidas na porta

  
  Pelo que me lembro, começou quando eu tinha 6 anos. Durante uma aula de português, eu tive uma vontade muito forte de ir ao banheiro. Semana passada um menino tinha feito xixi nas calças, dentro da sala, e eu tinha muito medo de passar vergonha dessa forma, então, implorei à professora para que me deixasse ir. Temendo que outro acidente daqueles acontecesse novamente, ela permitiu, sem insistir muito, desde que eu usasse o banheiro das crianças com deficiência, pois era mais perto da sala. Concordei sem pensar muito e me apressei para o tal banheiro; era uma porta vermelha no fim do corredor das salas de aula.
   Abri e entrei, trancando a porta atrás de mim. Tão logo me sentei no vaso, vieram as batidas na porta.
   TOC TOC TOC
   - Abra a porta!
   Eu levei um susto, permaneci sentado e quieto, mas as batidas continuaram, desta vez, mas fortes.
   - Abre logo essa porta! 
   A pessoas parecia com raiva.
   - Vai embora! - gritei.
   Era uma voz de adulto, mas ninguém que eu conhecia, não era um professor.
   - Abra a porta! eu preciso entrar!
   - Espera um pouco! não acabei ainda.
   Houve um breve silencio, e então as batidas vieram ainda mais fortes e o homem voltou a falar, mas desta vez,ele parecia assustado.
  - Abra a porta, deixe-me entrar por favor!
   Não respondi mais. Aquilo já estava ficando muito estranho, as batidas e os gritos ficavam cada vez mais altos, era estranho que ninguém tinha visto ver o que tava acontecendo....
   Eventualmente, minha professora me encontrou. Ela estava furiosa porque eu havia sumido por quase meia hora, e ficou ainda mais brava quando eu não quis abrir a porta para ela. Eu não me mexia, não falava nada. Ela voltou minutos depois, com a chave extra que havia na sala dos professores e me tirou de lá de dentro.
   Tomei uma suspensão de uma semana. Ninguém levou muito a sério minha história.
   Algumas semanas depois desse acontecimento, eu estava celebrando meu aniversário de 7 anos e minha família estava fazendo um churrasco pra comemoram. Montamos tudo nos fundo de casa, mas na hora de acender o fogo, o isqueiro não funcionava. Meu pai me pediu para ir buscar uma caixa de fósforos na dispensa.
   A dispensa ficava na cozinha, um pequeno quarto com coisas extras. Acendi a luz e busquei os fósforos com os olhos. Entrei no quarto e fechei a porta à minhas costas. quando já estava com a caixa na mão, ouvi batidas na porta:
   TOC TOC TOC
   - Abre essa porta, precisamos entrar!
   Não era a mesma voz que eu ouvi antes, essa era mais grave e mais irritada. E ele tiha dito "nós"?
   Fiquei imóvel.
   - Seu merda! vou arrancar seus dentes! abre essa porra dessa porta! 
   Então eu ouvi o que parecia ser barulho de vidro quebrando, e o soco na porta... e então, silêncio...
   O mais estranho disso tudo é que eu não me lembro de ter trancado a porta.
   Fiquei ali sem saber o que fazer, quando a porta abre de repente; era meu irmão. Ele brincou comigo, perguntando se eu tinha me perdido na dispensa. Voltei pra minha festa, mas fiquei o resto do dia quieto. Como você deve imaginar, eu não comentei isso com ninguém.
   Ao longo da minha vida, isso aconteceu mais vezes; houveram muitas vozes, algumas até mesmo se repetiam. Mais ou menos uma vez por mês, eu as ouvia, pedindo ou implorando para que eu abrisse a porta. Nunca diziam o porque, apenas pediam com muita raiva ou medo. Quase sempre, era quando eu acabava de fechar a porta à minhas costas, como fantasmas ou entidades me seguindo. Nunca contem pra ninguém, mas pra ser sincero, acabei me acostumando com isso. Na hora, eu dava um pulo, e a maioria das vozes me dava medo, mas nem todas eram assustadoras, mas eu percebi que eu estaria seguro, enquanto não abrisse a porta.
   E então, vinte anos se foram, com isso acontecendo de vez em quando. Saí de casa pra morar sozinho, fiz amigos e até uma namorada. Meus amigos me achavam estranho pelo meu inexplicável receio de portas, mas no geral, não me incomodavam com isso.
   A três meses atrás, eu acordei no meio da noite, assustado. Não tive nenhum tipo de pesadelo, mas logo que abri os olhos, vieram batidas na porta; não batidas normais, essas eram muito rápidas e desesperadas.
   - Quem vem lá? - perguntei desdenhando.
   - Por favor, ajude-nos!
   Achei estranho; normalmente as vozes são agressivas, mas essa parecia sincera e calma. Havia um tom de dor nela também, me fez pensar num pai que está tentando cuidar e proteger da família. 
   Cobri a cabeça com o lençol como sempre faço, mas dessa vez me deu um aperto no coração; eu nunca antes tinha me sentido tentado à abrir a porta, pra mim, naquela hora, parecia ser a coisa certa a fazer. Quando eu era criança, qualquer batida e voz que eu ouvia parecia ser assustadora, mas agora, eu passei a ponderar algumas delas, porém, enquanto eu me decidia sobre abrir ou não a porta, as batidas sumiram.
   Dois dias depois, eu estava na minha loja de conveniências favorita, tinha ido comprar cervejas e jornal, quando um vento soprou e fechou a porta. Quase que na mesma hora, uma voz de mulher pôde ser ouvida, gritando em puro desespero. Eu me virei para olhar pelo vidro da porta, mas tinha tantos cartazes grudados nela que eu não pude ver quem estava lá fora, apenas consegui ver que se tratava de uma mulher, batendo suas mãos no vidro. Ela não pedia pra entrar, apenas gritava e tentava forçar a entrada. Fui até a porta lentamente, agarrei a ponta do cartaz que me impedia de olhar lá fora. Quando comecei a puxa-lo, ouvi a voz do dono da loja me chamando:
   - Ei! não é pra tirar isso! você ta doido?
   Ele veio até mim e abriu a porta mais uma vez, me olhando como se eu fosse de fato maluco. Logo que ele abriu, não ouvi mais grito algum, tão pouco vi a mulher lá fora. 
   Houveram alguns incidentes mais, de lá pra cá, mas nada de muito diferente, até, noite passada.
   A porta do meu quarto bateu com força, e imediatamente, vieram as batidas; eram fracas, como alguém já sem forças, e ao invés de gritos, ouvi apenas um choro. Parecia ser uma moça, ou garota; batia fracamente na porta e chorava se dizer nada. Dei um pulo da cadeira.
   Agora minha porta estava se fechando sozinha? o que quer que seja isso que vem me acontecendo, parece estar cada vez mais e mais interessado em me incomodar;  que antes levava meses, passou a acontecer quase todos os dias, e não bastando isso, essa "coisa" agora passou a fechar as portas de onde eu estava, só pra me assustar.
   Foi então que meu celular começou a tocar. Era um numero desconhecido, mas atendi assim mesmo, apenas para ouvir mais choros; estes porém, eram gritos de dor que não diziam nada, apenas gritavam em choro. Desliguei, mas o celular voltou a tocar; me vi forçado a tirar a bateria dele. 
   Foi então que eu ouvi uma batida na minha janela; era como uma pessoa de unhas compridas, batendo as unhas no vidro. A cortina estava fechada, mas pude ver uma silhueta lá fora. Não parecia querer entrar, apenas, me incomodar. sentei no chão no quarto, esperando isso acabar, mas algo em mim dizia que não iria, que essa noite seria a ultima. E assim fiquei, por três horas: as batidas e choros na porta, e a pessoa na janela. Estou encarando a possibilidade de morte então, estou escrevendo essa história no meu notebook, e mandando pela internet, no caso de algo acontecer mesmo.  
   O que eles querem? o que os faz me perseguir tanto? talvez eu devesse abrir a porta, deixar aquilo entrar, sei lá! me sinto perdendo a sanidade! Apertei enter e enviei o relato para toda minha lista de amigos. 
   Fiquei de pé, eu decidi que iria abrir a porta, mas logo que me aproximei dela, o choro parou, e as batidas também. Eu precisava de ar, e de um lugar aberto e sem portas, talvez dar uma volta na rua.
   Fui até a porta do quarto, mas quando tentai abri-la... trancada. Olhei pelo buraco da porta e vi uma sala que não era o corredor da minha casa: parecia ser uma sala de aula ou biblioteca, cheia e cadeiras e mesas vazias, exceto por uma, com um garoto sentado de costas pra mim, lendo um livro. 
   Bati na porta:
   - Ei garoto, me deixe sair, ok?
   Ele olhou por cima do ombro, na minha direção.
   - Sim, aqui. Abra essa porta por favor.
   - Não posso, eu to na detenção, não posso falar com ninguém, vai embora.
   Ele virou-se para o livro que estava lendo, e eu comecei a me sentir que o inverso estava acontecendo comigo. Desta vez, EU era o barulho na porta, a pessoa que batia e pedia para abrir.
   Um arrepio subiu pelo meu corpo quando eu ouvi barulho e vidro quebrando, era minha janela. Um punho tinha atravessado ela. 
   Voltei-me para porta e bati nela com mais força.
   - Ei! abre logo! eu preciso entrar! abre essa porta!
   O garoto apenas disse: "vá embora".

   A coisa lá fora abriu a cortina com as mãos e colocou seu rosto pra dentro:
   Seu rosto me fez congelar de pavor; era todo branco, não tinha pálpebras nem lábios; olhos arregalados e dentes à mostra, como um sorriso sádico e cruel.
   Ele entrava lentamente pela janela, olhando fixamente pra mim.
   - Abre logo essa porta moleque! abre agora!
   Mas ele ignorou.
  A coisa já estava totalmente dentro do quarto, olhando para mim.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Retratos na parede

  


  Ele era um caçador, um não muito bom. Um dia, ele foi para uma floresta, com a intenção de aprimorar suas técnicas de caça. Depois de um dia inteiro caçando, viu-se no meio de uma imensa floresta, tentando rastrear animais, sem muito sucesso. 
   Estava ficando escuro, e tendo se perdido naquela mata, decidiu então seguir numa direção apenas, até ter uma noção mais clara de onde estava e como voltar ao seu carro.
   A noite caiu rápido demais, e o caçador percebeu que não conseguiria encontrar caminho nenhum antes de amanhecer. Caminhou então por mais algum tempo, que mais pareceram horas. Foi então que encontrou uma cabana, numa pequena clareira.
   Sem muitas opções, ele se aproximou para ver se poderia ficar ali pela noite. Bateu na porta, mas não houve qualquer resposta. Tentou abri-la e ficou surpreso ao ver que estava destrancada.

   Não havia ninguém dentro. Ele entrou, fechando a porta à suas costas, ainda tentando notar a presença de alguém. A cabana era pequena, e tudo que ele notou foi uma cama e vários retratos pendurados na parede.
   Cansado, ele desabou na cama, explicaria sua situação para o dono, quando acordasse. Estava muito cansado de tanto andar, mas ainda assim, abriu os olhos mais uma vez e olhou para os retratos. Eles eram todos muito bem feitos em seus detalhes. Todos eles, sem exceção, pareciam olhar para ele, com um olhar de raiva e maldade. Encarou-os por um tempo, estranhando aquilo, ate começar a se sentir muito desconfortável com aqueles olhares para ele. Tentando não ver aqueles rostos de ódio, ele virou o rosto para a parede e dormiu, num sono profundo e pesado.
   Na manhã seguinte, ele acordou uma uma inesperada luz do que lhe atingia os olhos. Ao levantar, o caçador olhou à sua volta e percebeu que a cabana não tinha retrato algum. Apenas janelas.
  

quarta-feira, 22 de abril de 2015

O jogo da meia-noite.

   

   Quem acompanhou esse blog sabe que eu tenho interesse por rituais e jogos estranhos que circulam pela internet. Chegou à meu conhecimento a lenda do Midnight man, ou Homem da meia-noite e eu fui atrás para saber mais, foi quando eu encontrei o Midnight game.
   O Jogo da meia-noite, é um antigo ritual pagão usado para punir as pessoas que quebravam as regras da religião pagã em questão.
    Por mais que tenha apenas como objetivo assustar as pessoas a não ir contra os regulamentos da religião, há uma chance de morte à todos aqueles que fazem o jogo da meia-noite.
   Há ainda uma chance maior de danos mentais permanentes.
   Eu recomendo que você não faça o jogo da meia-noite.
   Se você ainda está lendo, eu entendo que esteja curioso sobre. Ok, aqui vai o que é necessário fazer, faça por conta e risco:

   Instruções.

   Para começar o jogo, precisa ser exatamente meia-noite, de outra forma, não irá funcionar.
   Vai precisar também de uma vela, papel, algo para escrever, fósforos ou isqueiro, sal, uma porta de madeira e pelo menos uma gota do seu sangue. 
   Primeiro passo:
   Escreva seu nome completo no papel e deixe cair uma gota do seu sangue no papel.
   Segundo passo:
   Coloque o papel no chão perto da porta de madeira e apague as luzes da sua casa. Acenda a vela e bata 22 vezes na porta. Quando você der a ultima batida, precisa ser meia-noite ainda.
   Terceiro passo:
   Abra a porta, apague a vela e feche a porta. Você acabou de permitir que o Midnight man entre na sua casa.
   Quarto passo:
   Imediatamente acenda a vela. 
   O jogo começa agora.
   Seu objetivo é andar pela sua casa escura e evitar o Midnight man até as 3:33 da manhã, com sua vela acesa na mão. Se por algum motivo sua vela se apagar, é porque o Midnight man está próximo à você.  Acenda-a novamente dentro dos próximos 10 segundos.
   Se você falhar em fazer isso, imediatamente faça um circulo de sal ao redor de si. Se falhar em ambos, o Midnight man irá criar uma alucinação do seu pior medo, e então, é dito que ele irá rasgar seu corpo e puxar para fora seus órgãos, um por um. Você poderá sentir mas não poderá reagir. 
   Se tiver sucesso em criar um circulo de sal, fique dentro dele até 3:33 da manhã para vencer o jogo da meia-noite. O Midnight man não poderá tocar você, mas só sairá da sua casa no horário indicado nesse texto e só então você estará livre para continuar com sua madrugada.
   
   Informação extra:
   Indicações de que o Midnight man está próximo à você podem vir de várias formas: a chama da sua vela pode tremer, ameaçando apagar; uma rápida queda de temperatura, ouvir um sussurro incompreensível ou mesmo, ser capaz de ver uma figura puramente negra, na escuridão à sua frente. Se você passar por qualquer uma dessas situação, é aconselhável que mude de lugar, vá para outro cômodo da sua casa, para evitar contato com ele.
   Recomendações:
   Não acenda nenhuma luz durante o tempo do jogo e não use nenhuma fonte de luz: computador, lanterna ou celular, apenas a vela!
   Não seja curioso quanto à aparência do Midnight man. Uma forma negra na escuridão é tudo que você precisa saber.
   Não durma durante o jogo.
   Não use o sangue de outra pessoa no seu nome.
   Não substitua a vela que usou ao bater na porta por outra, e não use um isqueiro no lugar da vela. Não vai funcionar.
   E definitivamente, não tente provocar o Midnight man de QUALQUER forma. O melhor é fazer silencio total durante o jogo.
   Quando der o horário, acenda as luzes e apague a vela. Ele terá ido embora... mas é possível que os sussurros continuem e você possa voltar a ouvi-los, outras noites, quando estiver deitado para ir dormir.
   Boa sorte, você vai precisar.

   Ah... mais uma coisa, agora que você sabe que o Midnight man existe, ele também sabe de você. Me desculpe por isso.
 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Uma história pra assustar minha filha

  


 Já passava das dez da noite e lá estava ela, sentada em frente ao laptop, jogando algum jogo na internet.
   - Já está tarde, filhota, hora de ir pra cama.
   Ela soltou um longo suspiro. Vi ela se despedindo dos amigos no jogo, depois ela desligou e fechou o laptop, com um olhar visivelmente aborrecido.
   - Não faça essa cara! eu te conto uma historia, uma bem boa, pode ser?
   Ela bufou com cara de tédio.
   - Pai, se você vai mesmo me contar outra das suas histórias de monstros, pode contar uma realmente assustadora dessa vez?
   Eu gostava de contar e inventar minhas próprias historias, assim como alguns pais, eu tentava por algum contexto moral que pudesse passar a ela alguma mensagem, mas ao que parece, o velho pai contador de historias já estava perdendo seu toque.
   - Vamos pai. - insistiu ela, cruzando os braços - Já tenho 10 anos, eu aguento!
   Eu sorri de canto para ela:
   - Tudo bem... Vou te contar uma historia como nunca contei antes:

   Havia um menino chamado Alex, que adorava passar muitas horas jogando online com seus amigos.

   Mau comecei e já notei a cara de tédio da minha filha; para ela, seria mais uma historia boba com alguma moral no final, mas, ela ficou quieta e eu continuei.

   Ele costumava jogar vários jogos com outras crianças e a frequentar fóruns de ajuda com jogos. Em um desses jogos ele conheceu "Shabby19" um menino da sua idade. Eles começaram a jogar juntos e se davam super bem: gostavam das mesma musicas, dos mesmos programas de Tv, riam das piadas um do outro, e adoravam explorar novos jogos juntos.
   Depois de meses de amizade, Alex deu à Shabby19, 6 diamantes, no jogo que jogavam. Esse foi um presente muito generoso, pois os diamantes eram dificeis de encontrar e valiam muito no jogo. O aniversário de Alex estava próximo e Shabby19 queria lhe dar um presente de verdade. Alex imaginou que não seria grande coisa dar ao seu amigo seu endereço, desde que ele prometesse nunca passa-lo para nenhum estranho ou adulto. Shabby19 jurou que não contaria nem aos seus pais.

   Nesse ponto eu parei e olhei para  minha filha.
   - Você acha que foi uma boa ideia?
   - Não! - ela respondeu firme. Mas eu senti, que ela tava entrando na história.

   O Alex também não. Seus pais sempre lhe disseram para não compartilhar informação pessoa na internet, e mesmo assim ele o fez. Ele se sentiu culpado pelo que fez. A culpa foi crescendo, e na noite seguinte, quando ele estava vestindo seu pijama, ele decidiu que contaria o que fez. Ele iria ficar de castigo e levar a maior bronca, mas ao menos, tiraria de si essa culpa. Falaria com eles quando viesse lhe dar boa noite.

   Ela sabia que a parte assustadora estava chegando e tentou se fazer de durona. Eu baixei o tom de voz, tentando deixar tudo mais sombrio.

   Ele deitou na cama e se cobriu até o pescoço. Ouviu barulhos na casa: a maquina de lavar na lavanderia, os galhos das árvores ao vento lá fora e outros sons que não conseguiu identificar. Finalmente, ele ouviu os passos do seu pai no corredor. "Hey pai?"  ele chamou, nervoso. "preciso te contar uma coisa."
   Seu pai apareceu com a cabeça na porta. "Pode falar, filho" disse ela numa voz estranha. Não apenas isso, mas a cabeça parecia estar num ângulo estranho e seus lábios não pareciam mexer. "Você tá bem pai?" perguntou Alex, e a resposta foi apenas "Unhum." Alex puxou os cobertores, defensivamente e perguntou "A mamãe tá aí?"
   "To bem aqui" a cabeça da mãe apareceu na porta, logo abaixo da do pai. Sua voz era ainda mais estranha que a do pai. "Você quer nos dizer que passou nosso endereço de casa para Shabby19? não devia ter feito isso! ela não era o garotinho, ela um homem adulto! e sabe o que ele fez? ele nos matou so pra poder ficar muito tempo com você!"
   Um homem gordo, vestindo uma jaqueta azul aparece na porta do quarto, segurando as cabeças decepadas do pai e da mãe. Alex grita em pânico. Shabby19 entra no quarto, solta as cabeças no chão e desembainha sua faca, lentamente.

   O sorrisinho debochado da minha filha sumiu o seu rosto. Suas mãos agora cobriam sua boca.
   Depois de algumas horas, o garoto estava quase morto, e seus gritos eram apenas sussurros. O assassino então notou o choro de um bebê vindo do quarto ao lado. Ele se sentiu empolgado, nunca antes tinha matado um bebê. Sentiu-se animado com a experiência. Puxou a faca do peito de Alex e foi até o quarto da criança.
   No quarto, ele foi até o berço. Percebeu se tratar de uma menina, pelas roupas rosas. Ele a tomou nos braços e então, a criança parou de chorar e sorriu para ele. Shabby19 sentiu uma coisa estranha em si, ele nunca tivera segurado um bebê antes, mas sentia-se um profissional. Balançou a menina nos braços e ela voltou a dormir. Rapidamente ele limpou o sangue das mãos, no lençol para poder acariciar suas bochechinhas. " E aí menina fofa". Seu olhar sádico e assassino foi derretendo, ate se tornar algo carinhoso.
   Ele saiu da casa, com a menina nos braços. Levou-a pra casa e lhe deu o nome de Lucia.

   Quando acabei a história, minha filha estava visivelmente abalada. 
   - Mas pai... meu nome é Lucia...
   Eu dei uma risadinha e lhe pisquei o olho.
   - Claro que é, filha.
   Ela correu para seu quarto, com expressão de choro.
   Mas lá no fundo, eu acho que ela gostou da história.


domingo, 21 de setembro de 2014

Melinda Brugguer Episodio 3: A outra


A ruiva estava sentada em sua mesa conversando e rindo alto com alguns membros da pericia. Aquele era um dia parado no departamento de homicídios.
Um homem de macacão cinza entrou na sala carregando um buquê de rosas vermelhas.
– Melinda, é aqui? – perguntou o sujeito.
– Sou eu. – respondeu a detetive, olhando de canto de olho para o homem.
– Entrega para você. – o homem estendeu o buquê.
– Obrigada. – Melinda pegou a encomenda à contra gosto.
– Ohmmmm! – murmurou a perita Sara derretida com a entrega. – De quem é?
Melinda nem mesmo leu o cartão, apenas se levantou e saiu andando. Seus colegas de trabalho ficaram sem entender.
Nicolas estava sentado em um canto de seu pequeno necrotério e desenhava em uma prancheta que apoiava nas pernas.
– Olá! – ele sorriu ao ver a ruiva – Gostou do presente? – ele se referiu ao buquê
Melinda se aproximou de uma lata de lixo e jogou o buquê lá dentro.
– Nunca mais faça isso. – disse ela dando as costas para ele sem nem ao menos esperar por sua reação.
O lápis que ele segurava se partiu ao meio nas mãos do medico e uma lagrima silenciosa escorreu pelo seu rosto caindo sobre o desenho.
– Chega! – ele sussurrou.
Enquanto Melinda caminhava pelo corredor seu celular tocou.
– Detetive Bruguer?... Estou a caminho.
A ruiva dirigiu até a estação de esgoto da cidade. Corpos encontrados no esgoto não costumavam ser comuns. Quando chegou ao local havia uma dezena de curiosos, mas nada fora do habitual, a não ser o corpo de um homem preso na grade que separa os resíduos do esgoto.
Melinda nunca tinha se deparado com algo como aquilo, quem jogava um corpo no esgoto?
 – Bruguer. – disse a detetive ao passar pelo cerco policial mostrando seu distintivo. – O que houve aqui? – ela foi logo perguntando para um dos policiais que tentava conter o tumulto.
– Um operador da casa de maquinas aqui da estação, ligou assim que viu esse corpo preso nas grades.
A detetive assentiu com a cabeça e caminhou na direção dos peritos.
– Alguma informação de quem é a vitima? – perguntou a Sara.
– Pedro Henrique Alves, 32 anos, – a perita respondeu entregando uma carteira molhada e com cheiro forte de esgoto. – tem um crachá do consultório que trabalhava também... – A perita encarou o rosto do homem estirado no chão. – Que droga! Porque matam os bonitões? – choramingou.
Melinda riu.
– Algum sinal da causa da morte? – continuou sua investigação.
– Facada – foi dizendo a perita. – um golpe certeiro na aorta.
– Vou começar pelo trabalho dele então. – disse a detetive pegando o saco plástico que continha a carteira da vitima.
Homem bonito, jovem, classe media, drogas talvez?  A detetive formulava perguntas em sua mente enquanto dirigia rumo ao local em que a vitima trabalhava.
Estacionou o carro na portaria e entrou no prédio.
– Policia, gostaria de fazer perguntas a respeito do assassinato de Predo Henrique Alves. – ela foi se identificando na portaria.
A recepcionista a encarou com choque e engoliu seco.
– Assassinato? – ela engoliu seco e pegou o telefone. – Doutor Eduardo? Aqui é Michele, tem uma policial aqui falando que o doutor Pedro foi assassinado.
– O que??? – Melinda ouviu um grito do outro lado da linha.
– decimo andar, sala 1035. – informou a recepcionista afastando o telefone do ouvido.
Melinda assentiu e foi para o elevador.
– Detetive Bruguer. – Melinda se apresentou ao abrir a porta da sala.
Um homem vestido de branco uns 40 anos estava sentado atrás de uma mesa. Ele a olhou da cabeça aos pés e deu um sorrisinho malicioso.
– Acho que gostaria de ter mais visitas da policia.
– Eu estou aqui por um assunto sério.
– Claro, desculpe-me. Sente-se. – disse o medico se ajeitando na poltrona e assumindo uma postura mais séria. – É verdade o que Michele disse? Pedro está morto? – ele perguntou perplexo.  Não é possível... – ele se engasgou com as palavras – Ele veio trabalhar ontem e estava ótimo.
– Acabamos de encontra-lo no esgoto. – disse a detetive sem medir as palavras.
O homem estava incrédulo.
– Você sabe de alguém que teria motivos para fazer isso? Talvez uma briga? Envolvimento com dragas? – esses motivos estavam entre os casos mais comuns de assassinato. – Você sabe se ele vivia bem com a mulher? Com os filhos?
– Calma, calma. – disse atordoado com o turbilhão de perguntas.  – Pedro é uma das pessoas mais na paz que conheço... ou conhecia, – choramingou – nunca foi de brigar com ninguém não, e ele não é casado nem tem filhos.
– Sabe onde eu posso encontrar os pais dele?
– No cemitério. Morreram faz alguns anos, num acidente de carro.
Melinda se levantou da cadeira e colocou seu cartão sobre a mesa.
– Me ligue. – disse, mas assim que o homem estendeu a mão, rápido para pegar o cartão ela puxou de volta. – Mas só se tiver alguma informação valiosa. – ressaltou a policial. Assim que terminou a frase virou as costas e deixou a sala.
Alguns dias depois Melinda estava sentada na sua sala avaliando o quadro de pistas a sua frente e tudo o que tinha nele era a foto da vitima cujo corpo foi encontrado em um local que com toda certeza não é a cena do crime. Sem antecedentes criminais, sem filhos ou esposa, nem mesmo parentes próximos, nenhum bem roubado.  Um crime passional? Dificilmente...
O celular da detetive tocou a tirando de seus pensamentos.
– Bruguer... Fala sério!
Melinda nem ao menos tinha resolvido um caso e estava a caminho de outro.
– Outro cara bonitão. – choramingou sara enquanto ela e Melinda caminhavam na direção da segunda vitima em menos de uma semana.
O corpo dessa vez havia sido encontrado as margens de um córrego da cidade, mas não muito longe da estação de esgoto. Outro médico, 35 anos, jovem e bonito. Causa da morte? A mesma da vitima anterior, facada no pescoço. Segundo Nicolas um canivete ou uma faca pequena.
Que os dois casos de alguma forma estavam ligados, Melinda tinha algo perto da certeza. Eles tinham uma idade parecida, eram médicos, mas não se conheciam.
Uma semana depois apareceu um terceiro corpo, com as mesmas características dos anteriores. A cidade estava em alvoroço e a mídia não dava sossego para a polícia, a manchete de um possível serial killer estava estampada em todos os jornais. E Melinda não se sentia nem mesmo perto de pegá-lo.
– Acho que precisamos dar uma volta antes que seus neurônios fritem ai. – disse sara ao entrar na sala e ver Melinda fazendo anotações e jogando-as fora momentos depois.  – Acha que não saindo daqui vai resolver isso mais rápido?
– Eu tenho que resolver isso. – Melinda a encarou
– Não, nos precisamos é dar uma volta. – Sara saiu da sala puxando Melinda junto. – Tem um restaurante novo há poucos quilômetros daqui, e estou realmente muito a fim de comer comida japonesa.
Melinda concordou. Não que tivesse opções.
Assim que chegou no restaurante se arrependeu da ideia. Deu de cara com Nicolas sentado em uma mesa e ele estava acompanhado, de uma bela e jovem mulher loira. Eles riam e trocavam caricias.
– Olá, Nicolas! – Sara correu na direção dele. – Que surpresa ver vocês aqui. E quem é essa?
– Prazer meu nome é Alice. A namorada dele. – disse a mulher sorrindo e acariciando os cabelos do legista.
– Namorada... –Melinda engoliu seco.
– Sim – Nicolas sorriu dando um selinho na mulher.
– Eu acho que perdi a fome. – disse Melinda deixando o restaurante.
– Ei, Melinda espera. – Sara saiu atrás dela, e a segurou pelo braço do lado de fora do restaurante.
– Me solta. – Melinda protestou.
– Por que você não diz que o ama e acaba logo com isso? – Sara foi direto ao assunto.
– Eu não o amo!
– Você é uma péssima mentirosa. Quem não gosta não morre de ciúmes.

Continua...

By Ashe

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A moça do Google maps



Eu estive num acidente de carro a uns anos atrás. Desde então eu quase não saio de casa; a simples ideia de ver um carro passando por mim me dá pânico.
Um amigo meu me ensinou a usar o google maps, tenho certeza que você já ouviu falar. Te permite usar imagens de satélites para ver vários lugares do mundo.Eu fiquei fascinado com essa ferramenta: eu poderia, literalmente, andar por todas as ruas de todas as cidades do mundo.  Eu poderia passear pelo Japão, China, Alemanha, Inglaterra... Até já fui à atrações turísticas como A muralha da China e o castelo do Drácula.
Minha coisa favorita pra fazer era ir à ruas aleatórias em cidades grandes, e contar quantas pessoas e animais eu conseguia ver... cuidando de suas vidas, andando como se não tivesse problema algum na vida.
Notei uma moça na calçada, em Tóquio. andando tranquilamente. deu um zoom nela. Ela carregava uma bolsa cinza com alças brancas. Calça jeans, camiseta branca, tênis vermelho e blusa preta com toca. O google maps borra o rosto das pessoas para proteger sua identidade, mas assim mesmo, eu tenho a sensação que ela estava sorrindo. Na hora, me deu uma grande vontade de estar lá com ela, andando ao seu lado e conversando qualquer bobagem. Suspirei. Deixei meus braços caírem nos braços da cadeira de roda. Isso nunca aconteceria, eu to preso aqui, preso nessa cadeira.
Fechei o notebook, chega por hoje. Fui pra cama. 

Acordei cedo no outro dia e decidi olhar Paris. Paris era sempre divertido, um lugar lindo. Dei zoom numa rua aleatória e comecei a percorre-la. Era uma rua pequena, cheia de lojinhas variadas. No fim, tinha uma faixa de pedestre com várias pessoas atravessando: um homem carrega, andava, olhando para uma velha senhora que carregava uma bolsa enorme. Uma outra mulher estava numa janela, olhando a rua e uma jovem moça guiava um grupo de crianças na faixa.
Eu girei a câmera algumas vezes e então meus olhos se voltaram para um ponto de ônibus, onde vi algo peculiar: vi duas pessoas. Uma delas era uma jovem que estava com os dois pés no chão, sentada de maneira confortável. Foi então que notei os tênis vermelhos, a calça jeans... camiseta branca... blusa preta com toca. O cabelo castanho dela estava amarrado atrás de sua cabeça. Em seu colo, estava uma bolsa cinza de alça branca.
"Que coisa bizzara" pensei comigo mesmo. Não podia ser a mesma mulher. Esse era outra país, outro continente, como podia ser ela?
Maluquice, essas eram imagens aleatórias. ela podia ser uma viajante, além do que, sem poder ver o rosto, era impossível dizer se era ou não a mesma mulher. Cabelo castanho é a cor mais comum de cabelo do mundo e esse tênis vermelho... eu mesmo tenho um igual, comprei na internet.
Dei zoom out e fui fazer algo pra comer.
Depois do almoço, eu decidi olhar Berlim. Peguei uma rua aleatória, como sempre. Não era uma rua muito legal; algum prédios de tijolo, pareciam fábricas. Alguns terrenos vazios cheios de grama e entulho jogado. Mais à frente vi um menino andando, com um celular na mão. Fiquei decepcionado. Estava pronto para sair daquela rua quando notei algo, com o canto do meu olho... aquele par de tênis vermelho.
Ela estava numa esquina, com a mão apoiada num poste, parecia estar tentando atravessar a rua. Sem chance de ser a mesma moça! Mesmo que ela fosse uma viajante, seria impossível mudar de País assim tão rápido. O fato de acha-la em Paris já foi uma coincidência incrível, mas agora? Isso ja tava ficando ridículo.
Eu tava tendo alucinações ou o google decidiu pregar uma peça nos usuários que usam o maps por muito tempo. Procurei no fórum por coisas bizarras que aparecem no google maps. Procurei por uma moça que aparece em todas as cidades, mas não achei nada parecido.
Eu estava nervoso, mas resolvi voltar aos lugares onde a encontrei a primeira vez. Em paris, ela ainda estava no ponto de ônibus, mas não estava mais sentada, mas sim de pé, procurando algo na bolsa. Em Tóquio, ela estava à alguns passos distante de onde eu a encontrei, brincando com um gatinho da rua.
Fui a um lugar novo, Bruxelas. Peguei uma rua qualquer e comecei a girar por ela. Eu estava no que parecia ser um bloco de apartamentos. Não havia ninguém nas ruas a não ser por uma mulher de blusa azul. Suspirei de alívio, eu devia mesmo estar fican... senti um arrepio. Eu estava olhando para as ruas apenas e demorei pra notar alguém na sacada de uma janela... Era ela. Estava com o rosto para frente como se estivesse olhando para a câmera, como se estivesse olhando pra mim.
Em Sydney, ela estava encostada numa parede no estacionamento de uma farmácia. Em Londres, estava embarcando num dos ônibus vermelhos. Em todo lugar que eu olhava, ela estava lá. Passando por uma calçada de tijolos em Veneza. Em Hong Kong, ela estava entre um banco e um McDonalds, ajustando a alça da sua bolsa. A cada imagem, ela estava mais e mais próxima de olhar diretamente pra mim, com seu rosto borrado.
Eu estava aterrorizado, mas o que eu podia fazer? ligar pra polícia? seria ridículo. Quem é ela? ela tava me seguindo? Eu tava seguindo ela? Minha vontade era levantar da cadeira e sair correndo. Porque a única coisa que me fazia me sentir livre, agora era minha maior prisão? 
Tinha algo que eu precisava fazer... Digitei o nome da minha cidade.
Achei ela, a alguns quilômetros da minha casa, em um parque, sentada num banco e apontando para frente. Para mim. Ela me achou... Eu tive vontade de vomitar.
Rapidamente, digitei o nome da minha rua. Percorri ela toda, rodeando o prédio onde eu morava... e nada. Eu não a vi. Nada dela. Vi umas pessoas, mas não ela. Suspirei e me deixei relaxar na cadeira. Eu estava a salvo aqui. Eu nunca saia de casa mesmo. Nunca mais vou usar o google maps, nunca mais vou ver ela.
Foi então, que eu ouvi uma batida na porta. Tremi. E então eu percebi: o maps mostra apenas as ruas, e não o interior dos prédios...
Usei a câmera da minha porta que estava ligada ao meu computador, algo que fiz pra facilitar minha vida, nessa minha situação.
Olhei para tela e vi uma mulher de calça jeans, camiseta branca, blusa preta com toca. Segurando uma bolsa de alça branca. Ela olhava diretamente para a câmera, seu rosto ainda era um borrão. Eu estava com um grito na garganta, quando ela ergueu a mão e bateu na minha porta.
Gelei.
Eu não ia me mexer. Nem respirar. Nunca mais.
Nunca.