Já passava das dez da noite e lá estava ela, sentada em frente ao laptop, jogando algum jogo na internet.
- Já está tarde, filhota, hora de ir pra cama.
Ela soltou um longo suspiro. Vi ela se despedindo dos amigos no jogo, depois ela desligou e fechou o laptop, com um olhar visivelmente aborrecido.
- Não faça essa cara! eu te conto uma historia, uma bem boa, pode ser?
Ela bufou com cara de tédio.
- Pai, se você vai mesmo me contar outra das suas histórias de monstros, pode contar uma realmente assustadora dessa vez?
Eu gostava de contar e inventar minhas próprias historias, assim como alguns pais, eu tentava por algum contexto moral que pudesse passar a ela alguma mensagem, mas ao que parece, o velho pai contador de historias já estava perdendo seu toque.
- Vamos pai. - insistiu ela, cruzando os braços - Já tenho 10 anos, eu aguento!
Eu sorri de canto para ela:
- Tudo bem... Vou te contar uma historia como nunca contei antes:
- Tudo bem... Vou te contar uma historia como nunca contei antes:
Havia um menino chamado Alex, que adorava passar muitas horas jogando online com seus amigos.
Mau comecei e já notei a cara de tédio da minha filha; para ela, seria mais uma historia boba com alguma moral no final, mas, ela ficou quieta e eu continuei.
Ele costumava jogar vários jogos com outras crianças e a frequentar fóruns de ajuda com jogos. Em um desses jogos ele conheceu "Shabby19" um menino da sua idade. Eles começaram a jogar juntos e se davam super bem: gostavam das mesma musicas, dos mesmos programas de Tv, riam das piadas um do outro, e adoravam explorar novos jogos juntos.
Depois de meses de amizade, Alex deu à Shabby19, 6 diamantes, no jogo que jogavam. Esse foi um presente muito generoso, pois os diamantes eram dificeis de encontrar e valiam muito no jogo. O aniversário de Alex estava próximo e Shabby19 queria lhe dar um presente de verdade. Alex imaginou que não seria grande coisa dar ao seu amigo seu endereço, desde que ele prometesse nunca passa-lo para nenhum estranho ou adulto. Shabby19 jurou que não contaria nem aos seus pais.
Nesse ponto eu parei e olhei para minha filha.
- Você acha que foi uma boa ideia?
- Você acha que foi uma boa ideia?
- Não! - ela respondeu firme. Mas eu senti, que ela tava entrando na história.
O Alex também não. Seus pais sempre lhe disseram para não compartilhar informação pessoa na internet, e mesmo assim ele o fez. Ele se sentiu culpado pelo que fez. A culpa foi crescendo, e na noite seguinte, quando ele estava vestindo seu pijama, ele decidiu que contaria o que fez. Ele iria ficar de castigo e levar a maior bronca, mas ao menos, tiraria de si essa culpa. Falaria com eles quando viesse lhe dar boa noite.
Ela sabia que a parte assustadora estava chegando e tentou se fazer de durona. Eu baixei o tom de voz, tentando deixar tudo mais sombrio.
Ele deitou na cama e se cobriu até o pescoço. Ouviu barulhos na casa: a maquina de lavar na lavanderia, os galhos das árvores ao vento lá fora e outros sons que não conseguiu identificar. Finalmente, ele ouviu os passos do seu pai no corredor. "Hey pai?" ele chamou, nervoso. "preciso te contar uma coisa."
Seu pai apareceu com a cabeça na porta. "Pode falar, filho" disse ela numa voz estranha. Não apenas isso, mas a cabeça parecia estar num ângulo estranho e seus lábios não pareciam mexer. "Você tá bem pai?" perguntou Alex, e a resposta foi apenas "Unhum." Alex puxou os cobertores, defensivamente e perguntou "A mamãe tá aí?"
"To bem aqui" a cabeça da mãe apareceu na porta, logo abaixo da do pai. Sua voz era ainda mais estranha que a do pai. "Você quer nos dizer que passou nosso endereço de casa para Shabby19? não devia ter feito isso! ela não era o garotinho, ela um homem adulto! e sabe o que ele fez? ele nos matou so pra poder ficar muito tempo com você!"
Um homem gordo, vestindo uma jaqueta azul aparece na porta do quarto, segurando as cabeças decepadas do pai e da mãe. Alex grita em pânico. Shabby19 entra no quarto, solta as cabeças no chão e desembainha sua faca, lentamente.
O sorrisinho debochado da minha filha sumiu o seu rosto. Suas mãos agora cobriam sua boca.
Depois de algumas horas, o garoto estava quase morto, e seus gritos eram apenas sussurros. O assassino então notou o choro de um bebê vindo do quarto ao lado. Ele se sentiu empolgado, nunca antes tinha matado um bebê. Sentiu-se animado com a experiência. Puxou a faca do peito de Alex e foi até o quarto da criança.
No quarto, ele foi até o berço. Percebeu se tratar de uma menina, pelas roupas rosas. Ele a tomou nos braços e então, a criança parou de chorar e sorriu para ele. Shabby19 sentiu uma coisa estranha em si, ele nunca tivera segurado um bebê antes, mas sentia-se um profissional. Balançou a menina nos braços e ela voltou a dormir. Rapidamente ele limpou o sangue das mãos, no lençol para poder acariciar suas bochechinhas. " E aí menina fofa". Seu olhar sádico e assassino foi derretendo, ate se tornar algo carinhoso.
Ele saiu da casa, com a menina nos braços. Levou-a pra casa e lhe deu o nome de Lucia.
Quando acabei a história, minha filha estava visivelmente abalada.
- Mas pai... meu nome é Lucia...
Eu dei uma risadinha e lhe pisquei o olho.
- Claro que é, filha.
- Claro que é, filha.
Ela correu para seu quarto, com expressão de choro.
Mas lá no fundo, eu acho que ela gostou da história.