quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Um poema para você




Oi. Sou o Joaquim, tenho 13 anos. Desculpem-me, estou nervoso por estar escrevendo isto. Mas fazer o que? Eu precisava arrumar uma maneira de colocar todos os meus sentimentos no papel. Estavaprocurando um assunto bom para escrever. Desejava produzir algo que fizesse as pessoas rirem, chorarem, aplaudirem e pedirem bis. Hehe, nada modesto da minha parte eu sei.
Juro que pensei muito, mas parece impossível arranjar um tema que toque a alma das pessoas. Por isso decidi pedir alguns conselhos para alguém mais experiente. Meu amigão do peito, a pessoa na qual eu mais confiava quando o assunto era mulheres ou Pokémon.
Telefonei a procura de ajuda. Do outro lado da linha estava a voz do meu amigo, mas o aparelho devia estar com defeito porque vez ou outra eu também escutava alguns grunhidos muito esquisitos...Ah, sei lá, parecia que ele estrava estrangulando um gato ou coisa do tipo.
Bem, mas o importante é que agora teria alguém de qualidade para me aconselhar. Afinal, ele era uma coisa chamada colunista, que eu não sei bem o que é, mas tem a ver com jornal. A voz dele também estava estranha, mas a pergunta foi mais ou menos assim:
“Aaaaahhh, ooi, Joaquim, huuuuuuuummmm, é você cara, aaaaaaaaaaaahhh, isso, isso.....aaaaaaahhh, escrever, né?....aaaaaaaaaaahh tá, não se preooocuuuupe, eu aajuuudo sim....mas, o que....aaaaaaaahhh,vocêqueeeeeerrrrrr ... escrever?”
Por fim eu decidi que escreveria aquilo que sempre tive vontade, mas a coragem faltava. Um poema. Sabe, aqueles de amor, com rimas e declarações.
Esse poema seria para a garota de quem estou afim. Uuuhhhnnn, só de pensar nela eu fico todo bobo. Porém, segundo o meu amigo, ela não pode sacar isso de primeira, vocês entendem o que quero dizer? ... Ah, é claro que sim, pois todo mundo passa por essa vergonha um dia e hoje chegou a minha vez, ao menos eu tenho a sorte de contar com ajuda profissional.
Ai veio o primeiro conselho:
“huuuummmmmmmmmmmmmm, aahh, assim, assim....aahhh, Joaquim, bemm, ahhh, você...você tem que ser delicaaaaaado com ela, mas inventa um nome difereeeente, alguma coisa...especiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal.....uuhhuuuu, aaaahhh, isssooogostoooosaaaa, aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!”
Fiquei pensando se meu amigo estava falando sério mesmo, mas não podia duvidar, afinal ele era sem dúvida um mestre na arte da conquista. Ao menos era o que ele falava. Bom, então decidi usar o nome que ele havia sugerido mesmo. Comecei a escrever. Primeiro pensei no nome dela. Aaah Luísa, Luísa...nada rimava com Luísa. Mas com Gostosa havia muita coisa que rimava. Então seria Gostosa.
...Querida Gostosa...                                                   
Não, não! Risquei o papel.
...Gostosa...
Isso, perfeito!
Continuei com o poema até que surgiu mais uma dúvida. A sorte é que havia o meu amigão para me ajudar.
Segundo conselho:
“Ahan, ahan, tá, entendi...vamos trocar...vem...assim....isso...isso...aaaaaaaaaaaahhh...mas, Joaquim, você não pode falar....aaaaaaahhh, huuuuuuuuuuummm, falar coisas ruiiiiiiinnnnss...tem que ser...gentiiiiiiilll...aaaaaaaaaaahhh... raaaapidoo, rápido!!!”
Ele tinha razão. Eu precisava ser gentil. Garotas gostam de gentileza. Não seria nada bacana fala de defeitos ou coisas do tipo. Nem se fosse verdade. Então, eu realçaria as características dela. Meu amigo havia falado a palavra rápido. Bem, na verdade, ela era bem rápida. Possuía até uns músculos nas pernas de tanto que corria. Acho que aquilo era uma coisa boa para se escrever e exaltar as qualidades de uma menina. Ao menos, se fosse um menino, ele não se importaria em ser chamado de rápido.
...Meu coração dispara no meu peito e meus olhos brilham ao te ver
Mas quase não consigo acompanhar, pois você é muito rápida ao correr...
E agora o meu poema já estava quase pronto. Só faltava uma declaração, mas qual seria o melhor modo de dizer aquilo? Será que eu devia mesmo dizer com todas as palavras: Eu te amo, ou não? Meu amigão com toda a certeza saberia me dizer melhor.
Acho que ele deve ter matado aquele gato, porque agora estava um silêncio do outro lado. Mas quando eu fui perguntar se eu devia ou não escrever aquilo, ele deve ter lido meu pensamento e se assustado, pois ouvi um chiado e depois uma espécie de urro. Tive até que afastar o telefone do ouvido.
Coitado do gato. Devia estar nos seus últimos instantes de vida. Eu é que não queria ser esse pobre coitado. O que será que o bichano andou aprontando?
Mas eu não tinha tempo para perguntar aquilo. Precisava sanar a dúvida cruel que colocava minha cabeça toda cheia de caraminholas.
Terceiro conselho:
“Aahnn...desculpa amigão...sim...estou....estou bem sim...gato? que gato?...bom, mas o que você queria mesmo? ...ah é, sobre isso... bom, você tem que ser cuidadoso...se seguiu tudo o que eu te disse, então no final ...você precisa colocar que gosta dela e o modo como se senti quando estão perto um do outro...é..ahh gostosa...onde...espera joa...onde vai?....não...volta aqui...to louco...pra te pegar de novo...ah Joaquim, desculpa cara, tenho que ir tá. Depois a gente se fala direito.”
Desliguei o telefone e fiquei pensando. Bom, eu havia feito tudo certinho e escrito tudo do jeitinho que meu amigo disse para escrever. Então, coloquei o final do poema.
...estou louco para te pegar...
E pronto! Perfeito! Ela iria ficar louca quando lesse aquela obra de arte. Só faltava entregar, mas se tive coragem eu precisava entregar. Além do mais, não podia deixar o tempo que o meu amigo passou me ajudando ser jogado fora, não é?
Estava decidido, amanhã mesmo na escola, na hora de ir embora eu iria entregar o poema.

*** 

“Joaquim?”
Atendi o telefone muito mal humorado. A minha cabeça ainda doía depois de ter levado todas aquelas livradas bem no cocuruto. Era aquele charlatão do outro lado.
“Joaquim? Você está bem?”
_Me diz uma coisa, você tem certeza de que o gato era o único que você queria matar?
“O que? Lá vem você com essa história de gata outra vez... Não estou entendendo...”
_Ela odiou o poema! Fiz tudo o que você disse e mesmo assim ela odiou!
“Acalme-se Joaquim, nem sempre dá certo mesmo...mulheres, Joaquim, mulheres...”


By Katarina

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