A
ruiva estava sentada em sua mesa conversando e rindo alto com alguns membros da
pericia. Aquele era um dia parado no departamento de homicídios.
Um
homem de macacão cinza entrou na sala carregando um buquê de rosas vermelhas.
–
Melinda, é aqui? – perguntou o sujeito.
–
Sou eu. – respondeu a detetive, olhando de canto de olho para o homem.
–
Entrega para você. – o homem estendeu o buquê.
–
Obrigada. – Melinda pegou a encomenda à contra gosto.
–
Ohmmmm! – murmurou a perita Sara derretida com a entrega. – De quem é?
Melinda
nem mesmo leu o cartão, apenas se levantou e saiu andando. Seus colegas de
trabalho ficaram sem entender.
Nicolas
estava sentado em um canto de seu pequeno necrotério e desenhava em uma
prancheta que apoiava nas pernas.
Melinda
se aproximou de uma lata de lixo e jogou o buquê lá dentro.
–
Nunca mais faça isso. – disse ela dando as costas para ele sem nem ao menos
esperar por sua reação.
O
lápis que ele segurava se partiu ao meio nas mãos do medico e uma lagrima
silenciosa escorreu pelo seu rosto caindo sobre o desenho.
–
Chega! – ele sussurrou.
Enquanto
Melinda caminhava pelo corredor seu celular tocou.
–
Detetive Bruguer?... Estou a caminho.
A
ruiva dirigiu até a estação de esgoto da cidade. Corpos encontrados no esgoto
não costumavam ser comuns. Quando chegou ao local havia uma dezena de curiosos,
mas nada fora do habitual, a não ser o corpo de um homem preso na grade que
separa os resíduos do esgoto.
Melinda
nunca tinha se deparado com algo como aquilo, quem jogava um corpo no esgoto?
– Bruguer. – disse a detetive ao passar pelo
cerco policial mostrando seu distintivo. – O que houve aqui? – ela foi logo
perguntando para um dos policiais que tentava conter o tumulto.
–
Um operador da casa de maquinas aqui da estação, ligou assim que viu esse corpo
preso nas grades.
A
detetive assentiu com a cabeça e caminhou na direção dos peritos.
–
Alguma informação de quem é a vitima? – perguntou a Sara.
–
Pedro Henrique Alves, 32 anos, – a perita respondeu entregando uma carteira
molhada e com cheiro forte de esgoto. – tem um crachá do consultório que
trabalhava também... – A perita encarou o rosto do homem estirado no chão. –
Que droga! Porque matam os bonitões? – choramingou.
Melinda
riu.
–
Algum sinal da causa da morte? – continuou sua investigação.
–
Facada – foi dizendo a perita. – um golpe certeiro na aorta.
–
Vou começar pelo trabalho dele então. – disse a detetive pegando o saco plástico
que continha a carteira da vitima.
Homem
bonito, jovem, classe media, drogas talvez?
A detetive formulava perguntas em sua mente enquanto dirigia rumo ao
local em que a vitima trabalhava.
Estacionou
o carro na portaria e entrou no prédio.
–
Policia, gostaria de fazer perguntas a respeito do assassinato de Predo
Henrique Alves. – ela foi se identificando na portaria.
A
recepcionista a encarou com choque e engoliu seco.
–
Assassinato? – ela engoliu seco e pegou o telefone. – Doutor Eduardo? Aqui é Michele,
tem uma policial aqui falando que o doutor Pedro foi assassinado.
–
O que??? – Melinda ouviu um grito do outro lado da linha.
–
decimo andar, sala 1035. – informou a recepcionista afastando o telefone do
ouvido.
Melinda
assentiu e foi para o elevador.
–
Detetive Bruguer. – Melinda se apresentou ao abrir a porta da sala.
Um
homem vestido de branco uns 40 anos estava sentado atrás de uma mesa. Ele a
olhou da cabeça aos pés e deu um sorrisinho malicioso.
–
Acho que gostaria de ter mais visitas da policia.
–
Eu estou aqui por um assunto sério.
–
Claro, desculpe-me. Sente-se. – disse o medico se ajeitando na poltrona e
assumindo uma postura mais séria. – É verdade o que Michele disse? Pedro está
morto? – ele perguntou perplexo. Não é
possível... – ele se engasgou com as palavras – Ele veio trabalhar ontem e
estava ótimo.
–
Acabamos de encontra-lo no esgoto. – disse a detetive sem medir as palavras.
O
homem estava incrédulo.
–
Você sabe de alguém que teria motivos para fazer isso? Talvez uma briga? Envolvimento
com dragas? – esses motivos estavam entre os casos mais comuns de assassinato.
– Você sabe se ele vivia bem com a mulher? Com os filhos?
–
Calma, calma. – disse atordoado com o turbilhão de perguntas. – Pedro é uma das pessoas mais na paz que
conheço... ou conhecia, – choramingou – nunca foi de brigar com ninguém não, e
ele não é casado nem tem filhos.
–
Sabe onde eu posso encontrar os pais dele?
–
No cemitério. Morreram faz alguns anos, num acidente de carro.
Melinda
se levantou da cadeira e colocou seu cartão sobre a mesa.
–
Me ligue. – disse, mas assim que o homem estendeu a mão, rápido para pegar o
cartão ela puxou de volta. – Mas só se tiver alguma informação valiosa. –
ressaltou a policial. Assim que terminou a frase virou as costas e deixou a
sala.
Alguns
dias depois Melinda estava sentada na sua sala avaliando o quadro de pistas a
sua frente e tudo o que tinha nele era a foto da vitima cujo corpo foi
encontrado em um local que com toda certeza não é a cena do crime. Sem
antecedentes criminais, sem filhos ou esposa, nem mesmo parentes próximos,
nenhum bem roubado. Um crime passional?
Dificilmente...
O
celular da detetive tocou a tirando de seus pensamentos.
–
Bruguer... Fala sério!
Melinda
nem ao menos tinha resolvido um caso e estava a caminho de outro.
–
Outro cara bonitão. – choramingou sara enquanto ela e Melinda caminhavam na
direção da segunda vitima em menos de uma semana.
O
corpo dessa vez havia sido encontrado as margens de um córrego da cidade, mas
não muito longe da estação de esgoto. Outro médico, 35 anos, jovem e bonito.
Causa da morte? A mesma da vitima anterior, facada no pescoço. Segundo Nicolas
um canivete ou uma faca pequena.
Que
os dois casos de alguma forma estavam ligados, Melinda tinha algo perto da
certeza. Eles tinham uma idade parecida, eram médicos, mas não se conheciam.
Uma
semana depois apareceu um terceiro corpo, com as mesmas características dos
anteriores. A cidade estava em alvoroço e a mídia não dava sossego para a
polícia, a manchete de um possível serial killer estava estampada em todos os
jornais. E Melinda não se sentia nem mesmo perto de pegá-lo.
–
Acho que precisamos dar uma volta antes que seus neurônios fritem ai. – disse
sara ao entrar na sala e ver Melinda fazendo anotações e jogando-as fora
momentos depois. – Acha que não saindo
daqui vai resolver isso mais rápido?
–
Eu tenho que resolver isso. – Melinda a encarou
–
Não, nos precisamos é dar uma volta. – Sara saiu da sala puxando Melinda junto.
– Tem um restaurante novo há poucos quilômetros daqui, e estou realmente muito
a fim de comer comida japonesa.
Melinda
concordou. Não que tivesse opções.
Assim
que chegou no restaurante se arrependeu da ideia. Deu de cara com Nicolas
sentado em uma mesa e ele estava acompanhado, de uma bela e jovem mulher loira.
Eles riam e trocavam caricias.
– Olá, Nicolas! – Sara correu na direção dele. – Que
surpresa ver vocês aqui. E quem é essa?
– Prazer meu nome é Alice. A namorada dele. – disse
a mulher sorrindo e acariciando os cabelos do legista.
– Namorada... –Melinda engoliu seco.
– Sim – Nicolas sorriu dando um selinho na mulher.
– Eu acho que perdi a fome. – disse Melinda deixando
o restaurante.
– Ei, Melinda espera. – Sara saiu atrás dela, e a
segurou pelo braço do lado de fora do restaurante.
– Me solta. – Melinda protestou.
– Por que você não diz que o ama e acaba logo com
isso? – Sara foi direto ao assunto.
– Eu não o amo!
– Você é uma péssima mentirosa. Quem não gosta não
morre de ciúmes.
Continua...
By Ashe