Era manhã de 8 de maio. Leo acordou cedo, afinal espera por esse dia a muito tempo. Era seu dia favorito, seu aniversário. Ele nem escovou os dentes, foi correndo para a sala, abrir seus presentes. Lá estavam eles, na sala, todos embrulhados e lindos, esperando para serem abertos. O primeiro foi um grande caminhão com uma caçamba grande o bastante parra carregar muitos brinquedos dentro. O segundo, foi uma porção de blocos de montar, coloridos. O terceiro foi especial, um carro de bombeiro, lindo, luminoso e reluzente. Mas este não foi o melhor dos presentes. Em um canto da sala, estava um outro embrulho, era grande e de formato peculiar... Leo sabia o que era. Ele sempre quis. A anos ele vem pedindo à sua mãe por um irmãozinho. Ela sempre dizia " esse ano não posso, é muito caro", mas desta vez, não havia engano... Leo correu até o embrulho e o rasgou. E estava certo.
Era um irmãozinho.
No momento em que Leo o tirou da caixa, ele abriu os olhos e começou a dar risadinhas de bebê.
Leo deu o maior grito de surpresa que se lembra de ter dado, finalmente! finalmente ele tinha um irmãozinho, que a anos queria! Poderia brincar com ele o tempo todo e lhe ensinar coisas, faze-lo aprender tudo que ele ja sabe, como dizia na TV.
"Obrigado mãe", disse ele, e abraçou o irmãozinho, passando os braços envolta do seu pescocinho. Nesse momento, Leo sentiu algo duro e frio na nuca do pequeno, e em seguida, ouviu um sonoro CLIC.
O irmãozinho foi ao chão, com o corpo todo mole e sem expressão alguma no rosto.
"Leo!" gritou a mamãe.
"E-eu não queria!"
A mamãe foi até ele, pegou o irmãozinho, abraçou-o e apertou o botão na sua nuca. Logo que foi ativado, seu rostinho se contraiu e o irmãozinho começou a chorar.
" Seja mais cuidadoso Leo, quando ele é desligado, ele não pode se mexer nem falar, mas ele ainda consegue ouvir e sentir. E isso o assusta."
Ela o abraçou mais um pouco, lhe fez carinho e deu um beijo na sua testa. O
irmãozinho acalmou-se sorriu pra ela.
irmãozinho acalmou-se sorriu pra ela.
"Que bom menino que você é! agora vai brincar com o Leo" disse ela, deixando ele no chão.
A mamãe foi para a cozinha preparar o café da manhã e os deixou na sala. Antes de sair, ela pediu a Leo para que junta-se todo o papel de presente rasgado.
Leo pediu desculpas para o irmãozinho. Era divertido ver o modo com que ele andava; todo durinho e desajeitado. Com passinhos de bebê, ele pegou o papel que estava no chão e começou a rasga-lo. A cada rasgão, ele ria com o barulho do papel. Leo notou que isso o deixava feliz e começou a rasgar papel também. E mais uma vez, o irmãozinho riu.
" Sabe o que mais é legal?" perguntou Leo. Pegou um pedaço de papel do chão, fez uma bola e o atirou na caçamba do caminhão. Mas o irmãozinho não gostou dessa brincadeira. A cada bola de papel que Leo jogava lá dentro, ele tirava e a jogava no chão.
"Para com isso!" pediu ele. " A mamãe pediu para juntar todo o papel. Mais uma vez, ele juntou as bolas de papel e as jogou na caçamba. E mais uma vez, o bebê jogou toda no chão.
"Não!" falou Leo, tentando não gritar. "Não pode!" Mais uma vez juntou tudo e colocou no caminhão. Os olhos do irmãozinho se encheram de agua, seu rosto ficou todo enrugado, ele estava prestes a chorar.
Mas Leo agiu rápido. Ele o pegou pela mão e o mostrou os blocos coloridos. "Veja" disse ele. "Vou montar uma torre bem alta. Tão alta que vai chegar ao teto!"
Leo começou a empilhar os blocos, mas quando a torre estava com três blocos de altura, o irmãozinho a derrubou com um tapa. Riu com risadinha de bebê. Leo riu também. " Agora fica olhando, vou montar uma bem grande"
E mais uma vez, antes do quarto bloco, o bebê e derrubou com a mão. E riu de novo. Leo nada disse, apenas tentou montar a torre de novo. Quando o irmãozinho veio com sua mão gordinha para derrubar os blocos, ele gritou: "Não! não pode! seu bobo!"
Leo segurou a mão dele, impedindo-o.
Imediatamente, o bebê começou a chorar, desta vez, bem alto. Alto o bastante para mamãe ouvir lá da cozinha.
"Leo! o que vocês fez pra ele?"
"Ele é um bobo! fica derrubando minha torre!"
"Ele é um bebê! você tem que ensinar a ele como brincar!"
Ela o pegou no colo, lhe deu mais um beijo e o chamou de bom menino, até acalma-lo. Depois de calmo, o irmãozinho voltou ao chão.
"Agora comporte-se, não quero que seja malvada com ele!" disse ela e voltou para a cozinha.
Leo estava bravo. Ele é meu! pensou ele. Era aniversário dele e estava levando bronca logo cedo, por culpa do irmãozinho. E a mamãe nem reparou que ele juntou todo o papel como ele pediu.
Distraído em pensamentos, Leo percebeu tarde demais, quando o pequeno bebê estava mais uma vez jogando todo o papel no chão. Ele sentiu raiva mas não disse nada. Apenas o esperou terminar e cansar do papel. Quando o irmãozinho se afastou, ele foi lá e juntou todo o papel. Quando finalmente terminou, olhou para trás para procurar pelo bebê e o viu erguendo o carro de bombeiro sobre a cabeça.
"Não!" pediu Leo, mas não adiantou. O irmãozinho soltou o carro no chão, quebrando uma das rodas e algumas das luzes. Era novinho, Leo nem ao menos tinha brincado com ele ainda...
Mais tarde, a mamãe veio lhe chamar pra comer.
"Mãe olha!" disse Leo, feliz. " Olha o tamanho da minha torre!"
Na sala estava uma enorme torre de blocos coloridos, Leo usou todos os blocos para construi-la, foi bem difícil... mas a mamãe ignorou totalmente.
"Cade o irmãozinho?" perguntou ela, brava. Antes que ele pudesse responder, ela o viu, deitado no sofá, imóvel. O rosto dela ficou todo vermelho, ela estava mesmo com muita raiva. Mas ele também estava!
" Eu desliguei ele! ele derruba minha torre de blocos e ainda quebrou meu carro de bombeiro! e eu nem tinha brincado com ele ainda!"
"Eu já te disse que ele é um bebê!" respondeu a mãe. "Você tem que ensinar as coisas pra ele!"
Ela foi até o irmãozinho para liga-lo, mas Leo meteu-se na frente dela.
"Não! gritou ele " ele é meu! eu não quero que o ligue!"
A mamãe parecia mesmo muito brava. "Eu vou ligar! eu ja te disse que ele ainda ouve e sente tudo quando está desligado, e isso é assustador pra ele!"
"Se vc o ligar eu desligo de novo! desligo e o escondo em um lugar escuro!"
A mamãe lhe deu uma olhar severo. Ele sabia que tinha passado dos limites. Ela se aproximou dele. Leo fechou os olhos, iria apanhar com certeza, mas ele não se importava, estava com raiva também.
Ela chegou bem perto para lhe castigar. Passou a mão por trás de seu pescoço, alcançando algo duro e frio que estava lá. CLIC.
Estava escuro. Escuro e assustador. Ele não conseguia se mexer ou falar, mas ao longe, podia ouvir a voz da mamãe brincando com o irmãozinho...
0 comentários:
Postar um comentário