Os beijos que trocávamos eram quentes e me faziam estremecer a cada
instante, o deslizar daquelas mãos sobre minha pele eram os
estimuladores de uma corrente que percorria todo meu corpo. As
respirações entrecortadas e os pulsos acelerados nos conduziram a
um rítmo inebriante, a ponto de quase ficarmos sem fôlego.
Uma noite
inteira de carícias, gemidos e altas temperaturas. Nossos corpos
unidos percorriam um único caminho e encontravam juntos com nossas
mentes, todo o prazer que alguém poderia ter em mãos.
Naqueles
braços eu me entreguei, naquela pele eu me submergi, tornei-me
pertencente ao ser que agora tentava me acalmar o fôlego e manter o
seu próprio sob controle. Logo o sono veio, bem como o início da
madrugada. Estávamos exaustos.
Assim que
me situei novamente, consegui distinguir, à pouca luz, a figura que
dormia abraçada em mim. Sorri e acariciei seu rosto, eu amava
profundamente.
Meu
coração estava entregue.
Mas mesmo
em meio a todo aquele amor, mesmo sob todo aquele clima, existia uma
presença. Uma mulher de olhos felinos e rosto angelical, alguém que
se fazia presente enquanto nossas noites de amor se desdobravam sob
aqueles lençóis.
Aproximei-me
mais, pois no fundo queria demonstrar que aquela disputa já estava
ganha e que não havia mais nada que ela pudesse fazer. Olhei mais
algumas vezes para os travesseiros espalhados e senti quando sua boca
colou em meu ouvido.
Os lábios
doces e quentes que percorriam toda a extensão do meu pescoço,
deixavam rastros de uma chama que há tempos estava apagada.
Virei-me. Não queria mais sentir.
Deixei os
braços em que estava e tentei me iludir com o sono que não voltava
mais. Com o travesseiro sobre a cabeça parecia que estava tudo
calmo, não havia mais perigos, mas eu sabia, ela estava lá. Sua
presença era tão real quanto o fogo que me consumia naquele
momento.
Virei-me
novamente, mas já era tarde para fugir. Suas mãos em minhas pernas,
sua boca contra minha barriga, e aqueles olhos se tornando cada vez
mais inebriantes.
Precisava
resistir, não deixar o desejo tomar conta. Era tão difícil, ela
era tão perfeita, tão diabólica. Seduzia-me como se não fosse
apenas um fantasma, como se ainda vivesse em mim. O pior era que eu
tinha dúvidas se ela era realmente apenas uma lembrança.
Eu a
odiava por isso. Não era certo. Eu a odiava por estar lá, por me
confundir, por me fazer declinar nas horas em que não podia e por me
atormentar com ideias absurdas. Eu não a queria lá, queria que ela
sumisse, desejava que ela fosse embora, que não me atormentasse
mais.
Quanto
mais eu pensava, menos eu tinha forças e menos lutava contra tudo
aquilo. Ao meu lado agora só existia ela e tudo o que eu fazia me
comprometia ainda mais. Foi quando senti suas mãos delicadas
passando sobre meu corpo até alcançar o que procurava. Arfei e gemi
ao me sentir em abuso e controle completo daquela criatura.
Seus
toques anunciavam a malícia escondida por detrás de seus olhos e
sua boca me torturava com beijos ardentes. Era mais do que o normal,
mais do que eu poderia suportar.
Quando
finalmente me deixei levar, ela sorriu. Seu sorriso para mim era doce
e quente ao mesmo tempo.
Nos
amamos como se tudo o que eu precisasse fosse ela. E em meio aos
gemidos e pensamentos que me tomavam, não houve, sequer, uma
cogitação de misericórdia para mim ou para o outro ser que
habitava o mesmo coração.
Não
havia retorno, muito menos desculpas. Tudo o que havia era o silêncio
que consumia o ambiente. Porém, dentro de mim, existia a plena
certeza de que seria para sempre um ser dividido.
0 comentários:
Postar um comentário