terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Missao anjo da guarda: capitulo 5: Um corpo... Duas almas


Pedro entrou em um beco e eu fui atrás. Ele parecia uma besta feroz, andando sem rumo.
De repente ele parou... e desferiu um soco contra uma caçamba de lixo, fazendo com que a mesma  se deformasse com o impacto.
– Eu disse...  – começou a sussurrar ao se voltar para mim. ­– Fica longe de mim!!! – rosnou
Seus olhos estavam completamente negros, era impossível ver algo ali. E ele não tinha aura, nenhuma aura, aquilo era impossível!
Uma fumaça negra começou a surgir a sua volta e isso fez com que eu desse um passo para trás. Aquilo não poderia estar acontecendo, eu só tinha que cuidar de um humano inferior, certo? Parecia que não.
– Eu sei quem você é... – a voz dele era grossa e assustadora. Definitivamente não parecia pertencer ao mesmo cara. –  An...jo...
Meus olhos se esbugalharam de susto. Como? Como ele sabia que eu era um anjo? A não ser que ele não fosse um simples humano.
– O que você é? – perguntei em meio a um berro. – Como sabe o que eu sou?
Umas manchas escuras foram surgindo no rosto dele como se fossem tatuagens. Seja lá o que ele fosse realmente não era humano. Se aquela missão era uma piada estava começando a ficar de muito mau gosto.
Ele torceu o pescoço de um jeito estranho e mostrou a língua para mim.
– Com medo, anjo? – ele riu alto.
– Eu não tenho medo de um humano. Vocês são como baratas. – tentei parecer ameaçadora.
– Eu não sou humano. – ele abriu a boca mostrando presas que antes não estavam ali. Grandes asas negras surgiram nas suas costas.
Eu saltei para trás e minhas asas se abriram pro reflexo.
– Demônio! – conclui perplexa.
– Exato!  Como demorou a perceber. – ele foi sarcástico.
– Pedro? – sussurrei confusa
Voei na direção dele e acertei seu rosto com um soco, um clarão de luz explodiu o beco. Fosse lá quem fosse aquele demônio, certamente não era a pessoa a qual eu deveria proteger.
Ele se ergueu do chão em meio à poeira e massageou o rosto queimado. Sacudiu suas roupas e agiu como se nada tivesse acontecido. Ainda exibia o mesmo sorriso sarcástico nos lábios.
– Acha mesmo que tenho medo de você? – ele riu. – Não passa de um simples anjo da guarda.
Fechei os meus olhos e uni as mãos. Eu poderia até ser um simples anjo da guarda mas não era assim tão fraca. Uma esfera de luz surgiu na minha mão e me impulsionei novamente voando na direção dele.
– Se eu fosse você não faria isso. – o demônio advertiu. – Se me machucar também o machuca. Somos duas almas em um mesmo corpo. Não pode fazer nada comigo sem fazer a ele também.
Parei com a esfera a alguns centímetros do rosto dele.
Ele fechou os olhos e abriu alguns instantes depois eles estavam castanhos e a marcas ou as asas nãos estavam mais lá.
Recolhi as asas e a esfera de luz imediatamente.
– O que aconteceu? – Pedro perguntou, piscando os olhos, confuso.
– Nada, você saiu com raiva e eu vim atrás. – murmurei. Certamente ele não conhecia o ser sombrio que habitava o seu corpo.
– Parece que toda vez que eu fico com raiva não lembro o que acontece em seguida. – ele balançava a cabeça, perdido. – Droga! Eu tenho que conseguir o dinheiro daquele cara. – respirou fundo. – Mas não sei como...
– De quanto precisa? – perguntei ao me aproximar dele.
–300 reais. – disse ao arrumar a postura do seu corpo.
– Talvez eu possa ajudar você. Desde que me prometa ficar longe de encrenca.
– Valeu, mas não preciso da esmola de ninguém. – ele virou as costas e saiu andando.
Repensei se não deveria ter matado aquele humano idiota junto com o demônio que há dentro dele quando tive a chance.
– Volta aqui! Prefere apanhar de um monte de brutamontes a aceitar a minha ajuda? – humano idiota!
– Pensando bem, você não vai poder me bater mesmo... – ele repensou se virando para mim novamente. – Mas já vou logo avisando que não sei quando vou pode te pagar.
– Tudo bem. – assenti. Sabia que ele não iria me pagar mesmo, contudo, no fim das contas era para salvar o pescoço dele que eu estava ali.
Voltamos para o buraco onde ele morava e eu peguei o dinheiro para ele.
Não conseguia parar de pensar no que havia acontecido, no que existia em alguma parte dele, no demônio que ocupava seu copo. Como destruir alguém sem poder matá-lo? Percebi que ser anjo da guarda talvez fosse muito mais complicado do que eu imagina.

Continua...

By Ashe

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