Estávamos sentados
no parapeito da varanda mal cuidada do quarto dele, não dizíamos uma só palavra
pelo menos há uma hora. Às vezes trocávamos alguns olhares mão mantemos o
silencio. Não sei se ele sabia que havia
um demônio dentro dele, mão certamente não era o mais prudente a ser dito. “ Ei, garoto! Sabia que você só está vivo
porque um demônio prende sua alma” Não! Com certeza não era uma boa ideia.
Minha barriga
roncou.
Ele riu
–Acho que alguém
está com fome.
– Talvez. –
fiquei envergonhada.
– Eu conheço
uma lanchonete onde costumo comer. Bem , podemos ir lá, mas só se você pagar.
Eu ri.
– Bem,
espera um pouco aqui então. – me levantei e fui até meu quarto. Contei as notas
e vi que não teria dinheiro por mais muito tempo.
– Lucas! –
gritei o supremo dos anjos da guarda.
Um raio de
luz entrou pela janela e eu senti a sua presença.
– O que foi Isabela?
– ele disse nada animado. – Admito que achei que pediria por socorro em menos
tempo.
– Não estou
pedindo socorro, apesar de não terem me dito que havia um demônio na história. –
resmunguei furiosa.
– Ah, não julguei
essa parte importante. Apenas achei que merecesse uma missão a altura. – ele foi
sarcástico.
– Que seja! Estou
precisando de mais dinheiro. – fui direto ao assunto. – Logo a quantia que me
deixou vai acabar.
– Arrume um
emprego, como qualquer humano faz quando precisa de dinheiro.
– Você está
brincando comigo? – só poderia ser. Caramba, eu sou um anjo!
– Não. – ele manteve o tom sádico. – Se precisa de
dinheiro arrume um emprego. Você precisa se misturar aos humanos e não há forma
melhor.
Peguei a
minha bolsa e sai do quarto em fúria. Como ele poderia fazer aquilo comigo? Eu não
sou a droga de um humano! Sou um anjo. Um anjo!
– O que te
deixou tão furiosa? – perguntou Pedro segurando o riso.
– Nada,
vamos?
– Tá, vamos.
Ele saiu
andando e eu o segui. Caminhamos por uns cinco minutos até chegarmos a uma
lanchonete. Imagine um lugar esquisito com o letreiro caído e com poucos
clientes num lugar mal freqüentado, aquilo era ainda pior.
Quando entramos
os poucos fregueses que estavam lá me olharam da cabeça aos pés. Pedro se
sentou próximo ao balcão e eu me sentei ao seu lado.
– Quero um x
burger, com batatas e um copo de coca. E pode trazer o mesmo para gata. – ele pediu
para um cara barbudo, com a cara fechada e que perecia ser a única pessoa que
trabalhava no estabelecimento. Ele vestia um uniforme listrado coberto por uma
camada de gordura.
Dez minutos
depois ele voltou com o pedido. Pedro não fez cerimônia e deu logo uma bela
mordida no sanduíche. Peguei o meu e fiquei encarando por alguns segundos,
pingava uma gordura que provavelmente deveria ter sido usada e reutilizada uma
centena de vezes.
– Não me surpreenderia
se você morresse de AVC aos 30 anos. – disse baixinho.
– Para de
reclamar e come. – ele disse.
Dei uma
mordida naquilo e meu estomago revirou. De repente eu não sentia mais fome
alguma.
Olhei uma
placa atrás do cara onde estava escrito em uma caligrafia feia: Precisa-se de funcionários.
– Estão
precisando de alguém para trabalhar aqui? – perguntei ao apontar para placa.
– Sim, por
que, está interessada? – perguntou o homem ao me encarar.
– Bem... –
comecei a gaguejar.
– Está
contratada. – ele disse me jogando um avental engordurado.
Pedro riu.
– Acho que
não é apenas eu quem precisa de um emprego. – apontei para o Pedro.
– Não, pêra ai...
– ele levantou as mãos e tentou se esquivar.
– Não se esqueça
de que me deve 300 reais. – lembrei a ele.
– Droga! Preferia
continuar devendo ao agiota. – ele lamentou pegando um avental. – Me lembre de
ficar longe de você da ultima vez, só sabe me meter em encrencas. – resmungou.
– Podem
começar agora. – ele apontou para um cliente com a mão levantada.
– Deixa que
eu vou. – Pedro disse se levantando e colocando o avental.
– Para você,
garota, tem uma pilha de vasilhas esperando lá dentro.
Uma pilha de
vasilhas? Ele quis dizer uma cozinha inteira! Tive que segurar o vômito quando
vi a situação daquela cozinha. Não sabia se o pior foi o rato que correu para
debaixo do fogão ou as moscas que voavam sobre a pilha com vasilhas ate no
teto. Lucas, eu odeio você! Quis gritar.
Comecei a
lavar as vasilhas. Senti algo passando no meu pé, não quis olhar para baixo com
medo de ver o que era e querer sair correndo dali. O dono da lanchonete jogou
perto de mim um esfregão e uma balde. Era muita humilhação para um dia só!!! Um
anjo jogado em meio às imundices humanas, isso deveria ser proibido.
Horas depois
eu me escorei no chão cansada e coberta de gordura. Olhei para a cozinha finalmente
limpa.
– Ainda está
viva? – perguntou Pedro ao aparecer na porta.
– Isso é um
mistério. – respondi ainda cansada.
Ele riu.
– Acho que
já podemos dar o fora daqui. Ele já esta fechando a lanchonete.
– Quanto
tempo passei limpando aquilo? –perguntei enquanto caminhávamos lado a lado até
a saída.
– Umas seis
horas.
– Nossa! –
eclamei.
– Vejo vocês
amanha! – gritou o dono.
Fomos caminhando
até o prédio. Pedro não conseguia conter o riso ao olhar para mim, descabelada
e suja. Aquilo definitivamente era demais para mim.
– Amanhã eu
sirvo as mesas e você limpa a cozinha. – disse jogando o avental em cima dele.
Continua...
By Ashe
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