Cap1
Cap2
Cap3
Cap4
Cap5
Cap6
- Cadê
ela?
- Eu
não... sei...
Gabriel
apertava o homem pelo pescoço. Em seu rosto, trazia uma expressão
de ódio e frieza e em seus punhos, sangue humano.
***
Assolado
por um mau pressentimento de que Sônia poderia estar em perigo,
caçador voltou ao vilarejo Ravenest, logo após a morte de Laura.
Suas
suspeitas estavam certas; logo que chegou, notou que as pessoas
pareciam assustadas com a presença dele. Em seguida, passaram a
ignora-lo, como se nunca o tivessem visto antes. Tentou conversar e
fazer perguntas, mas ninguém lhe dava atenção, e o pior, não
havia sinal de Sônia em parte alguma.
Irritado,
ele começou a procurar por sí, quando então, dentro do estábulo
achou a cruz de prata dela, caída no chão, com uma pequena mancha
de sangue. Foi nesse momento, que dois valentões, dois dos mais
altos e fortes moradores de Ravenest entraram, para dar um fim àquele
visitante enxerido...
***
Um
dos homens estava caído no chão, com os olhos roxos e alguns dentes
quebrados, o outro, estava com Gabe sobre ele.Tinha uma garrafa
quebrada enfiada na coxa esquerda, que jorrava sangue.
Soltou
o pescoço dele, lhe dando uns segundos para recuperar o ar. A cruz
de Sônia, caída no chão, lhe dava a certeza de que algo péssimo
tinha acontecido, e aquele ataque a ele, justificava sua suspeita;
aquelas pessoas sabiam exatamente onde ela estava, e quem a tinha
levado.
Sônia
Renard, 24 anos. Acompanhava Gabriel como caçadora de vampiros desde
que ele iniciou sua missão sagrada. Ele nunca esperou que os dois
tivessem uma vida longa e feliz, mas não esperava que seriam traídos
por humanos que juraram proteger.
A
fúria dele era quase incontrolável. Apesar da raiva que sentia,
manteve uma postura calma. Seus olhos estavam injetado de sangue, mas
sua voz soava calma. Ele iria matar aqueles dois e todos naquele
vilarejo se não lhe dessem o que pedia. Sônia era sua humanidade,
seu lado bom. Sem ela por perto, só sobrava rancor.
Pisou
na ferida do homem, fazendo a garrafa quebrar, forçando os cacos a
lhe penetrarem mais fundo na carne.
- Eu
sei que doi. Onde está a sacerdotisa?
O
homem gritou de dor.
Os
outros moradores do vilarejo estava reunidos do lado de fora do
estábulo. Alguns com enxadas e forcados nas mãos. Quando ouviram o
grito, a maioria deles estremeceu; aqueles dois eram os maiores e
mais fortes deles.
- Assassino!
- gritou uma senhora, com uma pedra na mão.
Os
demais se apressaram para calar a boca dela, mas ela resistiu:
- É
meu filho que lá dentro com aquele animal!
Do
lado de fora estava um reboliço; alguns concordavam com ela, mas
outros não queriam piorar as coisas. A discussão aumentou, alguns
homens estavam pensando em entrar e ver o que estava acontecendo, mas
então, sem que ninguém esperasse, a porta do estábulo abriu-se.
Gabriel
a empurrou com o pé. Na mão direita trazia seu chicote, aquele que
noite passada tinha estraçalhado os zumbis como se fossem papel. Na
mão esquerda, a cruz de Sônia, com a adaga armada. Atrás dele,
dentro do estábulo, puderam ver os dois fortões, terrivelmente
espancados.
- Eles
estão vivos. - disse ele. - Mas ainda não me disseram onde está
Sônia.
Apertou
com firmeza a cruz na mão e os encarou.
Alguns
homens avançaram uns passos, dando a entender que pretendiam
ataca-lo. Gabe sorriu maldosamente quando fizeram isso e disse:
- Antes
de me atacarem em um numero tão grande, certifiquem-se que vocês
tem espaço para tantos túmulos assim, naquele seu cemitério.
O
sorriso demoníaco dele, somado ao sangue que estava espalhado por seu
rosto, mais aquela ameaça de chacina eminente, fizeram os aldeões
vacilarem.
- Se
não me disseram onde está Sônia, eu vou matar todos vocês. Vou
me certificar que desta vez, Ravenest seja de fato, uma cidade cheia
de mortos.
A
segunda ameaça fez com quem uns sentissem raiva, mas a maioria
estava visivelmente apavorada. Ele continuou:
- Vou
perguntar pela ultima vez. Onde está Sônia?
- Ela
foi levada daqui.
Era
a voz de um homem idoso, vinda de trás do grupo que o cercava,
parecia ser o líder ou chefe deles. A multidão abriu espaço para
que o velho pudesse ser visto.
- Onde
está ela agora? Quem a levou?
- Se
você puder se acalmar, eu lhe contarei tudo que sabemos, mas por
favor, fique calmo.
- Prossiga.
- A
umas semanas atrás, nossa vila recebeu uma visitante estranha. Uma
moça de capuz preto que passou por nós e foi até nosso
cemitério. A partir de então, os mortos começaram a levantar do
túmulo, como você mesmo viu.
Os
aldeões pareciam apreensivos, mas nada diziam. O velho continuou:
- Mas,
a alguns dias antes de voces chegarem, ela voltou a aparecer.
Idenficou-se como uma vampira e que estava atrás de dois
caçadores: um homem de cabelos compridos e um chicote e uma
sacerdotiza. Nos disse que vocês estavam a caminho dessa cidade e
que matariam todos os zumbis e depois, iriam se separar. Quando
isso acontecesse, era para prendermos a mulher que ela viria para
pega-la e depois disso, estariamos livres dela para sempre.
- Vocês
entregaram Sônia para uma vampira? - gritou ele – depois de tudo
que fizemos por vocês?
- Estávamos sobre ameaça! Os vampiros controlam toda essa região! Somos
escravos deles a vida toda.
- Aquele
vampiros estão todos mortos! Essa garota, quem quer que seja, é a
ultima deles! Para onde ela a levou?
- Ela
nos disse onde estaria indo, até deixou um mapa de onde te
esperaria, caso quisesse ir atrás dela.
- E
porque diabos não me deram essa porra desse mapa na hora que eu
cheguei?
- Nós
não... achamos que...
- Que
não precisavam mais se meter em coisas de vampiros e que aqueles
dois caipiras de roça seria mais do que o bastante para me
silenciar?
- Bem...é...
- Me
dá o mapa.
O
caçador se aproximou do velho.
- Me
dê o mapa e eu vou embora, nunca mais vão me ver ou qualquer
vampiro.
O
velho senhor fez um gesto para uma jovem e ela lhe entregou um pedaço
de papel dobrado.
- Aqui
está, ela está esperando em uma casa marcada aqui.
Gabe
arrancou o papel das mãos dele; abriu-o e analisou: teria que pegar
o caminho de volta à Crecent e depois seguir a noroeste. Havia um
circulo vermelho na base de uma montanha.
Fechou
o mapa e voltou-se para o estábulo.
- Vou
pegar um cavalo.
Houveram
protestos, mas o líder do vilarejo mandou que todos ficassem quietos:
- Deixem
ele pegar um dos cavalos. Devemos isso a ele. Nós entregamos a
amiga dele à vampira.
Antes
de entrar e escolher um dos cavalos, Gabriel esfregou a mão nas
roupas de um dos homens que estava com uma enxada na mão.
- Ei!
Que isso? O que você limpou em mim?
O
caçador foi até a porta. Parou, olhou para trás e respondeu:
- Minha
fé na humanidade.
Respondeu
secamente.
Chutou
as portas e segundos depois, saiu galopando rapidamente, deixando
aquele vilarejo maldito para trás.
Montanha
Baljhet... já ouvira falar mas nunca teve motivos para ir até lá.
O caminho não era difícil, mas o lugar não era exatamente perto.
Forçou o velho cavalo de tração que encontrou, o máximo que
pôde. Sua mente estava muito confusa; não parava de pensar em
Sônia, e em quem poderia tê-la capturado. As palavras do Conde
ainda ecoavam em sua cabeça: “ havia mais alguém”. Sabia que era
uma garota vampira... Seria alguma sobrevivente do ataque insano de
Laura aos vampiros de Olney? Mas se fosse o caso, porque pegaria
Sônia?
Não
parou a viagem nem para comer; devorou as rações ainda cavalgando,
porém, pobre animal estava no limite da sua força. Não era culpa
dele; os seres humanos são fracos e como todos os seres fracos, agem
por medo. Uma pessoa normal teria enlouquecido... Laura jogou com ele
a vida toda porque queria ser morta por suas mãos. E o conde... ele
estava envolvido nisso, mas também estava sendo manipulado. Quem
quer que espera naquela montanha, é a peça solta que resolve tudo.
Ao
entardecer, Gabriel foi obrigado a soltar o cavalo, que estava para
morrer, não tinha opção se não seguir a pé. Implorava
mentalmente o tempo todo para que sua parceira estivesse bem... O
pesar em seu peito era muito grande; suas ultimas palavras para ela
foram agressivas. Partiu sentindo raiva dela.
- Só
mais dessa vez, aguente por favor...
***
O
sol se escondia ao longe, quando chegou até o pé da montanha
Baljhet. Como imaginava, havia um casarão lá. Sem medo, correu até
ele, derrubando a porta com o pé.
O
interior era ricamente decorado, como todo lorde vampiro gosta;
cortinas grossas nas janelas, carpete ao chão, quadros lindos e caros
pelas paredes... e uma escadaria para o andar de cima.
- Oh
Gabriel... - chamou uma voz feminina, do andar de cima – Gabriel,
finalmente chegou! Aqueles caipiras tentaram ocultar o mapa de você
por muito tempo?
A
voz dela ecoava bem alto, como se estivesse na sala.
- Suba
as escadas. Sua amiga está aqui!
Subiu.
Lógico
que ele esperava por uma armadilha, mas ele estava preparado; seus
reflexos estavam a mil e nada o surpreenderia.
Logo
que chegou ao topo da escada, um homem veio pelo corredor e lhe
atacou com um machado. Gabe jogou o corpo para trás e o ataque
acertou o corrimão da escada, deixando o machado preso.
O
homem em questão era negro e tinha quase 2 metros de altura. Corpo
sólido de músculo.
O
caçador aproveitou a deixa para acertar um soco no rosto do sujeito,
mas ele não parecia ter sentido muito. Com muita força, ele
arrancou o machado que estava preso e o brandiu com violência.
Gabriel evitou o ataque abaixando-se. Porém, desta vez o homem
desferiu uma joelhada nele, acertou-o no queixo. O impacto jogou Gabe
para trás; ele caiu no chão e rolou.
Sentiu
os dentes baterem com força, enchendo a boca com gosto de sangue.
Mal tinha se recuperado da pancada e se viu sendo obrigado a rolar
mais uma vez: estava deitado no chão e o gigante estava tentando
parti-lo ao meio com o machado. Rolou para esquivar, levantando-se
habilmente com uma cambalhota. Tão logo ficou de pé, sacou o
chicote e acertou o rosto do sujeito, com um movimento de arco.
O
talho aberto no rosto dele o fez gritar de dor. Aproveitando o
balanço do chicote, Gabriel girou o corpo todo, num salto de 360
graus, acertando o mesmo lado do rosto, mas desta vez com uma força
muito maior. O estalo foi alto e o grito do gigante, ainda maior. Seu
sangue tingiu a parede branca atrás dele.
Aproveitou-se
do atordoamento causado pelo chicote para arrancar-lhe o machado das
mãos e antes que pudesse reagir, acertou-o no peito com a arma. O
machado cravou nas costelas do negro. Ele soltou um ultimo gemido de
dor, antes de cair morto.
Havia
uma porta à sua frente. Estava entreaberta.
- Bravo!
Bravo Gabriel!
Aquela
voz, vinha daquela porta. Empurrou-a com a mão esquerda...
Era
uma sala de jantar. Os pratos estavam postos, mas comida alguma
estava servida. Na ultima cadeira, da ponta oposta a ele, estava uma
moça: Estava vestida com vestido branco e preto, com babados, estilo gótico. Seus cabelos eram ruivos e curtos e os olhos, verdes e
penetrantes.
- Lembra
de mim, Gabriel?
Ele
arregalou os olhos. Não queria acreditar no que estava vendo, era...
- Glória!?
- Sim!
Sou eu! Quem diria hein? Sou uma vampira agora!
- Mas...
- Porque?
É isso que quer saber? Vingança!
A
garota atirou a taça de sangue que tinha nas mãos, estilhaçando
ela na parede.
- Vingança
porque?
- Ainda
pergunta? Você me humilhou, me rejeitou! Eu lhe ofereci amor
sincero, uma vida boa, e o que você fez? Dispensou tudo! Me chamou
de criança e se juntou com aquelazinha... Sônia Renard!
- Cadê
a Sônia?
- Aquela
sem graça? Bem ali.
Glória
apontou para um canto. Lá estava Sônia. Algemada na parede. Suas
roupas estavam rasgadas, haviam machucado em seu rosto e sangue em
suas pernas.
- Sônia!
- gritou – O que fez com ela?
Glória
riu.
- Ela
é tão chaaata! Não gritou em momento algum, nem quando meu
guarda-costas... aquele morto ali fora... a estuprou.
Sentiu
como se uma faca tivesse rasgado suas entranhas. Seu queixo caiu.
Lágrimas vieram aos seus olhos.
- Acho
que aquela coisa de castidade já era não é? - riu mais uma vez,
com a mão na boca.
O
caçador baixou a cabeça. As lágrimas lhe escorriam pelo rosto.
- Essa
garota irritante... não gritou, não implorou.. isso me deu muita
raiva. Olhe para ela! - gritou, ficando de pé. - Isso é culpa sua
Gabriel! Você e essa sua sede de vingança! Você fez isso a ela!
Deu
a volta na mesa, indo para mais perto dele.
- Não
vai dizer nada? Você está tão destruído assim? Juro que pensei
que iria gritar e chorar... vocês dois, hunf! São dois chatos!
Mas quer saber de algo realmente legal? - ela riu como uma
criancinha – Sônia é a minha primeira cria... não é demais?
Rangeu
os dentes. Não sentia vida na sua parceira. Pelo contrário, ela
emanava o cheiro de túmulo que todo vampiro tinha.
Violaram
seu corpo e a transformaram em vampira. Glória tirou tudo dela, sua
vida e sua castidade...a raiva explodia nele, mas continuava sem
ação. Sentia-se destruído.
- Oh
Gabriel... e agora meu amado? Você mata vampiros não é? Sônia é
uma! E ai campeão da justiça? Vai mata-la tambem? Vai matar a nós
duas? Eu e Laura manipulamos tudo, desde o inicio, quando eu a
conheci num baile. Eu estava bebada e contei a ela de você e então
ela propós um jogo, onde no final, a Sônia seria minha e você
seria dela...mas a idiota se deixou matar...mas pelo menos ela me
deu a vida eterna, como prometido.
- Porque...
porque a Sônia? Seu problema era comigo.
- Hun.
Porque ela era sua querida parceira. Eu queria fazer dela o seu
maior inimigo, e te forçar a mata-la. Você está com raiva não
está? Vai me atacar agora e vai matar a nós duas não vai? Pois
saiba que eu sei tu...
Um
golpe rápido e brutal do chicote acertou o pescoço da vampira,
enquanto ela falava e se gabava. Surpresa, ela não conseguiu reagir
quando o caçador a puxou com força, fazendo-a voar até ele. Com
toda fúria e brutalidade que seu ser conhecia, Gabriel acertou um
soco no estomago da pequena vampira, com a cruz de prata em punho.
Num
segundo ela estava se gabando do quão forte era como vampira e no
segundo seguinte, estava debruçada sobre ele, com uma cruz enterrada
no dentro de seu corpo.
O
rombo na barriga fazia Glória sangrava todo o sangue que tinha
sugado de Sônia. O choque havia paralisado seu corpo. Ela gemeu,
olhando para ele, surpresa.
- Ga..briel...?
Ele
abriu os olhos lentamente, olhou-a nos olhos:
- CRUX
DIVINA!
Assim
como Sônia tinha feito contra Vladimir, Gabriel invocou a crux
divina. Uma explosão de luz branca cobriu toda sala, explosão esta
que se originou dentro do corpo de Glória.
Quando
o clarão passou, a pequena lady vampira estava caída a 3 metros
dele. Todo seu corpo estava queimado e suas entranhas expostas, com o
rombo em sua barriga. Ela gemia alto, sentindo uma dor indescritível.
- Eu
não... deveria estar sentindo tanta dor... eu sou uma lady
vampira!
Gabe
aproximou-se dela, a passos lentos, olhando-a.
- Gabriel!
Estou com medo! Por favor... me perdoe.
Ele
mexeu no bolso e tirou uma moeda de cobre. Colocou a moeda na boca
dela.
- Entregue
isso ao barqueiro, no mundo dos mortos. Adeus.
Ela
arregalou os olhos, implorando por perdão. A porta da adaga que saía
do cabo da cruz perfurou seu coração podre.
Glória
era só um montinho de cinzas no chão.
Fechou
os olhos e respirou fundo. Ainda não era hora de descansar. Ainda
havia mais um vampiro.
- Gabriel...
A
sacerdotisa o chamou, sua voz estava trêmula e carregada de dor.
Ele
foi até ela, cheio de pesar no coração.
- Ah
Sônia... o que fizeram com você?
Soltou-a
das correntes. Não havia mais vida em seu corpo. Não bastando isso,
seu corpo tinha sido violado. Tudo isso por causa dele, para
atingi-lo. Tudo isso porque ele se recusou a se casar com uma maluca,
a alguns anos atrás.
- Me
pegaram desta vez, parceiro. - respondeu ela, tentando ficar de pé.
- E
agora? - perguntou ele, escorando o corpo dela ao seu. - o que
acontece agora?
- Você
sabe o que acontece agora Gabe.
- Não!
Isso não! Não me peça isso!
- Olhe
pra mim! Olha o que sobrou de mim! Eu não posso mais viver. Me
tiraram tudo. Tudo, menos você.
Tocou
carinhosamente o rosto do amigo.
- Não
me negue isso – continuou ela – não permita que eu viva dessa
forma.
Secou
as lágrimas que lhe escorriam e concordou com a cabeça. Ela era uma
vampira,a ultima vampira da região, e precisava ser destruída.
- Me
leve para fora. Quero ser morta pelo sol, pelas mãos e Deus. Por
favor.
Sem
muitas opções, ele a levou para fora. Ainda era noite. Teriam que
esperar o amanhecer.
Sônia
ajoelhou-se para orar e ele ficou ao lado dela, sem dizer uma
palavra.
A
tantas da manhã, depois de terminar suas orações, a sacerdotisa
olhou para eu amigo e sorriu:
- Você
conseguiu usar a Crux divina. Fiquei impressionada. Eu levei muito
tempo para conseguir usa-la.
- Aprendi
com a melhor.
Os
dois riram. O sol, ameaçava nascer. Sônia sentiu seus últimos
momentos.
- Gabriel.
Antes de te conhecer, eu não temia nada. Eu vivia para servir a
Deus e estava pronta para morrer por meu dever. Todo dia podia ser
meu ultimo, e eu aceitava isso numa boa. Mas desde que fui escalada
para ser sua parceira, eu passei a ter medo de tudo. Eu temia a
perda, temia a morte.. Percebi que meu maior temor na verdade, era
de me apegar. Você me trouxe uma dor que eu nunca quis. Uma dor
que eu nunca pedi. Uma dor que aumentava a cada dia que eu passava
com você. Sou muito grata por tudo que passamos juntos...obrigada
Gabriel. Eu amo você.
Os
raios de sol tocaram a pele alva dela.
Fechou
os olhos e deixou que Deus a levasse. O sol a queimou gentilmente,
transformando-a numa estátua de cinzas. Uma estátua que ainda
sorria.
Ele
não conseguia conter suas lágrimas. Tocou a amiga no rosto pela
ultima vez, fazendo-a se desmanchar completamente...
O
dia estava começando. Pegou a cruz, levantou-se, respirou fundo e se
pós a caminhar. De volta para casa. Missão cumprida.
Na
estrada, ele viu um homem de capuz negro, sorrindo para ele. Brincava
com uma moeda de cobre entre os dedos finos esqueléticos...
***
Dias
depois, ele estava na catedral de Roma. Reportou à seus superiores o
sucesso da missão. Os padres fizeram uma missa pela alma da
sacerdotisa morta.
Os
dias e as noites voavam. Nada mais tinha sentido para ele. Estava sem
ela pela primeira vez em muito tempo. Quase não saia do quarto.
Quase não comia.
Até
que, uma noite...
Deitado
em sua cama, olhando para o teto, levou um susto quando um vento
repentino soprou, escancarando a janela. Um som, como se fosse um
suspiro soou pelo quarto. O vidro da janela ficou embaçado.
Levantou-se,
olhando para a janela.
Uma
mensagem começou a se escrever sozinha no vidro embaçado, como se
dedinhos invisíveis estivessem escrevendo:
JUNTOS
PARA
SEMPRE
S.R.
Um
sorriso lhe veio aos lábios, seguido por uma gargalhada. Sentia
claramente a presença dela.
- Senti
sua falta.
Mais
uma vez, ele ouviu aquele suspiro. Era o jeito dela de se comunicar.
***
Do
lado de fora da catedral, um homem de vestes pretas atirava uma moeda
de cobre para cima com os dedos. Ele sorriu, deu as costas e foi-se
embora, sumindo nas sombras.
FIM.