terça-feira, 29 de outubro de 2013

Melinda Brugguer Episodio 2: Dia das bruxas





– Droga! – Melinda resmungou quando deixou sem querer o espelho cair.
– Sete anos de azar, minha querida. – Nicolas riu, afastando o cabelo dela beijando seu pescoço.
– Você realmente acredita nessa bobagem? – ela o encarou.
Nicolas riu.
– Sei que eu acredito que você fica linda vestindo a minha camisa. Ainda mais depois da noite maravilhosa que tivemos juntos.
O telefone de Melinda começou a tocar. Ela caminhou na direção da bolsa para pegá-lo.
 – Ah não! – Nicolas resmungou a puxando de volta para cama. – Não vou deixar você ir a lugar algum hoje.
Melinda se desvencilhou dos braços dele e foi atender ao telefone.  Nicolas bufou, sabia que mantê-la ali era mais difícil do que prender um serial killer.
– Ok, eu estou indo. – disse ao desligar o telefone e se voltar para Nicolas. – Onde estão as minhas roupas?
Melinda se vestiu e caminhou para a garagem. Nicolas saiu praticamente correndo atrás dela.
– Ainda me pergunto por que eu te dei o controle do portão se isso sempre faz com que você vá embora desse jeito.
– Temos que trabalhar, Nicolas. – ela disse séria, ao entrar no carro.
– Eu sempre me vestia de espantalho quando era criança. – murmurou Nicolas, enquanto passavam por uma rua onde as crianças fantasiadas se reuniam.
–Sempre achei o dia das bruxas uma grande perda de tempo. – resmungou Melinda.
– Não acredito que você possa ter sido tão cética toda a sua vida.
– Sempre acreditei nos fatos, na ciência. O misticismo para mim não passa de viagens sem fundamento algum.
Nicolas se calou. Se havia uma pessoa com a qual não valia à pena discutir essa era Melinda.
Melinda parou o carro em frente a um cemitério. Nicolas olhou aquilo como um grande piada, ótimo lugar para uma cena de crime.
Os policiais estavam em tono de uma área onde havia um corpo mutilado  em cima de um circulo com uma estranha estrela de oito pontas. Um arrepio percorreu o corpo da ruiva. Não podia negar que aquela era uma cena horripilante e essa palavra estava fazendo parte de muitos de seus casos ultimamente.
– Isso está com cara de magia negra.  – sussurrou Nicolas ao se abaixar perto do corpo.
– Acho que essa história de dia das bruxas está começando a afetar o seu cérebro. – disse Melinda com um ar de deboche.
– Eu morro de medo dessas coisas. – murmurou um dos policias para o colega ao lado.
– Você realmente não está levando o isso a sério, não é? – Melinda se voltou para a policial.
– Minha avó costumava contar para mim que hoje é o dia em que o véu entre esse mundo e o espiritual está mais fino e as bruxas se reúnem para fazer festas e rituais. – os olhos do policial estavam distantes e assustados.
Melinda segurou o riso.
– Querido, vou lhe contar uma coisa fantasmas, bruxas, duendes, fadas, ou qualquer criatura que a mente fértil dessa entidade chamada povo tenha inventado, não existe. – ela se voltou para o corpo. – Seja lá quem matou essa aqui é só mais um maluco querendo aparecer.
Nicolas esperou a pericia terminar as fotos e embalou o corpo para levar ao necrotério.  Enquanto isso a detetive foi atrás do coveiro que havia encontrado o cadáver.
O homem estava sentado em uma pequena sala no fundo do cemitério. Parecia perdido e assustado. Quando viu a detetive ficou boquiaberto.
– O...oi – gaguejou
– Olá, Sou Melinda. Gostaria de fazer algumas perguntas. O senhor por acaso viu alguém antes de encontrar o corpo ou conhece quem tenha costume de vir aqui?
– Olha dona, se eu fosse você ficaria longe disso. A senhora é muito bonita e mexer com as bruxas não é bom não. – ele se calou paralisando de choque. – Há algumas até boas, mas as que fazem coisas como essa são muito más.
Será que há alguém normal nesse lugar? Melinda pensou com ela.
– Realmente preciso saber se viu alguém.
– Já disse, dona, é coisa das bruxas. Não mexe com isso não.
– Obrigada. – ela bufou. Essa historia de bruxas já estava começando a tirá-la do sério. Será que não percebiam o quão ridículo era aquilo tudo? – Tentem tirar alguma coisa do coveiro maluco. Vou ver se Nicolas conseguiu alguma coisa no necrotério. – disse ao passar pelos policias.
– Podemos ir embora agora? – perguntou um dos policiais, extremamente assustado.
– Medrosos. – sussurrou Melinda ao entrar no carro.
Nicolas estava examinando o corpo quando ela se aproximou.
– Encontrou alguma coisa?
– As mutilações foram feitas com alguma coisa que se assemelharia a uma adaga. – disse apontando para os cortes na pele da vítima.
– Vulgo faca de cozinha. – resmungou.
Melinda se afastou para atender ao telefone.
– Alo, Sara?
– Tiramos algumas fotos do local, estou as enviando para o seu celular. – a voz da perita tremeu um pouco. – Acho que estou começando a achar que isso foi mesmo um ritual de magia negra...
– Não, Sara, não acredito que você está dando ouvido a esses malucos. – Melinda a interrompeu.
– Sério, encontramos sangue que provavelmente é da garota em tigelas de barro, além de outros animais degolados.
– Já disse que é só mais um maluco.
– Que seja. Já enviei as fotos. E mais uma coisa, o coveiro disse que as mulheres que costumam ir ao cemitério moram em uma vila a um quilometro. Talvez possa encontrar alguma coisa por lá. – disse antes de desligar o telefone.
– Acho que encontrei alguma coisa. – disse Nicolas chamando a atenção de Melinda. – Há vestígios de pele sob as unhas da vítima. Acho que com isso pode encontrar o DNA de um possível supeito no banco de dados.
A ruiva ligou o computador e passou alguns minutos concentrada nele...
– Não há sinas de abuso sexual, mas hematomas pelo corpo que indicam uma possível luta. – Nicolas dizia enquanto Melinda estava concentrada no computador.
– Encontrei a nossa vítima! – exclamou Melinda. – Valquíria Suez, mora com os avós , e se meteu em uma briga na universidade o que justifica a ficha dela na policia, mas fora isso a garota é limpa. O DNA pertence à Rute Yuker, ela já foi presa por duas acusações de homicídio e está na condicional.
– Pelo visto já temos nossa culpada e vamos poder voltar para a minha cama. – sussurrou Nicolas acariciando a coxa dela.
– Espero que sim, porque esse clima de dia das bruxas já está me dando nos nervos. – resmungou ela.
– Acho melhor chamar mais reforço policial dessa vez. – sugeriu Nicolas ao segui-la. – Não sabemos o que vamos encontrar lá.
Melinda olhou para ele com cara fechada.
– Se for para me atrapalhar é melhor nem ir.
– Não vou te deixar sozinha. – ele disse ao fechar a porta do carro.
A lua cheia brilhava no céu quando eles estacionaram o carro próximo ao portão da vila. Havia duas viaturas policias com eles. Melinda achava tudo aquilo um grande exagero, iam prender apenas uma mulher, e não uma bruxa do mal poderosa.
Aproximaram-se da porta de uma velha casa, de aparência assustadora. Um arrepio varreu o corpo de Nicolas, o legista não era um homem supersticioso, mas tinha lá as suas crenças.  Um PM arrombou a porta e um gato preto saiu correndo. A sala estava à penumbra com a luz de apenas poucas velas vermelhas, num canto havia uma mulher ajoelhada, ela usava uma túnica preta e a sua frente havia um altar macabro.

 – Maluca. – Melinda sussurrou.
– Está presa por suspeita de assassinato. – anunciou um dos policiais.
– Saiam daqui. – vociferou a mulher em meio a palavras malucas.
Os policiais se assustaram.
– Prendam logo essa louca. – ordenou Melinda.
Os policiais a encararam ainda vacilantes. Mas algemaram a mulher a contra gosto. Não podiam negar que estavam amedrontados com tudo aquilo. E se aquela mulher realmente fosse uma bruxa do mal?
Rute encarou profundamente os olhos de Melinda enquanto era arrastada para a viatura policial. A detetive a ignorou, aquele olhar feio não a assustava, já havia prendido criminosos bem mais ameaçadores. Acabou por dar as costas e considerar o caso com encerrado, indo com Nicolas para o apartamento dele. Como ainda poderia existir idiotas que acreditavam nessas coisas? Bruxas? Fala sério!
***
Rute foi jogada em uma cela da delegacia e os policias se afastaram as pressas.
A mulher caída ao chão cerrou os dentes com fúria. Seus olhos se tornaram grandes  esferas negras e sobras começaram a surgir ao seu redor.



– Você vai pagar caro Melinda Brugger. – ela disse com uma voz demoníaca.

By Ashe

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