– Droga! – Melinda
resmungou quando deixou sem querer o espelho cair.
– Sete anos de azar,
minha querida. – Nicolas riu, afastando o cabelo dela beijando seu pescoço.
– Você realmente
acredita nessa bobagem? – ela o encarou.
Nicolas riu.
– Sei que eu acredito
que você fica linda vestindo a minha camisa. Ainda mais depois da noite
maravilhosa que tivemos juntos.
O telefone de Melinda
começou a tocar. Ela caminhou na direção da bolsa para pegá-lo.
– Ah não! – Nicolas resmungou a puxando de
volta para cama. – Não vou deixar você ir a lugar algum hoje.
Melinda se desvencilhou
dos braços dele e foi atender ao telefone.
Nicolas bufou, sabia que mantê-la ali era mais difícil do que prender um
serial killer.
– Ok, eu estou indo. –
disse ao desligar o telefone e se voltar para Nicolas. – Onde estão as minhas
roupas?
Melinda se vestiu e
caminhou para a garagem. Nicolas saiu praticamente correndo atrás dela.
– Ainda me pergunto por
que eu te dei o controle do portão se isso sempre faz com que você vá embora
desse jeito.
– Temos que trabalhar,
Nicolas. – ela disse séria, ao entrar no carro.
– Eu sempre me vestia de
espantalho quando era criança. – murmurou Nicolas, enquanto passavam por uma
rua onde as crianças fantasiadas se reuniam.
–Sempre achei o
dia das bruxas uma grande perda de tempo. – resmungou Melinda.
– Não acredito que você
possa ter sido tão cética toda a sua vida.
– Sempre acreditei nos
fatos, na ciência. O misticismo para mim não passa de viagens sem fundamento
algum.
Nicolas se calou. Se
havia uma pessoa com a qual não valia à pena discutir essa era Melinda.
Melinda parou o carro em
frente a um cemitério. Nicolas olhou aquilo como um grande piada, ótimo lugar
para uma cena de crime.
Os policiais estavam em
tono de uma área onde havia um corpo mutilado em cima de um circulo com
uma estranha estrela de oito pontas. Um arrepio percorreu o corpo da ruiva.
Não podia negar que aquela era uma cena horripilante e essa palavra estava
fazendo parte de muitos de seus casos ultimamente.
– Isso está com cara de
magia negra. – sussurrou Nicolas ao se
abaixar perto do corpo.
– Acho que essa história
de dia das bruxas está começando a afetar o seu cérebro. – disse Melinda com um
ar de deboche.
– Eu morro de medo dessas
coisas. – murmurou um dos policias para o colega ao lado.
– Você realmente não está
levando o isso a sério, não é? – Melinda se voltou para a policial.
– Minha avó costumava
contar para mim que hoje é o dia em que o véu entre esse mundo e o espiritual
está mais fino e as bruxas se reúnem para fazer festas e rituais. – os olhos do
policial estavam distantes e assustados.
Melinda segurou o riso.
– Querido, vou lhe
contar uma coisa fantasmas, bruxas, duendes, fadas, ou qualquer criatura que a
mente fértil dessa entidade chamada povo tenha inventado, não existe. – ela se
voltou para o corpo. – Seja lá quem matou essa aqui é só mais um maluco
querendo aparecer.
Nicolas esperou a
pericia terminar as fotos e embalou o corpo para levar ao necrotério. Enquanto isso a detetive foi atrás do coveiro
que havia encontrado o cadáver.
O homem estava sentado
em uma pequena sala no fundo do cemitério. Parecia perdido e assustado. Quando viu
a detetive ficou boquiaberto.
– O...oi – gaguejou
– Olá, Sou Melinda. Gostaria
de fazer algumas perguntas. O senhor por acaso viu alguém antes de encontrar o
corpo ou conhece quem tenha costume de vir aqui?
– Olha dona, se eu fosse
você ficaria longe disso. A senhora é muito bonita e mexer com as bruxas não é
bom não. – ele se calou paralisando de choque. – Há algumas até boas, mas as
que fazem coisas como essa são muito más.
Será que há alguém normal
nesse lugar? Melinda pensou com ela.
– Realmente preciso
saber se viu alguém.
– Já disse, dona, é
coisa das bruxas. Não mexe com isso não.
– Obrigada. – ela bufou.
Essa historia de bruxas já estava começando a tirá-la do sério. Será que não percebiam
o quão ridículo era aquilo tudo? – Tentem tirar alguma coisa do coveiro maluco.
Vou ver se Nicolas conseguiu alguma coisa no necrotério. – disse ao passar
pelos policias.
– Podemos ir embora
agora? – perguntou um dos policiais, extremamente assustado.
– Medrosos. – sussurrou Melinda
ao entrar no carro.
Nicolas estava
examinando o corpo quando ela se aproximou.
– Encontrou alguma
coisa?
– As mutilações foram
feitas com alguma coisa que se assemelharia a uma adaga. – disse apontando para
os cortes na pele da vítima.
– Vulgo faca de cozinha.
– resmungou.
Melinda se afastou para
atender ao telefone.
– Alo, Sara?
– Tiramos algumas fotos
do local, estou as enviando para o seu celular. – a voz da perita tremeu um
pouco. – Acho que estou começando a achar que isso foi mesmo um ritual de magia
negra...
– Não, Sara, não acredito
que você está dando ouvido a esses malucos. – Melinda a interrompeu.
– Sério, encontramos
sangue que provavelmente é da garota em tigelas de barro, além de outros
animais degolados.
– Já disse que é só mais
um maluco.
– Que seja. Já enviei as
fotos. E mais uma coisa, o coveiro disse que as mulheres que costumam ir ao
cemitério moram em uma vila a um quilometro. Talvez possa encontrar alguma
coisa por lá. – disse antes de desligar o telefone.
– Acho que encontrei
alguma coisa. – disse Nicolas chamando a atenção de Melinda. – Há vestígios de
pele sob as unhas da vítima. Acho que com isso pode encontrar o DNA de um possível
supeito no banco de dados.
A ruiva ligou o
computador e passou alguns minutos concentrada nele...
– Não há sinas de abuso
sexual, mas hematomas pelo corpo que indicam uma possível luta. – Nicolas dizia
enquanto Melinda estava concentrada no computador.
– Encontrei a nossa vítima!
– exclamou Melinda. – Valquíria Suez, mora com os avós , e se meteu em uma
briga na universidade o que justifica a ficha dela na policia, mas fora isso a
garota é limpa. O DNA pertence à Rute Yuker, ela já foi presa por duas acusações
de homicídio e está na condicional.
– Pelo visto já temos
nossa culpada e vamos poder voltar para a minha cama. – sussurrou Nicolas acariciando
a coxa dela.
– Espero que sim, porque
esse clima de dia das bruxas já está me dando nos nervos. – resmungou ela.
– Acho melhor chamar
mais reforço policial dessa vez. – sugeriu Nicolas ao segui-la. – Não sabemos o
que vamos encontrar lá.
Melinda olhou para ele com
cara fechada.
– Se for para me
atrapalhar é melhor nem ir.
– Não vou te deixar
sozinha. – ele disse ao fechar a porta do carro.
A lua cheia brilhava no céu
quando eles estacionaram o carro próximo ao portão da vila. Havia duas viaturas
policias com eles. Melinda achava tudo aquilo um grande exagero, iam prender apenas
uma mulher, e não uma bruxa do mal poderosa.
Aproximaram-se da porta
de uma velha casa, de aparência assustadora. Um arrepio varreu o corpo de Nicolas,
o legista não era um homem supersticioso, mas tinha lá as suas crenças. Um PM arrombou a porta e um gato preto saiu
correndo. A sala estava à penumbra com a luz de apenas poucas velas vermelhas,
num canto havia uma mulher ajoelhada, ela usava uma túnica preta e a sua frente
havia um altar macabro.
– Está presa por
suspeita de assassinato. – anunciou um dos policiais.
– Saiam daqui. –
vociferou a mulher em meio a palavras malucas.
Os policiais se assustaram.
– Prendam logo essa
louca. – ordenou Melinda.
Os policiais a encararam
ainda vacilantes. Mas algemaram a mulher a contra gosto. Não podiam negar que
estavam amedrontados com tudo aquilo. E se aquela mulher realmente fosse uma
bruxa do mal?
Rute encarou profundamente
os olhos de Melinda enquanto era arrastada para a viatura policial. A detetive
a ignorou, aquele olhar feio não a assustava, já havia prendido criminosos bem
mais ameaçadores. Acabou por dar as costas e considerar o caso com encerrado,
indo com Nicolas para o apartamento dele. Como ainda poderia existir idiotas
que acreditavam nessas coisas? Bruxas? Fala sério!
***
Rute foi jogada em uma
cela da delegacia e os policias se afastaram as pressas.
A mulher caída ao chão
cerrou os dentes com fúria. Seus olhos se tornaram grandes esferas negras e sobras começaram a surgir ao
seu redor.
– Você vai pagar caro
Melinda Brugger. – ela disse com uma voz demoníaca.
By Ashe
By Ashe
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