Eu acordei com um raio
de sol que entrava por uma fresta da parede e batia diretamente nos
meus olhos. Espreguicei e coloquei-me de pé. Precisava encontrar
seja lá quem fosse o meu protegido e já havia perdido tempo demais.
Assim que abri a porta
o morador do apartamento em frente saiu no mesmo instante. Nossos
olhares se cruzaram por um breve instante e encarei aqueles obscuros
olhos castanhos.
Era ele, não sabia
explicar por que nem mesmo como. Mas eu tinha certeza, era ele!
– O que está
olhando, garota? – Ele rosnou para mim.
–Quem é você?–
indaguei.
– Eu que te pergunto,
quem é você?– Ele me encarou.
– Isabela. Agora quem
é você?
– Pedro. – Ele
respondeu em um tom seco ao notar que eu ainda o observava. Ele era
alto, tinha o cabelo curto e intensamente preto, tinha a pele
bronzeada e deveria ter 18 ou 19 anos.
– Olha, eu tenho que
ir – Disse me dando às costas.
– Ei, espera!–
Gritei por impulso segurando o seu braço. Não acreditava que tinha
feito aquilo, tocar um humano me dava nojo.
Ouvi um chiar e comecei
a sentir um cheiro de carne queimada.
Ele puxou o braço de
volta as pressas.
– Tire suas mãos de
mim!– Ele rosnou como um bicho feroz. Seus olhos haviam mudado,
estavam totalmente negros e assustadores.
Eu me afastei por
impulso. Não era possível, um humano não reagiria assim ao toque
de um anjo. Só se... Não, não podia ser...
Ele colocou o skate de
baixo do braço e saiu andando. Comecei a andar atrás dele.
– Escuta aqui, não
sei quem você é ou o que quer, mas fica longe de mim. – Ele disse
ao se voltar para mim, seus olhos já haviam voltado ao normal.
–Aonde você vai?
–Para a escola.
– Vou com você.
Ele socou a parede ao
meu lado, fazendo com que essa se deformasse. A força dele era muito
superior a de um humano normal.
Só agora eu havia
notado ele não tinha aura. Mas aquilo não era possível!
– É surda, garota?!
Eu falei para ficar longe de mim.
– E eu disse que vou
com você.
– Você por acaso
trabalha pros tiras? Se trabalha eu estou limpo, okay? Estou longe
das drogas à um ano, tá legal. Minha condicional acabou a um mês.
Nossa, que maravilha eu
tinha que proteger o senhor encrenca. Por que não simplesmente o
deixavam morrer e poupavam o trabalho? Os humanos eram tão
inferiores ainda mais um como aquele.
– Não sou tira. –
Respondi.
– Então o que quer
comigo?
– Ir para a escola
tbm.– Disse de imediato.
Ele me encarou nem um
pouco convencido.
– Garota estranha. –
Sussurrou. – Tá bem, mas fica longe de mim.
Ele saiu andando. O
segui.
Ainda não podia
acreditar que estava ali, deveria estar no céu, com os outros anjos
da morte e não naquele lugar fétido protegendo um humano metido a
encrenqueiro.
Caminhamos alguns
minutos até um lugar com muros altos e completamente pichados e onde
adolescentes se aglomeravam perto do portão.
– Oi, Pedro–
sussurram algumas garotas para ele. Idiotas!
– Olha só quem
resolveu aparecer. – Ouvi alguém dizer atrás de nós.
Virei-me e vi um cara
mal encarado cercado por um bando. Ele parecia ter mais que vinte
anos e exibia uma cicatriz que atravessava o lado direito da sua
face.
– Imagino que já
tenha o meu dinheiro.
– Ainda não, mas...
– Pedro gaguejou.
– Como assim não tem
o meu dinheiro?! Tá me achando com cara de palhaço é?
–Não, claro que não.
Vou dar um jeito de conseguir seu dinheiro cara, mas só preciso de
mais tempo.
– Não sou relógio
para te dar tempo, sacou?– O garoto estava enfurecido. –Deem uma
lição nele!– Ordenou aos seus capangas.
Os caras avançaram na
direção de Pedro. E um deles desferiu um soco contra o rosto do meu
protegido fazendo com que esse caísse ao chão. Pedro se levantou
massageando o rosto. Seus olhos estavam completamente negros
novamente.
Entrei entre ele e os
homens que avançavam.
– Fiquem longe dele!
– Ordenei.
O líder do bando
começou a rir.
– Olha isso, Pedro
precisa de uma garota para defender ele.
Esse comentário deixou
Pedro ainda mais furioso. Ele me encarou com os olhos ainda negros.
– Eu disse para ficar
longe de mim– sua voz tinha um tom áspero assustador.
– Estou tentando
ajudar você!
– Eu não preciso da
sua ajuda!
–
Graças à coragem da sua namoradinha você tem até amanhã para me
trazer o dinheiro ou vai levar mais do que um soco. – O homem ainda
estava rindo de deboche.
Pedro me olhou pela
última vez e saiu andando. Eu o segui. Não acreditava o que estava
fazendo.
Continua...
by Ashe
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