quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Hunted hunter - capítulo 7 : Bloody Tears


Cap1
Cap2
Cap3
Cap4
Cap5
Cap6

     - Cadê ela? 
     - Eu não... sei...
Gabriel apertava o homem pelo pescoço. Em seu rosto, trazia uma expressão de ódio e frieza e em seus punhos, sangue humano.
***
Assolado por um mau pressentimento de que Sônia poderia estar em perigo, caçador voltou ao vilarejo Ravenest, logo após a morte de Laura.
Suas suspeitas estavam certas; logo que chegou, notou que as pessoas pareciam assustadas com a presença dele. Em seguida, passaram a ignora-lo, como se nunca o tivessem visto antes. Tentou conversar e fazer perguntas, mas ninguém lhe dava atenção, e o pior, não havia sinal de Sônia em parte alguma.
Irritado, ele começou a procurar por sí, quando então, dentro do estábulo achou a cruz de prata dela, caída no chão, com uma pequena mancha de sangue. Foi nesse momento, que dois valentões, dois dos mais altos e fortes moradores de Ravenest entraram, para dar um fim àquele visitante enxerido...
***
Um dos homens estava caído no chão, com os olhos roxos e alguns dentes quebrados, o outro, estava com Gabe sobre ele.Tinha uma garrafa quebrada enfiada na coxa esquerda, que jorrava sangue.
Soltou o pescoço dele, lhe dando uns segundos para recuperar o ar. A cruz de Sônia, caída no chão, lhe dava a certeza de que algo péssimo tinha acontecido, e aquele ataque a ele, justificava sua suspeita; aquelas pessoas sabiam exatamente onde ela estava, e quem a tinha levado.
Sônia Renard, 24 anos. Acompanhava Gabriel como caçadora de vampiros desde que ele iniciou sua missão sagrada. Ele nunca esperou que os dois tivessem uma vida longa e feliz, mas não esperava que seriam traídos por humanos que juraram proteger.
A fúria dele era quase incontrolável. Apesar da raiva que sentia, manteve uma postura calma. Seus olhos estavam injetado de sangue, mas sua voz soava calma. Ele iria matar aqueles dois e todos naquele vilarejo se não lhe dessem o que pedia. Sônia era sua humanidade, seu lado bom. Sem ela por perto, só sobrava rancor.
Pisou na ferida do homem, fazendo a garrafa quebrar, forçando os cacos a lhe penetrarem mais fundo na carne.

   - Eu sei que doi. Onde está a sacerdotisa?
O homem gritou de dor.
Os outros moradores do vilarejo estava reunidos do lado de fora do estábulo. Alguns com enxadas e forcados nas mãos. Quando ouviram o grito, a maioria deles estremeceu; aqueles dois eram os maiores e mais fortes deles.
    - Assassino! - gritou uma senhora, com uma pedra na mão.
Os demais se apressaram para calar a boca dela, mas ela resistiu:
   - É meu filho que lá dentro com aquele animal!
Do lado de fora estava um reboliço; alguns concordavam com ela, mas outros não queriam piorar as coisas. A discussão aumentou, alguns homens estavam pensando em entrar e ver o que estava acontecendo, mas então, sem que ninguém esperasse, a porta do estábulo abriu-se.
Gabriel a empurrou com o pé. Na mão direita trazia seu chicote, aquele que noite passada tinha estraçalhado os zumbis como se fossem papel. Na mão esquerda, a cruz de Sônia, com a adaga armada. Atrás dele, dentro do estábulo, puderam ver os dois fortões, terrivelmente espancados.
   - Eles estão vivos. - disse ele. - Mas ainda não me disseram onde está Sônia.
Apertou com firmeza a cruz na mão e os encarou.
Alguns homens avançaram uns passos, dando a entender que pretendiam ataca-lo. Gabe sorriu maldosamente quando fizeram isso e disse:
    - Antes de me atacarem em um numero tão grande, certifiquem-se que vocês tem espaço para tantos túmulos assim, naquele seu cemitério.
O sorriso demoníaco dele, somado ao sangue que estava espalhado por seu rosto, mais aquela ameaça de chacina eminente, fizeram os aldeões vacilarem.
   - Se não me disseram onde está Sônia, eu vou matar todos vocês. Vou me certificar que desta vez, Ravenest seja de fato, uma cidade cheia de mortos.
A segunda ameaça fez com quem uns sentissem raiva, mas a maioria estava visivelmente apavorada. Ele continuou:
   - Vou perguntar pela ultima vez. Onde está Sônia? 
   -  Ela foi levada daqui.
Era a voz de um homem idoso, vinda de trás do grupo que o cercava, parecia ser o líder ou chefe deles. A multidão abriu espaço para que o velho pudesse ser visto.
   - Onde está ela agora? Quem a levou? 
   - Se você puder se acalmar, eu lhe contarei tudo que sabemos, mas por favor, fique calmo.
   - Prossiga.
   - A umas semanas atrás, nossa vila recebeu uma visitante estranha. Uma moça de capuz preto que passou por nós e foi até nosso cemitério. A partir de então, os mortos começaram a levantar do túmulo, como você mesmo viu.
Os aldeões pareciam apreensivos, mas nada diziam. O velho continuou:
   - Mas, a alguns dias antes de voces chegarem, ela voltou a aparecer. Idenficou-se como uma vampira e que estava atrás de dois caçadores: um homem de cabelos compridos e um chicote e uma sacerdotiza. Nos disse que vocês estavam a caminho dessa cidade e que matariam todos os zumbis e depois, iriam se separar. Quando isso acontecesse, era para prendermos a mulher que ela viria para pega-la e depois disso, estariamos livres dela para sempre. 
   - Vocês entregaram Sônia para uma vampira? - gritou ele – depois de tudo que fizemos por vocês?
   - Estávamos sobre ameaça! Os vampiros controlam toda essa região! Somos escravos deles a vida toda.
   - Aquele vampiros estão todos mortos! Essa garota, quem quer que seja, é a ultima deles! Para onde ela a levou?
   - Ela nos disse onde estaria indo, até deixou um mapa de onde te esperaria, caso quisesse ir atrás dela.
    - E porque diabos não me deram essa porra desse mapa na hora que eu cheguei?
    - Nós não... achamos que...
    - Que não precisavam mais se meter em coisas de vampiros e que aqueles dois caipiras de roça seria mais do que o bastante para me silenciar?
    - Bem...é...
    - Me dá o mapa.
O caçador se aproximou do velho.

   - Me dê o mapa e eu vou embora, nunca mais vão me ver ou qualquer vampiro.
O velho senhor fez um gesto para uma jovem e ela lhe entregou um pedaço de papel dobrado.
   - Aqui está, ela está esperando em uma casa marcada aqui.
Gabe arrancou o papel das mãos dele; abriu-o e analisou: teria que pegar o caminho de volta à Crecent e depois seguir a noroeste. Havia um circulo vermelho na base de uma montanha.
Fechou o mapa e voltou-se para o estábulo.
   - Vou pegar um cavalo.
Houveram protestos, mas o líder do vilarejo mandou que todos ficassem quietos:
   - Deixem ele pegar um dos cavalos. Devemos isso a ele. Nós entregamos a amiga dele à vampira.
Antes de entrar e escolher um dos cavalos, Gabriel esfregou a mão nas roupas de um dos homens que estava com uma enxada na mão.
   - Ei! Que isso? O que você limpou em mim?
O caçador foi até a porta. Parou, olhou para trás e respondeu:
   - Minha fé na humanidade.
Respondeu secamente.
Chutou as portas e segundos depois, saiu galopando rapidamente, deixando aquele vilarejo maldito para trás.
Montanha Baljhet... já ouvira falar mas nunca teve motivos para ir até lá. O caminho não era difícil, mas o lugar não era exatamente perto. Forçou o velho cavalo de tração que encontrou, o máximo que pôde. Sua mente estava muito confusa; não parava de pensar em Sônia, e em quem poderia tê-la capturado. As palavras do Conde ainda ecoavam em sua cabeça: “ havia mais alguém”. Sabia que era uma garota vampira... Seria alguma sobrevivente do ataque insano de Laura aos vampiros de Olney? Mas se fosse o caso, porque pegaria Sônia?
Não parou a viagem nem para comer; devorou as rações ainda cavalgando, porém, pobre animal estava no limite da sua força. Não era culpa dele; os seres humanos são fracos e como todos os seres fracos, agem por medo. Uma pessoa normal teria enlouquecido... Laura jogou com ele a vida toda porque queria ser morta por suas mãos. E o conde... ele estava envolvido nisso, mas também estava sendo manipulado. Quem quer que espera naquela montanha, é a peça solta que resolve tudo.
Ao entardecer, Gabriel foi obrigado a soltar o cavalo, que estava para morrer, não tinha opção se não seguir a pé. Implorava mentalmente o tempo todo para que sua parceira estivesse bem... O pesar em seu peito era muito grande; suas ultimas palavras para ela foram agressivas. Partiu sentindo raiva dela.
   - Só mais dessa vez, aguente por favor...

***

O sol se escondia ao longe, quando chegou até o pé da montanha Baljhet. Como imaginava, havia um casarão lá. Sem medo, correu até ele, derrubando a porta com o pé.
O interior era ricamente decorado, como todo lorde vampiro gosta; cortinas grossas nas janelas, carpete ao chão, quadros lindos e caros pelas paredes... e uma escadaria para o andar de cima.
   - Oh Gabriel... - chamou uma voz feminina, do andar de cima – Gabriel, finalmente chegou! Aqueles caipiras tentaram ocultar o mapa de você por muito tempo?
A voz dela ecoava bem alto, como se estivesse na sala.
   - Suba as escadas. Sua amiga está aqui!
Subiu.
Lógico que ele esperava por uma armadilha, mas ele estava preparado; seus reflexos estavam a mil e nada o surpreenderia.
Logo que chegou ao topo da escada, um homem veio pelo corredor e lhe atacou com um machado. Gabe jogou o corpo para trás e o ataque acertou o corrimão da escada, deixando o machado preso.
O homem em questão era negro e tinha quase 2 metros de altura. Corpo sólido de músculo.
O caçador aproveitou a deixa para acertar um soco no rosto do sujeito, mas ele não parecia ter sentido muito. Com muita força, ele arrancou o machado que estava preso e o brandiu com violência. Gabriel evitou o ataque abaixando-se. Porém, desta vez o homem desferiu uma joelhada nele, acertou-o no queixo. O impacto jogou Gabe para trás; ele caiu no chão e rolou.
Sentiu os dentes baterem com força, enchendo a boca com gosto de sangue. Mal tinha se recuperado da pancada e se viu sendo obrigado a rolar mais uma vez: estava deitado no chão e o gigante estava tentando parti-lo ao meio com o machado. Rolou para esquivar, levantando-se habilmente com uma cambalhota. Tão logo ficou de pé, sacou o chicote e acertou o rosto do sujeito, com um movimento de arco.
O talho aberto no rosto dele o fez gritar de dor. Aproveitando o balanço do chicote, Gabriel girou o corpo todo, num salto de 360 graus, acertando o mesmo lado do rosto, mas desta vez com uma força muito maior. O estalo foi alto e o grito do gigante, ainda maior. Seu sangue tingiu a parede branca atrás dele.
Aproveitou-se do atordoamento causado pelo chicote para arrancar-lhe o machado das mãos e antes que pudesse reagir, acertou-o no peito com a arma. O machado cravou nas costelas do negro. Ele soltou um ultimo gemido de dor, antes de cair morto.
Havia uma porta à sua frente. Estava entreaberta.
   - Bravo! Bravo Gabriel!
Aquela voz, vinha daquela porta. Empurrou-a com a mão esquerda...
Era uma sala de jantar. Os pratos estavam postos, mas comida alguma estava servida. Na ultima cadeira, da ponta oposta a ele, estava uma moça: Estava vestida com vestido branco e preto, com babados, estilo gótico. Seus cabelos eram ruivos e curtos e os olhos, verdes e penetrantes.

   - Lembra de mim, Gabriel?
Ele arregalou os olhos. Não queria acreditar no que estava vendo, era...
   - Glória!? 
   - Sim! Sou eu! Quem diria hein? Sou uma vampira agora!
   - Mas...
   - Porque? É isso que quer saber? Vingança!
A garota atirou a taça de sangue que tinha nas mãos, estilhaçando ela na parede.
   - Vingança porque? 
   - Ainda pergunta? Você me humilhou, me rejeitou! Eu lhe ofereci amor sincero, uma vida boa, e o que você fez? Dispensou tudo! Me chamou de criança e se juntou com aquelazinha... Sônia Renard!
   - Cadê a Sônia?
   - Aquela sem graça? Bem ali.
Glória apontou para um canto. Lá estava Sônia. Algemada na parede. Suas roupas estavam rasgadas, haviam machucado em seu rosto e sangue em suas pernas.
    - Sônia! - gritou – O que fez com ela?
Glória riu.
    - Ela é tão chaaata! Não gritou em momento algum, nem quando meu guarda-costas... aquele morto ali fora... a estuprou.
Sentiu como se uma faca tivesse rasgado suas entranhas. Seu queixo caiu. Lágrimas vieram aos seus olhos.
   - Acho que aquela coisa de castidade já era não é? - riu mais uma vez, com a mão na boca.
O caçador baixou a cabeça. As lágrimas lhe escorriam pelo rosto.
   - Essa garota irritante... não gritou, não implorou.. isso me deu muita raiva. Olhe para ela! - gritou, ficando de pé. - Isso é culpa sua Gabriel! Você e essa sua sede de vingança! Você fez isso a ela!
Deu a volta na mesa, indo para mais perto dele.
   - Não vai dizer nada? Você está tão destruído assim? Juro que pensei que iria gritar e chorar... vocês dois, hunf! São dois chatos! Mas quer saber de algo realmente legal? - ela riu como uma criancinha – Sônia é a minha primeira cria... não é demais?
Rangeu os dentes. Não sentia vida na sua parceira. Pelo contrário, ela emanava o cheiro de túmulo que todo vampiro tinha.
Violaram seu corpo e a transformaram em vampira. Glória tirou tudo dela, sua vida e sua castidade...a raiva explodia nele, mas continuava sem ação. Sentia-se destruído.
   - Oh Gabriel... e agora meu amado? Você mata vampiros não é? Sônia é uma! E ai campeão da justiça? Vai mata-la tambem? Vai matar a nós duas? Eu e Laura manipulamos tudo, desde o inicio, quando eu a conheci num baile. Eu estava bebada e contei a ela de você e então ela propós um jogo, onde no final, a Sônia seria minha e você seria dela...mas a idiota se deixou matar...mas pelo menos ela me deu a vida eterna, como prometido. 
   - Porque... porque a Sônia? Seu problema era comigo.
   - Hun. Porque ela era sua querida parceira. Eu queria fazer dela o seu maior inimigo, e te forçar a mata-la. Você está com raiva não está? Vai me atacar agora e vai matar a nós duas não vai? Pois saiba que eu sei tu...

Um golpe rápido e brutal do chicote acertou o pescoço da vampira, enquanto ela falava e se gabava. Surpresa, ela não conseguiu reagir quando o caçador a puxou com força, fazendo-a voar até ele. Com toda fúria e brutalidade que seu ser conhecia, Gabriel acertou um soco no estomago da pequena vampira, com a cruz de prata em punho.
Num segundo ela estava se gabando do quão forte era como vampira e no segundo seguinte, estava debruçada sobre ele, com uma cruz enterrada no dentro de seu corpo.
O rombo na barriga fazia Glória sangrava todo o sangue que tinha sugado de Sônia. O choque havia paralisado seu corpo. Ela gemeu, olhando para ele, surpresa.
   - Ga..briel...?
Ele abriu os olhos lentamente, olhou-a nos olhos:
   - CRUX DIVINA!
Assim como Sônia tinha feito contra Vladimir, Gabriel invocou a crux divina. Uma explosão de luz branca cobriu toda sala, explosão esta que se originou dentro do corpo de Glória.
Quando o clarão passou, a pequena lady vampira estava caída a 3 metros dele. Todo seu corpo estava queimado e suas entranhas expostas, com o rombo em sua barriga. Ela gemia alto, sentindo uma dor indescritível.
   - Eu não... deveria estar sentindo tanta dor... eu sou uma lady vampira!
Gabe aproximou-se dela, a passos lentos, olhando-a.
    - Gabriel! Estou com medo! Por favor... me perdoe.
Ele mexeu no bolso e tirou uma moeda de cobre. Colocou a moeda na boca dela.
   - Entregue isso ao barqueiro, no mundo dos mortos. Adeus.
Ela arregalou os olhos, implorando por perdão. A porta da adaga que saía do cabo da cruz perfurou seu coração podre.
Glória era só um montinho de cinzas no chão.
Fechou os olhos e respirou fundo. Ainda não era hora de descansar. Ainda havia mais um vampiro.
   - Gabriel...
A sacerdotisa o chamou, sua voz estava trêmula e carregada de dor.
Ele foi até ela, cheio de pesar no coração.
   - Ah Sônia... o que fizeram com você?
Soltou-a das correntes. Não havia mais vida em seu corpo. Não bastando isso, seu corpo tinha sido violado. Tudo isso por causa dele, para atingi-lo. Tudo isso porque ele se recusou a se casar com uma maluca, a alguns anos atrás.
   - Me pegaram desta vez, parceiro. - respondeu ela, tentando ficar de pé. 
   - E agora? - perguntou ele, escorando o corpo dela ao seu. - o que acontece agora?
   - Você sabe o que acontece agora Gabe.
   - Não! Isso não! Não me peça isso!
   - Olhe pra mim! Olha o que sobrou de mim! Eu não posso mais viver. Me tiraram tudo. Tudo, menos você.
Tocou carinhosamente o rosto do amigo.
   - Não me negue isso – continuou ela – não permita que eu viva dessa forma.
Secou as lágrimas que lhe escorriam e concordou com a cabeça. Ela era uma vampira,a ultima vampira da região, e precisava ser destruída.
   - Me leve para fora. Quero ser morta pelo sol, pelas mãos e Deus. Por favor.
Sem muitas opções, ele a levou para fora. Ainda era noite. Teriam que esperar o amanhecer.
Sônia ajoelhou-se para orar e ele ficou ao lado dela, sem dizer uma palavra.
A tantas da manhã, depois de terminar suas orações, a sacerdotisa olhou para eu amigo e sorriu:
   - Você conseguiu usar a Crux divina. Fiquei impressionada. Eu levei muito tempo para conseguir usa-la. 
   - Aprendi com a melhor.
Os dois riram. O sol, ameaçava nascer. Sônia sentiu seus últimos momentos.
   - Gabriel. Antes de te conhecer, eu não temia nada. Eu vivia para servir a Deus e estava pronta para morrer por meu dever. Todo dia podia ser meu ultimo, e eu aceitava isso numa boa. Mas desde que fui escalada para ser sua parceira, eu passei a ter medo de tudo. Eu temia a perda, temia a morte.. Percebi que meu maior temor na verdade, era de me apegar. Você me trouxe uma dor que eu nunca quis. Uma dor que eu nunca pedi. Uma dor que aumentava a cada dia que eu passava com você. Sou muito grata por tudo que passamos juntos...obrigada Gabriel. Eu amo você.
Os raios de sol tocaram a pele alva dela.
Fechou os olhos e deixou que Deus a levasse. O sol a queimou gentilmente, transformando-a numa estátua de cinzas. Uma estátua que ainda sorria.
Ele não conseguia conter suas lágrimas. Tocou a amiga no rosto pela ultima vez, fazendo-a se desmanchar completamente...
O dia estava começando. Pegou a cruz, levantou-se, respirou fundo e se pós a caminhar. De volta para casa. Missão cumprida.
Na estrada, ele viu um homem de capuz negro, sorrindo para ele. Brincava com uma moeda de cobre entre os dedos finos esqueléticos...
***
Dias depois, ele estava na catedral de Roma. Reportou à seus superiores o sucesso da missão. Os padres fizeram uma missa pela alma da sacerdotisa morta.
Os dias e as noites voavam. Nada mais tinha sentido para ele. Estava sem ela pela primeira vez em muito tempo. Quase não saia do quarto. Quase não comia.
Até que, uma noite...
Deitado em sua cama, olhando para o teto, levou um susto quando um vento repentino soprou, escancarando a janela. Um som, como se fosse um suspiro soou pelo quarto. O vidro da janela ficou embaçado.
Levantou-se, olhando para a janela.
Uma mensagem começou a se escrever sozinha no vidro embaçado, como se dedinhos invisíveis estivessem escrevendo:

JUNTOS
PARA
SEMPRE
S.R.

Um sorriso lhe veio aos lábios, seguido por uma gargalhada. Sentia claramente a presença dela.
   - Senti sua falta.
Mais uma vez, ele ouviu aquele suspiro. Era o jeito dela de se comunicar.

***

Do lado de fora da catedral, um homem de vestes pretas atirava uma moeda de cobre para cima com os dedos. Ele sorriu, deu as costas e foi-se embora, sumindo nas sombras.


FIM.

1 comentários:

the.scar disse...

Sensacional! Final totalmente diferente do que eu esperava. Fantástico, visceral e tocante!