quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mais além


O que era aquilo? Onde eu estava? Mas o que...
Um clarão passou por meus olhos. A cabeça doeu. A mão foi à testa.
Sinto-me tonta como se o mundo estivesse girando ao meu redor.
Parei. Esfreguei os olhos e tentei focar algo a minha volta. Muito cedo ainda, a visão era fosca e muito luminosa. Pisquei diversas vezes. Mantive os olhos abertos até captar as imagens ao meu redor.
Estava na rua, disso eu sabia. Havia uma chuva fina que encharcava o meu corpo e grudavam as minhas roupas. Não me lembrava de tê-las vestido. Olhei para baixo e percebi que não usava nada mais do que uma camisola. Estava descalça.
Demorei a notar o lugar onde estava. Levei um susto.
Mas que lugar era aquele? Eu estava no meio da cidade e pessoas corriam a minha volta tentando se proteger da chuva que caia. Todos estava aflitos segurando seus casacos e tentando se esconder dentro das lojas.
Não sabia o que estava havendo, pois ninguém parecia me notar. Todos apenas passavam por mim. Precisava pedir ajuda, afinal como eu fui parar ali?
Uma senhora idosa estava caminhando com seus passinhos vagarosos. Fui atrás dela. Ela não parecia se importar com a chuva como os outros que ali estavam. Alcancei-a e toquei em seu ombro macio.
Iria perguntar se ela sabia o que estava havendo ou se sabia como eu havia chegado ali. E de repente eu escuto a voz da mulher. Era uma voz suave e rouca, mas o engraçado foi ela não ter se virado para falar, por isso não pude ver se os seus lábios se moviam.
Só sei que eu escutei:” não se preocupe minha filha, nós estamos indo para onde todos vão.”
A senhora continuou o seu caminho antes que pudesse impedi-la ou lhe fazer mais perguntas. Fiquei observando. Num instante todos a minha volta já estavam longe e eu sozinha.
Minha cabeça e meu corpo estavam anestesiados por causa do frio. A sensação era estranha e boa ao mesmo tempo, pois ao menos assim não havia dor. Faltava descobrir o que havia acontecido.
Comecei a me mover, as pernas estavam pesadas, era como se para andar eu tivesse que arrastar um caminhão junto. Olhei a minha volta e nenhuma alma boa para ajudar.
Foi ai que avistei um contorno em meio a chuva. Era alguém que trajava capa e um chapéu, ambos escuros. Estava com as costas apoiadas numa parede, uma das pernas escorando o corpo, braços cruzados, o topo da cabeça encostado na parede e o chapéu cobrindo o rosto.
Aproximei no meu ritmo lento. Não parecia ter me notado também. Engano meu. Ao chegar perto, ele retirou o chapéu do rosto, mas o colocou muito rápido, assim não pude ver a face por completo, apenas da ponta do nariz para baixo. Continuava com a cabeça abaixada e não olhava em minha direção. Talvez não tivesse mesmo me notado.
Acenei. Estava perto dele, mas não muito. Queria falar, pedir ajuda, informação, ou qualquer outra coisa. Porém, antes que eu pudesse dizer algo a figura se moveu e virou o rosto para mim.
Naquele momento eu gelei, sentia como se meu corpo estivesse sendo puxado ou algo do tipo. Tive medo. Queria sair dali. Era como se ele estivesse controlando cada parte de mim.
Quis gritar, a voz não saiu. Para minha surpresa acho que ele ouviu algo, pois sua voz soou em meus ouvidos. Era um som grave, marcante, nada que eu já houvesse escutado antes.
“Ainda terá um tempo, mas não muito. Não se acostume, pois farei a gentileza de deixa-la por enquanto. Reúna suas forças e saia daqui, vá em busca das suas respostas. Tente encontra-las se for capaz.”
Com uma risada ele desapareceu pela entrada do beco ao seu lado. Novamente me vi sozinha. Ele havia dito respostas. Será que eu cheguei a dizer aquilo alto? Por que ele e aquela velha foram os únicos que falaram comigo?
Eram tantas perguntas. Virei as costas e reiniciei a caminhada. As pernas parecia um pouco mais leves, mas as questões ainda atormentavam. Para começo de conversa eu não sabia como eu havia ido parar ali, outro ponto era o motivo para ter ido até aquele lugar e de onde eu havia saído. Porém a questão que mais me assombrava era: quem exatamente eu era?
Ótimo! Não sei nem quem eu sou, quanto mais de onde vim!
Estava literalmente perdida. E se eu fosse uma louca? Uma procurada perigosa? Talvez tivesse cometido crimes... mas quem saberia me responder?
Olhei para os lados, a chuva ainda não havia parado. A sorte era que a camisola não estava translucida apesar de estar colada. Não sabia nem se aquilo era uma camisola mesmo. Como eu podia me lembrar de coisas assim e me esquecer de quem eu era?
Avistei um lojinha, um homem que vinha correndo com um jornal sobre a cabeça entrou no lugar, aproveitei para segui-lo e adentrar o ambiente. Do lado de dentro, um balcão e amontoados de livros em todos os cantos. O homem passou a percorrer as estantes e verificar os livros, parecia concentrado no que fazia. Como antes, ninguém me notava. Não havia balconista. O sino da porta se moveu, nenhum som. Outra pessoa entrou. Um homem de jaqueta escura e boné. Estava molhado e água que escorria de suas roupas molhava o carpete do chão.
Olhei ao meu redor. A minha volta o carpete estava seco, o que era estranho já que eu estava tão encharcada quanto ele. Segui os rastros do chão e nenhum dos molhados indicavam as marcas dos meus pés. Assustei com um livro que caiu e virei em sua direção. Abaixei para pega-lo, mas minha mão deve ter deslizado sobre a capa. Quando fui tentar outra vez eu vi botas negras e levantei bem rápido.
“Ora, ora, parece que ainda não foi atrás de suas respostas. Vamos. Não tem o dia todo. Procure. Observe. Talvez precise de um choque de consciência.”
Estava paralisada no lugar. Como ele havia entrado ali? Ainda não havia visto o seu rosto e no momento em que avancei para puxar aquele maldito chapéu de cowboy ele se esquivou. Foi então que algo as minhas costas me fez ficar alerta. Vi os lábios do homem de boné se mexer, mas não podia ouvi-lo. Ele sacou uma arma e rendeu o homem do jornal e uma balconista que eu não sabia quando havia chegado.
Estava ali parada observando tudo. Ele não me via e eu estava tão próxima quanto os outros dois reféns. Daquela distância era impossível não ter me notado. Percebi uma reação precipitada da moça e um disparo, o homem do jornal cambaleou e o som do tiro não ecoou em meus ouvidos. De repente outro clarão. Uma dor me invadiu. Olhei para baixo e vi que estava sangrando. Será que eu havia levado aquele tiro?
Não. O homem do jornal estava caído no chão, ele havia sido acertado e não eu. Mas então por que eu estava sangrando? Toquei o ferimento e percebi que não podia senti-lo.
Olhei para frente e vi o cara de jaqueta sair correndo da loja. A mulher estava tremendo e correu para perto do homem caído. Depois de algum tempo eu notei que o rosto dele estava mudando e havia momentos em que ele parecia me ver, pois apertava bem os olhos como se pudesse me enxergar.
A moça correu e pegou o telefone. Mais uma vez eu apenas vi os lábios se moverem e nenhum som. Ela correu de novo para perto do homem. Foi então que notei um brilho. Uma luz às minhas costas. Olhei para o lado, percebi que a capa, bem como o chapéu estavam jogados. Virei rápido e notei a mesma figura de antes, mas agora podia ver seus olhos. Dois lindo olhos dourados, um homem envolto em luz e contornos que lembravam asas enegrecidas.
Senti algo estranho se mover em mim. Quis tocar o rosto dele, mas não pude. Ele apontou para o homem caído as minhas costas e fez gestos para me virar. Ainda não conseguia entender o motivo daquilo.
E sua voz soou em minha mente, mas agora era mais grave e parecia acompanhada por outras mil vozes. Ele disse:
“Veja. Agora, lembre-se!”
Como se um flash estivesse atravessado o meu cérebro eu senti o corpo pesar, senti a dor me invadir, mas pude finalmente abrir os olhos e quando o fiz, lembrei.
Aquele homem, o do jornal, estava morrendo e eu sabia porque, mas não podia acreditar. Corri até ele, tentei toca-lo.
“Ainda não pode toca-lo. Ele ainda não está morto.”
Lágrimas inundaram o meu rosto, senti uma angustia tão forte em mim, agora eu entendia o que precisava lembrar. Eu o conhecia, conhecia aquele homem e agora ele estava morrendo.
Pousei a mão a centímetros do rosto dele, mas meus dedos não chegavam em sua pele. Eu o amava, amava muito. Sabia que havíamos nos amado como pessoas e apesar de parecer tudo tão distante, o meu amor ainda era imenso. Ele estava de olhos fechados e eu chorava ajoelhada ao seu lado.
“Não pudemos evitar que isso ocorresse. Ele escolheu assim quando você deixou o seu corpo. E é por causa disso que eu não a levei embora assim que você atravessou. Ele a amou muito e foi esse amor que não a permitiu se afastar deste mundo. Mas se você estiver longe, ele poderá esquecer com o tempo.”
Minhas lágrimas caiam e meu peito doía ao lembrar da vida que havíamos tido juntos. De repente senti que o corpo dele estava se entregando. Não! Não podia! Ele tinha que viver! Não podia ser assim, então eu gritei, o som finalmente pode sair dos meus lábios e algo aconteceu.
Eu o vi abrir os olhos e foca-los diretamente em mim. Uma pequena lágrima escorreu. Ele havia me visto. Sorri de emoção. Meu amor pôde me ver. Eu te amo... reproduzi com os lábios e ele fez o mesmo. Ainda não podia tocá-lo, o que demonstrava que ele estava vivo.
Não queria que ele morresse, não podia. Eu o amava muito para vê-lo morto. Virei-me para o ser às minhas costas e o encarei. Implorei para que o deixasse viver. Ele acenou com a cabeça e pude ouvir sua voz celestial:
“Ele irá viver se assim o desejar, mas não poderá se lembrar de nada. Não temos permissão para deixá-los lembrar. Você também não poderá continuar aqui se quiser tê-lo vivo, pois assim ele poderá seguir em frente.”
Meus olhos estavam encharcados, mas meu amor era muito grande. Desejava que ele vivesse. Então escolhi.
Minutos depois, percebi os paramédicos entrarem no local e levarem o corpo dele para dentro da ambulância. Estava do lado de fora enquanto observava o carro se afastar com as luzes piscando e o barulho que as sirenes provavelmente estavam fazendo.
Viva meu amor, seja feliz.
Senti o leve toque dos dedos luminosos em meu ombro. Em meu corpo uma corrente de energia começou a atravessar e fui puxada pelo ser que me envolveu em seus braços enquanto minhas ultimas lágrimas caiam dos meus olhos.

 by Katarina

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Missão anjo da guarda : Capitulo dois: Perdida





Cai come se fosse um cometa, explodindo o chão. Uma cratera foi aberta aos meus pés. O beco em que eu cai estava aparentemente vazio, até que um mendigo se revirou em um amontoado de caixas de papelão e me encarou com um ar surpreso. Compartilhei de sua surpresa, porque humano algum era capaz de me ver, só... só se este estivesse a beira da morte.
Balancei as minhas longas asas, tirando o pó de asfalto das penas. Então eu via a cor delas, um branco sujo, amarelado. Lembrei-me de quem eu me tornara agora, não era mais um anjo da morte, não passava de uma simples guarda costas de mortais.
O mendigo caminhou de joelhos em minha direção, quase ao ponto de tocar as minhas vestes. Ele me encarou perplexo. Tive certeza de que ele era capaz de me ver. Os humanos só me viam quando estavam prestes a abraçar a morte, mas agora as coisas pareciam diferentes.
– Ah, meu senhor, obrigado. – o mendigo se aproximou mais de mim sendo capas de tocar as minhas vestes. Dei alguns passos para trás, a fim de me afastar, humano algum tocava um anjo.
Ouvi um bater de asas vindo de trás de mim, a poeira do chão levantava com o movimento das penas. Virei o meu rosto para ver quem era o outro anjo e dei de cara com o brilho da aura de Azarel.
– O que faz aqui, Izabella. – perguntou-me o anjo.
– Eu não sei, mestre. – murmurei. – Eu não sei.
– Tem uma missão e deve cumpri-la. – disse ele em um tom sério.
– Mas... – fui interrompida.
– Toda a missão é importante, Izabella, sendo elas como anjo da guarda ou como um anjo da morte. Não cabe a mim nem a você discordar dos planos do criador. – aconselhou-me. – Apenas faça o que lhe foi ordenado, siga o seu novo dever. Proteja o humano.
–Mas como vou fazer isso? Nem tenho ideia de qual humano eu devo proteger.
– Isso, minha querida, terá que descobrir sozinha. – ele respondeu caminhando em direção ao mendigo e pegando a alma dele nos braços, assim como eu tinha o costume de fazer. – Terá que reconhecer o humano quando estiver diante dele. – disse ao jogar uma bolsa ao meu lado. – Terá que viver entre os humanos agora e recolha as suas asas, os humanos agora podem vê-la.
Azarel desapareceu da mesma forma misteriosa que surgiu. Deixando-me sozinha com um corpo caído e sem vida há poucos metros. Eu não sabia para onde ir e nem a quem deveria proteger.
Recolhi as minhas asas, a minha auréola desapareceu. Ótimo!  Agora eu me assemelhava a uma humana, sem sal e sem graça. Peguei a bolsa que Azarel havia deixado e olhei dentro dela, lá havia dinheiro, alguns documentos e uma carta.
Olhei pelo corpo caído e imóvel do mendigo pela ultima vez. Humanos, criaturas decrepitas, meros mortais. Não conseguia entender como criaturas tão medíocres e inferiores mereciam algum tipo de proteção.
Caminhei em direção à saída do beco. As paredes feitas de tijolos vermelhos estavam repletas de rachaduras e pichações. Havia um cheiro horrível exalando do chão e algo me dizia que ainda não era o corpo do humano começando a feder, mas algo que já deveria estar morto há mais tempo.
A única saída do beco dava para uma rua movimentada, cheia de pessoas e carros. A vida medíocre dos humanos me dava tédio.
Enquanto eu caminhava pelo passeio uma mulher passou por mim correndo ao lado de um cachorro. O animal quando passou ao meu lado começou a latir, como se ele fosse capaz de perceber que havia algo de diferente comigo.
– Desculpe, moça. – disse a mulher.
Quando os olhos dela fitaram os meus a mulher deu um passo para trás. A presença angelical a fez tremer. Felizmente eu havia sido rebaixada, mas não deixara de ser um anjo. Ela sorriu, por um momento ela esqueceu da correria e do latido do seu animal. Isso é o que causava um anjo há aquelas pessoa que verdadeiramente podiam senti-lo, uma enorme paz interior. Infelizmente para os mortais, poucos eram aqueles que tinham o dom de sentir a presença dos anjos. Ignorei a mortal e continuei com a minha caminhada em busca de um mortal do qual nem fazia ideia.
Por onde quer que eu passasse os humanos olhavam para mim. Por mais que as minhas asas e a aureola estivessem escondidas eu ainda chamava muita atenção. A minha túnica não parecia ser uma vestimenta muito comum.
Abri novamente a bolsa e peguei a carta que estava lá dentro. Retirei-a para lê-la.

Querida, Izabella,
Como é a sua primeira missão como anjo da guarda é de praxe que se sinta despreparada. Cuidar de humanos não é uma tarefa fácil, ainda mais alguém como o seu protegido. Mas você é um anjo competente, acredito que conseguirá cumprir a sua missão sem demais dificuldades.
Contudo, existem coisas que você precisa saber para prosseguir com essa missão. Os humanos não tem certeza da existência de anjos, pelo menos não a maioria deles e o criador prefere que as coisas continuem assim. Portanto, terá que se misturar aos mortais, agir como se fosse um deles sem deixar que descubram quem você verdadeiramente é.
Você está no bairro onde mora o seu protegido, procure o edifício Clara Stela e se hospede lá. Haja como se fosse um deles e fique sempre próxima ao garoto.
Só voltarei a entrar em contado se algo der errado ou se você concluir a missão. Portanto, boa sorte.
Atenciosamente;
Lucas
Anjo da casta de tronos;
Patrono dos anjos da guarda.

Que maravilha! Misturar-me aos humanos, só poderiam estar brincando comigo. No fundo toda aquela palhaçada deveria ser uma grande brincadeira, que por sinal era de muito mau gosto. Esperava sinceramente que todo aquele teatro acabasse o mais cedo possível.
– Oi, gata! – resmungou um mortal ao passar por mim. – Roupas maneiras, de qual festa de Halloween você fugiu?
– Cala a boca, imbecil! – rosnei.
– Olha só, a gata é arisca! – ele murmurou ao descer da moto. – Por acaso está perdida? – perguntou em meio a um sorriso ao se aproximar ainda mais de mim. Humano repulsivo!
– Não, não estou. – respondi de maneira grosseira.
Ele riu.
– Não é o que parece.
– O que parece ou não, não é da sua conta. – resmunguei entre dentes.
– Oh, TPM!
– Por acaso você sabe onde fica o edifício Claro Stela? – fui tentada a perguntar. No fundo eu realmente estava um pouco perdida.
O homem riu alto, seus olhos castanhos brilharam. Ele estava brincando comigo, eu tinha certeza disso. Seu olhar malicioso e a sua aura tremulando em vermelho me disseram isso.
– O que uma princesa como você quer naquele brejo. Aquele não é lugar para você não, boneca. – disse o homem ainda em meio a gargalhadas.
– Não é você quem decide qual é o melhor lugar para mim. – rosnei.
– Ah, com certeza não sou eu. Porque do meu ponto de vista o melhor local para você seria a minha cama. – sua aura tremulou ainda mais maliciosa assim que os seus olhos percorreram o meu corpo.
– Como ousa ofender um anjo dessa forma?! – rosnei
– Oh, com certeza você é um anjo. – ele riu, tirando sarro da minha cara como se o que eu acabei de dizer não passasse de um simples comentário de alguém que possui o ego muito elevado.
– Eu realmente sou um anjo, seu idiota! – esbravejei.
Ele riu.
– Acho que você realmente fugiu do hospício, delicia. – disse em meio a uma gargalhada irritante. – Mas se você quiser ir passar a noite na minha casa eu não vou reclamar nem um pouco. – ele piscou para mim.
– Me diz logo onde fica o edifício! – eu já estava ficando nervosa. Humano insolente!
– Calma, doçura. O prédio fica a três ruas daqui em um beco escuro e sem saída. Mas estou falando sério se eu fosse você não iria lá não. Aquele não é lugar para uma mulher tão linda quanto você.
– Eu só te perguntei onde é o local e não a sua opinião a respeito.
– Oh! – ele resmungou cambaleando para trás como se tivesse levado um golpe. –  Vai lá então, gostosa. Só não diga depois que ninguém a avisou. E se aceitar pelo menos um conselho, arrume roupas decentes para você. – ele apontou para a minha túnica que já estava com a barra suja e para os meus pés descalços.  – Ninguém anda enrolado em um lençol por ai.
Comecei a andar em direção ao local indicado, mas o humano me impediu segurando-me pelo pulso. Livrei-me de suas mãos imundas em um rápido movimento.
– Como ousa tocar em mim. – rosnei.
O homem encarou-me perplexo, seus olhos mergulhados em uma profunda surpresa. Ninguém tocava em um anjo sem sentir o poder que emanava dele.
O homem afastou-se com passos cambaleantes.
– Quem é você?
– Não deveria ter me tocado – eu o adverti.
– Quem é você? – ele repetiu.
– Não é da sua conta. – murmurei ao encará-lo. – Vai esquecer aquilo que sentiu. Eu não passo de uma garota normal que você viu na rua.
– Você é apenas uma garota normal. – sussurrou ele como se fosse um zumbi.
Virei às costas e continuei caminhando. Porem, desta vez eu não fui interrompida, nem seria após ter hipnotizado o humano. Poucas eram as vezes que tínhamos permissão para fazer isso e uma delas era quando um humano estava perto demais de sentir o verdadeiro poder de um anjo.
Encarei a minha túnica que àquela altura já estava mais do que imunda por causa da sujeira daquele lugar. Mesmo que as minhas asas estivessem enterradas na carne e a minha auréola apagada os humanos a minha volta ainda me encaravam com olhares curiosos. O mortal estava certo, eu realmente precisava trocar de roupa.
Encontrei uma loja simples quando virei à esquina. Lá havia um único e simples trocador e as roupas estavam jogadas aos montes. A mulher que cochilava atrás do balcão provavelmente não se dava ao trabalho de organizá-las em araras.
Caminhei pela loja em busca de algo decente para vestir. No fundo nada parecia ser bom o suficiente para substituir a minha túnica, mas eu precisava vestir algo para me misturar aos mortais. Ainda mal acreditava naquela palhaçada toda. Ser punida, rebaixada a anjo da guarda, por que uma coisa horrível dessa iria acontecer logo comigo?
– O que quer garota? – perguntou a mulher ao despertar com os meus passos dentro da loja.
– Só estou procurando algumas roupas para mim.
– As pessoas dificilmente entram aqui. – murmurou a mulher ao passar as mãos pelo cabelo grisalho e espigado.
– Não é difícil perceber o porquê. – murmurei baixinho ao observar o local a minha volta.
Peguei as melhores camisetas que encontrei, mesmo que essas ainda se parecessem com trapos, algumas calças jeans surradas. Não conseguia entender como os mortais preferiam aquilo as majestosas túnicas usadas pelos anjos.
Usei o provador para trocar de roupa, guardei a mina túnica dentro da bolsa que me foi dada por Lucas. Peguei duas blusas de frio sobre uma montanha de roupas e caminhei na direção do balcão.
– Aqui o seu dinheiro. – disse ao pegar alguns trocados e jogar sobre o balcão. – Pode ficar com o
troco.
– Ah, obrigada. – disse a mulher ao recolher o dinheiro como se fosse a sua ultima esperança de vida.
Joguei os trapos em uma sacola e calcei os tênis que havia encontrado em uma prateleira tão desorganizada quanto o restante da loja. Sai caminhando da loja, agora vestindo os mesmos molambos usados pelos mortais.


continua...

By Ashe

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Hunted Hunter - Capítulo 4: Crystal Teardrops


Não esqueça de acompanhar os capítulos anteriores:

Cap.1- http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/10/hunted-hunter-capitulo-1-bloodlines.html

Cap.2 - http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/11/hunted-hunter-capitulo-2-vampire-killer.html

Cap.3- http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/11/hunted-hunter-capitulo-3-dance-in.html


     Com a missão cumprida, os caçadores fazem o caminho de volta à cidade de Crescent. Gabriel estava levemente de mau humor naquela manhã, por isso, decidiram que Sônia faria a parte diplomática; ele pode ser bom com armas mas não é muito hábil com as palavras, ainda mais para dar noticiais delicadas à senhorita O´hara: "Sua irmã virou vampira e eu matei ela, cadê nosso dinheiro?". Seria melhor não. Sônia era mais indicada a tal tarefa, ela sabia disso e se quisessem algum dinheiro pelo trabalho, deveriam ser o mais cautelosos o possível.
     Eles nunca tinham visto sua contratante; logo que chegaram à Crescent, um homem os abordou enquanto estavam na igreja. Esse homem se apresentou como enviado da família O´hara, uma rica família local, cuja uma das filha desapareceu. Ofereceu-lhes dinheiro, à pedido de Scarlet O´hara, a mais velha filha da família O´hara. Sua irmã mais nova, Melissa, tinha sido a ultima garota a sumir.
    Gabriel e Sônia tinham ouvido rumores sobre garotas sumindo nas proximidades do bosque. O enviado dos O´hara alegou ser obra de um lorde vampiro da região...
     ***
      Logo que chegaram à cidade, os dois foram até a residência O´hara. Era uma grande casa cercada por cerca de madeira. Eles devem ser bem ricos, pensou Gabe.
    - Lembre-se, fique em silencio, deixa eu eu cuido da conversação. 
    - Não vou estragar sua diplomacia... - respondeu ele com mau humor. - Precisamos do dinheiro.
    No portão, foram recebidos por um empregado; um homem alto e bem vestido. Sônia se identificou como os caçadores contratados e requisitou uma audiência com Scarlet. O empregado torceu o nariz; pediu para que esperassem do lado de fora enquanto iria verificar se a senhorita estava disponível.
     A sacerdotisa agradeceu ao homem que se retirou em seguida. Gabriel cruzou os braços tentando não transparecer o quão ranzinza estava. Tomou um ar e olhou à sua volta; o jardim da casa era lindo: a grama muito bem aparada, flores de várias cores e uma arvore com um balanço amarrado em um dos galhos. Fixou os olhos no balanço por um momento; não podia deixar de imaginar Melissa brincando nele. Ficou estático, com a cena da criança brincando e se divertindo no jardim... Ainda não aceitava o destino daquela menina.
      - Ei. - disse Sônia, com uma mão no ombro dele.
      Despertou do transe com o toque dela.
      - Estou bem.
      - É o balanço? quer se sentar nele enquanto esperamos? Eu sei que você não teve infância, então não faz ideia de como é divertido se balançar.    
      - Estou bem.
      - Eu empurro você. - disse com um sorriso.
      - Já disse que estou bem. Eu só estava... imaginando a menina brincando nele...
     Sônia suspirou e baixou a cabeça. Crianças vítimas de vampiros sempre o deixavam assim. Era triste, mas no final, tudo virava combustível para o ódio dele, o que de certa forma, o dava forças.
       Voltou-se para a amiga e sorriu:
      - Vou ficar bem. Eu sempre fico.
      Nesse momento, o empregado voltou pela porta da frente:
      - A senhorita vai recebe-los agora, por favor me acompanhem.
      Logo que terminou de falar, ele deu as costas e entrou na casa, seguido de perto pela dupla. A casa era ainda mais linda por dentro; extremamente elegante e impecavelmente arrumada. Foram guiados até uma sala com poltronas de veludo vermelha, carpetes ricamente trabalhados, janelas enormes coberta por cortinas azuis. Ao fundo da sala, uma lareira acesa e sobre ela, um retrato de uma jovem moça em frente à propriedade.

     Ao lado da lareira, de costas para eles, havia uma pessoa trajando um vestido parecido com aquele da pintura.
    - Senhorita, aqui está o caçador e a freira.
    - Obrigada. Deixe-nos a sós.
      O empregado fez um sinal com a cabeça e deixou a sala. A moça continuava de costas para eles.
     - Senhorita O´hara? é um prazer conhece-la finalmente. - disse Sônia.
     - Minha irmã não está com vocês, caçadores. Devo presumir que o pior aconteceu?
      Gabe estava encostado na parede, com os braços cruzados, tentando ser imparcial. Sônia prosseguiu:
      - Sentimos muito, senhorita. Quando chegamos, sua irmã já havia sido transformada em vampiro. - a sacerdotisa apertava as próprias vestes com as mãos, nervosa. - Então...
      - Então vocês a mataram - Scarlet finalmente virou-se, encarando-os. - Como fizeram coma  filha do Conde Ainslead?
        Scarlet era jovem, mas seu rosto trazia a expressão de uma mulher muito sábia. No fundo dos seus olhos e do seu tom de voz, era possível notar tristeza. Assim mesmo, ela permanecia firme.
       - A filha o Conde estava perdida. Quando a encontramos, ela já havia matado muitas pessoas. Sua alma já não era mais humana.
        - E a Melissa? ela também era um monstro?
       Gabriel fez uma expressão de dor, mas continuou quieto.
       - Quando a encontramos ela estava perdida, sem controle das próprias atitudes. Mas ela ainda pensava em você, senhorita Scarlet. Depois que destruímos o vampiro, ela chorou e disse que não queria ser vista pela família, naquele estado lastimável...
         Sônia mentiu. Gabriel estranhou a atitude, mas não se manifestou.
       - Pobre Melissa... era tão jovem... - Scarlet secou as lágrimas com um lenço. - E depois? como ela...
       - Eu orei pela alma dela. Pedi a nosso senhor que a aceitasse em seu reino... Isso foi tudo que sobrou. - Estendeu a mão, mostrando a ela um pingente de cristal em forma de lágrima.
       Scarlet aproximou-se e pegou a lágrima de cristal. Apertou-a na palma da mão e fechou os olhos, deixando mais lágrimas escorrerem.
       - Nossa mãe deu isso a ela, quando ela era bem pequena... Obrigada por terem trazido de volta.
       - Fizemos tudo a nosso alcance, sinto muito senhorita. Essa noite vou orar pela almas das garotas que se perderam para aquele vampiro.
       - Sou muito grata, tenho certeza que ela e nossa mãe ficaram muito felizes... mas agora, acho que tenho uma conta para acertar com os senhores.
       Os dois estremeceram. Não se sentiam bem com aquela situação, mas o dinheiro poderia ser muito útil. A senhoria caminhou até a escrivaninha, de onde tirou um pequeno saco de pano. Abriu-o e conferiu o conteúdo.
       - Eu espero que 700 libras em ouro sejam o bastante por seus problemas. - disse, entregando o saco para Sônia.
       - São mais do que o bastante, senhorita, obrigada.
       - Que bom, fico feliz, agora, se me dão licença eu...
       - Tenho uma pergunta, senhorita O´hara.
       Gabriel se desencostou da parede e aproximou-se um pouco, olhando-a nos olhos. Sônia sentiu o corpo arrepiar; o que ele estava pensando em fazer?
       - Pois muito bem. Faça sua pergunta.
       - Como sabia que estávamos na cidade? Digo, quando nos contratou.
        Scarlet ficou surpresa com a pergunta. Alisou o vestido com as mãos, sorriu e respondeu:
       - Vocês dois tem certa fama, sabiam?
       - Temos? Você nos abordou com seu empregado, um adiantamento em dinheiro e um plano pronto. Achei estranho.
        Ela suspirou e continuou calmamente:
        - Sim o plano do disfarce com o vestido. Eu imaginava que quem quer que fosse que estava sequestrando as garotas, poderia ter interesse em mim. E quanto ao lorde vampiro... não era segredo, é só perguntar pela cidade. Mas respondendo sua pergunta: sim, eu esperava vocês dois. Soube que o Conde Ainslead contratou caçadores recentemente.
       - Então presumiu que nó fôssemos os tais caçadores?
     - Eu tinha certeza. E digamos, Gabriel, que nós dois temos uma amiga em comum. Lembra da Glória? Glória Sizemore? ela lembra de você.
       - hnnn.  Ok. Adeus, senhorita O´hara.
        Fez uma reverencia e virou as costas. Sônia agradeceu pela ultima vez e o seguiu.

    Glória Sizemore era uma amiga de infância de Gabriel. O avó dela é muito amigo do avó dele e por isso, cresceram juntos uma boa parte da infância. Depois de Jonathan foi assassinado, os dois passaram a se ver com menos frequência. A ultima vez que se viram foi no aniversário de 15 anos dela; um grande baile em sua residência. Ele não queria ter ido mas ela insistiu muito. Dançaram juntos e antes de ir embora, Glória propôs a ele esquecer essa historia de caçar vampiros para se casar com ela. Ele recusou e eles discutiram. Já fazem 2 anos desde então.
      Sônia sabia que Gabe odiava o assunto, mas ainda assim, sentiu a necessidade de espeta-lo:
       - Ela ainda pensa em você.
       - Não me importa.
       - Ela gosta de você. Pelo visto, fala bem de você.
       Gabe virou-se para sua parceira  deu de dedo na cara dela:
      - Já chega. Temos coisas para comprar com esse dinheiro. Ainda temos que visitar o esconderijo dos amiguinhos da Ashlotte Ainslead, lembra-se? Colina Olney?
     - Não tão rápido. Eu quero passar a noite aqui em Crescent. Quero orar na igreja, precisamos...
        - Não! o que precisamos fazer é continuar viagem.
       Sônia afastou o dedo dele que ainda estava apontado para o nariz dela e falou com muita seriedade:
        - Nós vamos descansar hoje. Que tal comer algo decente pra variar? e um banho? eu não me importo se você gosta de ficar sujo, mas eu quero um banho! E que tal uma cama, Gabriel? Uma cama quente, só hoje? A quanto tempo não dormimos em uma cama? Hoje descansamos. Esse dinheiro é tão seu quanto meu, não me negue comida, banho e uma boa cama.
       Deixaram a casa dos O´hara; Sônia à frente, emburrada e Gabriel atrás,com o humor ainda pior.

***
      Além de suprimentos básicos de viagem, Gabriel também comprou algumas lâminas de arremesso, um corselete de couro e duas braçadeiras de tecido com bolsos para pequenos vidros de agua benta. Agua benta guardadas na braçadeiras era uma jogada estratégica que ele tinha inventado; ficariam bem disfarçadas e prontas para serem arremessadas de surpresa. 
       Pegaram um quarto na estalagem e tomaram um bom banho quente. Gabriel também tomou o banho, ele não tinha nada contra ficar limpo, ao contrario do que Sônia pensava; já que a ordem do dia era descansar, um banho era uma ótima maneira de relaxar o corpo. A noite, Gabe acompanhou a parceira até a igreja, onde oraram pelas meninas mortas. Scarlet juntou-se a elas na oração.
       Depois da oração, voltaram à estalagem para jantar...
                   ***

       Um grande pedaço de carne com batatas assadas foi o que pediram. Uma caneca de cerveja para Gabriel e agua para Sônia. Era a melhor refeição que eles tinham em muitos dias. Sem falar no banho e na cama macia que teriam essa noite. Estavam felizes por ter essa pequena pausa. Gabriel também estava feliz, apesar de não admitir; era bom ter passar uma noite em um lugar limpo, iluminado e com pessoas que não querem mata-los. A carne estava deliciosa e realmente precisavam comer algo mais saudável e consistente do que as rações de viajantes que sempre comiam; ma mistura de carne seca com queijo, não muito bom, mas dura muitos dias na bolsa e enche o estomago.
      - É tão bom comer comida de verdade. - Disse ela. - Eu to enjoada dessa ração de viagem.
     - Aproveite sua carne e batatas, pois vamos voltar a comer as rações a partir de amanha. A colina Olney não é muito perto daqui.
        Sônia mastigou um pedaço de batata e bebeu um longo gole de agua.
       - Eu estive pensando...
       - Você e essa sua mania...
       - Deixa eu terminar? eu estou preocupada. Com a Laura...
       Gabriel quase derrubou a caneca de cerveja.
        - Como...?
       - E se ela estiver de alguma forma por trás disso tudo? o Vladimir mencionou ela. Ela sabia que você iria até ele.
      Soltou o pedaço de carne que estava comendo e baixou a cabeça, pensativo. Ela sentiu-se mal por trazer esse assunto, mas não podiam ficar evitando pensar nele. Principalmente se ela estiver certa sobre a vampira.
       - A vida inteira eu esperei pelo dia que a encontraria. Eu sei o que fazer se isso acontecer, e quer saber? que venha! Tenho contas a acertar com ela!
          - Eu sei! eu confio em você, mas não confio nela! Ela pode estar tramando algo.
          - Eu vivo só pra isso. Seja como for, vou encarar sem medo.
          Sônia suspirou, se soltando na cadeira. Não tinha como falar com ele. Só o que a restava fazer era rezar por ele.
         Depois do jantar, subiram para dormir, partiriam de manhã.
         Naquela noite, Gabriel sonhou com Laura, mais uma vez...

        Jonathan estava morto no chão. Um buraco atravessava seu estomago. A vampira tinha sangue escorrendo pelo pescoço.
         - Não! você matou ele! 
         Pulou de trás da arvore onde estava, gritando para a vampira.
         Ela encarou a criança que gritava e chorava. Era o irmão daquele que jazia no chão.
         Coma s mãozinhas tremulas, o menino pegou uma pedra do chão.

         - Você matou meu irmão! você matou ele!
         Atirou a pedra nela, mas infelizmente, sua mira não era muito boa, acertou-a na perna.
        - Moleque idiota! - gritou ela, pulando em cima dele.

       Acordou. estava soado e assustado. Na cama ao lado, Sônia dormia profundamente. Pensou em acorda-la, mas achou melhor deixa-la descansar, ela merecia. Cobriu-se para tentar voltar a dormir. Estava certo que o confronto com o fantasma do seu passado estava cada vez mais próximo.





continua...

By Kennen.








quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Um poema para você




Oi. Sou o Joaquim, tenho 13 anos. Desculpem-me, estou nervoso por estar escrevendo isto. Mas fazer o que? Eu precisava arrumar uma maneira de colocar todos os meus sentimentos no papel. Estavaprocurando um assunto bom para escrever. Desejava produzir algo que fizesse as pessoas rirem, chorarem, aplaudirem e pedirem bis. Hehe, nada modesto da minha parte eu sei.
Juro que pensei muito, mas parece impossível arranjar um tema que toque a alma das pessoas. Por isso decidi pedir alguns conselhos para alguém mais experiente. Meu amigão do peito, a pessoa na qual eu mais confiava quando o assunto era mulheres ou Pokémon.
Telefonei a procura de ajuda. Do outro lado da linha estava a voz do meu amigo, mas o aparelho devia estar com defeito porque vez ou outra eu também escutava alguns grunhidos muito esquisitos...Ah, sei lá, parecia que ele estrava estrangulando um gato ou coisa do tipo.
Bem, mas o importante é que agora teria alguém de qualidade para me aconselhar. Afinal, ele era uma coisa chamada colunista, que eu não sei bem o que é, mas tem a ver com jornal. A voz dele também estava estranha, mas a pergunta foi mais ou menos assim:
“Aaaaahhh, ooi, Joaquim, huuuuuuuummmm, é você cara, aaaaaaaaaaaahhh, isso, isso.....aaaaaaahhh, escrever, né?....aaaaaaaaaaahh tá, não se preooocuuuupe, eu aajuuudo sim....mas, o que....aaaaaaaahhh,vocêqueeeeeerrrrrr ... escrever?”
Por fim eu decidi que escreveria aquilo que sempre tive vontade, mas a coragem faltava. Um poema. Sabe, aqueles de amor, com rimas e declarações.
Esse poema seria para a garota de quem estou afim. Uuuhhhnnn, só de pensar nela eu fico todo bobo. Porém, segundo o meu amigo, ela não pode sacar isso de primeira, vocês entendem o que quero dizer? ... Ah, é claro que sim, pois todo mundo passa por essa vergonha um dia e hoje chegou a minha vez, ao menos eu tenho a sorte de contar com ajuda profissional.
Ai veio o primeiro conselho:
“huuuummmmmmmmmmmmmm, aahh, assim, assim....aahhh, Joaquim, bemm, ahhh, você...você tem que ser delicaaaaaado com ela, mas inventa um nome difereeeente, alguma coisa...especiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal.....uuhhuuuu, aaaahhh, isssooogostoooosaaaa, aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!”
Fiquei pensando se meu amigo estava falando sério mesmo, mas não podia duvidar, afinal ele era sem dúvida um mestre na arte da conquista. Ao menos era o que ele falava. Bom, então decidi usar o nome que ele havia sugerido mesmo. Comecei a escrever. Primeiro pensei no nome dela. Aaah Luísa, Luísa...nada rimava com Luísa. Mas com Gostosa havia muita coisa que rimava. Então seria Gostosa.
...Querida Gostosa...                                                   
Não, não! Risquei o papel.
...Gostosa...
Isso, perfeito!
Continuei com o poema até que surgiu mais uma dúvida. A sorte é que havia o meu amigão para me ajudar.
Segundo conselho:
“Ahan, ahan, tá, entendi...vamos trocar...vem...assim....isso...isso...aaaaaaaaaaaahhh...mas, Joaquim, você não pode falar....aaaaaaahhh, huuuuuuuuuuummm, falar coisas ruiiiiiiinnnnss...tem que ser...gentiiiiiiilll...aaaaaaaaaaahhh... raaaapidoo, rápido!!!”
Ele tinha razão. Eu precisava ser gentil. Garotas gostam de gentileza. Não seria nada bacana fala de defeitos ou coisas do tipo. Nem se fosse verdade. Então, eu realçaria as características dela. Meu amigo havia falado a palavra rápido. Bem, na verdade, ela era bem rápida. Possuía até uns músculos nas pernas de tanto que corria. Acho que aquilo era uma coisa boa para se escrever e exaltar as qualidades de uma menina. Ao menos, se fosse um menino, ele não se importaria em ser chamado de rápido.
...Meu coração dispara no meu peito e meus olhos brilham ao te ver
Mas quase não consigo acompanhar, pois você é muito rápida ao correr...
E agora o meu poema já estava quase pronto. Só faltava uma declaração, mas qual seria o melhor modo de dizer aquilo? Será que eu devia mesmo dizer com todas as palavras: Eu te amo, ou não? Meu amigão com toda a certeza saberia me dizer melhor.
Acho que ele deve ter matado aquele gato, porque agora estava um silêncio do outro lado. Mas quando eu fui perguntar se eu devia ou não escrever aquilo, ele deve ter lido meu pensamento e se assustado, pois ouvi um chiado e depois uma espécie de urro. Tive até que afastar o telefone do ouvido.
Coitado do gato. Devia estar nos seus últimos instantes de vida. Eu é que não queria ser esse pobre coitado. O que será que o bichano andou aprontando?
Mas eu não tinha tempo para perguntar aquilo. Precisava sanar a dúvida cruel que colocava minha cabeça toda cheia de caraminholas.
Terceiro conselho:
“Aahnn...desculpa amigão...sim...estou....estou bem sim...gato? que gato?...bom, mas o que você queria mesmo? ...ah é, sobre isso... bom, você tem que ser cuidadoso...se seguiu tudo o que eu te disse, então no final ...você precisa colocar que gosta dela e o modo como se senti quando estão perto um do outro...é..ahh gostosa...onde...espera joa...onde vai?....não...volta aqui...to louco...pra te pegar de novo...ah Joaquim, desculpa cara, tenho que ir tá. Depois a gente se fala direito.”
Desliguei o telefone e fiquei pensando. Bom, eu havia feito tudo certinho e escrito tudo do jeitinho que meu amigo disse para escrever. Então, coloquei o final do poema.
...estou louco para te pegar...
E pronto! Perfeito! Ela iria ficar louca quando lesse aquela obra de arte. Só faltava entregar, mas se tive coragem eu precisava entregar. Além do mais, não podia deixar o tempo que o meu amigo passou me ajudando ser jogado fora, não é?
Estava decidido, amanhã mesmo na escola, na hora de ir embora eu iria entregar o poema.

*** 

“Joaquim?”
Atendi o telefone muito mal humorado. A minha cabeça ainda doía depois de ter levado todas aquelas livradas bem no cocuruto. Era aquele charlatão do outro lado.
“Joaquim? Você está bem?”
_Me diz uma coisa, você tem certeza de que o gato era o único que você queria matar?
“O que? Lá vem você com essa história de gata outra vez... Não estou entendendo...”
_Ela odiou o poema! Fiz tudo o que você disse e mesmo assim ela odiou!
“Acalme-se Joaquim, nem sempre dá certo mesmo...mulheres, Joaquim, mulheres...”


By Katarina

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Missão anjo da guarda : Capitulo um: Punição


Prefácio

5 anos atrás




Um garoto voltava da escola, quando foi surpreendido por um carro em alta velocidade que atingiu a sua bicicleta, lançando-o contra um muro de concreto. Ele caiu com força no chão, discordado. Uma poça de sangue começou a se formar ao lado de sua cabeça.
O motorista do veiculo que atropelara o pobre menino estava assustado demais e sua ficha com a polícia não era nada limpa, caso ele fosse pego dirigindo embriagado novamente e sem a carteira de habilitação, certamente ficaria um bom tempo de molho na cadeia. O homem acabou não pensando duas vezes antes de pisar fundo no acelerador para fugir sem nem ao menos prestar socorro a vitima que se esvaia estirada no asfalto há alguns metros.
Uma pequena multidão de curiosos aos poucos foi se formando ao redor do menino. Mulheres desesperadas berravam por socorro, pessoas corriam de um lado para o outro sem saber o que fazer. A linha que prendia a alma do garoto ao seu corpo estava cada vez mais estreita.
Uma sombra negra saiu de dentro do bueiro no meio da avenida e avançou na direção do garoto. Ninguém na movimenta avenida principal percebeu a aproximação da mancha escura que saltou sobre o menino empurrando a sua alma de volta para o corpo e misturando-se a ela.
O menino abriu os olhos, olhos totalmente negros que quase saltavam das orbitas. O profundo ferimento em sua cabeça se fechou em um instante. Pouco depois ele se colocou de pé como se nada estivesse acontecido.
– Ei, menino, tudo bem? – perguntou um sujeito preocupado.
O garoto balançou a cabeça positivamente. O homem ficou preocupado, mas não insistiu, misteriosamente ele realmente parecia estar bem. Porém não tinha ideia de que sua vida nunca mais seria a mesma.





Capitulo um
Punição

Estava deitada sobre o meu divã dourado, enquanto penteava os meus longos cabelos loiros.
Eu me orgulhava de ser um anjo, um anjo da morte, aquela que ia buscar as almas assim que estas se desprendiam do fio que ligava ao corpo humano, levando-as para o céu ou para o inferno. Não cabia a mim julgá-las apenas direcionar o seu caminho.
As almas humanas eram tão insignificantes, eram levadas ou corrompidas sem o menor esforço. Na verdade os humanos eram insignificantes, ocupados demais com suas vidinhas medíocre e passageiras, sempre tentando passar a perna uns nos outros.
Acariciei minhas longas asas negras, o símbolo de um anjo da morte, humanos que viam essas asas já estavam de passagem marcada para o céu ou para o inferno.
– Izabella! – chamou uma voz grave e retumbante.
Saltei do divã e corri em direção ao meu chamado.
Azarel estava de pé sobre as nuvens, vestindo sua imponente túnica branca, suas asas negras resplandeciam.  Ele era o meu chefe, o comandante de todos os anjos da morte.
– Mais uma alma para ser levada, senhor? – indaguei a ele.
– Alma? Oh, não. Esse assunto não lhe diz respeito mais, Izabella. – ele disse, em um tom inexpressivo.
– Como assim, mestre? – perguntei confusa. – Eu sou um anjo da morte.
– Não mais, Izabella. Não mais. – disse outra voz.
Outro anjo surgiu ao lado de Azarel. Ele era alto, tinha olhos da cor do eu, cabelos dourados, suas asas brilhavam quase como a luz do criador, a mais pura e poderosa do mundo. Miguel, era o lider supremo dos anjos, o mais poderoso de todos.
Curvei-me diante dele.
– Mestre?
– Odiar os humanos não é uma coisa boa, Izabella. Não, o ódio não é uma coisa boa, principalmente para um anjo.
– Mas eles são inferiores. – aleguei.
Miguel balançou a cabeça negativamente.
– Diante do criador todos somos iguais, Izabella, todos. – disse Azarel.
– Você será punida, Izabella. Rebaixada a anjo da guarda
– Não, por favor, não! – supliquei. Eles não poderiam fazer aquilo comigo. – Isso não é justo.
– O criador é justo, Izabella. – afirmou Miguel. – Acredite, ele está te dando uma chance de rever os seus conceitos e mudar para melhor.
Um terceiro anjo surgiu ao lado dos outros dois. Ele possuía cabelos castanhos e olhos cor-de-mel, suas asas tinham um tom amarelado.
– Venha comigo. – pediu Lucas o terceiro anjo.
– Por favor, mestre, não. – implorei a Miguel.
– Vá com ele. – foi tudo que me disse, antes de virar um feixe de luz e desaparecer seguido por Azarel.
Encarei Lucas por alguns segundos antes de dar a minha mão a ele. Sabia que não me restava escolha a não ser acatar a decisão daqueles que estavam à cima de mim.
– As coisas não são tão ruins quantos parecem. – disse Lucas, segurando firme a minha mão, no momento em que as minhas asas mudaram de cor passando do preto a uma cor amarelada.
Não, elas são bem piores, pensei.
– Vamos, Izabella. A sua primeira missão já a espera. – Chamou Lucas. – O nome dele é Pedro Souza, ele é um adolescente encrenqueiro, garoto arredio com problemas na família e na escola.
– E como eu devo protegê-lo?
– Contra ele mesmo. – respondeu Lucas. –Mas vamos logo, não tem mais tempo a perder. Aproxime-se do garoto e proteja-o.
Não me restou tempo para mais nenhuma pergunta. As nuvens sob os meus pés se abriram e eu cai.

Continua...

By Ashe

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Hunted Hunter capitulo 3: A dance in phantasmic hell.

     

     
   (capitulo 1: http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/10/hunted-hunter-capitulo-1-bloodlines.html )

    (capitulo 2: http://kenneneashespace.blogspot.com.br/2013/11/hunted-hunter-capitulo-2-vampire-killer.html )

      Vladimir tomou impulso, pulando por cima da mesa onde estava o cadáver, com as garras na direção de Gabriel; certamente iria estraçalha-lo, nenhum pirralho humano iria invadir seus domínios para lhe dizer o que fazer. Ele feriu seu rosto, seu lindo rosto, com aquele maldito chicote. O talho que aquela arma lhe abrira no rosto ardia como brasa, e por mais que tentasse, não conseguia curar a si mesmo daquele corte. Se aquele chicote fosse mesmo o tal vampire killer que ele ouviu falar, ele poderia ter problemas...
        Assim mesmo, seu orgulho de vampiro o impedia de ser cauteloso, preferindo se jogar sobre o caçador armado.
        Gabriel agarrou o vampiro  pelas roupas durante o salto e o atirou na parede, com um arremesso; Vlad acertou as costas numa prateleira de livros, quebrando-a.
        Melissa soltou um uivo agudo e correu para ajudar seu mestre. Seus dentes estavam sedentos por sangue fresco e aquele caçador seria uma refeição maravilhosa!
        - Auferte! - falou Sônia, em alto e bom tom.
         A menina vampira deu um grito, ao ver a sacerdotisa se impor à frente dela, com uma odiosa cruz prateada nas mãos.
       - Não vai passar por mim, cria das trevas. Prepara-te para conhecer o poder de Deus.
       - Seu Deus não me significa nada! 
       Melissa se recompôs e atacou Sônia com as garras. Golpeou uma, duas, três vezes, sem sucesso. A sacerdotisa esquivou facilmente dos ataques desajeitados da vampira. Quando a menina iria arriscar um quarto ataque, Sônia desferiu um tapa no rosto dela, com a bíblia que trazia na mão esquerda. O tapa deixou a vampira desnorteada, com raiva e confusa.
      - Você foi transformada a menos de uma semana. Que chance acha que tem contra uma caçadora experiente como eu? Nem entende seus poderes ainda.
       - Cala a boca! - berrou ela, com a mão no rosto - Eu vou matar você!
       - Não vai não. Fugata daemones et spiritus nequam.
       A oração penetrava os ouvidos de Melissa e a faziam ficar imobilizada.
       Do outro lado da sala, Vladimir levantava-se rapidamente; rolou para o lado, evitando assim tomar uma chicotada, ficando em pé logo em seguida. O caçador, entretanto não dava trégua; girava a brandia o chicote, forçando-o a recuar cada vez mais. Cada vez que o chicote atingia o chão ou a parede, abria um rasgo incandescente nas pedras e o jeito com que ele manejava  arma, era como se criasse em torno de si uma área impenetrável, afinal, Vlad não queria arriscar ser tocado por aquele chicote mais uma vez: tinham um bom motivo para chamar aquilo de mata-vampiro.
        - Uma arma muito interessante! - disse o vampiro.
        - Vai ter o prazer de morrer por ela, como muitos da sua espécie já tiveram.
       - Eu sei caçador.  Todo vampiro já ouviu falar no vampire-killer. Nem todos acreditam que esse arma é real. E todos conhecem a história de Jonathan Belmondo.
         - Não fale do meu irmão!
       Gabriel avançou sobre ele, chicoteando ainda mais rápido. Vladimir desviava como podia, enquanto o chicote destruía furiosamente tudo que tocava. Aproveitando o ataque de fúria do caçador, o vampiro viu uma brecha entre os ataques e aproximou-se muito rapidamente. De guarda baixa, Gabriel foi atingido duas vezes pelas garras sanguinárias de Vlad, que lhe rasgaram o peito e a barriga. O caçador revidou com alguns socos, aproveitando a curta distancia, ignorando a dor que lhe rasgava: dois socos rápidos no peito e um direto no rosto.
          O vampiro recuou, com a mão onde o soco tivera acertado. Ele reconhecia que o garoto era bom, e apesar de ser humano, seu soco era forte como uma martelada. Mas não seria o bastante para derruba-lo, e sem aquele chicote, ele não era nada. Para zombar dele, Vladimir lambeu o sangue em seus dedos.
            O jovem caçador sentia muita dor em suas feridas, mas essa dor não era maior que sua raiva. Mais uma vez, brandiu sua arma como vinha fazendo. O vampiro sorriu, ao ver tudo se repetindo, dessa vez, arrancaria sua cabeça fora! O rapaz atacou pela esquerda, girou o chicote pelo lado oposto e aplicou um golpe na vertical, exatamente como antes.
          - Morra caçad...
          Gabriel cometeu os mesmo erros, abriu a guarda entre seus ataques. Vladimir soube aproveitar da primeira vez,e da segunda vez também... Ele só não contava com a estaca de madeira, na outra mão do caçador.
          - O... que...?
        Uma estaca de madeira lhe perfurava o coração. Num segundo ele se sentia vitorioso e no outro...
         - Se tava achando que eu saio mesmo para matar vampiros tendo apenas meu chicote como recurso... está errado. Como tantos outros antes de você estavam.
          - Isso não pode... me parar! - para a surpresa de Gabriel, Vlad arrancou o estaca de seu peito e a atirou no chão. - Observe meu verdadeiro poder!
          Uma aura vermelha demoníaca cobriu o vampiro; suas feições belas deram lugar a um rosto demoníaco, levemente avermelhado. À suas costas, um par de asas de morcego.
           - Resolveu mostrar sua cara feia?
           - Silêncio! - gritou.
         Com ódio, Vladimir deu um soco no chão; espinhos sangrentos saltaram para fora do piso de pedra. O caçador tentou esquivar-se, dando cambalhotas paras trás, mas os espinhos que salvaram eram bem mais do que eles esperava e acabou sendo atingido nas pernas e no braço direito. Caiu sentado, mais ferido do que esperava estar.
       - Lutou com bravura, Gabriel Belmondo. Laura me disse para tomar cuidado, mas sinceramente, você não é tudo que ela disse.
        - Laura!? onde ela está? - perguntou ele, tentando ficar de pé.
       - Ela queria te ver... até me alertou sobre você, mas não precisa mais se preocupar. Você não passa de hoje.
         Vladimir aproximou-se dele para dar-lhe o golpe final, mas Sônia, se meteu na frente, com sua cruz em punho e apontada para ele.

       - Não tão rápido, demônio!
        Vlad ri.
        - Não sou um filhote como a Melissa. Sua reza não vai me impedir. Seus truques não funcionam!
       Sônia sentiu raiva, mas, atrás dela, Gabriel sorria.
         - CRUX DIVINA!  
       Segurou a cruz com as duas mãos e gritou o mais alto que podia. Uma explosão de luz branca cobriu toda a sala, acompanhada por um grito de pura dor do vampiro. Quando o clarão se dissipou, Vladimir estava estatelado na parede no fundo da sala. Sua pele e roupas continham marcas de queimaduras e sua face trazia uma expressão de pânico. Na parede atrás dele havia uma marca queimada em forma de cruz, maior que o próprio vampiro.
       - Não... isso não pode ser real...
        Gabriel já estava de pé, com o chicote na mão. Sorriso maligno.
       - Ah sim, é bem real - disse ele - Sônia também é uma caçadora.
        Vlad vazava sangue por todos os poros do seu corpo.
       - Foda-se Belmondo. E foda-se você também, Sônia!
       Sorrindo, o caçador, acertou duas chicotadas no peito do demônio, cravando-lhe um X no peito.
       - Você não pertence a este mundo!
       Uma luz sai do corte em X. Vladimir grita de dor, enquanto seu corpo converte-se em pó aos poucos.
       Os caçadores trocam olhares: Gabe estava cansado e machucado, e Sônia ainda estava irritada. Mas ainda não podia descansar. Encolhida num canto da sala, estava Melissa O´hara, chorando.
       - Mestre! Mestre! você me prometeu o mundo!
       - Droga... a criança!
      A visão de uma menina de 13 anos, numa situação daquela, irritava e magoava muito o jovem caçador. Ele não estava conseguindo lidar com aquilo.
       - Eu cuido disso. Descanse um pouco.
       Ele puxou uma cadeira que ainda não tinha sido destruída e sentou-se nela. Sônia acalmou-se, apertou a cruz contra o peito e foi até a pequena vampira.

       - O que acontece agora? - perguntou Melissa, chorando sangue. - O que acontece?
       - O senhor todo poderoso vai te perdoar e te receber de braços abertos em seu reino. Eu prometo
       Ajoelhou-se em frente à menina e orou:
        - In Dei nomine, mundare te.
        Uma luz dourada cobriu o corpo da vampira e em segundos, ela era apenas um montinho de cinzas.
          Ele ficou de pé; estava na hora de irem embora. Teriam que voltar de mãos vazias para a senhorita O´hara, e dizer a ela que sua irmãzinha querida tinha sido transformada em uma carniçal e teve que ser purificada.
       - Ela não vai querer pagar todo o prometido... - resmungou ele.
       - E desde quando estamos nessa pelo dinheiro? Heróis passam fome, você sabe bem.
       - É... não esquece a vampirinha algemada no corredor. Purifica ela também...

***
        -  Laura... Laura... Laura meu amor. Ninguém nunca vai nos entender, mas eu te amo. Eu sei que você não é como eles, não é como os outros.
        - Jonathan! meu Jonathan! eu estava morrendo de saudades meu amor!
         O caçador e a vampira correram ao encontro um do outro e se abraçaram. O cerco estava ficando fechado em cima dele, por causa do relacionamento e por isso, as vezes ficam muitas noites sem poder se ver.
       - Não vai demorar muito agora, amor - disse ele. - Em breve, não haverão mais fronteiras que nos segurem!
        Era tarde da noite, mas o pequeno Gabe não conseguia dormir. Viu seu irmão saindo de casa e resolveu segui-lo; na certa iria matar mais algum vampiro e ele queria estar perto para ver. Não tinha medo, era muito valente para alguém de apenas 6 anos.
        Seguiu o irmão como pôde, até que entre arvores do bosque o encontrou... com uma mulher.
       A mulher estava com os dentres cravados no pescoço de Jonathan e a mão direita, atravessada no estomago dele. O corpo de Jonathan tremia,perdendo as forças e a vida.
        - JONATHAAAAAAN!

       - Gabriel! acorde Gabriel!
        Sônia sacudia seu parceiro.
        - É só um pesadelo, calma! calma!
      Estavam no acampamento na floresta. Ainda era noite. Uma fogueira afastava um pouco as trevas que os envolvia naquele lugar.
       - Oh, Jonathan....
       Era só um pesadelo. Mais um. Enquanto não encontrasse a vampira chamada Laura, ele nunca descansaria. Já fazia tempo, mas ainda se lembrava bem do rosto dela.
       - Fica calmo, ok? tente dormir, você precisa.
        Sônia o abraçava, tentando lhe transmitir paz. Gabe se deixou abraçar e dormiu nos braços dela.
       Amanha seria um dia cheio e finalmente continuariam seu caminho até a colina Olney.

CONTINUA

by Kennen