Tomou-a
nos braços. Seu olhar iluminado pelo fogo que a consumia por dentro.
Conhecia bem aquele olhar, mas ao contrário do que desejava, ele
seria gentil, cuidadoso e com sorte não decepcionaria um ser tão
angelical.
Prender
os lábios pequenos e macios entre os seus. Sentir as mãos delicadas
explorar seu corpo.
Seu corpo
correspondia aos toques sensíveis. Tão linda, jovem, delicada e ao
seu alcance.
Pararam
por um segundo. Não queria ter pressa. Ela o encarou para depois
dizer algo que o surpreendeu.
_Não sei
se o que direi vai lhe parecer mal ou estranho, mas prezo muito que
me ouça e compreenda minha situação.
Tornar-se
confidente daquela que a pouco estava em seus braços. Não
acreditava que fosse por mal entendidos, afinal Julie já estava a
par de suas aflições e sabia exatamente que ele havia perdido a
esposa há anos. Mas ouviria a garota, pois mal nisso não haveria de
ter.
_Desejo
muito o que está prestes a acontecer, mas... procure entender...
tenho alguns...
_Alguns...?
_Preciso
que faça algo... por mim.
Apoiou o
rosto delicado em suas mãos. O que ele não faria por uma criatura
tão meiga.
_O que
quiser, mon petit... o que quiser...
Era lindo
ver aquele sorriso se abrir. Mas a visão que teve em seguida foi
fantástica. Julie era dona de um corpo fascinante. Pequeno, mas
fascinante. O Dior caído aos seus pés, o brilho em seus olhos, tudo
nela o lembrava de seres encantados criados apenas para satisfazer as
vontades dos deuses.
Não
havia notado ainda, mas a pequena segurava algo atrás de si. Tentou
focar o que seria e teve uma bela surpresa quando descobriu. Olhou o
objeto e depois os olhos trêmulos do ser a sua frente.
Sabia que
sua sobrancelha estava erguida, pois logo ouviu a voz do seu doce
anjo, que na verdade era um anjo um tanto estranho agora.
_Albert...
eu entendo, se você... se você não quiser... eu entendo...
_Não...
quer dizer... eu... se você quiser eu...
_Por
favor, não se sinta na obrigação...
Estava
sem jeito, precisa confessar. Aquilo era estranho. Julie. Uma garota
doce. Delicada. Pedindo para usar uma coleira.
_Eu... eu
não me sinto obrigado... a nada... só pensei que...
Os olhos
dela se afastaram. Pousaram no chão. Estava se encolhendo. Depois
daquilo era difícil acreditar, mas ela parecia envergonhada.
_Julie...
_Não.
Não fala nada... Você é bom, Albert. Um homem bom. Preciso te
explicar...
_Explicar?
Mas do que está falando?... se quer usar isso enquanto...
_Não é
isso, Albert... não é apenas isso...
_Então,
o que é?! Estou confuso...
_Sente-se...
_Não me
mande sentar em minha própria casa.
_Desculpe.
Ela
andava e falava de uma maneira que eu não havia reparado antes. O
que estava tentando me dizer? Devia dar uma chance? Devia ouvir o que
havia de tão terrível para tanto mistério?
_Pois
bem... explique-se.
Ela não
se virava e iniciou. Contou a história mais esdrúxula que uma ser
humano normal poderia escutar. Terminado, ela permaneceu de costas.
Não arriscaria dizer algo, pois realmente não entendia muito bem a
história e realmente não sabia quem estava mais a minha frente
naquele exato instante.
_Por
favor, diga alguma coisa... pelo amor de deus, fala alguma coisa!
Não
pretendia ser mal educado ou sarcástico, mas meu interior estava
implorando por algo rude e grosseiro.
_Dizer o
que?! Não sei nem com quem falo agora! Respondo para qual das duas?!
Heim?! Julie ou Chloé?!
_Não...
você entendeu errado... eu...
_Quer
mesmo que eu acredite nisso?! Ou faz parte dessa história maluca que
acabou de inventar?! Olha, se você apenas tivesse me dito que gosta
de usar seus brinquedinhos e parasse de inventar histórias, mas é
impossível acreditar! Você mente!
_Não! É
verdade!... Albert. Por favor, olha pra mim... olha...
_Eu não
sei se devo, afinal quem eu encontraria ai?! Qual das duas está
representando agora?!
_Não
estou representando! Não é assim que funciona!
_E era
para funcionar?! Você me engana, diz que é uma pessoa, quando na
verdade é outra... me diz: Julie é seu nome de verdade? Aquele
senhor é seu avô? Você mora mesmo naquela rua?
_Claro
que sim... bem... não moro naquela rua, meu avô mora lá, mas o que
isso tem a ver...
_O que
isso tem a ver?! O que tem a ver?!... você é muito sínica mesmo.
Claro... Engane o Albert. Mostre como é superior. Faça-o acreditar
na historinha da carochinha e depois... e depois... me diz, o que vem
depois? Vai me fazer assinar um cheque? Quer o número da minha conta
no exterior? Ou melhor, quer ser minha herdeira... Claro! Por que
assim receberia em dobro, não é?!... Não, na verdade não me diz o
que vem depois... estou muito nervoso. É, nervoso. Irado. Com muita
raiva. Tenho vontade de te esmagar, mas não faria isso... ao
contrário eu te torturaria se fosse possível, mas você deve ser a
maior tortura para si mesma!
_Por
favor, para! Para! Eu não quero ouvir! Você é cruel! É mau!
Egoísta! Acabo de te contar uma parte de mim e olha o que me faz!
Acabo de te falar que possuo problemas, que penso ter dupla
personalidade e olha o que me fala! Qual é o seu problema?! Você
acha que pode fazer tudo só porque é rico?! Ou é retardado mesmo?!
_Abaixe a
voz para falar comigo, garota!- minha voz já estava saindo entre os
dentes. Não queria mais ouvir. Foi quando vi. Ela estava abaixada e
nessa posição colocou aquela coisa no pescoço.
Virou-se.
Definitivamente já não era mais a mesma. Havia mudado. Os olhos
enegreceram, a expressão tornou-se lasciva e estava se aproximando
de forma perigosa. Tentou tocar-me, mas desviei.
_Oh.
Albert... eu sei o que você quer... venha, Albert. Venha...
Desviar
do seu caminho era difícil. A voz era outra e eu já estava contra a
parede. A consciência pesou. Queria realmente ter aquele corpo, mas
não seria ela. Ou seria?
Encurralado.
Os dedos tocaram meu corpo. Eram tão quentes. Ela era quente.
Encostou os lábios em meu pescoço e iniciou pequenos chupões na
área. Estava delirando. Não podia. Não era sensato. Prendi seus
pulsos e a pressionei contra a parede. Oh, o que estava fazendo?
Continuava
a me encarar daquele modo. Perdi a razão. Suguei os lábios. Eram
bons, mas não os mesmos. Tudo era diferente, até o cheiro.
_Julie
eu...
Pousou os
dedos na minha boca. Soube que não era mais Julie. Eu a havia
perdido. Aquela era Chloé. E sabia me tentar passando sua perna
entre as minhas. Tomei-a. Agarrei seus cabelos e comecei a marcá-la.
Apesar da força e do ódio que eu ainda sentia, ela não parecia ter
raiva. Ao contrario eu poderia dizer que o que via era prazer. Puro e
simples prazer.
Prazer
esse que apenas aumentou quando já estávamos unidos. Aumentava o
ritmo e me satisfazia ouvindo os sussurros e gemidos. Mordia cada
centímetro daquele corpo. Eu a faria minha, minha e de mais ninguém.
Seus olhos reviraram ao chegar no ápice. Senti-me completamente
preso dentro dela. Estávamos ofegantes. Finalmente havia terminado.
***
Observava
o mar, quando sentiu mãos que se entrelaçavam em sua cintura. Foi
virada de frente e agarrada pelos cabelos. Cabelos que agora já eram
definitivamente curtos e escuros. A boca foi sugada como apenas ele
sabia fazer. Parou para tomar fôlego, mas decidiu não continuar.
_Pensei
que não viesse.
Aquele
sorriso. Lindo como sempre.
_Bobinha...
é claro que viria... afinal, após a audácia de uma certa femme
fatale em se revelar aquela noite, eu não poderia recusar.
Era isso
o que ela queria ouvir. Agarrou seus cabelos e o encarou.
_Agora
estamos a sós... eles se foram... completamente... Julie e Albert já
não existem mais.
_Eu
gostaria que não me chamasse mais assim.
_E como
gostaria de ser chamado, nobre senhor?
_Acho que
aquele modo como me chamou a meses atrás seria suficiente.
Sorriu
com a malícia dele.
_Deus?
Semi deus?
Percebeu
os lábios de prontidão para darem uma afirmativa, mas antes que ele
o fizesse, ela selou suas bocas. E agora poderiam realmente viver,
sem interrupções.
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