segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Missão anjo da guarda : Capitulo dois: Perdida





Cai come se fosse um cometa, explodindo o chão. Uma cratera foi aberta aos meus pés. O beco em que eu cai estava aparentemente vazio, até que um mendigo se revirou em um amontoado de caixas de papelão e me encarou com um ar surpreso. Compartilhei de sua surpresa, porque humano algum era capaz de me ver, só... só se este estivesse a beira da morte.
Balancei as minhas longas asas, tirando o pó de asfalto das penas. Então eu via a cor delas, um branco sujo, amarelado. Lembrei-me de quem eu me tornara agora, não era mais um anjo da morte, não passava de uma simples guarda costas de mortais.
O mendigo caminhou de joelhos em minha direção, quase ao ponto de tocar as minhas vestes. Ele me encarou perplexo. Tive certeza de que ele era capaz de me ver. Os humanos só me viam quando estavam prestes a abraçar a morte, mas agora as coisas pareciam diferentes.
– Ah, meu senhor, obrigado. – o mendigo se aproximou mais de mim sendo capas de tocar as minhas vestes. Dei alguns passos para trás, a fim de me afastar, humano algum tocava um anjo.
Ouvi um bater de asas vindo de trás de mim, a poeira do chão levantava com o movimento das penas. Virei o meu rosto para ver quem era o outro anjo e dei de cara com o brilho da aura de Azarel.
– O que faz aqui, Izabella. – perguntou-me o anjo.
– Eu não sei, mestre. – murmurei. – Eu não sei.
– Tem uma missão e deve cumpri-la. – disse ele em um tom sério.
– Mas... – fui interrompida.
– Toda a missão é importante, Izabella, sendo elas como anjo da guarda ou como um anjo da morte. Não cabe a mim nem a você discordar dos planos do criador. – aconselhou-me. – Apenas faça o que lhe foi ordenado, siga o seu novo dever. Proteja o humano.
–Mas como vou fazer isso? Nem tenho ideia de qual humano eu devo proteger.
– Isso, minha querida, terá que descobrir sozinha. – ele respondeu caminhando em direção ao mendigo e pegando a alma dele nos braços, assim como eu tinha o costume de fazer. – Terá que reconhecer o humano quando estiver diante dele. – disse ao jogar uma bolsa ao meu lado. – Terá que viver entre os humanos agora e recolha as suas asas, os humanos agora podem vê-la.
Azarel desapareceu da mesma forma misteriosa que surgiu. Deixando-me sozinha com um corpo caído e sem vida há poucos metros. Eu não sabia para onde ir e nem a quem deveria proteger.
Recolhi as minhas asas, a minha auréola desapareceu. Ótimo!  Agora eu me assemelhava a uma humana, sem sal e sem graça. Peguei a bolsa que Azarel havia deixado e olhei dentro dela, lá havia dinheiro, alguns documentos e uma carta.
Olhei pelo corpo caído e imóvel do mendigo pela ultima vez. Humanos, criaturas decrepitas, meros mortais. Não conseguia entender como criaturas tão medíocres e inferiores mereciam algum tipo de proteção.
Caminhei em direção à saída do beco. As paredes feitas de tijolos vermelhos estavam repletas de rachaduras e pichações. Havia um cheiro horrível exalando do chão e algo me dizia que ainda não era o corpo do humano começando a feder, mas algo que já deveria estar morto há mais tempo.
A única saída do beco dava para uma rua movimentada, cheia de pessoas e carros. A vida medíocre dos humanos me dava tédio.
Enquanto eu caminhava pelo passeio uma mulher passou por mim correndo ao lado de um cachorro. O animal quando passou ao meu lado começou a latir, como se ele fosse capaz de perceber que havia algo de diferente comigo.
– Desculpe, moça. – disse a mulher.
Quando os olhos dela fitaram os meus a mulher deu um passo para trás. A presença angelical a fez tremer. Felizmente eu havia sido rebaixada, mas não deixara de ser um anjo. Ela sorriu, por um momento ela esqueceu da correria e do latido do seu animal. Isso é o que causava um anjo há aquelas pessoa que verdadeiramente podiam senti-lo, uma enorme paz interior. Infelizmente para os mortais, poucos eram aqueles que tinham o dom de sentir a presença dos anjos. Ignorei a mortal e continuei com a minha caminhada em busca de um mortal do qual nem fazia ideia.
Por onde quer que eu passasse os humanos olhavam para mim. Por mais que as minhas asas e a aureola estivessem escondidas eu ainda chamava muita atenção. A minha túnica não parecia ser uma vestimenta muito comum.
Abri novamente a bolsa e peguei a carta que estava lá dentro. Retirei-a para lê-la.

Querida, Izabella,
Como é a sua primeira missão como anjo da guarda é de praxe que se sinta despreparada. Cuidar de humanos não é uma tarefa fácil, ainda mais alguém como o seu protegido. Mas você é um anjo competente, acredito que conseguirá cumprir a sua missão sem demais dificuldades.
Contudo, existem coisas que você precisa saber para prosseguir com essa missão. Os humanos não tem certeza da existência de anjos, pelo menos não a maioria deles e o criador prefere que as coisas continuem assim. Portanto, terá que se misturar aos mortais, agir como se fosse um deles sem deixar que descubram quem você verdadeiramente é.
Você está no bairro onde mora o seu protegido, procure o edifício Clara Stela e se hospede lá. Haja como se fosse um deles e fique sempre próxima ao garoto.
Só voltarei a entrar em contado se algo der errado ou se você concluir a missão. Portanto, boa sorte.
Atenciosamente;
Lucas
Anjo da casta de tronos;
Patrono dos anjos da guarda.

Que maravilha! Misturar-me aos humanos, só poderiam estar brincando comigo. No fundo toda aquela palhaçada deveria ser uma grande brincadeira, que por sinal era de muito mau gosto. Esperava sinceramente que todo aquele teatro acabasse o mais cedo possível.
– Oi, gata! – resmungou um mortal ao passar por mim. – Roupas maneiras, de qual festa de Halloween você fugiu?
– Cala a boca, imbecil! – rosnei.
– Olha só, a gata é arisca! – ele murmurou ao descer da moto. – Por acaso está perdida? – perguntou em meio a um sorriso ao se aproximar ainda mais de mim. Humano repulsivo!
– Não, não estou. – respondi de maneira grosseira.
Ele riu.
– Não é o que parece.
– O que parece ou não, não é da sua conta. – resmunguei entre dentes.
– Oh, TPM!
– Por acaso você sabe onde fica o edifício Claro Stela? – fui tentada a perguntar. No fundo eu realmente estava um pouco perdida.
O homem riu alto, seus olhos castanhos brilharam. Ele estava brincando comigo, eu tinha certeza disso. Seu olhar malicioso e a sua aura tremulando em vermelho me disseram isso.
– O que uma princesa como você quer naquele brejo. Aquele não é lugar para você não, boneca. – disse o homem ainda em meio a gargalhadas.
– Não é você quem decide qual é o melhor lugar para mim. – rosnei.
– Ah, com certeza não sou eu. Porque do meu ponto de vista o melhor local para você seria a minha cama. – sua aura tremulou ainda mais maliciosa assim que os seus olhos percorreram o meu corpo.
– Como ousa ofender um anjo dessa forma?! – rosnei
– Oh, com certeza você é um anjo. – ele riu, tirando sarro da minha cara como se o que eu acabei de dizer não passasse de um simples comentário de alguém que possui o ego muito elevado.
– Eu realmente sou um anjo, seu idiota! – esbravejei.
Ele riu.
– Acho que você realmente fugiu do hospício, delicia. – disse em meio a uma gargalhada irritante. – Mas se você quiser ir passar a noite na minha casa eu não vou reclamar nem um pouco. – ele piscou para mim.
– Me diz logo onde fica o edifício! – eu já estava ficando nervosa. Humano insolente!
– Calma, doçura. O prédio fica a três ruas daqui em um beco escuro e sem saída. Mas estou falando sério se eu fosse você não iria lá não. Aquele não é lugar para uma mulher tão linda quanto você.
– Eu só te perguntei onde é o local e não a sua opinião a respeito.
– Oh! – ele resmungou cambaleando para trás como se tivesse levado um golpe. –  Vai lá então, gostosa. Só não diga depois que ninguém a avisou. E se aceitar pelo menos um conselho, arrume roupas decentes para você. – ele apontou para a minha túnica que já estava com a barra suja e para os meus pés descalços.  – Ninguém anda enrolado em um lençol por ai.
Comecei a andar em direção ao local indicado, mas o humano me impediu segurando-me pelo pulso. Livrei-me de suas mãos imundas em um rápido movimento.
– Como ousa tocar em mim. – rosnei.
O homem encarou-me perplexo, seus olhos mergulhados em uma profunda surpresa. Ninguém tocava em um anjo sem sentir o poder que emanava dele.
O homem afastou-se com passos cambaleantes.
– Quem é você?
– Não deveria ter me tocado – eu o adverti.
– Quem é você? – ele repetiu.
– Não é da sua conta. – murmurei ao encará-lo. – Vai esquecer aquilo que sentiu. Eu não passo de uma garota normal que você viu na rua.
– Você é apenas uma garota normal. – sussurrou ele como se fosse um zumbi.
Virei às costas e continuei caminhando. Porem, desta vez eu não fui interrompida, nem seria após ter hipnotizado o humano. Poucas eram as vezes que tínhamos permissão para fazer isso e uma delas era quando um humano estava perto demais de sentir o verdadeiro poder de um anjo.
Encarei a minha túnica que àquela altura já estava mais do que imunda por causa da sujeira daquele lugar. Mesmo que as minhas asas estivessem enterradas na carne e a minha auréola apagada os humanos a minha volta ainda me encaravam com olhares curiosos. O mortal estava certo, eu realmente precisava trocar de roupa.
Encontrei uma loja simples quando virei à esquina. Lá havia um único e simples trocador e as roupas estavam jogadas aos montes. A mulher que cochilava atrás do balcão provavelmente não se dava ao trabalho de organizá-las em araras.
Caminhei pela loja em busca de algo decente para vestir. No fundo nada parecia ser bom o suficiente para substituir a minha túnica, mas eu precisava vestir algo para me misturar aos mortais. Ainda mal acreditava naquela palhaçada toda. Ser punida, rebaixada a anjo da guarda, por que uma coisa horrível dessa iria acontecer logo comigo?
– O que quer garota? – perguntou a mulher ao despertar com os meus passos dentro da loja.
– Só estou procurando algumas roupas para mim.
– As pessoas dificilmente entram aqui. – murmurou a mulher ao passar as mãos pelo cabelo grisalho e espigado.
– Não é difícil perceber o porquê. – murmurei baixinho ao observar o local a minha volta.
Peguei as melhores camisetas que encontrei, mesmo que essas ainda se parecessem com trapos, algumas calças jeans surradas. Não conseguia entender como os mortais preferiam aquilo as majestosas túnicas usadas pelos anjos.
Usei o provador para trocar de roupa, guardei a mina túnica dentro da bolsa que me foi dada por Lucas. Peguei duas blusas de frio sobre uma montanha de roupas e caminhei na direção do balcão.
– Aqui o seu dinheiro. – disse ao pegar alguns trocados e jogar sobre o balcão. – Pode ficar com o
troco.
– Ah, obrigada. – disse a mulher ao recolher o dinheiro como se fosse a sua ultima esperança de vida.
Joguei os trapos em uma sacola e calcei os tênis que havia encontrado em uma prateleira tão desorganizada quanto o restante da loja. Sai caminhando da loja, agora vestindo os mesmos molambos usados pelos mortais.


continua...

By Ashe

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