Então,
você veio...- ela estava de costas, respirava devagar, mas se
mantinha fixa.
Andou
como um tigre que espreita sua presa... mas aquela corça com certeza
não seria surpreendida. Logo os grandes olhos o encaravam.
Sua pele
tão suave, delicada, poderia senti-la, tocar de todas as formas
possíveis. Bastava esticar a mão e se entregar as delícias daquela
criatura celestial.
Porém,
os dedos não obtiveram sucesso.
O que era
aquilo? ... o que significava? Não a permitiria se afastar daquele
modo.
Ah, mas
ele sabia o que era... oposto ao que possam imaginar, caros leitores,
aquele comportamento não significava a pura inconstância no
cumprimento da palavra. Ao contrário, essa retração predizia em si
o comportamento típico da inocência que ainda habitava dentro da
caça.
Com os
sentidos muito receptivos, ele ousava desafiar a barreira de pureza
imposta pelo próprio alvo. Entretanto, se ela já estava ali, por
que não brincar um pouquinho de gato e rato? Só para ver como seria
e ai sim ultrapassar seus instintos, abrir-lhe as perspectivas, para
que no fim ela sucumbisse e se entregasse por completo.
‘Pensa
que eu não sei? ... pensa mesmo que eu não reconheço o que você
deseja? ‘- a cada passo que ele dava era um que ela recuava.
Avançou
mais rápido e ela caiu. Ele riu. Os olhos dela expressavam medo...
mas por dentro, ele reconhecia haver algo mais. E saberia explorar
aquele algo a mais, ao ponto de arrancá-lo de seu íntimo.
Sentada e
se arrastando pelo chão, ela tentava escapar... até que soube ser
impossível fugir.
Um
sorriso diabólico brotou dos lábios dele ... ela já estava
assustada o suficiente para lhe ser negado o autocontrole.
Hora da
segunda etapa. Instigar e provocar.
Prendeu o
olhar da jovem no seu. Intensificar a gloria e a luxuria daquele
corpo era prioridade no momento. Sua voz saiu em um sussurro ardente.
‘Você,
bela dama, veio até mim... eu te darei a noite mais cálida dos teus
sonhos.... ora, não se acanhe... pois a ambição em si, não é
censurável.’
Talvez o
menear de cabeça da jovem fosse um reflexo inconsciente, ou talvez
ela estivesse se permitindo as provocações daquela voz embriagante
a qual estava sujeita.
‘Hoje,
minha bela dama, o seu impulso mais profundo, o seu desejo até agora
contido em silêncio irá aflorar ... e eu serei um humilde servo do
teu prazer.’
Ajoelhou
a sua frente e esticou os dedos por sobre o maxilar. Uma leve
retração no início. Mas logo seus olhares estavam conectados e
pode-se dizer que nenhum dos dois sabia exatamente a quanto tempo
permaneceram em tal posição.
Levantavam
devagar aproveitando a aproximação para negarem, por completo, a
necessária existência segura de uma distância. As respirações,
ofegantes, podem ser sentidas em ambas as peles. As palavras eram
palpadas e capturadas em cada movimento dos lábios que percorriam
gentilmente a curvatura do pescoço.
‘Eu
a trouxe até aqui para deixar nossas paixões se fundirem, deixar
sua mente atordoada e deliciada ao mesmo tempo ... mas agora, está
aqui por sua vontade, sem intenções, a escolha foi sua.’
Os lábios
ainda percorriam a pele até o colo. A cabeça pendia e era segurada
por apenas uma mão. O coração acelerado e o torço preso pelo
outro braço.
Essa,
meus caros, era a cena perfeita da quase entrega, o ponto tênue, no
qual se pode decidir atravessar para o caminho da loucura ou deixar a
razão investir seu potencial. É difícil dizer qual dos dois
caminhos se escolhe numa hora dessas, pois ambos são completamente
distintos e levam a situações totalmente opostas. As palavras ainda
são importantes nesse caso. Igual ou tão mais importante do que as
ações.
A boca se
aproximou novamente da orelha, era palpável a aura de emoções,
além do próprio arrepio que percorreu o corpo da jovem. Corpos
unidos e as palavras. Palavras certas, assim esperava.
‘Paremos
de fingir, deixemos a vontade tomar conta, descobrimos juntos até
onde os nossos “se” e “quando” podem realmente nos levar...
não resista, abandone o pensamento, permita-se sonhar e ver o fogo
que nos inundará, pois a sedução e o desejo encontram-se a
milímetros de nós...’
Uma boca
finalmente já estava a pouca distância da outra. Os olhos a sua
frente permaneciam fechados...
E esse é
o momento crucial, o ápice da entrega. Por ele sabemos se estamos
dispostos ou não a arriscar. O mínimo movimento do outro a procura
da outra boca estabelece a montanha russa da entrega. Entrega total e
imprudente.
O rosto
liso e macio se virou procurando os lábios quentes que a esperavam.
Até que a boca foi tomada. Sugada e presa o máximo de tempo
possível. Esse era o ponto; o ponto a partir do qual não há mais
volta.
Dedos
fortes que prendiam o seu corpo tão delicado ao encontro do porte
altivo. E as línguas se cruzavam e se entrelaçavam em uma só.
Ondas de ardor foram retiradas daqueles seres. Mãos que desciam pelo
decote deixavam expostos os mais belos seios e curvas que se possa
sonhar.
Os dois.
Unidos em perfeita harmonia e elevados aos seus limites. A
maximização do prazer e do erotismo, as chamas que dominavam o
próprio ambiente, as carícias intensas e os sons emitidos por dois
amantes que encontraram a perfeição um no outro.
O
estremo, a glória, o brilho.
Ofegantes,
músculos exaustos, mas mentes prontas para repetirem quantas vezes
mais conseguissem, até que seus corpos já não suportassem mais ou
que definhassem por exaustão, porque dentro deles a saciedade estava
longe de ser alcançada.
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