Oi. Sou o Joaquim, tenho 13 anos.
Desculpem-me, estou nervoso por estar escrevendo isto. Mas fazer o que? Eu
precisava arrumar uma maneira de colocar todos os meus
sentimentos no papel. Estavaprocurando um assunto bom para escrever. Desejava
produzir algo que fizesse as pessoas rirem, chorarem, aplaudirem e pedirem bis.
Hehe, nada modesto da minha parte eu sei.
Juro que pensei muito, mas parece
impossível arranjar um tema que toque a alma das pessoas. Por isso decidi pedir
alguns conselhos para alguém mais experiente. Meu amigão do peito, a pessoa na
qual eu mais confiava quando o assunto era mulheres ou Pokémon.
Telefonei a procura de ajuda. Do
outro lado da linha estava a voz do meu amigo, mas o aparelho devia estar com
defeito porque vez ou outra eu também escutava alguns grunhidos muito
esquisitos...Ah, sei lá, parecia que ele estrava estrangulando um gato ou coisa
do tipo.
Bem, mas o importante é que agora
teria alguém de qualidade para me aconselhar. Afinal, ele era uma coisa chamada
colunista, que eu não sei bem o que é, mas tem a ver com jornal. A voz dele
também estava estranha, mas a pergunta foi mais ou menos assim:
“Aaaaahhh, ooi, Joaquim,
huuuuuuuummmm, é você cara, aaaaaaaaaaaahhh, isso, isso.....aaaaaaahhh,
escrever, né?....aaaaaaaaaaahh tá, não se preooocuuuupe, eu aajuuudo
sim....mas, o que....aaaaaaaahhh,vocêqueeeeeerrrrrr ... escrever?”
Por fim eu decidi que escreveria
aquilo que sempre tive vontade, mas a coragem faltava. Um poema. Sabe, aqueles
de amor, com rimas e declarações.
Esse poema seria para a garota de
quem estou afim. Uuuhhhnnn, só de pensar nela eu fico todo bobo. Porém, segundo
o meu amigo, ela não pode sacar isso de primeira, vocês entendem o que quero
dizer? ... Ah, é claro que sim, pois todo mundo passa por essa vergonha um dia
e hoje chegou a minha vez, ao menos eu tenho a sorte de contar com ajuda
profissional.
Ai veio o primeiro conselho:
“huuuummmmmmmmmmmmmm, aahh,
assim, assim....aahhh, Joaquim, bemm, ahhh, você...você tem que ser
delicaaaaaado com ela, mas inventa um nome difereeeente, alguma
coisa...especiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal.....uuhhuuuu, aaaahhh,
isssooogostoooosaaaa, aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!”
Fiquei pensando se meu amigo
estava falando sério mesmo, mas não podia duvidar, afinal ele era sem dúvida um
mestre na arte da conquista. Ao menos era o que ele falava. Bom, então decidi
usar o nome que ele havia sugerido mesmo. Comecei a escrever. Primeiro pensei
no nome dela. Aaah Luísa, Luísa...nada rimava com Luísa. Mas com Gostosa havia
muita coisa que rimava. Então seria Gostosa.
...Querida
Gostosa...
Não, não! Risquei o papel.
...Gostosa...
Isso, perfeito!
Continuei com o poema até que
surgiu mais uma dúvida. A sorte é que havia o meu amigão para me ajudar.
Segundo conselho:
“Ahan, ahan, tá, entendi...vamos
trocar...vem...assim....isso...isso...aaaaaaaaaaaahhh...mas, Joaquim, você não
pode falar....aaaaaaahhh, huuuuuuuuuuummm, falar coisas ruiiiiiiinnnnss...tem
que ser...gentiiiiiiilll...aaaaaaaaaaahhh... raaaapidoo, rápido!!!”
Ele tinha razão. Eu precisava ser
gentil. Garotas gostam de gentileza. Não seria nada bacana fala de defeitos ou
coisas do tipo. Nem se fosse verdade. Então, eu realçaria as características
dela. Meu amigo havia falado a palavra rápido. Bem, na verdade, ela era bem
rápida. Possuía até uns músculos nas pernas de tanto que corria. Acho que
aquilo era uma coisa boa para se escrever e exaltar as qualidades de uma
menina. Ao menos, se fosse um menino, ele não se importaria em ser chamado de
rápido.
...Meu coração dispara no meu
peito e meus olhos brilham ao te ver
Mas quase não consigo acompanhar,
pois você é muito rápida ao correr...
E agora o meu poema já estava
quase pronto. Só faltava uma declaração, mas qual seria o melhor modo de dizer
aquilo? Será que eu devia mesmo dizer com todas as palavras: Eu te amo, ou não?
Meu amigão com toda a certeza saberia me dizer melhor.
Acho que ele deve ter matado
aquele gato, porque agora estava um silêncio do outro lado. Mas quando eu fui
perguntar se eu devia ou não escrever aquilo, ele deve ter lido meu pensamento
e se assustado, pois ouvi um chiado e depois uma espécie de urro. Tive até que
afastar o telefone do ouvido.
Coitado do gato. Devia estar nos
seus últimos instantes de vida. Eu é que não queria ser esse pobre coitado. O
que será que o bichano andou aprontando?
Mas eu não tinha tempo para
perguntar aquilo. Precisava sanar a dúvida cruel que colocava minha cabeça toda
cheia de caraminholas.
Terceiro conselho:
“Aahnn...desculpa amigão...sim...estou....estou
bem sim...gato? que gato?...bom, mas o que você queria mesmo? ...ah é, sobre
isso... bom, você tem que ser cuidadoso...se seguiu tudo o que eu te disse,
então no final ...você precisa colocar que gosta dela e o modo como se senti
quando estão perto um do outro...é..ahh gostosa...onde...espera joa...onde
vai?....não...volta aqui...to louco...pra te pegar de novo...ah Joaquim,
desculpa cara, tenho que ir tá. Depois a gente se fala direito.”
Desliguei o telefone e fiquei
pensando. Bom, eu havia feito tudo certinho e escrito tudo do jeitinho que meu
amigo disse para escrever. Então, coloquei o final do poema.
...estou louco para te pegar...
E pronto! Perfeito! Ela iria
ficar louca quando lesse aquela obra de arte. Só faltava entregar, mas se tive coragem
eu precisava entregar. Além do mais, não podia deixar o tempo que o meu amigo
passou me ajudando ser jogado fora, não é?
Estava
decidido, amanhã mesmo na escola, na hora de ir embora eu iria entregar o
poema.
“Joaquim?”
Atendi o telefone muito mal
humorado. A minha cabeça ainda doía depois de ter levado todas aquelas livradas
bem no cocuruto. Era aquele charlatão do outro lado.
“Joaquim? Você está bem?”
_Me diz uma coisa, você tem
certeza de que o gato era o único que você queria matar?
“O que? Lá vem você com essa
história de gata outra vez... Não estou entendendo...”
_Ela odiou o poema! Fiz tudo o
que você disse e mesmo assim ela odiou!
“Acalme-se Joaquim, nem sempre dá
certo mesmo...mulheres, Joaquim, mulheres...”
By Katarina
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